Por
que Banco Mundial prevê pior década para o crescimento global em mais de meio
século
A
economia mundial deve passar pela pior década de crescimento econômico em mais
de meio século, segundo as projeções do Banco Mundial.
Em meio
às incertezas provocadas pelas políticas tarifárias do presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, o órgão internacional prevê um crescimento global de
apenas 2,3% para este ano, com um cenário desafiador nos próximos anos.
A
decisão de Donald Trump de impor uma tarifa universal de 10% sobre importações
que entram nos EUA, e taxas ainda mais altas a produtos vindos da China, assim
como o aumento de impostos sobre o aço — que o Brasil exporta para os EUA — e
alumínio, têm causado caos e confusão no sistema de comércio internacional.
Em
maio, o Tribunal de Comércio Internacional dos Estados Unidos considerou ilegal
a maior parte dessas tarifas globais impostas por Trump. No entanto, a Casa
Branca conseguiu, por meio de um recurso na Corte, manter as medidas, pelo
menos por enquanto.
Esse
cenário de incerteza no comércio internacional levou o Banco Mundial a adotar
uma perspectiva menos otimista sobre o crescimento econômico global.
"Em
um contexto de maior incerteza política e de aumento nas barreiras comerciais,
o ambiente econômico mundial ficou mais complexo", informou um relatório
publicado pelo órgão.
O texto
ainda aponta que deve haver um aumento da instabilidade política, o que pode
abalar a confiança dos mercados diante da possibilidade de "novas mudanças
repentinas" nas medidas restritivas ao comércio por parte de vários
países.
Essas
tarifas podem levar a uma paralisação do comércio mundial no segundo semestre
deste ano, acompanhada de um colapso generalizado na confiança, aumento da
incerteza e turbulências nos mercados financeiros, aponta o Banco Mundial.
Apesar
disso, o órgão não chegou a prever uma recessão mundial, afirmando que as
chances disso acontecer são inferiores a 10%.
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Freada histórica no crescimento
A
economia mundial se encontra mais uma vez em um momento de turbulência,
escreveram em um blog os economistas do Banco Mundial Indermit Gill e Ayhan
Kose.
Sem uma
correção rápida de rumo, os danos ao nível de vida das pessoas "poderão
ser profundos", argumentaram.
Segundo
os economistas, as disputas comerciais abalaram muitas das certezas políticas
que ajudaram a reduzir a pobreza extrema e a expandir a prosperidade depois do
fim da Segunda Guerra Mundial.
A
análise aponta que várias das forças que impulsionaram o "grande milagre
econômico" dos últimos 50 anos (quando o PIB per capita nos países em
desenvolvimento quase quadruplicou e mais de 1 bilhão de pessoas saíram da
pobreza extrema) foram revertidas.
Nesse
contexto, o relatório do Banco Mundial alerta que, se as previsões se
cumprirem, o crescimento médio global previsto na década de 2020 "será
mais lento do que em qualquer década", desde o fim dos anos 1960.
"Até
2027, espera-se que o crescimento do PIB global atinja uma média de apenas 2,5%
na década de 2020 — o ritmo mais lento de qualquer década desde a década de
1960", diz o relatório.
Um
crescimento mais fraco, destaca a análise, afetará a geração de empregos, a
redução da pobreza e da desigualdade de renda.
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E a América Latina?
A
desaceleração do crescimento econômico global é uma má notícia para a América
Latina, uma região que acaba de sair de uma "década perdida" e foi
duramente atingida pela pandemia, diz Benjamin Gedan, diretor do Programa
América Latina do centro de estudos Wilson Center.
Segundo
ele, se a guerra comercial reduzir os preços das exportações que sustentam as
maiores economias da América do Sul, isso pode ter impactos econômicos, sociais
e políticos bastante graves.
Essa
mesma preocupação aparece no relatório do Banco Mundial, na parte dedicada à
América Latina, que destaca que o aumento das barreiras comerciais trará
efeitos negativos para a região.
Sobre
as tarifas impostas por Trump, Gedan diz que essa política lembra o caminho que
algumas nações latino-americanas seguiram no passado.
"É
frustrante para os economistas da região ver os Estados Unidos replicando os
erros da política industrial latino-americana do período pós-guerra",
ressalta, referindo-se à época da chamada "industrialização por
substituição de importações", apesar de seu "histórico
desastroso".
A
substituição de importações é uma estratégia de desenvolvimento econômico que
busca fomentar a produção local de bens que antes eram importados. O objetivo é
reduzir a dependência do mercado externo e fortalecer a indústria nacional, uma
proposta que se tornou central no discurso de Donald Trump.
O Banco
Mundial prevê um crescimento econômico de 2,3% em 2025 para a América Latina.
Nesse
cenário, o país com pior previsão de crescimento na região é o México, cuja
economia experimentará uma expansão minúscula de apenas 0,2% este ano.
Washington
impôs ao México uma tarifa de 25% sobre as importações que não estão incluídas
no Tratado de Livre Comércio da América do Norte.
"Isso
enfraqueceu as exportações do México" e gerou incertezas em um país que
enviou aos Estados Unidos 80% de suas exportações em 2024, aponta o órgão.
Além do
México, entre as grandes economias da região, Brasil, Chile e Peru devem
apresentar um crescimento econômico menor do que o registrado no ano passado,
enquanto as projeções para Colômbia e Argentina são mais positivas.
Para o
Brasil, a projeção do Banco Mundial é de um PIB de 2,4% em 2025.
O Banco
Mundial alerta que o rumo econômico da América Latina dependerá, em grande
parte, do crescimento dos Estados Unidos e China, os maiores mercados para os
produtos da região.
Fonte:
BBC News Brasil

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