terça-feira, 17 de junho de 2025


 

Orlando Calheiros: Entre uma direita ferida e uma esquerda incapaz

O noticiário oscila: um dia, a direita empilha derrotas, seus líderes sangram em praça pública – metaforicamente, é claro. No outro, a esquerda fracassa em mais uma tentativa de ocupar o imaginário popular e recuperar seu protagonismo político, mesmo ostentando um presidente que supostamente age em seu nome.

Nós vivemos uma situação esdrúxula, onde ambos os espectros da política se mostram reiteradamente incapazes de se aprumar, de organizar o próprio campo em torno de um objetivo comum. E isso se torna particularmente crítico se levarmos em conta que as eleições de 2026 já se desenham no horizonte. 

De um lado, a direita vê boa parte de suas lideranças envolvidas em problemas com a justiça, focadas apenas em sobreviver fora das grades – algumas dessas lideranças, como Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro, até fugiram do país. 

Inclusive, é esse o motivo que justifica, inclusive, a demora na indicação clara de um substituto oficial para o ex-presidente Jair Bolsonaro. Pura estratégia de sobrevivência.

Entenda, leitor, leitora: se há um consenso na direita, especialmente entre os aliados do ex-presidente, de que não apenas seus direitos políticos não serão restituídos até as eleições do ano que vem, como provavelmente ele verá a ascensão de um novo presidente – ou a manutenção do atual – da cadeia. 

Sua prisão é apenas uma questão de tempo. Até ele sabe disso. 

E é justamente por isso, apenas por isso, que ele se recusa a apontar um sucessor, ou uma sucessora. Bolsonaro sabe que, ao dar a palavra final sobre quem o sucederá, vira passado em seu próprio campo. Passado e, portanto, descartável.

Bolsonaro precisa persistir enquanto um sujeito ativo da política, e não como uma memória, um símbolo. Para ele, já que, para o seu próprio campo, seria mais do que proveitoso que o ex-capitão aceitasse a sua derrota e, por consequência, a sua “morte política para valer” – para falarmos como o próprio costuma falar.

A esperança de seus correligionários é de que de sua cova emerja uma “nova direita”, liberta das das amarras do “Bolsonaro real”, livre para reimaginá-la (e vendê-la) de uma maneira mais adequada ao gosto do eleitor brasileiro. Constituindo – com o perdão do oximoro – uma extrema-direita suavizada

Enquanto isso não ocorre, a direita permanece sem uma orientação clara sobre os rumos que tomará no próximo ano: fechará um nome único? Adotará uma imagem mais radical ou suavizada? E, sobretudo, qm será o indicado ou indicada pelo clã Bolsonaro?

Esse entrave no campo da direita seria o momento ideal para que a esquerda agisse, tomasse as rédeas do imaginário nacional e, consequentemente, o protagonismo da política brasileira. 

Mas isso não ocorre. E esse é o outro lado dessa história. 

Com efeito, enquanto a direita parece sofrer com o excesso de lideranças, de figuras que tensionam e lutam pela hegemonia do próprio campo, seja para se salvar da cadeia, seja para assumir o posto próximo arauto da agenda conservadora, a esquerda parece ter um problema oposto, a escassez de lideranças políticas. 

<><> ‘E se Lula, por um motivo ou outro, não puder concorrer no ano que vem?’

Faça um exercício simples, leitor, leitora: enquanto a direita tem pelo menos quatro candidaturas viáveis para a presidência em 2026, a esquerda tem Lula e apenas Lula. 

E se Lula, por um motivo ou outro, não puder concorrer no ano que vem, como ficariam as eleições? Teríamos um novo 2018, o ano em que o PT lançou, às pressas, a candidatura de um “tal do Andrade”, um completo desconhecido de boa parte do público, para substituir Lula na véspera? 

Isso para ficarmos apenas no quadro da disputa presidencial. Pois nesse momento, o nosso campo sequer tem uma profusão de lideranças capazes de disputar, de forma contundente, cargos no legislativo. A projeção para o Senado em 2026, por exemplo, é de uma terra conquistada pela direita. O mesmo se repete no Congresso e nas esferas estaduais. 

Fenômeno que não tem nada de novo, pelo contrário. É sintoma de um problema antigo, de uma profunda ossificação dos principais partidos políticos do campo que, pelo menos desde a década passada, vem se mostrando incapazes – ou deliberadamente incapazes – de acompanhar as novas tendências da política, focando-se apenas na manutenção de seus quadros, digamos, clássicos. 

