Em
Gaza “não há apenas uma crise humanitária”, Israel enfrenta “uma crise de
credibilidade”
No Jewish
News os editoriais são relativamente raros – menos de uma vez por mês – e
desde o massacre de 7 de outubro
de 2023 nunca
avançaram qualquer crítica em relação ao Governo ou ao exército israelense. O
editorial de 3 de junho marca um primeiro distanciamento crítico, ainda que
ténue.
A razão
desta posição fundamenta-se no facto do “Hamas ter afirmado esta
semana que pelo menos 27 pessoas foram mortas e 90 feridas” pelo exército
israelense “enquanto aguardavam ajuda supervisionada pela nova Fundação Humanitária
de Gaza (GHF),
aprovada por Israel”. A GHF foi apresentada pelo Estado de
Israel como sendo um instrumento para operacionalizar um novo modelo de
distribuição de ajuda alimentar em
Gaza.
Mas é acusada por vários países ocidentais e observadores independentes de ter
como objetivo ajudar Israel a atingir os seus objetivos militares, contornando
a ONU e excluindo os palestinianos.
A
nova Fundação Humanitária de Gaza é apoiada pelos EUA e
iniciou as suas operações de distribuição de alimentos na segunda-feira, dia 26
de maio. Mais de meia centena
de palestinos foram mortos pelo exército israelense e centenas
feridos durante três operações de distribuição de alimentos, de acordo com
informações veiculadas pelo Ministério da Saúde de Gaza, dirigido
pelo Hamas.
Para o
jornal judeu, “a GHF deveria marcar um ponto de viragem, deveria
impedir que a ajuda fosse desviada pelos terroristas e garantir que os civis
recebessem suprimentos vitais”, no entanto “sem olhos e ouvidos no local, a
própria narrativa que Israel espera dilatar está a afundar-se sob o
peso de alegações impossíveis de verificar e imagens horríveis de caos e
carnificina”.
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“Transparência não é uma ameaça”
Daí
que, perante a impossibilidade de obter uma visão dos acontecimentos a partir
de fontes independentes e imparciais, o Jewish News defenda que:
“Autorizar a entrada de jornalistas em Gaza permitiria a verificação
dos factos, fornecendo uma imagem mais clara da situação no local. Também
permitiria obter relatos precisos sobre a eficácia e a segurança do novo
sistema de distribuição de ajuda, como ele está a ser útil por aqueles que mais
precisam e se está, ou não, a ser manipulado.”
Recorrendo
à figura de um célebre repórter e editor da BBC para o Oriente Médio,
o jornal acrescenta: “Queremos ver Jeremy Bowen na BBC,
relatando no local os moradores de Gaza a receberem a ajuda
organizada por Israel. A sua presença, juntamente com a de repórteres de
guerra de todo o espectro, trará uma certificação séria [de como as coisas se
passam]. Transparência não é uma ameaça, é uma tábua de salvação, um separador
de águas.”
O
editorial não aceita a permanente desculpa israelense sobre a inexistência de
condições de segurança para os jornalistas trabalharem: “Preocupações com a
segurança? Os correspondentes de guerra não são estranhos ao perigo.” E termina
afirmando: “Que razão racional pode haver para negar isso [a entrada de
correspondentes internacionais]? Se Israel quer que o mundo veja a
verdade, deve deixá-los vê-la”.
De
acordo com várias investigações, desde 7 de outubro de 2023, o exército israelense
matou em Gaza mais 230 jornalistas e profissionais de mídia. Estes números
superam em muito o total de jornalistas que morreram durante toda
a Segunda Guerra Mundial. O ataque sistemático e mortal a jornalistas
em Gaza está descrito e documentado, por exemplo, no The
Reporting Graveyard, um relatório do jornalista Nick Turse para o
projeto “Costs of War” no Watson Institute for International and
Public Affairs da Universidade de Brown (EUA).
