Sanção
de Trump a Moraes pode provocar ruptura entre Brasil e EUA, diz NYT
Uma
possível sanção ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), pelo governo de Donald Trump pode provocar uma ruptura das relações
diplomáticas entre os Estados Unidos e o Brasil, diz reportagem do jornal
americano The New York Times (NYT).
"A
situação poderia causar uma ruptura diplomática entre as duas maiores nações do
Hemisfério Ocidental", escreveu o correspondente do jornal no Rio de
Janeiro, Jack Nicas.
Em
texto publicado na quinta-feira (29/05), o jornalista afirma que Moraes seria
um alvo da Casa Branca pela primeira vez após ter tido embates com o bilionário
Elon Musk, que o desafiou; e o presidente americano Donald Trump, cuja empresa
de mídia o processou.
De
acordo com jornal, a evidência de que Moraes estaria na mira do governo
americano seria o anúncio feito na quarta (28) pelo secretário de Estado dos
EUA, Marco Rubio, de que o país restringiria vistos de autoridades estrangeiras
que seriam "cúmplices na censura de americanos".
Nas
redes sociais, Rubio citou a América Latina como um exemplo de região onde essa
censura seria problemática — mas, dessa vez, não citou nominalmente Moraes.
Na
semana passada, Rubio chegou a dizer no Congresso americano que o governo dos
EUA estudava a possibilidade de sancionar Alexandre de Moraes por supostas
ações do ministro contra a liberdade de expressão de pessoas e empresas dos
EUA. Moraes poderia ser enquadrado pela Lei Global Magnitsky.
"O
Departamento de Estado não informou se o juiz Moraes é alvo da ação. Mas a
linguagem do Departamento de Estado se inclina fortemente para as críticas
contra ele, incluindo a de que vistos seriam restringidos para autoridades que
exijam que empresas de tecnologia americanas removam conteúdo ou ameacem com
mandados de prisão residentes nos EUA por coisas que disseram online."
Ainda
de acordo com o jornal americano, a reportagem teve acesso a uma carta que o
Departamento de Justiça dos EUA teria enviado nesse mês a Moraes,
repreendendo-o por ordenar que a rede social Rumble bloqueasse as contas de um
usuário específico.
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Mais jornais estrangeiros repercutem suposta ofensiva dos EUA contra Moraes
Na
quarta-feira (28), o jornal britânico Financial Times (FT) também associou o
anúncio feito por Rubio naquele dia à ofensiva contra Moraes.
O FT
noticiou algo também publicado pela BBC News Brasil: a movimentação nos
bastidores diplomáticos, liderada pelo Itamaraty, para que os EUA retrocedam no
plano de impor sanções contra Moraes.
"O
governo esquerdista do Brasil está travando uma batalha diplomática de última
hora para impedir que os EUA imponham sanções a um juiz do Supremo Tribunal
Federal que supervisiona um caso no qual o ex-presidente Jair Bolsonaro está
sendo processado por acusações de conspiração golpista", diz reportagem do
FT, referindo-se a Moraes.
Os
autores do texto e correspondentes no Brasil, Michael Stott e Michael Pooler,
afirmam que a movimentação visa evitar uma colisão entre as "duas nações
com maior população nas Américas".
De
acordo com a reportagem, o governo americano "está cada vez mais solidário
com os argumentos da família de Bolsonaro e dos conservadores brasileiros"
de que Jair Bolsonaro seria "vítima de perseguição política".
O
jornal cita a movimentação do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro
(PL-SP), filho de Jair que está morando nos EUA e está pressionando para que o
governo Trump e parlamentares republicanos ajam contra Moraes e o governo de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O
também britânico The Guardian publicou na quarta-feira sobre o plano dos EUA de
vetar vistos a autoridades estrangeiras. O título foca no anúncio de Rubio, mas
ao longo do texto, o nome de Moraes é citado.
O
Guardian lembrou que Rubio já havia sugerido que os EUA poderiam sancionar
Moraes, "que batalhou contra o proprietário do X e aliado de Trump, Elon
Musk, por suposta desinformação".
O
jornal argentino Clarín também citou Moraes ao noticiar o anúncio de Rubio.