Um fenômeno que, como já falamos nessa coluna, se estende para o próprio governo, cada vez mais ensimesmado, centralizado em Lula. Incapaz de fazer o básico, de projetar novos nomes para a liderança do próprio campo. 

Resultado: uma classe política progressista que parece cada dia mais deslocada dos principais problemas e anseios da população. Incapaz de compreender as profundas transformações que a população brasileira sofreu ao longo das últimas décadas. Que o Trabalhador – com maiúscula – que empresta o nome ao principal partido do campo progressista, hoje, já não é aquele do final dos anos 80, 90. Que a sua realidade é completamente outra.

Com efeito, pois, inclusive, esse novo trabalhador já não se comunica e, portanto, se informa da maneira como fazia no passado. Não por coincidência – como o próprio Boulos notou após a sua derrota nas municipais de 2024 – este Trabalhador, mesmo precarizado, mesmo endividado, tenha dificuldade de se reconhecer como o pobre que o campo progressista afirma defender. 

A esquerda não se comunica bem pois, em larga medida, não compreende a realidade concreta de seus possíveis eleitores.  

E, por isso mesmo, é incapaz de se aproveitar desse momento de vacilo da direita, de montar uma estratégia que não apenas garanta – ao menos – a reeleição de Lula, mas que dê ao seu governo alguma sustentabilidade institucional, diminuindo a sua dependência do famigerado Centrão. Uma dependência que só aumenta e se torna cada vez mais frágil, especialmente a cada crise. De fato, da mesma forma que a esquerda não tem uma opção verdadeiramente viável para substituir Lula, também não possui uma opção para substituir o apoio do Centrão. 

E isso é muito, muito preocupante. Uma hora, a direita irá se rearticular, será forçada, nem que pelo sabor do segundo turno das eleições de 2026, a fechar o apoio em uma única liderança. E, quando esse momento chegar, já não haverá mais tempo para se rearticular. 

¨      “Lula chegará bem em 2026 e não temos o direito de deixar a extrema-direita voltar”, diz Gleisi

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegará em boa condição à disputa eleitoral de 2026 e reforçou que seu nome é indispensável para impedir o retorno da extrema-direita ao poder. Em entrevista publicada nesta segunda-feira (16) pelo jornal Valor Econômico, Gleisi declarou que o governo tem a responsabilidade histórica de barrar retrocessos e que Lula ainda é o principal líder político do país.

“Ele vai chegar bem. Nós temos o dever de não deixar a extrema-direita ganhar novamente a eleição no Brasil”, disse. A ministra também reconheceu que a recente queda na aprovação do governo está ligada à insatisfação com o atendimento do INSS, mas considera que o cenário é reversível e que a força simbólica de Lula segue intacta.

Segundo ela, pesquisas internas indicam que a população quer mais presença direta do presidente. “Nós temos uma pesquisa interna em que 79% das pessoas acham que o Lula devia falar mais. Acho que as pessoas estão com carência dele conversar mais e estar presente.”

<><> “Presidente, vamos viajar bastante o Brasil”

Gleisi revelou que tem incentivado o presidente a priorizar agendas nacionais e a intensificar seu contato direto com a população. “Eu sempre digo para ele: ‘Presidente, vamos viajar bastante o Brasil’”, contou. Embora reconheça a relevância das viagens internacionais de Lula, ela reforça que sua presença no território nacional é fundamental para consolidar apoios e reverter desgastes.

“É muito importante esse papel dele no mundo. Mas é óbvio que a gente, do ponto de vista da política e que vai fazer a disputa política, vai ficar querendo que ele esteja mais presente aqui.”

<><> Liderança insubstituível

Ao ser questionada sobre a possibilidade de surgirem outros nomes no campo progressista, Gleisi reconheceu que existem quadros preparados no governo, como Fernando Haddad, Camilo Santana e Rui Costa. No entanto, ela destacou que nenhum deles tem o mesmo peso político de Lula. “Lula é um líder, não é um quadro político. Então, é difícil você ter alguém que o substitua nesse patamar. [...] O Lula tem que ser o nosso candidato.”

A ministra ainda descartou sua própria candidatura ao Planalto, afirmando que nunca enfrentou o crivo do voto em cargos executivos. “Eu não tive experiência de governo com voto”, disse, mesmo tendo sido ministra-chefe da Casa Civil no passado.