¨
Católicos americanos não conseguem ignorar a violência e
a morte em Gaza
É
difícil encarar as histórias sombrias e as estatísticas alarmantes que vêm
de Gaza. Mas, como americanos, cujos impostos e líderes políticos
viabilizaram a campanha de bombardeios israelense em Gaza, não devemos nos
esquivar. E como católicos, que acreditam que cada pessoa é criada à imagem de
Deus, somos chamados a estar atentos. Ao processar a extensão do sofrimento, é
útil recordar o princípio fundamental da nossa Doutrina Social
Católica — que cada criança, mulher e homem possui dignidade inerente e o
direito divino não apenas de sobreviver, mas de viver bem.
Os
filhos falecidos do Dr. al-Najjar estão entre as
cerca de 14 mil crianças palestinas mortas em Gaza nos últimos 19
meses — centenas delas desde o fim do breve cessar-fogo em meados de março de
2025. No total, mais de 50 mil palestinos teriam sido mortos desde outubro de 2023,
mas estudiosos acreditam que o número pode ser muito
maior. Israel lançou sua campanha militar após o ataque do Hamas ao
sul de Israel em 7 de outubro de 2023, quando cerca de 1.200 pessoas foram
mortas e 250 feitas reféns.
A
escala de violência e mortes em Gaza é particularmente chocante
quando comparada com as guerras e atrocidades das últimas décadas. Uma análise
de 2024 da Oxfam constatou que, durante o primeiro ano da guerra de Gaza, mais mulheres e
crianças foram mortas do que em qualquer outro conflito no período equivalente
nas últimas duas décadas. Outra análise da ONU Mulheres constatou
que, em média, uma menina ou mulher foi morta a cada hora
em Gaza devido aos ataques israelenses em andamento, totalizando mais
de 28 mil.
O
número de feridos em Gaza supera em muito a contagem de mortos — mais
de 110 mil. O filho do Dr. Al-Najjar, Adam, está
entre as mais de 34 mil crianças feridas, muitas vezes com gravidade. De
acordo com um novo estudo, Gaza tem o maior número per
capita de crianças amputadas do mundo.
Os
bombardeios generalizados, as evacuações forçadas, as incursões terrestres e os
assassinatos seletivos de civis (incluindo duas mulheres abrigadas na única
igreja católica de Gaza) por Israel forçaram a maioria dos dois
milhões de moradores de Gaza a deixarem suas casas. Grande parte da
infraestrutura habitacional foi severamente danificada ou destruída, o que
significa que muitos palestinos estão abrigados em acampamentos, escolas,
hospitais e igrejas, muitos dos quais foram danificados por ataques aéreos.
Bairros inteiros foram reduzidos a escombros.
Os
palestinos vivem em condições insalubres e superlotadas. Há pouco ou nenhum
acesso a água limpa — Israel cortou o fornecimento de energia para as
principais estações de tratamento de água — e o esgoto flui livremente. Em um
webinário recente promovido pelo Conselho Consultivo Católico de Igrejas
pela Paz no Oriente Médio (do qual sou membro), o Dr. Greg Shay, pneumologista
católico americano que trabalhou como voluntário em hospitais
de Gaza antes e durante a guerra atual, compartilhou relatos e fotos
perturbadores sobre o aumento de doenças, especialmente em crianças.
Durante
10 semanas nesta primavera, Israel instituiu um bloqueio total
em Gaza, proibindo até mesmo o acesso a itens essenciais como alimentos,
combustível e remédios. Agora, uma pequena quantidade de ajuda está sendo
fornecida através de zonas militarizadas mortais, mas não é suficiente; um
representante das Nações Unidas chamou isso de uma situação de
"escassez planejada". Crianças e idosos estão morrendo de fome, e
muitos que não sucumbiram estão gravemente desnutridos.
A
situação de gestantes e bebês é particularmente preocupante. As taxas de aborto
espontâneo estão alarmantemente altas devido ao estresse e à falta de nutrição
e cuidados pré-natais. Muitas estão fazendo cesáreas sem anestesia e têm
dificuldade para encontrar fórmula e fraldas. Alguns recém-nascidos foram
mortos em ataques aéreos israelenses ou morreram de infecção poucos dias após o
nascimento.
