sábado, 21 de junho de 2025

Dan Sabbagh: ataque de Israel expôs a falta de poder de fogo do Irã – mas o conflito ainda pode virar a favor de Teerã

Faz uma semana que Israel iniciou seu maior ataque contra o Irã e, em termos militares convencionais, fica claro que Teerã está sob extrema pressão. Israel conseguiu alcançar superioridade sobre os céus iranianos com velocidade extraordinária, poucas horas após lançar seu ataque surpresa. Na segunda-feira, suas Forças Armadas afirmaram ter destruído 120 sistemas de defesa aérea iranianos por meio de uma combinação de ataques aéreos e de drones, cerca de um terço do total de Teerã antes da guerra.

Em resposta, a arma mais eficaz do Irã tem sido seu estoque de mísseis balísticos de alta velocidade, estimado em cerca de 2.000 pela Força de Defesa de Israel (IDF) no início das hostilidades na semana passada. Mas o intenso ataque israelense a bases de lançamento no oeste do Irã , em bases subterrâneas como Kermanshah – somado ao assassinato seletivo e terrivelmente eficaz de Israel contra os principais comandantes militares iranianos – deixou o Irã com dificuldades para responder militarmente e representando uma ameaça significativa.

O Irã já lançou mais de 400 mísseis contra Israel, mas metade, cerca de 200, foram lançados nos bombardeios retaliatórios iniciais na sexta-feira passada. Desde segunda-feira, o tamanho de seus bombardeios de mísseis foi reduzido para um máximo de 15 a 20 (incluindo 15 na tarde de quinta-feira), em comparação com até 40 durante o fim de semana, de acordo com uma contagem compilada por um think tank americano, o Instituto para o Estudo da Guerra . A capacidade do Irã de fabricar novas armas também provavelmente será limitada, estimada pelos EUA em 50 por mês antes do início das hostilidades.

A velocidade dos mísseis balísticos os torna armas perigosas e um número deles — cerca de 10% — continua a escapar das sofisticadas defesas aéreas de Israel, incluindo um ataque ao Centro Médico Soroka, na cidade de Bersheba, no sul, na quinta-feira, que feriu 76 pessoas. Mas as munições, em sua maioria, não parecem ter como alvo eficaz o complexo militar-industrial de Israel, com exceção de um ataque à refinaria de Haifa, no norte de Israel, no domingo, que levou ao fechamento das instalações locais.

A interceptação de mísseis balísticos é principalmente a tarefa do mais novo sistema de defesa aérea israelense, o Arrow 3, que tem um alcance de 2.400 quilômetros e pode derrubar mísseis que se aproximam além da atmosfera terrestre, e de seu antecessor, o Arrow 2, embora os EUA tenham fornecido ajuda com um sistema Thaad e contratorpedeiros baseados no Mediterrâneo Oriental. Nenhum dos sistemas Arrow é barato – o custo de um interceptador Arrow 3 foi estimado em US$ 3,5 milhões cada, embora outras estimativas sugiram um valor entre US$ 2 milhões e US$ 1,5 milhão para o Arrow 2. A revista israelense de negócios Globes sugeriu que o custo total para Israel dos interceptadores Arrow foi de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão desde outubro de 2023.

Uma questão fundamental, no entanto, é quantos interceptadores o exército israelense tem disponíveis, preocupações agravadas por uma reportagem do Wall Street Journal, que citou uma autoridade americana anônima afirmando que Israel estava com poucos. Os níveis de estoque são mantidos em segredo e considera-se improvável que Israel, ciente da ameaça de mísseis balísticos iranianos, tenha optado por atacar o Irã sem pelo menos interceptadores suficientes para corresponder à sua avaliação da provável ameaça. No entanto, mísseis defensivos sofisticados levam tempo para serem fabricados, um problema há muito revelado na Ucrânia, onde a Rússia continua a disparar mais mísseis do que Kiev tem em suas defesas aéreas.

