De
que lado estão as grandes potências — e o Brasil — no conflito entre Israel e
Irã
Uma
série de ataques de grande proporção de Israel contra o Irã na madrugada de
sexta-feira (13/6) deflagrou um conflito entre os dois países — que há muito
tempo são adversários ferrenhos no Oriente Médio.
Foram
atacadas usinas nucleares como a de Natanz e alvos militares iranianos. Foi
também o maior ataque da história contra a elite militar iraniana, segundo
analistas.
Israel
matou seis cientistas nucleares iranianos e figuras do alto escalão, como o
chefe do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, Hossein Salami.
Israel
alega que seu objetivo é atacar o programa nuclear iraniano. O Irã afirma que
seu programa nuclear é pacífico, mas Israel e aliados dizem que o país está
desenvolvendo armas nucleares.
Desde o
ataque israelense, o Irã retaliou disparando mísseis contra Israel. O conflito
entre os países está no quarto dia — e mais de 240 pessoas já morreram.
de que
esse conflito entre duas potências regionais tenha repercussões maiores: desde
alta em preços internacionais de combustíveis e alimentos ao envolvimento de
grandes potências no conflito.
Confira
abaixo como as grandes potências — e também o Brasil — têm se posicionado sobre
o conflito entre Israel e Irã até agora.
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EUA: 'Não estamos envolvidos'
Os EUA
afirmaram não estarem envolvidos na decisão de Israel de bombardear instalações
nucleares iranianas — mas o presidente americano, Donald Trump, disse que os
EUA apoiam Israel.
Na
sexta-feira, dia dos ataques, o secretário de Estado, Marco Rubio, divulgou um
comunicado afirmando que Israel havia tomado "ações unilaterais" e
alertando o Irã para não retaliar contra os EUA.
"Não
estamos envolvidos em ataques contra o Irã e nossa principal prioridade é
proteger as forças americanas na região", disse Rubio. "Para ficar
claro: o Irã não deve ter como alvo interesses ou pessoal dos EUA."
Embora
os EUA tenham se distanciado publicamente da operação israelense, a TV estatal
iraniana acusou Washington de ser "cúmplice" de um ataque que
"matou crianças".
O
presidente americano, Donald Trump, disse que os EUA foram informados por
Israel antes do ataque.
Trump
disse à CNN que "é claro" que os EUA apoiam Israel "e apoiam
como ninguém jamais apoiou".
Em
entrevista à ABC, ele disse que os ataques israelenses "têm sido
excelentes" e que "há mais por vir — muito mais".
Para os
correspondentes da BBC News nos EUA, Christal Hayes e Bernd Debusmann Jr, a
estratégia de Trump parece ser esperar que a ação militar leve o Irã a fazer
novas concessões em negociações sobre seu programa militar, mas que se trata de
"uma dança delicada de distanciar os EUA das ações de Israel enquanto
ainda tenta usá-las para obter vantagem na mesa de negociações".
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China: apoio ao direito de defesa do Irã
O
ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, telefonou para os ministros
do Irã e de Israel no sábado (14/6).
Wang
condenou o ataque de Israel que desencadeou o conflito na sexta-feira e
defendeu o direito do Irã de se defender.
"A
China condena explicitamente a violação por parte de Israel da soberania,
segurança e integridade territorial do Irã [...] e apoia o Irã na salvaguarda
da sua soberania nacional, defendendo os seus direitos e interesses
legítimos", disse Wang, em um comunicado oficial divulgado pelo governo da
China.
A China
também se apresentou como possível mediador do conflito e "disposta a
desempenhar um papel construtivo neste processo".
Nesta
segunda-feira (16/6), a China instou Israel e Irã a tomarem medidas para
reduzir a tensão, enquanto os ataques de ambos os lados continuam.
"Conclamamos
todas as partes a tomarem medidas imediatas para acalmar as tensões, evitar que
a região mergulhe em uma turbulência ainda maior e criar condições para
retornar ao caminho certo de resolução de problemas por meio do diálogo e das
negociações", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da
China, Guo Jiakun.
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Rússia: condenação a Israel
Na
noite de sexta-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, manteve conversas
telefônicas separadas com Netanyahu e com o presidente iraniano, Masoud
Pezeshkian, informou o Kremlin.
Putin
condenou as ações israelenses e também "expressou a disposição de fornecer
serviços de mediação para evitar uma nova escalada de tensões", segundo
comunicado do governo russo.
A
Rússia é uma importante aliada militar e política do Irã.