Além
disso, Gaza se tornou a zona de guerra mais mortal para jornalistas
já registrada. Um novo relatório do projeto Custos da Guerra do Instituto
Watson para Assuntos Internacionais e Públicos constatou que "mais
jornalistas foram mortos em Gaza do que em ambas as guerras mundiais, a Guerra
do Vietnã, as guerras na Iugoslávia e a guerra dos EUA no Afeganistão
juntas". Hospitais em Gaza foram atacados
por Israel e todas as universidades foram danificadas ou destruídas.
Trabalhadores humanitários foram alvos diretos do exército israelense, e
médicos palestinos detidos relataram ter sido torturados.
Diante
dessas realidades, muitas das quais foram consideradas crimes de guerra por uma
comissão da ONU, cada vez mais grupos de direitos humanos, acadêmicos e
jornalistas acreditam que as ações de Israel
em Gaza constituem
um genocídio — mesmo aqueles que inicialmente hesitaram em usar o termo. Esses
especialistas estão preocupados não apenas com a escala da violência e a
privação de bens essenciais da população civil, mas também com a retórica
desumanizante de algumas autoridades israelenses.
A
carnificina em Gaza precisa parar. O princípio da doutrina social
católica,
conhecido como a opção preferencial pelos pobres, nos lembra de concentrar
nossa energia em aliviar o sofrimento daqueles que são mais vulneráveis e oprimidos.
O que
podemos fazer a meio mundo de distância? É fácil sentir-se desesperançoso e
impotente depois de meses de advocacy fracassados. Ainda
assim, podemos pressionar nossos representantes eleitos a pôr fim à
cumplicidade dos EUA no ataque israelense a Gaza. Uma nova
campanha multirreligiosa, "Cartas por Gaza", incentiva os americanos
a escreverem cartas manuscritas com a maior frequência possível aos seus
representantes no Congresso até que a ajuda humanitária adequada seja
fornecida, um cessar-fogo seja alcançado e os reféns sejam libertados. Há
muitas outras maneiras de exercer nossa solidariedade também.
No
mínimo, podemos, como o falecido Papa Francisco e o nosso novo Papa Leão, elevar as nossas
orações e as nossas vozes. Podemos afirmar os direitos e a dignidade de todas
as pessoas e, ao fazê-lo, fazer com que as famílias em Gaza saibam
que não as esquecemos.
¨
Médicos Sem Fronteiras teme que forças israelenses
inviabilizem operação de mais um hospital de Gaza
No sul
de Gaza, as ordens de deslocamento e as restrições de movimento impostas pelas
autoridades israelenses relacionadas ao hospital Nasser estão fazendo com que
essa instalação médica vital se torne inoperante, alerta Médicos Sem Fronteiras
(MSF). Ordenar que os hospitais recusem novos pacientes e dificultar o
acesso das pessoas aos locais de atendimento têm sido um padrão das forças
israelenses durante a guerra, destinado a acabar com os hospitais. O Nasser é
uma instalação vital que restou para as pessoas que necessitam de cuidados
médicos, e sua funcionalidade completa deve ser restaurada imediatamente e
preservada.
Em 3 de
junho, nossas equipes foram informadas de que qualquer deslocamento para o
hospital Nasser exigiria autorização, que deveria ser solicitada com pelo menos
24 horas de antecedência. Isso significava que os profissionais de saúde
do turno do dia não poderiam chegar ao local. A equipe da noite anterior teve
de continuar trabalhando por 48 horas seguidas.
O
ambulatório permaneceu fechado durante todo o dia. As ambulâncias que
conseguiram transportar pacientes para o hospital o fizeram com grande risco,
pois havia o perigo de serem alvejadas por conta da falta de autorização. A
localização do Nasser na linha de frente dos ataques dificulta o acesso da
equipe e dos pacientes a esse hospital vital remanescente.
Isso
ocorre enquanto as pessoas em Gaza se encontram em um estado de exaustão, com
suas vidas destruídas por 20 meses de uma guerra extremamente violenta e um
cerco sufocante, em que até mesmo a distribuição de quantidades mínimas de
ajuda resulta em massacres devastadores. Neste contexto, qualquer
instalação médica ainda em funcionamento é de importância fundamental e deve
ser protegida.
