Gilberto
Menezes Côrtes: Congresso vai ajustar gastos e os subsídios para valer?
A duras
penas, com as torneiras fechadas porque o Congresso não tinha aprovado o
Orçamento Geral da União 2025, o setor público consolidado registrou superávit
primário (receitas menos despesas, sem contar os juros da dívida pública) de R$
14,1 bilhões em abril. Maio já acabou e já na última revisão bimestral do OGU,
no começo do mês passado, o governo acendeu a luz amarela. Diante da
desaceleração tanto das receitas quanto das despesas neste ano, mas com os
juros em escalada, que contraem o crescimento da economia (3,4% em 2024 e 2,4%
na previsão oficial deste ano), tratou de amarrar o cinto com contenção de R$
31,3 bilhões nas despesas.
Como
sempre, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, procura dividir os sacrifícios
do ajuste estrutural das contas públicas com cortes de despesas e tentativas de
aumento de arrecadação sobre setores beneficiados com a alta dos juros. Como o
setor produtivo e as famílias endividadas não aguentam mais uma alta de juros
que derrubam a economia e a arrecadação, só gerando despesas para o endividado
Tesouro Nacional e lucros para banqueiros e rentistas, Haddad lançou mão de
mais alcance no Imposto sobre Operações Financeiras. Encarece o crédito de
forma mais localizada e é privativo da União. Como atinge operações dentro do
mercado, o centro financeiro da Faria Lima chiou e acionou seus tentáculos no
Congresso para reverter a medida.
O
presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, sem fazer distinção, disse que
a sociedade não aguenta mais aumento de impostos (esqueceu de colocar a
ressalva – "alta sociedade") e deu ultimato de 10 dias, já corridos,
para Haddad encontrar alternativas, e anunciou disposição de fazer reformas
estruturantes. Muita gente acreditou que Motta falava sério, e que a Câmara (e,
quem sabe, o Senado) aprovariam cortes importante em subsídios, renúncias
fiscais e privilégios que alcançam sempre o andar de cima, incluindo os cortes
das mordomias dos parlamentares, junto com a limitação dos altos salários.
Nada
disso. Motta quis misturar na proposta de Reforma Administrativa a
desvinculação do ganho real do salário-mínimo (a cota do crescimento do PIB
para os brasileiros que estão na ativa da remuneração mínima das aposentadorias
e programas sociais como o BPC), com desvinculação dos quinhões constitucionais
da Saúde e da Educação no OGU.
Creio
que a discussão é salutar. A maior causa imediata dos déficits das contas
públicas é a Previdência Social. A causa remota é o Funrural. Quando houve a
geada do café no Paraná e São Paulo, em julho de 1975, as lavouras foram
erradicadas e os fazendeiros abandonaram o colonato. Trocaram o café pela soja
mecanizada no PR e por lavouras de cana e cítricos em SP. As famílias dos
colonos, que plantavam milho, feijão e mandioca nas “ruas” do café, ficaram sem
trabalho. Para tirar os encargos das costas, os fazendeiros os inscreveriam no
Funrural, que pagava meio salário-mínimo. O ministro da Fazenda, Mário Henrique
Simonsen, resistiu, pois quebraria a Previdência. Os defensores diziam que era
de 400 mil a turma desalojada do café.
Em um
ano, todos os fazendeiros dos quatro cantos do país inscreveram os colonos no
Funrural. E a migração do campo para a periferia das cidades mudou o país. O
INSS quebrou, pois os segurados do Funrural, que somaram 4 milhões, nunca
recolheram contribuição. Veio a Constituinte e decidiu dobrar o Funrural (e o
BPC), argumentando (sem prever receita) que ninguém poderia ganhar menos que o
salário-mínimo. O debate segue atual. Nas vinculações do OGU às pastas, defendo
orçamentos plurianuais, adaptados às mudanças indicadas pelos Censos do IBGE –
a radiografia do país jovem de 1988 é bem diverso da pirâmide etária que cresce
a fatia dos idosos e tende a piorar.