Segundo
Paula Lugones, correspondente em Washington, a intenção de bloquear vistos está
relacionada a um projeto de parlamentares republicanos chamado "No Censors
on our Shores Act" (em tradução livre, "Lei Contra Censores em Nossas
Fronteiras").
A
proposta determina a deportação ou a proibição de entrada em território
americano de autoridades estrangeiras acusadas de violar a Primeira Emenda da
Constituição dos Estados Unidos, que garante a liberdade de expressão.
"A
iniciativa foi motivada por uma disputa entre o proprietário do X, Elon Musk, e
o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, depois que a
plataforma de mídia social foi obrigada a remover postagens", escreveu a
correspondente do Clarín na quarta-feira.
A
colunista Eunice Rendón, do jornal mexicano El Universal, também relacionou em
sua coluna o anúncio feito por Rubio sobre a intenção de restringir vistos à
atuação de Moraes.
"A
medida está relacionada à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal (STF), que determinou o bloqueio de diversas contas na rede
social X (antigo Twitter) por disseminar desinformação e discurso de
ódio", escreveu Rendón.
• A conspiração das big techs e o fator
Alexandre de Moraes. Por Luís Nassif
o longo
dos séculos 19 e 20, os Estados Unidos definiram formas de intervenção no mundo
e, em especial, no seu quintal da América Latina.
Em
1823, a Doutrina Monroe afirmava que a América Latina era zona de influência
dos Estados Unidos e deveria estar livre da interferência europeia.
Em
1904, Theodore Roosevelt formulou a Doutrina Roosevelt ou Corolário Roosevelt,
justificando intervenções militares diretas dos Estados Unidos em países
latino-americanos, para proteger interesses econômicos e políticos, inclusive
de empresas norte-americanas. Era a política do Big Stick: “Fale com suavidade
e carregue grande porrete”. Defendia o direito norte-americano de intervir em
países da América Latina que estivessem “em desordem” ou ameaçassem interesses
norte-americanos.
Com
base nesses elementos, em 1905 invadiu a República Dominicana, para controlar a
aduana e garantir pagamentos de dívidas a credores estrangeiros. Depois, foram
Nicarágua, Haiti, Cuba e Panamá.
Na
biografia do argentino Raul Prebisch – aliado dos EUA – conta-se da preocupação
do país, na época uma economia próspera, com os avanços dos EUA.
Depois
de um interregno, com a Política de Boa Vizinhança de Nelson Rockefeller, no
final dos anos 40 e, a partir dos anos 50, iniciou-se o ciclo da parceria com
intervenções militares.
Excesso
de torturas – especialmente no Brasil e na Argentina – provocaram desgastes
internos. Enquanto avançava em guerras contra países da Ásia – Afeganistão e
Líbia -, mudou-se a estratégia para a cooptação do sistema judicial, através de
uma legislação anticorrupção, como ocorreu com a Lava Jato, no Brasil, as ações
contra a França, a investida na Ucrânia, que derrubou o presidente pró-Rússia.
Vamos
analisar dois movimentos brasileiros, o que levou ao impeachment de Dilma
Rousseff e o atual, tendo como epicentro os ataques ao Supremo Tribunal
Federal.
Os
ataques contra Dilma se intensificaram com a descoberta do pré-sal e a
possibilidade do país tornar-se uma superpotência do petróleo. Os primeiros
sinais vieram na espionagem sobre a Petrobras e na escuta do celular de Dilma
Rousseff. Também, no uso de algoritmos nas redes sociais. A maneira habitual de
minimizar as denúncias era tratá-las como “teoria conspiratória”.
Agora,
o Brasil volta ao epicentro das guerras coloniais, devido à sua aproximação com
a China e, ante a perspectiva de se tornar uma potência ambiental.
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Vamos a três sinais dessa investida:
1. Base de Alcântara.
Desde
2019, já havia desconfianças sobre as intenções americanas em relação à base de
Alcântara, no Maranhão. EUA teve aprovação de construir uma base em Ushuaia e
analistas dizem que foi aprovado a construção de uma base naval com capacidade
de submarinos em Galapagos. Com isso, só falta construírem uma base em
Alcântara para fechar o Atlântico Sul e isolar a América do Sul.