Em menos de uma semana, Israel comunicou aos aliados que está mais avançado do que esperava em seu ataque, tendo matado 21 de 22 militares de alto escalão nas primeiras 24 horas e 10 de 12 cientistas nucleares. Os jatos do país praticamente não enfrentam ameaça de defesa aérea enquanto sobrevoam o oeste e o centro do Irã – Israel reconheceu até o momento a perda de um drone –, o que significa que conseguem atingir alvos no país com aparente impunidade. Mesmo que os estoques israelenses de mísseis de ataque se esgotem na próxima semana ou duas, e não haja intervenção americana, seu domínio aéreo permite que continue a atacar em um ritmo mais lento.

As capacidades do Irã foram "expostas como ineficientes", concluiu o analista de mísseis Fabian Hinz em um artigo para o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos , enquanto a "liderança israelense, pelo menos por enquanto, [está] aceitando os riscos de ataques com mísseis balísticos contra seus centros populacionais". Como Hinz afirma, o "equilíbrio de dissuasão" entre os dois países está se desintegrando — e pode apenas reverter a favor de Teerã se, repentinamente, um número maior ou uma proporção maior de seus mísseis balísticos restantes atingirem centros populacionais ou locais-chave em Israel. Ainda não há sinais disso.

¨      Osirak: o ataque de 1981 que norteia ações de Israel no Irã

Aviões de guerra israelenses se deslocam por mais de mil quilômetros, numa ousada e secreta operação militar. O alvo: um reator nuclear. A justificativa: impedir que uma nação hostil aos israelenses desenvolvesse a capacidade de produzir armas atômicas.

Não se trata da campanha militar israelense contra o Irã em 2025, mas de um ataque surpresa contra Iraque do ditador Saddam Hussein ocorrido há mais de quatro décadas. Em 7 de junho de 1981, o mundo assistia à conclusão da Operação Ópera, uma ousada e (até hoje) controversa ação militar contra um complexo nuclear ainda em construção nos subúrbios de Bagdá.  

A ação resultou na destruição do reator Osirak, fruto de cooperação entre o Iraque e a França. Para o governo de Israel, o reator era uma ameaça. Mas franceses e iraquianos argumentaram que o dispositivo não tinha propósito militar.

Considerada um sucesso do ponto de vista israelense, a operação unilateral foi alvo de condenação internacional, inclusive por parte dos EUA, que foram pegos de surpresa.

O ataque também marcou o nascimento da chamada "Doutrina Begin", em referência a Menachem Begin (1977-1983), o primeiro-ministro israelense que autorizou a ação.

Por essa doutrina, que foi adotada por quase todos os governos subsequentes do país, os israelenses se viam no direito de lançar ataques "preventivos" – do seu ponto de vista – para impedir que nações "inimigas" obtivessem armas de destruição em massa – ou, na visão dos críticos, impedir que outras nações desafiassem o monopólio nuclear de Israel na região.

É a mesma doutrina militar que foi evocada para justificar as ações israelenses em andamento contra o Irã.

<><> O alvo: Osirak e a cooperação França-Iraque

Em 1975, os governos do Iraque e da França assinaram um acordo de cooperação, avaliado em 350 milhões de dólares, que previa que os franceses forneceriam um reator nuclear, cerca de 70 quilos de urânio enriquecido, além de ajudarem na instalação do dispositivo e no treinamento de pessoal iraquiano.

O reator foi apelidado de "Osirak" – junção do nome da sua classe, Osiris, e a grafia francesa para Iraque (Irak) – e seria instalado na Central de Pesquisa Nuclear de Tuwaitha, nos arredores de Bagdá.

À época, o então primeiro-ministro francês Jacques Chirac tentou minimizar temores afirmando que se tratava de uma cooperação voltada para pesquisa e que as especificações técnicas do reator impediam que ele fosse convertido para a produção de armas. Além disso, argumentou Chirac, o acordo previa que todo o processo fosse acompanhado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

<><> Sabotagem e assassinatos

Os israelenses, no entanto, se mostraram céticos desde o início e tentaram demover, sem sucesso, os franceses de prosseguir com a cooperação.