Se o
Congresso quisesse discutir para valer as reformas estruturantes para ajustar
as normas orçamentárias ao perfil atual e futuro do país (que as reformas da
Previdência tentam, cosmeticamente, fazer), não teria proliferado os lobbies
que enfraqueceram muito a Reforma Tributária, com tantas exceções que a carga
tributária, na simplificação dos impostos sobre o consumo, vai ficar entre
27,5% e 28%. E a resistência às pressões do ministro Haddad para limitar no
tempo e na fatia do abate as deduções do Perse, o programa para compensar as
perdas dos setores de eventos na pandemia? Os shows são hoje a grande fonte de
renda dos artistas, com baixo pagamento de impostos. E, ainda, os subsídios da
Zona Franca de Manaus, serão atacados?
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Haddad manda a real
Na
segunda-feira, 26 de maio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, citou que a
equipe econômica havia descoberto “uma caixa preta no Orçamento federal de R$
800 bilhões de renúncia fiscal”. Segundo uma fonte, seguramente a renúncia de
arrecadação federal devido a benefícios tributários chegará a R$ 800 bilhões
neste ano, podendo até inviabilizar a máquina pública. Susto geral. No
orçamento de 2025, enviado pelo governo ao Congresso em agosto de 2024, a
Receita estimou que a renúncia de arrecadação será de R$ 544,47 bilhões este
ano. A cada ano os fatos superam as previsões. No ano passado, as empresas do
agronegócio declararam isenções de R$ 158,2 bilhões, quase R$ 100 bilhões acima
dos R$ 58,9 bilhões previstos no Orçamento. O Congresso aceitaria cortes no
Orçamento Secreto?
O
espírito altruísta do Congresso e oportunista pode ser resumido na última
manifestação do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), relator da
proposta de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil mensais em 2026
(estimado em 10 milhões de pessoas, contra compensação de maior tributação para
quem ganhar acima de R$ 50 mil mensais). Lira condicionou a aprovação do IOF a
compensações de perdas de receita dos Estados e Municípios. È verdade que o IOF
é exclusivo da União. Mas, como medir o aumento ou perda de receita comparada a
medidas alternativas, como a alta dos juros?
Acho
graça porque, em 2022, Arthur Lira era presidente da Câmara e aprovou, sem
qualquer restrição, o drástico, temporário e eleitoreiro (valeria de 1° de
julho a 31 de dezembro de 2022) corte de impostos federais e o ICMS dos estados
(que é repartido aos municípios) nos combustíveis, energia elétrica residencial
e das comunicações. Os estados e municípios reclamam até hoje ao governo Lula
(que pagou a conta da farra eleitoral).
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Não deu no 'New York Times'
Em
plenos anos de chumbo da ditadura, que durou 21 anos no Brasil, os jornais
brasileiros mediam a repercussão externa de certos casos ocorridos no país -
nos porões da repressão política - pela notícia ter saído no jornal “The
New York Times”, na época muito mais influente que o “The Washington Post”. O
"Post" ganhou relevância com as denúncias do caso Watergate (a
invasão do escritório do Comitê Democrata em Washington, por espionagem, de
“arapongas” do governo Nixon, em junho de 1972, cuja cobertura sistemática dos
fatos levou a processo de “impeachment” do presidente reeleito Richard Nixon,
com julgamento na Suprema Corte dos Estados Unidos, e à sua renúncia em 9 de
agosto de 1974. O "Pasquim", com o saudoso Henfil, usava muito o mote
“deu no New York Times”, ou "não deu", para valorizar notícias.
Recorro
a essa imagem para falar das supostas sanções atribuídas pelo Secretário de
Estado, Marco Rubio, ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de
Moraes. Ninguém ignora o fato a Eduardo Bolsonaro, que abandonou o seu mandato
de deputado federal (PL-SP), com licença de 120 dias na Câmara, em março, para
se radicar nos Estados Unidos, onde cavaria junto aos amigos e aliados da
ultradireita dos EUA ações do governo dos Estados Unidos a imposição de sanções
contra integrantes do Supremo, da Procuradoria Geral da República e da Polícia
Federal, pelo que considera ser uma "perseguição política" a si mesmo
e a seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está sendo julgado com mais 33
pessoas pela Primeira Turma do STF pelas tentativas de golpe que culminaram nas
ações de depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília, no 8 de janeiro de
2023.
