'Gaza
está pior que o inferno na Terra', diz chefe da Cruz Vermelha
Gaza se tornou pior
do que o inferno na Terra, de acordo com a presidente do Comitê Internacional
da Cruz Vermelha (CICV), Mirjana
Spoljaric.
Em uma
entrevista à BBC na sede do CICV em Genebra, Spoljaric disse que
a humanidade está falhando. Os Estados não estão fazendo o suficiente para
acabar com a guerra, acabar com o sofrimento dos palestinos e libertar os
reféns israelenses, acrescenta.
Segundo
ela, os palestinos foram despojados da dignidade humana. O direito humanitário
internacional está sendo esvaziado.
O que
está acontecendo em Gaza, segundo ela, ultrapassa qualquer padrão legal, moral
e humano aceitável.
Pelo
terceiro dia consecutivo, palestinos foram mortos enquanto se reuniam para
coletar ajuda.
O CICV
é uma organização internacional que atua em zonas de guerra. Ele tem mais de
300 funcionários em Gaza, a maioria palestinos.
Seu
hospital cirúrgico em Rafah, no sul de Gaza, é a instalação médica mais próxima
da área onde muitos palestinos foram mortos durante a caótica distribuição de
ajuda nos últimos dias, perto de locais administrados pela Gaza Humanitarian
Foundation (GHF), apoiada por Israel e pelos EUA.
O CICV
diz que ontem de manhã suas equipes cirúrgicas de Rafah receberam 184
pacientes, incluindo 19 pessoas mortas na chegada e outras oito que morreram de
seus ferimentos pouco tempo depois. Esse foi o maior número de vítimas de um
único incidente no hospital de campanha desde que ele foi criado, há pouco mais
de um ano.
O CICV
é considerado o guardião das Convenções de Genebra. A quarta, acordada após a
Segunda Guerra Mundial, foi criada para proteger os civis em guerras.
As
regras da guerra, segundo Spoljaric, se aplicam a todas as partes.
Os
ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 não foram justificativa para
os eventos atuais, diz ela. Spoljarić diz que o CICV está profundamente
preocupado com o discurso de vitória a todo custo, guerra total e
desumanização.
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Centros de distribuição de ajuda fechados
Os
centros de distribuição de ajuda em Gaza serão fechados hoje depois que os
militares israelenses avisaram que as estradas que levam aos locais serão
consideradas "zonas de combate".
A Gaza
Humanitarian Foundation (GHF), uma controversa rede de ajuda apoiada pelos EUA
e por Israel que começou a operar na semana passada, diz que está fechando seus
sites para "trabalhos de atualização, organização e melhorias de
eficiência".
Em uma
atualização separada, as Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que as
pessoas seriam "proibidas" de entrar nos centros de distribuição ou
de viajar pelas estradas que levam a eles.
Isso
ocorre depois que pelo menos 27 palestinos foram mortos por disparos
israelenses perto de um centro de distribuição na terça-feira, de acordo com a
Agência de Defesa Civil administrada pelo Hamas. As IDF afirmam que suas tropas
dispararam tiros depois de identificar suspeitos que se dirigiram a elas
"desviando-se das rotas de acesso designadas".
Foi o
terceiro incidente mortal em um mesmo dia que ocorreu em uma rota para um local
da GHF.
A ONU
alertou que mais de dois milhões de pessoas correm o risco de morrer de fome em
Gaza, depois de uma proibição israelense total de remessas de alimentos e
outras ajudas que durou 11 semanas.
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Acordo
Os EUA
tentam, no momento, negociar um acordo de
cessar-fogo entre Israel e o Hamas.
O Hamas
respondeu à proposta de cessar-fogo dos EUA declarando que está disposto a
libertar 10 reféns israelenses vivos e 18 reféns mortos em troca de mil
prisioneiros palestinos.
No
entanto, o grupo também reiterou suas exigências por uma trégua permanente, a
retirada completa de Israel de Gaza e garantias para a continuidade do fluxo de
ajuda humanitária. Nenhuma dessas exigências está incluída no acordo em discussão.
O Hamas
alegou ter apresentado sua resposta, acrescentando à proposta de Steve Witkoff,
enviado especial do presidente americano Donald Trump para o Oriente Médio.