Israel e o Iraque haviam sido adversários em três guerras (1948, 1967 e 1973). Além disso, o então vice-presidente iraquiano, Saddam Hussein, que estava a caminho de construir uma ditadura pessoal, já havia manifestado publicamente em entrevistas o desejo de construir uma bomba atômica. 

Em 1977, o ultranacionalista Menachem Begin assumiu o cargo de premiê de Israel e ordenou que os serviços de segurança e os militares intensificassem planos para destruir o reator.

No início, os israelenses recorreram a atos de sabotagem e assassinatos seletivos.

Em maio de 1979, uma misteriosa explosão danificou o Osirak quando o dispositivo estava embalado num hangar na cidade francesa de La Seyne-sur-Mer pronto para ser despachado para o Iraque.  No ano seguinte, um físico egípcio contratado por Saddam para chefiar o programa, e que estava em Paris para acompanhar os reparos do reator, foi misteriosamente assassinado. O mesmo aconteceu com outros dois engenheiros iraquianos durante viagens à Europa.

No entanto, as ações apenas atrasaram a instalação do Osirak. Ainda em 1980, o reator reparado foi exportado para o Iraque e começou a ser instalado ao sudeste de Bagdá.

A próxima ameaça ao reator, porém, não viria dos israelenses, mas dos iranianos. Em setembro de 1980, tropas do regime de Saddam invadiram o Irã, que havia acabado de se converter em um regime fundamentalista islâmico. Em meio à guerra aberta entre os dois países, caças iranianos bombardearam o canteiro de obras de Tuwaitha.

<><> Ataque surpresa israelense

O ataque iraniano, no entanto, não provocou danos decisivos. Em fevereiro de 1981, técnicos franceses iniciaram novos reparos. Mas a essa altura o governo Begin já havia avançado em seus planos de executar um ataque militar surpresa.

A operação envolveu desafios logísticos imensos. Aviões israelenses teriam que se deslocar mais de 1.000 quilômetros, passando pelo território da Jordânia, Arábia Saudita e Iraque. E tudo isso duas vezes.

Alguns membros do governo israelense manifestaram oposição, temendo que o ataque provocasse um abalo nas relações com os franceses e fragilizasse a paz assinada com o Egito em 1979. Diferentes agências israelenses também não concordavam sobre o quão próximo o Iraque estaria de produzir uma bomba, e as estimativas variavam de dois a dez anos.

Mas alguns ministros, entre eles, o futuro premiê Ariel Sharon, apoiaram o plano militar. No final, Begin tomou a decisão de atacar baseado na estimativa mais pessimista, que os iraquianos estavam a apenas dois anos de completar uma bomba.

Na tarde de 7 junho de 1981, um domingo, uma esquadrilha 14 aviões de guerra israelenses decolou rumo ao Iraque. Era o início da Operação Ópera. Aparentemente, os israelenses escolheram um domingo para minimizar o número de baixas entre os técnicos franceses que atuavam no canteiro.

Os aviões alcançaram o alvo em três horas. O ataque durou apenas 1 minuto e 20 segundos. Pelo menos oito das 16 bombas de 900 quilos lançadas acertaram o domo do reator. Desta vez, o complexo de Tuwaitha foi danificado de maneira avassaladora. Dez soldados iraquianos e um engenheiro francês morreram. Os israelenses não sofreram nenhuma baixa. Furioso com a penetração dos caças israelenses, Saddam mandou executar o coronel responsável pela defesa aérea do setor.

<><> Reação negativa dos EUA e do Ocidente

Ao contrário do ataque em andamento contra o Irã em 2025, a reação ao bombardeio de 1981 foi majoritariamente negativa. Até mesmo entre países próximos de Israel, como os EUA, a Alemanha Ocidental e o Reino Unido, que não compartilhavam a visão alarmista dos israelenses sobre o reator.

Num raro consenso, o Conselho de Segurança da ONU, com aval dos EUA, aprovou uma resolução condenando o que foi chamado "ataque premeditado" de Israel. O conselho ainda apontou que Israel deveria indenizar o Iraque e também colocar seu próprio programa nuclear sob a vigilância da AIEA. Os americanos também pausaram uma venda de caças para os israelenses.