Pois
bem, as versões das fontes ligadas ao deputado – agora cotado pelo papai
Bolsonaro a compor uma chapa para concorrer à presidência em 2026 – deram conta
nas últimas semanas que eram iminentes as sanções pesadas do governo Trump
contra o ministro Alexandre de Moraes, com amplificação das palavras do
secretário Marco Rubio que, quando anunciou suspensão de visto para mais de 300
mil estudantes chineses nos EUA, ao ser perguntado se haveria sanção a Moraes,
disse que "não seriam aceitas restrições a redes sociais nos Estados
Unidos nem censura a residentes nos EUA”.
Isso é
o óbvio. A jurisdição das leis brasileiras é limitada ao território nacional e
aos cidadãos brasileiros. Salvo ordens de prisão, após condenação da Justiça
brasileira, com pedido de captura do réu pelos terminais da Interpol, um
mandado judicial do Brasil não pode se sobrepor à lei americana. E vice-versa.
Mas,
segundo as versões, parecia que os Estados Unidos cassariam o passaporte de
Moraes, sequestrariam eventuais depósitos em bancos americanos, bem como o uso
de cartões de crédito por lá, por abusos nos julgamentos do golpe e das “fake
News”. Sem visto no passaporte, qualquer cidadão se torna ilegal em território
de outro país e está limitado nas transações financeiras. O respeitado jornal
inglês “Financial Times” noticiou na quarta-feira, 28 de maio, que o “Brasil
faz última tentativa de “lobby” para evitar sanções dos EUA a juiz de alto
escalão”. E acrescentou que o “Governo Trump simpatiza com argumentos
conservadores de que a liberdade de expressão está ameaçada no país
sul-americano”.
Eduardo
Bolsonaro já era celebrado como herói.
Só que
não. A decisão do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em telegrama
enviado dia 27, terça-feira, ao Ministério da Justiça do Brasil, era um ofício
que nada tem a ver com o inquérito do julgamento do golpe e das tramoias
antecedentes. Segundo o “The New York Times”, em matéria do dia 30,
sexta-feira, “o Departamento de Justiça disse que o ministro Moraes poderia
aplicar as leis no Brasil, mas que não poderia ordenar que empresas tomassem
medidas específicas nos Estados Unidos".
O caso
em questão é referente a uma ordem de Alexandre de Moraes - que é o relator do
caso das “fake News” e, por preventa (extensão) tornou-se relator do inquérito
do golpe - para que a rede social americana Rumble bloqueasse perfis de um
usuário no Brasil. Assim como Moraes exigiu e conseguiu, depois de muitos
esperneio às multas (devidamente pagas) que a rede X (de Elon Musk) designasse
um diretor responsável no Brasil, para se submeter às leis brasileiras que,
eventualmente, impõem remoção de postagens. Alexandre de Moraes está sendo alvo
de um processo movido pelas empresas do presidente Trump Media & Technology
Group, e pela plataforma Rumble.
O
busílis da questão é o seguinte: Moraes pode impor restrições no Brasil, mas
estas não se transferem ao território americano. Do mesmo modo, os Estados
Unidos não têm qualquer possibilidade de interferir nas leis brasileiras, e
muito menos nas decisões do Supremo Tribunal Federal atinentes ao território
nacional e a cidadãos brasileiros no país. Se fosse um telegrama do
Departamento de Estado dos EUA, chefiado pelo secretário Marco Rubio, estaria
criado um grave caso diplomático entre o Brasil e os Estados Unidos. Mas, ao
vir um telegrama do Departamento de Justiça a seu homólogo no Brasil, o
Ministério da Justiça, mesmo com a citação a Alexandre de Moraes, percebe-se
que os EUA recuaram um pouco.
Na
quarta-feira, 28, no dia seguinte ao telegrama, o secretário de Estado anunciou
que os Estados Unidos iriam restringir os vistos para “funcionários
estrangeiros e pessoas cúmplices na censura de americanos”. Em uma publicação
no X, Rubio disse que “americanos foram multados, assediados e acusados por
autoridades estrangeiras por exercerem seus direitos de liberdade de expressão”
e, portanto, essas pessoas “não deveriam ter o privilégio de viajar para o
nosso país”.
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Soberania territorial
Como
lembrou o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, que atuou para jogar água na
fervura, a alegada aplicação da Lei Magnitsky está circunscrita ao território
americano. Criada para punir graves violações de direitos humanos e casos de
corrupção transnacional, a lei deve ser usada nos EUA, e não em outros países.