<><> Alianças e disputa legislativa

Gleisi também falou sobre a necessidade de consolidar alianças para além das coligações formais e fortalecer a base do governo no Congresso. “O que nos cabe é procurar buscar e agregar para que esses partidos venham da forma mais inteira possível para uma aliança em 2026. Se não vierem formalmente, queremos que setores relevantes deles estejam junto com o presidente Lula.”

Segundo ela, a eleição de uma bancada sólida será essencial para garantir governabilidade em um eventual novo mandato. “Nós precisamos eleger um time forte no Congresso Nacional.”

<><> Gleisi alerta que derrubada do pacote fiscal afetará emendas parlamentares: “bate aqui, bate lá”

 A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), fez um duro alerta ao Congresso Nacional ao afirmar que uma eventual derrubada do novo pacote fiscal pelo Legislativo terá impacto direto nas emendas parlamentares.

Em entrevista publicada nesta segunda-feira (16) pelo jornal Valor Econômico, Gleisi avisou que, diante da rejeição do pacote, o governo será obrigado a intensificar o contingenciamento orçamentário, atingindo recursos discricionários — onde estão justamente as emendas. “Bate aqui e bate lá”, resumiu.

Com a missão de articular politicamente as ações do governo Lula em meio à turbulência provocada pelas reações do Congresso às medidas fiscais, Gleisi adota uma postura pragmática e defende que as propostas são estruturantes por combaterem privilégios e distorções do sistema tributário. “As medidas que nós apresentamos agora ao Congresso são medidas estruturantes porque elas atacam privilégios tributários”, disse. Segundo ela, os setores atingidos têm “muito dinheiro” e hoje pagam pouco ou nenhum imposto.

>>> Defesa de Haddad e críticas a rentistas

A ministra, que já criticou o arcabouço fiscal como presidenta do PT, agora declara apoio às ações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Eu era crítica ao arcabouço fiscal, mas fui vencida nessa discussão. A parte maior ganhou, o governo implementou, nós temos que fazer as entregas”, afirmou. Para ela, as propostas atuais de Haddad promovem justiça tributária e equilíbrio orçamentário.

Gleisi defendeu a cobrança de impostos sobre aplicações isentas como LCA e LCI, afirmando que o sistema atual favorece rentistas em detrimento da população trabalhadora. “O rentista ganha dos dois e não paga nada. O trabalhador médio, uma empregada, uma professora, pode pagar até 27,5% de Imposto de Renda. Então, é uma gritaria muito injusta.”

A ministra também apontou a necessidade de aumentar a taxação sobre apostas e lucros de fintechs. “Aumentar o imposto das bets é correto: foi de 12% para 18% e eu acho que poderia ser até mais.”

>>> Críticas ao Congresso

Na entrevista, Gleisi criticou o comportamento do Congresso por cobrar medidas de corte de gastos, mas ao mesmo tempo rejeitar propostas impopulares. “Ninguém quer votar medida impopular. Da esquerda à direita. Ninguém quer pôr o dedo na castanha quente”, disse. Ela desafiou os partidos a apresentarem textos alternativos: “Apresente as medidas de corte. Já vem com a assinatura de toda a bancada para ver se dá jeito de passar.”

Apesar das pressões, Gleisi descartou qualquer possibilidade de alteração nos pisos constitucionais de saúde e educação ou na desvinculação do salário mínimo de benefícios sociais. Ela também rejeitou uma reforma administrativa ampla, embora tenha sinalizado que o governo está aberto a medidas pontuais de eficiência.

>>> Emendas e tensão orçamentária

Sobre as críticas ao fluxo de liberação de emendas, Gleisi explicou que o novo modelo orçamentário, pactuado com o Supremo Tribunal Federal (STF), tornou o processo mais complexo e que os recursos começaram a ser empenhados apenas recentemente. “Não teve, por parte do Executivo, nenhuma intenção de prender o Orçamento, de não liberar emendas, zero.”

Caso o Congresso derrube o decreto do IOF ou rejeite o pacote fiscal, Gleisi antecipou que o governo pode acionar o STF ou ampliar ainda mais os bloqueios no Orçamento. “Isso seria ruim também para o Congresso com as emendas, que são igualmente submetidas a bloqueio e contingenciamento.”

 

Fonte: Brasil 247


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