Os franceses, por sua vez, afirmaram que o ataque violava a lei internacional e que seu projeto com os iraquianos não tinha nada a ver com a produção de armas. No entanto, o novo presidente francês, François Mitterrand, que havia assumido o cargo semanas antes e via o projeto como uma batata quente deixada pela administração anterior, evitou antagonizar abertamente com os israelenses. No final, os franceses evacuaram todos os seus técnicos do Iraque e o governo Begin concordou em indenizar a família do engenheiro morto.

O complexo de Tuwaitha e o reator Osirak nunca foram reparados. Em 1984, alegando falta de pagamento por parte dos iraquianos, a França se retirou do acordo. Em 1991, as ruínas do complexo foram novamente arrasadas pelos americanos durante a Guerra do Golfo.

<><> Nasce a Doutrina Begin

Dois dias depois do ataque em 1981, o premiê Begin foi a público congratular os pilotos e apresentar suas razões.

Descrevendo o ataque como um ato de "autodefesa antecipado", Begin profetizou que não se tratava de uma ação isolada, mas o primeiro ato de uma nova doutrina política nacional. Evocando a memória do Holocausto, ele disse que Israel defenderia seu povo "com todos os meios disponíveis". "Não permitiremos que nenhum inimigo desenvolva armas de destruição em massa que possam ser usadas contra nós", disse.

Uma semana depois, ele reiterou que essa visão não se limitaria ao seu governo. "Esse ataque será um precedente para todos os futuros governos de Israel. Todo futuro primeiro-ministro israelense agirá, em circunstâncias semelhantes, da mesma maneira.”

<><> Efeitos em Israel

Três semanas após o ataque, em 30 de junho, Begin e seu partido venceram as eleições legislativas de 1981, ultrapassando por pouco uma coligação liderada pelo trabalhista Shimon Peres, que havia sido publicamente contra uma ação militar contra o Iraque.

Nas décadas seguintes, a Operação Ópera ganharia ares míticos em Israel. Futuros governos israelenses continuariam a evocar a "Doutrina Begin" contra programas nucleares de outros países encarados como uma ameaça por Tel Aviv.

Em 2007, durante o governo de Ehud Olmert, os israelenses lançaram um ataque contra a Síria do ditador Bashar al-Assad e arrasaram um complexo suspeito de abrigar um reator. Assim como em 1981, Israel lançou o ataque unilateralmente, à revelia dos seus aliados nos EUA.

A partir de 2010, os israelenses também intensificaram atos de sabotagem no Irã e assassinatos de cientistas no país.

Mas nem todos os políticos israelenses se voltaram automaticamente para a Doutrina Begin. Em 2005, o então premiê Ariel Sharon, que havia apoiado o ataque de 1981, manifestou preferência por pressão diplomática internacional para lidar com o Irã. Ele acabaria sendo criticado pelo seu colega de partido Benjamin Netanyahu, que defendeu que Israel deveria continuar a "seguir o legado ousado e corajoso de Begin".

Ao voltar ao posto de premiê em 2009, Netanyahu esboçaria em 2010, 2011 e 2012 planos de lançar sua própria Operação Ópera contra o Irã, mas, segundo áudios vazados, foi barrado pela oposição de membros do seu gabinete.

<><> Vitória ou tiro pela culatra?

Não foi apenas em Israel que a Operação Ópera ganhou ares míticos. Nas décadas seguintes, membros de diferentes administrações dos EUA expressariam admiração pelo ataque – minimizando as críticas feitas em 1981.

Em 1991, Dick Cheney, então secretário de Defesa, agradeceu aos pilotos que participaram do ataque, afirmando que eles ajudaram a tornar a recém-encerrada Guerra do Golfo contra o Iraque mais fácil para os americanos. Dez anos depois, já como vice-presidente, Cheney seria um dos arquitetos da "doutrina Bush", que tinha como pedra angular a possibilidade de ataques "preventivos” unilaterais.