“Os EUA podem tomar medidas nos EUA. A Lei Magnitsky não pode ser
extraterritorial e não pode atingir cidadãos brasileiros dentro do Brasil”,
disse Vieira. Mas, isso os bolsonaristas que afrontam a Constituição também
ignoram.
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Olho roxo de Musk, soco ou drogas?
Em
extensa reportagem no “The New York Times”, de autoria de Kirsten Grind e Megan
Twohey, ilustrada com a foto do bilionário Elon Musk com o olho direito roxo,
na despedida do governo Trump no salão Oval da Casa Branca, na sexta-feira, 30
de maio, o jornal insinua que a causa pode ter sido o uso cada vez mais intenso
de drogas “muito mais intensamente do que se sabia anteriormente, segundo
pessoas familiarizadas com suas atividades”. O NYT relata que “o consumo de
drogas de Musk ia muito além do uso ocasional. Ele dizia às pessoas que estava
tomando tanta cetamina, um anestésico potente, que isso estava afetando sua
bexiga, um efeito conhecido do uso crônico [o uso intenso de cetamina foi uma
das causas da morte do ator Matthew Perry, um dos astros da série “Friends”, no
ano passado].
À
medida que Elon Musk se tornou um dos aliados mais próximos de Donald Trump no
ano passado, liderando comícios barulhentos e doando cerca de US$ 275 milhões
para ajudá-lo a chegar à presidência, ele também estava usando drogas muito
mais intensamente do que se sabia anteriormente, segundo pessoas familiarizadas
com suas atividades. Musk usava Ecstasy e cogumelos psicodélicos. E viajava com
uma caixa de medicamentos diários que continha cerca de 20 pílulas, incluindo
algumas com as marcas do estimulante Adderall, segundo uma foto da caixa e
pessoas que a viram.
O NYT
pondera não estar claro se Musk, 53 anos, estava usando drogas quando se tornou
uma figura constante na Casa Branca este ano e recebeu o poder de cortar a
burocracia federal [ao receber uma motoserra do presidente argentino Javier
Millei, de óculos escuros em plena noite, em 20 de fevereiro, no primeiro mês
do governo, ele parecia um astro de rock em ambiente psicodélico]. No comando
do DOGE, o departamento de corte de custos na burocracia, segundo o NYT, “ele
apresentou comportamento errático, insultando membros do gabinete, fazendo
gestos semelhantes a um nazista e embaralhando suas respostas em uma entrevista
encenada”. O DOGE deu chabu, assim como os últimos lançamentos da SpaceX.
Ao
mesmo tempo, a vida familiar de Musk tornou-se cada vez mais tumultuada
enquanto ele negociava relacionamentos românticos sobrepostos e batalhas legais
privadas envolvendo seu crescente número de filhos, segundo documentos e
entrevistas. O empresário com dupla nacionalidade sul-africana e canadense tem
uma vida privada atribulada, sendo pai de 14 filhos com três mulheres
diferentes. Nesse turbilhão, não é de se admirar que seus negócios, a Tesla, a
Space X, a Starlink e a rede social X, estejam com muitos problemas e perdendo
valor em 2025. Na quarta-feira (28) à noite, Musk anunciou que estava
encerrando sua passagem pelo governo, após lamentar quanto tempo havia gastado
na política em vez de seus negócios. Cortina de fumaça: as ações do governo
Trump, com encomendas do Pentágono e subsídios do governo, são vitais para a
recuperação dos seus negócios.
Musk e
seu advogado não responderam a pedidos de comentário do NYT esta semana sobre
seu uso de drogas e vida pessoal. Ele já disse anteriormente que foi receitado
cetamina para depressão, tomando-a cerca de uma vez a cada duas semanas. E
disse ao seu biógrafo: “Eu realmente não gosto de usar drogas ilegais”. É
preocupante. Os nazistas também usavam drogas potentes.
¨
Bússola avariada e voos cegos. Por Adhemar Bahadian
De vez
em quando, me lembro da “Hora do Brasil”. Na minha infância, programa
transmitido ao cair da noite em todas as rádios do país. Minhas tias o ouviam
enquanto esperavam impacientes a novela que se seguia, “Direito de Nascer”.