Recentemente,
o site Defesanet levantou rumores sobre intenções norte-americanas de alegarem
direito histórico e investimento bélico para tornarem Alcântara território dos
EUA. O tema foi tratado como suspeita conspiratória.
2. Células terroristas.
Recentemente,
os EUA propuseram que o Brasil classifique grupos criminosos organizados, como
o Primeiro Comando da Capital (PCC), como organizações terroristas. Correu a
informação de um prêmio de alguns milhões de dólares a quem indicasse ao FBI
indícios da operação terrorista na Tríplice Fronteira.
Se os
Estados Unidos classificam uma organização como terrorista, especialmente sob a
designação de Foreign Terrorist Organization (FTO) ou com base na lista do
Departamento do Tesouro (OFAC – Office of Foreign Assets Control), ganham uma
série de poderes legais e diplomáticos. Podem congelar ativos de empresas e
bancos nacionais, realizar operações clandestinas ou abertas contra alvos
ligados à organização, vetar financiamentos ao país pelos organismos
multilaterais, e submeter o país a vigilância diplomática constante, com o
Brasil perdendo margem de manobras soberana em certos temas.
3. Direito à informação.
A
última onda é punir países que cerceiam o direito de opinião de
norte-americanos, através das redes sociais. É modelo similar aos atos
anticorrupção que permitiram a atuação intensa através da Lava Jato. O
princípio utilizado é que qualquer operação de corrupção que passe por dólares,
ou afete interesses norte-americanos, pode ser alvo de operações policiais.
Esse
princípio permitiu alimentar os quinta-colunas dos Ministérios Públicos
brasileiro e suiço, na Lava Jato e na chamada Lava Jato francesa, para anular o
Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) firmado entre Brasil e
França. Foi acionado contra a maior empreiteira brasileira, a Odebrecht, a
maior empresa de tecnologia da Coréia, a Samsung, e o maior fabricante de
reatores nucleares da França, através da criminalização do presidente Sarkozy,
que obrigou a França a vender sua área de turbinas nucleares para a General
Eletric.
Foi,
também, a adesão incondicional ao golpe do impeachemnt, que livrou a Globo de
denúncias de corrupção envolvendo a Fifa e o Conmebol.
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O fator Alexandre Moraes
Como
antecipamos há dias, a ofensiva norte-americana, contra Alexandre Moraes nada
tem a ver com Eduardo Bolsonaro, um boquirroto inexpressivo. Trata-se de uma
estratégia visando dobrar estados nacionais aos poderes das big techs.
A
medida permitirá retaliar a autoridade de qualquer país que intervenha nos
princípios norte-americano de liberdade de expressão. Embora o próprio EUA
esteja punindo severamente quem ousar defender a causa palestina.
Por
razões variadas, o Brasil tornou-se um símbolo global da luta contra o
obscurantismo. Em parte devido à Lula – apontado há anos por Steve Bannon como
o maior perigo a ser enfrentado pela ultradireita. E, agora, por Alexandre
Moraes, ministro do STF, e que tem se envolvido em uma luta indômita contra o
poder irresistível das big techs, inclusive enfrentando ameaças físicas a ele e
à sua família.
A
inacreditável capa da Veja com Eduardo Bolsonaro, os editoriais em defesa dele
pelos jornalões deixam claro esse movimento. O auge, aliás, foi um artigo de
Matheus Leitão, na Veja, tratando a ida da oficial de Justiça à UTI de
Bolsonaro como o ato “mais indigno” que ele testemunhou, mesmo com a fartura de
provas mostrando o jogo de cena de Bolsonaro com a cirurgia – transformando a
UTI em sala de visitas.
Esses
exageros retóricos lembram em tudo o terrorismo da Lava Jato – que tiveram nos
Leitão os maiores estimuladores.
Alexandre
Moraes não é apenas uma questão só do Supremo. Tornou-se um símbolo da
autonomia das Nações e, especialmente, do Brasil. Defendê-lo trata-se, agora,
de uma questão nacional.
Fonte:
BBC News Brasil

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