A
imprensa russa indicou que Moscou pode até se beneficiar do conflito entre
Israel e Irã.
"Por
mais cínico que isso possa parecer em um nível tático, há vantagens [para a
Rússia] no conflito entre Irã e Israel", disse artigo do jornal russo
Moskovsky Komsomolets.
Isso
inclui preços globais mais altos do petróleo e menos atenção internacional para
a guerra da Rússia na Ucrânia. A alta dos preços internacionais beneficia a
economia russa.
"Kiev
foi esquecida", afirma Moskovsky Komsomolets, em relação à guerra na
Ucrânia.
"Qualquer
escalada no Oriente Médio distrai os oponentes de Moscou da Ucrânia e altera as
prioridades da assistência militar ocidental", escreveu o diário de
negócios Kommersant.
"A
Rússia poderia, teoricamente, desempenhar o papel de árbitro imparcial,
ajudando, se não a resolver a crise, pelo menos a acalmá-la. Dessa forma,
Moscou fortaleceria sua influência na região."
Mas o
Kommersant alerta que a escalada também acarreta sérios riscos e custos
potenciais para Moscou. A Rússia não conseguiu impedir o ataque de Israel
contra um país com o qual Moscou assinou um acordo abrangente de parceria
estratégica há cinco meses.
• Brasil: fortes críticas a Israel
O
governo brasileiro adotou um tom crítico em relação a Israel — e não se
manifestou até o momento sobre as retaliações de Teerã contra Israel. Ataques
de mísseis iranianos já mataram pelo menos 20 pessoas em Israel, segundo o
governo israelense.
Na
sexta-feira, após o ataque de Israel contra o Irã, o ministério das Relações
Exteriores do Brasil divulgou uma nota na qual "o governo brasileiro
expressa firme condenação e acompanha com forte preocupação a ofensiva aérea
israelense lançada na última madrugada contra o Irã, em clara violação à
soberania desse país e ao direito internacional".
Segundo
o Itamaraty, "os ataques ameaçam mergulhar toda a região em conflito de
ampla dimensão, com elevado risco para a paz, a segurança e a economia
mundial".
O
Brasil instou as partes envolvidas "ao exercício da máxima
contenção", com "fim imediato das hostilidades".
O
Brasil também se manifestou sobre um problema pontual causado pelo conflito
entre Israel e Irã: a presença em Israel de duas comitivas com autoridades
estaduais e municipais que participavam de uma feira de tecnologia e segurança
a convite do governo israelense.
As
delegações — que incluíam o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União
Brasil), e de João Pessoa, Cícero Lucena (Progressistas) — precisaram se
abrigar em bunkers subterrâneos quando o conflito eclodiu.
Segundo
a Confederação Nacional dos Prefeitos, a comitiva já conseguiu deixar o
território israelense e chegar à Jordânia.
As
relações entre Brasil e Israel estão estremecidas desde que começou o mais
recente conflito na Faixa de Gaza, em outubro de 2023.
No
começo do mês, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou
fortemente Israel em entrevista com jornalistas em Brasília. Ele disse que o
conflito em Gaza não é uma "guerra normal", mas sim "um exército
matando mulheres e crianças".
"E
vem dizer que é antissemitismo? Precisa parar com esse vitimismo. O que está
acontecendo na Faixa de Gaza é um ge-no-cí-dio", disse, enfatizando as
sílabas da palavra.
"É
a decisão de um governo que nem o povo judeu quer. Nem o povo judeu quer.
Então, não dá, como ser humano, aceitar isso como se fosse uma guerra normal.
Não é", disse ainda.
Na
sexta-feira, a Agência Brasil noticiou que o governo brasileiro estuda medidas
para romper relações militares com Israel em resposta às ações israelenses na
Faixa de Gaza.
"Pessoalmente,
acredito que a escalada dos massacres em Gaza, que constituem verdadeiro
genocídio com milhares de civis mortos, incluindo crianças, é algo que não pode
ser minimizado. O Brasil precisa, inclusive, por meio das medidas apropriadas,
ser coerente com os princípios humanitários e de direito internacional que
sempre defendeu", disse à agência o assessor-chefe especial do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim.
Segundo
a agência, o governo avalia que o rompimento de relações diplomáticas seria
algo delicado e complexo e que poderia prejudicar tanto os brasileiros que
vivem em Israel quanto os palestinos, diante do fim da possibilidade de contato
com Tel Aviv.
Por
isso, o governo estaria cogitando o rompimento de relações militares, com
suspensão de contratos e cooperação nesse setor.
Fonte:
BBC News Brasil

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