"A fé no sucesso de tais ataques, especialmente os ataques limitados em vez de invasões maciças, baseia-se em grande parte em um relato favorável do 7 de junho de 1981. (...) Mas o ataque ao Osirak foi mesmo bem-sucedido?", questionou o cientista político Dan Reiter, em 2005.

A visão positiva do ataque de 1981 não é automaticamente compartilhada por alguns historiadores e especialistas em proliferação nuclear, que ainda debatem se a Operação Ópera foi justificada ou até mesmo eficaz.

Ainda em 1981, o cientista político americano Kenneth Waltz advertiu que o ataque poderia ter o efeito indesejado de levar os iraquianos a redobrarem seus esforços para produzir uma bomba.

Cientistas que fugiram do Iraque também compartilharam essa visão, apontando que Saddam passou a investir bilhões de dólares em programas secretos após a Operação Ópera, longe dos olhos da AIEA, ao contrário do que ocorria com o Osirak. Mas, mesmo com esse novo esforço redobrado, Saddam ainda não tinha superado dificuldades técnicas para obter uma bomba quando seu país foi alvo dos americanos na Guerra do Golfo nove anos depois.

Especialistas em proliferação nuclear também sugeriram que toda a Operação Ópera foi executada com uma premissa errada, apontando para o argumento francês de que Osirak não poderia ser usado para produzir armas.

"A destruição do reator de Osirak não atrasou o desenvolvimento de armas nucleares [pelo Iraque] porque ele nunca foi planejado para fazer parte de tal esforço", afirmou a especialista em estratégia nuclear Malfrid Braut-Hegghammer em um artigo em 2014.

Por outro lado, outros especialistas, mesmo destacando que o Iraque não estava próximo de produzir uma bomba em 1981, especularam que o ataque pode ter tido um efeito dissuasor sobre outros países da região que poderiam estar cogitando construir bombas.

Mais de quatro décadas depois, o debate sobre a Operação Ópera ainda não foi encerrado.

¨      Alerta de Trump sobre ataque ao Irã ligado a dúvidas sobre bomba 'destruidora de bunkers', dizem autoridades

Donald Trump sugeriu às autoridades de defesa que faria sentido para os EUA lançar ataques contra o Irã somente se a chamada bomba "destruidora de bunkers" tivesse a garantia de destruir a instalação crítica de enriquecimento de urânio em Fordow , de acordo com pessoas familiarizadas com as deliberações.

Disseram a Trump que lançar a GBU-57, uma bomba de 13,6 toneladas (30.000 libras), efetivamente eliminaria Fordow, mas ele não parece estar totalmente convencido, disseram as pessoas, e adiou a autorização de ataques, pois também aguarda a possibilidade de que a ameaça de envolvimento dos EUA leve o Irã a negociações.

A eficácia das GBU-57s tem sido um tópico de profunda controvérsia no Pentágono desde o início do mandato de Trump, de acordo com dois oficiais de defesa que foram informados de que talvez apenas uma arma nuclear tática seria capaz de destruir Fordow devido à sua profundidade.

Trump não está considerando usar uma arma nuclear tática em Fordow e a possibilidade não foi apresentada pelo secretário de defesa Pete Hegseth e pelo chefe do Estado-Maior Conjunto, general Dan Caine, em reuniões na sala de situação da Casa Branca, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto.

Mas os oficiais de defesa que receberam o briefing foram informados de que o uso de bombas convencionais, mesmo como parte de um pacote de ataque mais amplo de várias GBU-57, não penetraria fundo o suficiente no subsolo e só causaria danos suficientes para desabar túneis e enterrá-los sob escombros.

Os oficiais de defesa também foram informados de que para destruir completamente Fordow, que a inteligência israelense estima que possa atingir até 300 pés de profundidade, provavelmente seria necessário que os EUA primeiro amolecessem o solo com bombas convencionais e, por fim, lançassem uma arma nuclear tática de um bombardeiro B2.

As avaliações foram feitas pela Agência de Redução de Ameaças de Defesa (DTRA), um componente do departamento de defesa que testou a GBU-57, ao revisar as limitações da munição militar dos EUA contra diversas instalações subterrâneas.