Os
ataques à saúde não são realizados apenas por meio de ações militares. Eles
ocorrem através de limitações impostas à importação de suprimentos médicos, que
forçam profissionais de saúde a racionar medicamentos usados para o alívio da
dor. Acontecem também por meio de ordens de deslocamento, o que faz com
que hospitais inteiros tenham que fechar rapidamente. Ocorrem, ainda, por meio
de assédio e ordens confusas emitidas pelas autoridades israelenses,
dificultando cada vez mais o fornecimento de cuidados que salvam vidas.
“Já
vimos esse padrão antes”, diz Jose Mas, coordenador emergência de MSF.
"Aconteceu com instalações como Al Awda e o hospital Indonésio, no norte
de Gaza, onde primeiro foi solicitado que não admitissem mais pacientes e,
alguns dias depois, [os locais] foram atacados e praticamente fechados. Colocar
o hospital Nasser fora de serviço equivaleria a uma sentença de morte para os
pacientes mais graves, entre adultos e crianças feridos, pessoas em estado
crítico e mulheres que precisam de cuidados obstétricos de emergência."
O
Nasser é um grande hospital de referência com muitas alas especializadas que
não são encontradas em nenhum outro lugar no sul de Gaza, incluindo salas de
cirurgia, uma usina de oxigênio, ventiladores, um banco de sangue e
incubadoras.
Reduzir
o acesso a esse hospital e bloquear o encaminhamento de pacientes que precisam
de cuidados especializados e emergenciais são ações que impedem as pessoas de
receberem tratamento que pode salvar suas vidas.
Nos
últimos meses, as equipes médicas de MSF no hospital Nasser prestaram
atendimento a mais de 500 pacientes na maternidade, incluindo mulheres que
precisavam de cuidados cirúrgicos, bem como a mais de 400 bebês recém-nascidos
e pacientes pediátricos. No local, há muitas pessoas com queimaduras e traumas
graves.
A
assistência médica está sendo atacada em todo o território. Na manhã de 4 de
junho, as forças israelenses atacaram três vezes o hospital Al Aqsa, apoiado
por MSF, a principal instalação em Deir Al Balah, no centro de Gaza. Embora
nenhuma vítima tenha sido relatada, esse é um forte lembrete de como os
pacientes, a equipe médica e as instalações de saúde estão constantemente em
grande risco em Gaza.
Nossas
equipes receberam pacientes que ficaram gravemente feridos enquanto tentavam
conseguir comida, por causa dos tiroteios que ocorreram nos arredores dos
centros de distribuição de alimentos da organização Gaza Humanitarian
Foundation, apoiada por Israel e pelos Estados Unidos. Isso se soma às
pessoas que foram feridas no bombardeio contínuo da Faixa de Gaza. Os hospitais
estão sobrecarregados de pacientes.
É
essencial que as autoridades israelenses protejam o hospital Nasser e garantam
acesso total e desimpedido aos pacientes e à equipe médica, para evitar mais
mortes.
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Pároco de Gaza: “É uma catástrofe, até na paróquia
racionamos tudo”
Gabriel Romanelli, o padre que
“governa” a paróquia da Sagrada Família na Faixa: “A situação é cada
vez mais dramática. Estamos ajudando dezenas de milhares de pessoas: mas se os
alimentos pararem de chegar, nós também seremos forçados a interromper”. Os
gritos das crianças ao fundo, que dançam ao som das batidas de uma música e
riem alegremente, evocam uma atmosfera relaxada, serena. A sensação, no
entanto, dura apenas um momento. Tudo volta à normalidade dos
moradores Gaza, com o estrondo causado por uma explosão e os gritos dos
pequenos que se transformam em berros. “Esse é o nosso surrealismo diário”,
explica por telefone o padre Gabriel Romanelli, pároco católico
da Faixa de Gaza. “A essa altura, as crianças já estão tão acostumadas
que, quando ouvem tiros ou o som das bombas, correm e se escondem debaixo de
algum telhado ou sob alguma proteção, mas depois de alguns minutos, assim que
os estrondos param, voltam a brincar”.