Witkoff
afirmou que a proposta do Hamas é "inaceitável e só nos atrasa" e
insistiu que o acordo com os EUA é "a única maneira de concluir um
cessar-fogo de 60 dias nos próximos dias".
Pelo
menos 54.381 pessoas morreram em Gaza durante a guerra que eclodiu após o Hamas
lançar ataques contra Israel em 7 de outubro de 2023, de acordo com o
Ministério da Saúde do território.
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A escolha de Israel para o povo de Gaza: arriscar suas
vidas por suprimentos ou morrer de fome
Uma
investigação completa e independente sobre os assassinatos de palestinos que tentavam
arrecadar alimentos para suas famílias, e a responsabilização por suas mortes,
é essencial. Mas nenhuma investigação é necessária para estabelecer que Israel
é, em última análise, responsável por deixar as pessoas famintas e, em seguida,
implementar um programa de coleta de alimentos que não pode resolver a crise
humanitária e que é sabidamente perigoso. Os EUA, que promoveram esse programa,
são cúmplices.
Autoridades
de saúde em Gaza afirmam que pelo menos 27 pessoas foram mortas por disparos
israelenses enquanto aguardavam comida na terça-feira – o terceiro incidente do tipo em três dias.
(O exército israelense disse que as tropas atiraram contra pessoas "que se
moviam em sua direção... de uma forma que representava uma ameaça".)
Autoridades disseram anteriormente que as forças israelenses mataram mais de 30 palestinos no domingo e
outros três no dia seguinte; o exército afirmou que não atirou em civis, mas
sim em "tiros de advertência". A Fundação Humanitária de Gaza (GHF) –
a organização privada americana que administra o esquema – suspendeu as operações na quarta-feira
para "trabalhos de atualização, organização e melhoria da
eficiência".
Nenhuma
atualização pode consertar isso: o próprio esquema de alimentos é o problema. A
ONU e as agências de ajuda temiam que ele violasse o direito internacional e se
recusaram a trabalhar com o GHF; o diretor fundador renunciou , dizendo que o
GHF não seria capaz de entregar ajuda enquanto aderisse aos princípios
humanitários. Altos oficiais militares israelenses supostamente levantaram preocupações . Muitas
pessoas não conseguem chegar aos locais. Aqueles que conseguem enfrentam um
risco maior de ter suprimentos escassos roubados por outras pessoas
desesperadas. Produtos não alimentícios essenciais, como medicamentos, não
estão incluídos. O risco de tiroteios era claro: contratados americanos armados
administram os três locais e tropas israelenses controlam as áreas ao redor. Os
palestinos são forçados a escolher - arriscar suas vidas ou ver seus filhos
morrerem de fome.
Após 11
semanas de cerco total, seguido por um fluxo constante de suprimentos, Gaza
é o lugar mais faminto da Terra , afirma a ONU.
Nunca foi plausível que esse esquema pudesse alimentá-la. É uma desculpa para a
fome contínua de civis por parte de Israel e ajuda a deslocá-los para uma área
cada vez menor. O ministro de extrema direita Bezalel Smotrich afirmou que Gaza será "inteiramente
destruída" para que sua população "partirá em grande número para
países terceiros". Em suma, limpeza étnica.
O uso
de alimentos como arma se soma aos ataques a escolas que estão sendo usadas
como abrigos, à destruição de hospitais e à morte de dezenas de milhares de
civis. Os crimes de guerra de Israel fizeram com que o apoio público despencasse na Europa
Ocidental e caísse acentuadamente nos EUA. No entanto, os políticos estão
atrasados. Sir Keir Starmer chama a situação de "intolerável", mas
até que o Reino Unido aja decisivamente, ele está, na realidade, tolerando-a. O
Reino Unido, a França e o Canadá alertaram sobre " medidas concretas " e devem
segui-las. Os EUA podem parar este conflito amanhã, mas a União Europeia, o
maior parceiro comercial de Israel, também tem poder real . Ela está
agora revisando seu acordo comercial com Israel; deve suspendê-lo. Melhorar a
ajuda é uma demanda necessária, mas não suficiente. A necessidade é criada pela
guerra. A solução real ainda é um cessar-fogo e a libertação dos reféns capturados
pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.