A situação ressalta a natureza complexa de tal ataque e o que o sucesso implicaria: lançar GBU-57s provavelmente atrasaria a capacidade do Irã de obter urânio de nível militar por alguns anos, mas não encerraria o programa completamente.

Porta-vozes da Casa Branca e do Pentágono não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.

Tirar Fordow do ar — seja diplomaticamente ou militarmente — é visto como essencial para impedir que o Irã adquira armas nucleares depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) descobriu que o local havia enriquecido urânio a 83,7% — próximo dos 90% necessários para armas nucleares.

Qualquer esforço para destruir Fordow exigiria o envolvimento dos EUA porque Israel não possui munições suficientes para atingir uma instalação tão profunda nem aviões para transportá-las.

A dificuldade em usar a GBU-57 para atingir Fordow, de acordo com dois funcionários familiarizados com o briefing da DTRA, reside em parte nas características da instalação que fica enterrada dentro de uma montanha — e no fato de que a bomba nunca foi usada em uma situação comparável antes.

"Não seria algo definitivo", disse um ex-vice-diretor da Dtra, o Major-General aposentado Randy Manner, sobre as limitações da GBU-57, acrescentando que Fordow poderia ser reconstruído rapidamente. "Isso poderia atrasar o programa em seis meses a um ano. Parece bom para a TV, mas não é real."

A bomba é comumente conhecida como "destruidora de bunkers" porque foi projetada para destruir bunkers subterrâneos, mas só pode ser carregada por um bombardeiro B2 que tenha superioridade aérea e exija um sinal de GPS sólido para localizar seu alvo.

Embora Israel tenha dito ter estabelecido superioridade aérea sobre o Irã, um ataque bem-sucedido ainda exigiria que todos os bloqueadores de GPS e outras defesas fossem eliminados com antecedência, e que a GBU-57 penetrasse fundo o suficiente no solo para neutralizar a instalação.

O Irã construiu a instalação subterrânea de enriquecimento nuclear em Fordow para protegê-la da ameaça de ataques aéreos. Em 1981, Israel bombardeou uma instalação nuclear perto de Bagdá, localizada na superfície, para impedir que o Iraque desenvolvesse armas nucleares.

Nos últimos anos, Israel elaborou uma série de planos para destruir Fordow sem a ajuda dos Estados Unidos. Em um caso, Israel propôs carregar helicópteros com comandos que poderiam lutar para entrar na instalação e explodi-la – uma opção que Trump descartou, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

¨      Quais são as questões legais em torno da Grã-Bretanha ajudar Trump a bombardear o Irã?

Enquanto Keir Starmer pondera se o Reino Unido deve apoiar os EUA caso Donald Trump decida bombardear o Irã, o procurador-geral, Richard Hermer, teria o alertado de que o envolvimento do Reino Unido poderia ser ilegal. O primeiro-ministro foi um ferrenho opositor da Guerra do Iraque quando era advogado de direitos humanos em 2003 e certamente está ciente das espinhosas questões jurídicas que envolvem a participação em ataques contra o Irã.

<><> Que apoio a Grã-Bretanha poderia fornecer?

Autoridades britânicas têm enfatizado repetidamente que não se espera que o Reino Unido envie suas forças militares para qualquer ataque ao Irã. Em vez disso, uma questão fundamental seria provavelmente dar permissão aos EUA para voar bombardeiros stealth B-2 a partir da base aérea de Diego Garcia, no Oceano Índico. Diego Garcia, que é objeto de um novo contrato de arrendamento de 99 anos com Maurício que deixa o Reino Unido em total controle operacional, é usada principalmente pelos EUA. Mas o fato de ser, em última análise, uma base britânica significa que Starmer teria que aprovar seu uso para um ataque. A RAF Akrotiri, base britânica no sul de Chipre, também é um local potencial de lançamento para aeronaves americanas. Qualquer uso da base pelas forças americanas exigiria a luz verde do governo britânico.

<><> Qual é a questão legal?