Assim
começa a entrevista que o sacerdote argentino de origem italiana nos concedeu
enquanto desempenhava suas atividades com crianças na paróquia da Sagrada Família, no bairro
de al Zaitoun, na parte norte da cidade de Gaza. Ele chegou a Gaza em
2019, depois de um longo período de serviço missionário em vários países árabes
e na Palestina. Em 07-10-2023, no
momento do terror do Hamas em Israel, ele estava fora da Palestina e
não pôde voltar por motivos de segurança.
Longe
de seu povo por sete meses, aproveitou a visita do Patriarca Latino de
Jerusalém, Cardeal Pizzaballa, a Gaza em junho de
2024 para retornar. Desde então, assiste incrédulo à deterioração progressiva
da situação, mas não para de chamar todos à razão e de pedir que se chegue a
acordos para o bem de todas as partes envolvidas no conflito. “A situação agora
assumiu as características de uma catástrofe, mas, por mais impossível que
pareça, está piorando a cada dia. Além dos bombardeios, há a grave questão da
ajuda humanitária que não está chegando, e é essa ajuda que agora aqui decide a
vida ou a morte das pessoas”.
>>>
Eis a entrevista.
·
A ajuda está bloqueada em todos os lugares?
Não
completamente, ontem, em alguns centros no Sul, teve alguma distribuição. Mas
estamos a cerca de 30 quilômetros de distância, as pessoas não conseguem chegar
até lá, as estradas não são seguras e não há dinheiro para pagar o transporte.
Antes da guerra, a situação já era crítica, mas pelo menos muitos centros
da ONU ou de ONGs internacionais estavam funcionando. Nós mesmos
conseguimos ajudar dezenas de milhares de pessoas. Agora é muito difícil, todo
dia somos obrigados a racionar mais do que no dia anterior. Infelizmente, não
conseguimos nem mesmo receber a ajuda disponibilizada pelo Patriarca
Latino de Jerusalém, Cardeal Pizzaballa, há mais de três
meses. Desde o início da guerra, temos ajudado dezenas de milhares de pessoas,
incluindo os mais de 500 refugiados que vivem conosco nas instalações de nossa
igreja. Mas se a ajuda se não conseguir chegar, seremos obrigados a interromper.
·
Atualmente, já se passa fome em muitas zonas.
Infelizmente,
sim. Lembre-se de que aqui, mesmo antes, a produção doméstica de alimentos era
baixa, agora os itens de primeira necessidade estão se tornando mercadoria de
luxo: um quilo de açúcar custa 50 dólares, um quilo de farinha 40/50 dólares.
Não há mais dinheiro e as pessoas voltaram ao método de troca: meio quilo de
arroz em troca de berinjelas ou abobrinhas que são cultivadas em pequenos lotes
de terra poupados pelos bombardeios.
Além
disso, há o problema do trauma que a violência criou na vida cotidiana de
todos: a música que você estava escutando no início da ligação telefônica vinha
de um aparelho de som que eu tinha ligado para deixar as crianças dançarem, que
agora vivem em uma condição surreal permanente. Às vezes, quando ouvem o
bombardeio, elas vão se esconder e depois voltam imediatamente, mas em outras,
continuam brincando como se nada estivesse acontecendo. Ontem, para dar um
exemplo, nós mesmos estávamos na igreja para um culto e ouvimos um estrondo
alto: nenhum de nós pensou em sair, continuamos o que estávamos fazendo.
·
A Igreja Católica foi uma das poucas realidades
globais a se manifestar em defesa da população civil, a pedir repetidamente o
fim dos combates e a condenação dos massacres...
As
pessoas perceberam uma proximidade. Como se sabe, todas as manhãs, às
7h, Francisco me telefonava para ter notícias e, em correspondência,
tocávamos os sinos, era a “Hora do Papa” e todos sabiam e se sentiam
compreendidos, independentemente de fé ou afiliação. A Igreja sempre teve uma
posição clara, condenou as violências de ambos os lados e invoca a entrada de
ajuda humanitária. Apesar de tudo, não perdemos a esperança, não há guerras
eternas. Para o bem de todos, de Israel e da Palestina, quanto
antes esse absurdo parar, mais fácil será curar as imensas feridas.
Fonte: 7 Margens/National Catholic Reporter/MSF/Domani

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