Como alertou Mirjana
Spoljaric, presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, o próprio
direito internacional está sendo esvaziado – com profundas implicações para os
conflitos futuros. Enquanto Israel desfrutar de impunidade, mais palestinos
morrerão e vidas humanas em todos os lugares serão desvalorizadas. Israel
precisa ser responsabilizado.
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Drone rastreia Flotilha da Liberdade que leva suprimentos
humanitários a Gaza
O navio
Madleen, operado pela Coalizão da Flotilha da Liberdade (FFC), continua sua missão
rumo à Faixa de Gaza com suprimentos humanitários, enquanto o enclave palestino
enfrenta uma severa crise alimentar devido ao bloqueio total imposto por Israel
há mais de três meses.
A
caminho de Gaza desde o último domingo (01/06), a embarcação foi monitorada
nesta madrugada por um drone da Guarda Costeira Helênica. De acordo com dados
do FlightRadar, um IAI Heron UAV — veículo aéreo não tripulado de fabricação
israelense — realizou uma missão de reconhecimento na região do navio. A
operação aérea foi confirmada pelo Ministério da Defesa da Grécia.
O drone
decolou às 16h30 (19h10 GMT) de ontem (03/06) e permaneceu no ar até às 04h12
(07h12 GMT) desta quarta-feira (04/06). Informações geográficas apontam que a
aeronave operou a cerca de 8 km (5 milhas) de distância do Madleen.
Em nota divulgada nas redes sociais, a Coalizão da
Flotilha da Liberdade informou que ‘o drone não está mais lá’ e que ‘todos a
bordo do Madleen estão seguros’.
Eles
informaram nas redes sociais que o Heron, um
drone de vigilância israelense desenvolvido pela Israel Aerospace Industries
(IAI), é usado por diversas forças armadas, incluindo Israel e Grécia, para
controle de fronteiras, monitoramento marítimo e coleta de inteligência.
O
equipamento “pode voar por mais de 40 horas em altitudes de até 35.000 pés e é
equipado com câmeras avançadas e sistemas de radar projetados para rastrear
movimentos a grandes distâncias. Ele é capaz de transmitir vídeos em tempo real
e operar via satélite a uma distância considerável de sua base de controle
terrestre”.
“Ver
este drone sobre o Madleen, um barco civil que transporta ajuda humanitária e
próteses para crianças em Gaza, é um lembrete arrepiante de quão rigorosamente
até mesmo missões pacíficas são monitoradas”, afirmou a organização.
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A caminho de Gaza
A
embarcação zarpou de Catânia, na Sicília, em 1º de junho, apenas um mês
após outro navio da FFC ter sido atacado
por drones israelenses. A viagem de aproximadamente 2.000 km deve durar
sete dias, caso não haja contratempos. A localização do navio continua sendo
monitorada em tempo real pela organização Forensic Architecture, com apoio de
um rastreador Garmin instalado a bordo.
A
última posição registrada a 01h (04h GMT) de hoje, indicava que a embarcação
estava a cerca de 600 km da costa da Sicília. A bordo estão 12 ativistas, entre
eles, o brasileiro Thiago Ávila e a sueca Greta Thunberg, conhecida
mundialmente por sua atuação em questões climáticas.
A
missão do Madleen representa mais uma tentativa internacional de romper o
bloqueio a Gaza e prestar auxílio à população civil, que sofre os efeitos
devastadores da ofensiva israelense, que já levou a mais de 54 mil mortos.
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No lado certo da história
Durante
uma transmissão ao vivo realizada em águas internacionais com o portal Middle
East Eye, Thunberg afirmou que decidiu participar da missão porque considera
que os governos estão falhando em agir diante da crise humanitária em Gaza.
“Prometemos a nós mesmos e ao povo palestino fazer tudo o que pudermos”,
declarou.
“Quando
nossos governos estão falhando conosco… então cabe a nós intensificar e ser os
adultos na sala”, disse. Ela contou que “o ânimo está alto” entre os
tripulantes do Madleen, apesar dos receios de novos ataques. “Não podemos
sentar e permitir que isso aconteça. Estamos assistindo… um genocídio
acontecer, após décadas e décadas de opressão sistemática, limpeza étnica,
ocupação”, disse.