Deveria chamar-se o “Direito de envelhecer”, pois depois do rádio seguiu por
muitas eras na televisão…
A “Hora
do Brasil” me parecia singrar um mundo muito mais fascinante. A voz do locutor,
sempre grave e dramática, alertava: "aviso aos navegantes: farol da Barra
azul apagado. Risco de ventos fortes a sudeste. Boia de amarração
avariada".
E
aquelas frases me faziam vivenciar, num misto de medo e coragem, a vida dos
navios e tripulantes nos mares do Brasil. Nos anos da guerra - me lembro de
raspão - havia sempre o risco dos submarinos nazistas, sempre traiçoeiros a
atacar, com seus torpedos, pacíficos navios de cabotagem.
Hoje
são bem maiores os perigos e sempre mais assustadoras as notícias. Os
submarinos contra os quais lutamos em busca da liberdade e da Democracia agora
parecem ter mudado de bandeira e navegam e aportam em mares antes insuspeitos
de os abrigarem. Há, senhores navegantes, muitos faróis apagados, muitas minas
marítimas desgarradas, muita novela a defender o não direito de viver. Tempos
de ventos de insânia, mas também de cobiça e de lucro desenfreado.
Com o
fim da Segunda Guerra, vivemos os chamados anos dourados até os anos 70 do
século 20. De lá para cá, começando com Nixon e se consolidando com Reagan e
Thatcher, o mundo ocidental - esta parte da terra que nos toca - jogou aos
mares o Trumpnik, transatlântico do neoliberalismo, que, hoje, morto-vivo, põe
em nossos corações um grande medo.
É mais
do que hora de enfrentarmos essas novas realidades dissonantes com tudo que
aprendemos e valorizamos nos últimos 80 anos. Não há como sustentar a política
disseminada por Donald Trump sem contrariar os princípios básicos da
Democracia, do Direito Internacional e dos ideais de crescimento e
desenvolvimento que inspiraram as Nações Unidas.
Com a
proposta neocapitalista trumpista ressurge das noites de trevas o pior das
relações internacionais ou meramente civilizacionais. A retomada da política
chamada de “tarifaço“ é simplesmente o deboche reiterado de décadas de
negociações comerciais tanto no GATT quanto na OMC, e faz da lei do mais forte
o princípio fundamental das relações econômicas e políticas desde o fim da
Segunda Guerra Mundial.
As ridículas restrições à liberdade de ensino impostas às Universidades
americanas nos surpreendem pelo barbarismo inédito e pela desfaçatez de estarem
a ser defendidas como consoantes com os direitos de liberdade de expressão.
As
críticas ao Supremo Tribunal Federal brasileiro e a seus ministros ficarão como
nódoa impagável na história das relações bilaterais Brasil e Estados Unidos da
América. Principalmente porque, sabemos todos, são patrocinadas por
poderosíssimas empresas de comunicação pouco ou nada preocupadas com os
direitos democráticos e interessadas apenas em expandir os monopólios e
oligopólios no mercado internacional.
O que
se deve ter em mente em situações como esta não é o resultado politico para
este ou aquele partido. A comunhão de interesses se impõe.
Não se
pode comprometer a soberania nacional por razões eleitorais que beneficiem a
quem quer que seja.
Como
certa vez disse Carlos Lacerda, com espada ou cortador de unhas, não se pode
rasgar a Constituição. E Lacerda entendia de golpes.
Além do
mais, como estamos vendo, Trump não prega prego sem estopa. E o preço do apoio
dele não é barato.
A
próxima reunião dos Brics aqui no Brasil é excelente oportunidade para que se
harmonizem medidas internacionais com vistas a proteger a Democracia - bem
maior que não podemos perder mais uma vez - e eliminar o autoritarismo. Não há
como negar que o neoliberalismo revisitado que se propõe instalar nos Estados
Unidos da América é um risco para as liberdades que mal ou bem reconquistamos
por determinação cívica.
O risco
não é trivial e justifica, dentre outras coisas, que o Congresso Brasileiro
reaprenda a linguagem da política e se liberte da paroquialidade abusiva e de
linguagem escravocrata que assistimos constrangidos, envergonhados e revoltados
na visita da ministra do Meio Ambiente, Marina da Silva, ao Senado Federal.
Fonte:
Jornal do Brasil

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