A Carta de fundação da ONU descreve os princípios que regem o uso da força militar. Há três justificativas possíveis: legítima defesa (que pode incluir legítima defesa coletiva); excepcionalmente, para evitar uma catástrofe humanitária avassaladora; e autorização do Conselho de Segurança, agindo de acordo com o Capítulo VII da Carta. No caso do bombardeio do Irã, a justificativa dada por Israel – e que presumivelmente seria oferecida pelos EUA e quaisquer de seus aliados – seria a legítima defesa, nos termos do Artigo 51 da Carta. A força pode ser usada em legítima defesa se houver uma ameaça real ou iminente de um ataque armado. Deve ser o único meio de evitar um ataque e a força usada deve ser proporcional.

<><> Donald Trump tem o direito, segundo o direito internacional, de bombardear o Irã?

Os EUA adotaram uma visão ampla de "iminência" em casos de ameaças de terrorismo ou destruição em massa no passado, mas pode ser difícil argumentar que um ataque americano contra o programa nuclear ou a liderança do Irã constituiria um ato de legítima defesa contra um ataque armado iminente aos EUA. A Casa Branca provavelmente argumentaria que estava agindo em defesa coletiva de Israel. A força desse argumento residiria em saber se Israel agiu em conformidade com o direito internacional ao atacar o Irã em primeiro lugar e, em seguida, se o uso da força pelos EUA se limitou a proteger civis israelenses e interesses americanos de um ataque iraniano.

<><> A campanha de bombardeios de Israel é legal?

Israel afirma que seu objetivo é prejudicar o programa nuclear do Irã e impedi-lo de desenvolver uma arma nuclear. Esta é uma interpretação ampla de legítima defesa e sua legalidade dependeria da ênfase na iminência de um ataque nuclear. Israel precisaria argumentar que era a última janela de oportunidade para impedir tal resultado. Em 1981, o governo de Ronald Reagan apoiou uma resolução do Conselho de Segurança que condenava Israel por lançar um ataque ao reator nuclear de Osirak, em Bagdá. A resolução afirmava que "os meios diplomáticos disponíveis para Israel não haviam sido esgotados". Comentários de alguns políticos israelenses também lançam dúvidas sobre a justificativa da legítima defesa. Israel Katz, o ministro da Defesa, disse na terça-feira que o objetivo da campanha era "remover as ameaças ao Estado de Israel e minar o regime dos aiatolás".

<><> O Reino Unido poderia ser responsabilizado se apenas facilitasse um ataque?

Não há distinção entre um Estado que realiza o ataque e aqueles que o apoiam se estes últimos tiverem "conhecimento das circunstâncias do ato internacionalmente ilícito", de acordo com a ONU. Em 2021, John Healey, o secretário de defesa, solicitou na Câmara dos Comuns esclarecimentos ao então governo conservador sobre as regras básicas sobre o uso de bases britânicas pelas forças americanas. Foi-lhe dito que uma operação militar proposta precisaria estar de acordo com a lei do Reino Unido e a interpretação do Reino Unido do direito internacional relevante. A posição do Reino Unido sobre ataques preventivos é bem conhecida. No período que antecedeu a guerra do Iraque, o então procurador-geral, Lord Goldsmith, argumentou que o direito internacional permitia o uso da força apenas em legítima defesa quando houvesse um ataque real ou iminente e que "o desenvolvimento de [armas de destruição em massa] não era, por si só, suficiente para indicar tal iminência". Goldsmith argumentou somente mais tarde que uma resolução da ONU relacionada ao Iraque a tornava uma guerra legal. Em artigo publicado no Guardian na época , Starmer, então advogado de direitos humanos, afirmou que o Artigo 51 poderia autorizar um ataque preventivo "em um mundo nuclear", mas que qualquer ameaça ao Reino Unido ou seus aliados teria que ser iminente e qualquer força usada em resposta a essa ameaça teria que ser proporcional. "O mero fato de o Iraque ter capacidade para atacar em algum momento não especificado no futuro não é suficiente", escreveu Starmer.

 

Fonte: The Guardian/DW Brasil

 

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