“Esta
missão é apenas parte de um movimento global por justiça social e climática,
libertação e descolonização liderado por pessoas marginalizadas. Se quisermos
ficar do lado certo da história, é nosso dever e já é hora de nos juntarmos a
esse movimento”, postou nas redes sociais.
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Conselheiro de Trump assume comando da Fundação
Humanitária para Gaza
A
Fundação Humanitária para Gaza (GHF, na sigla em inglês), apoiada pelos
governos dos Estados Unidos e de Israel, nomeou o líder evangélico Johnnie
Moore como seu novo presidente.
Conselheiro
de Donald Trump para assuntos inter-religiosos e membro da Comissão dos EUA
para a Liberdade Religiosa Internacional, Moore assume o cargo após a renúncia
de Jake Wood, ex-fuzileiro naval dos EUA. Wood declarou que não poderia
garantir a independência da fundação em relação aos interesses israelenses.
A
nomeação ocorre em meio às acusações contra a entidade de ser uma fachada a
serviço de Israel, em seu genocídio contra a população palestina. Os recentes
ataques israelenses, que mataram 50 palestinos nos últimos três dias nos
centros de ajuda humanitária comandado pela entidade, corroboram as denúncias.
Os
ataques acontecem desde o segundo dia do início da distribuição de
alimentos, em 27 de maio, quando 50 pessoas
ficaram feridas e três morreram, após soldados israelenses abrirem fogo contra
palestinos em filas de distribuição de alimentos.
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Sucessão de ataques
Terça (03/06), 27 pessoas foram
mortas e 200 ficaram feridas no centro de ajuda administrado pela
GHF, em Rafah. O Alto Comissário das Nações Unidas (ONU) para os Direitos
Humanos, Volker Türk, afirmou que os ataques de
Israel contra civis na Faixa de Gaza violam o direito internacional e
constituem crimes de guerra.
Na
segunda-feira (02/03) foram registradas três mortes e no domingo (01/02), 31 palestinos foram assassinados enquanto
buscavam alimentos. A sucessão de ataques israelenses levou o
secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, a
pedir uma investigação “imediata e independente”.
A
pressão internacional aumenta a crise institucional da entidade, que já perdeu
apoio da Boston Consulting Group (BCG). Apesar das evidências, seu novo
presidente afirmou na plataforma X, que os relatos de
mortes de palestinos durante a distribuição de ajuda era uma “mentira…
espalhada por terroristas”.
Moore
também disse que a GHF entregou “7 milhões de refeições em apenas 8 dias, em
uma das crises humanitárias mais complexas e perigosas da atualidade”. Nesta
quarta-feira (04/06), a GHF suspendeu a distribuição de alimentos, alegando que
irá discutir o reforço da segurança com as Forças de Defesa de Israel (IDF).
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Financiadores
Em
artigo publicado no portal The Grayzone e traduzido
no site da Fepal, Max Blumenthal e
Wyatt Reed trazem denúncias de altos legisladores israelenses que apontam o
Mossad como o grande financiador da GHF. Segundo eles, a entidade estaria sendo
instrumentalizada como parte de um plano para forçar a população palestina a se
concentrar em centros descritos como semelhantes a campos de concentração.
Fundada
recentemente na Suíça, a GHF seria, segundo as denúncias, uma fachada para
empresas de segurança privada usadas por Israel para substituir o papel
tradicionalmente exercido pelas Nações Unidas na ajuda humanitária. Ainda não
se sabe publicamente quem financia essas operações, apontam.
A GHF
declarou ter garantido US$ 100 milhões de um doador anônimo, mas o político de
direita Avigdor Lieberman afirmou na plataforma X, que o financiamento vem
diretamente do Mossad e do Ministério da Defesa de Israel, acusando o governo
de usar recursos públicos israelenses para essas ações secretas.
As
revelações sugerem que Israel estaria utilizando sua estrutura militar e de
inteligência para executar um plano de limpeza étnica em Gaza, sob o disfarce
de ajuda humanitária, aponta os autores no artigo.
Fonte:
BBC News/The Guardian/Al Jazeera/Opera Mundi

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