A
complexa estrutura de poder político e militar do Irã
A
ofensiva militar de Israel contra o Irã neste mês de junho marcou uma escalada dramática em um conflito
que já durava há muito tempo. Mas os ataques visavam mais do que apenas alvos
militares e estratégicos. Em um discurso, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, exortou os
iranianos a se rebelarem contra o que ele descreveu como um "regime cruel
e opressivo". Seja como guerra psicológica ou apelo genuíno à revolta, a
mensagem ressaltou o fato de que a liderança do Irã enfrenta um momento delicado.
Anos de
sanções internacionais, conflitos sociais internos e agora um
confronto militar aberto levantaram novas questões sobre como funciona a
república islâmica.
A
hierarquia de poder no Irã é notoriamente complexa. Existem conselhos e
escritórios não eleitos que exercem imenso poder, designados ou
monitorados por órgãos eleitos ou semi-eleitos.
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Aqui está um guia das principais figuras no topo da hierarquia política e
militar do Irã e como o poder é exercido em Teerã.
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Líder supremo: Aiatolá Ali Khamenei
Nomeado
vitaliciamente em 1989 pela Assembleia dos Peritos
Mais
alta autoridade no Irã, o aiatolá Ali Khamenei detém poder
direto ou indireto sobre todos os assuntos do Estado — da política externa à
política interna. Ele nomeia os principais funcionários, incluindo os chefes da
mídia estatal e do Judiciário, e tem representantes em quase todas as principais
organizações. Khamenei foi nomeado pela Assembleia dos Peritos após a morte do
aiatolá Ruhollah Khomeini, líder da revolução
de 1979. Trata-se de um órgão eleito de clérigos islâmicos encarregado de
selecionar, supervisionar e, se necessário, destituir o líder supremo do Irã. O
artigo 110 da Constituição descreve os deveres e poderes do líder supremo,
incluindo a declaração de guerra e de paz, bem como a mobilização das Forças
Armadas.
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Presidente do Irã: Masoud Pezeshkian
Eleito
em julho de 2024
Masoud Pezeshkian venceu a
eleição presidencial antecipada do Irã em julho de 2024, após a morte repentina
do presidente Ebrahim Raisi em um acidente
de helicóptero dois meses antes. Ele é o nono presidente da república islâmica
e o segundo oficial mais graduado do país, depois do líder supremo. Pezeshkian,
conhecido por sua postura moderada, fez campanha prometendo promover reformas
sociais limitadas, retomar as negociações com o Ocidente sobre o programa nuclear do Irã e responder ao
descontentamento público provocado pela morte de Jina Amini em
2022, uma mulher curda de 22 anos que morreu sob custódia policial após ser
presa por supostamente usar seu lenço de cabeça de forma muito frouxa. Os
presidentes iranianos têm mandatos de quatro anos e são responsáveis pela
gestão cotidiana do governo e pela representação do país na diplomacia
internacional. No entanto, o poder está nas mãos do líder supremo, que detém
autoridade sobre as Forças Armadas, o Judiciário e aspectos-chave da política
externa. Os presidentes não podem se sobrepor ao líder supremo em questões de
importância estratégica.
Líderes
reformistas como Pezeshkian – e, antes dele, Hassan Rouhani, que negociou
o acordo nuclear de 2015 com o governo
Barack Obama – frequentemente enfrentaram forte resistência de instituições
conservadoras, incluindo o Conselho dos Guardiães e a Guarda Revolucionária do Irã (IRGC, na sigla
em inglês). Os esforços de Rouhani para aliviar as tensões com o Ocidente
sofreram um revés significativo quando os EUA saíram do acordo nuclear em 2018,
após uma decisão do então presidente Donald Trump durante seu primeiro mandato.
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Conselho dos Guardiães
Presidente:
Ahmad Jannati, eleito em julho de 2024
O
Conselho dos Guardiães tem a tarefa de garantir que a legislação aprovada pelo
Parlamento iraniano esteja em conformidade com a Constituição e os princípios
islâmicos. O órgão de 12 membros exerce poder significativo: seis membros são
clérigos islâmicos nomeados diretamente pelo líder supremo, e os seis restantes
são juristas selecionados pelo Parlamento. Além de seu papel legislativo, o
Conselho também examina os candidatos a órgãos eleitos importantes, incluindo a
presidência, o Parlamento e a Assembleia dos Peritos. Isso lhe confere
influência considerável sobre quem pode participar do sistema eleitoral
rigidamente controlado do Irã. Ahmad Jannati, um clérigo linha-dura e aliado do
líder supremo, preside o Conselho dos Guardiães desde 1992. Conhecido por suas
opiniões conservadoras, Jannati tem desempenhado um papel central na avaliação
de candidatos e na formulação de legislação em consonância com os princípios da
República Islâmica.
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Conselho de Discernimento
Outra
instituição importante é o Conselho de Discernimento, encarregado de mediar
disputas entre o Parlamento e o Conselho dos Guardiães, especialmente quando as
leis propostas entram em conflito com a lei islâmica ou a Constituição. Seus
membros, nomeados diretamente pelo líder supremo, incluem clérigos importantes,
oficiais militares, ex-presidentes e tecnocratas. Embora seja oficialmente um
órgão consultivo, o conselho frequentemente funciona como uma extensão da
autoridade do líder supremo, influenciando a política nacional e garantindo a
continuidade do sistema político durante conflitos internos ou crises.
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Guarda Revolucionária do Irã
Comandante-em-chefe:
General Mohammad Pakpour, nomeado em junho de 2025
Fundada após
a Revolução Islâmica do Irã em 1979, a Guarda Revolucionária do Irã (IRGC)
começou como uma milícia voluntária encarregada de proteger o regime
recém-estabelecido. Durante a Guerra Irã-Iraque de 1980 a 1988,
evoluiu para uma poderosa força militar paralela. Após o conflito, a IRGC
expandiu sua influência ao dirigir grandes esforços de reconstrução, o que
lançou as bases para sua crescente presença nas esferas econômica e política do
Irã. Hoje, analistas estimam que a IRGC controla de 20% a 40% da economia
iraniana, principalmente por meio de seu braço de engenharia, Khatam al-Anbiya,
e de interesses abrangentes em setores como energia, agricultura e finanças –
oferecendo empregos e influência política. Militarmente, a IRGC tem a tarefa de
defender o regime, tanto internamente como no exterior. Sua milícia Basij
monitora a dissidência interna, enquanto a força de elite Quds supervisiona as
operações em toda a região. O braço de inteligência da Guarda rivaliza com os
serviços de segurança oficiais e desempenha um papel fundamental no combate às
ameaças internas e externas. Sob o comando do líder supremo aiatolá Ali
Khamenei, os papéis políticos e de segurança da IRGC se expandiram
significativamente. Após o ataque aéreo israelense de 13 de junho que matou o comandante da IRGC Hossein
Salami e
vários outros generais de alto escalão, Khamenei nomeou o brigadeiro-general
Mohammad Pakpour, um veterano da Guerra Irã-Iraque e chefe de longa data das
forças terrestres da IRGC, como novo líder da organização.
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Parlamento (Majlis)
Presidente:
Mohammad Bagher Qalibaf, eleito em maio de 2020
O
Parlamento do Irã, conhecido como Majlis, ou ICA, é uma legislatura unicameral
de 290 membros eleitos para mandatos de quatro anos por meio de eleições
nacionais diretas. Desde a primeira sessão parlamentar em 1980, a composição do
Majlis mudou drasticamente. Embora os clérigos já tenham ocupado mais da metade
dos assentos, eles representavam apenas 5,5% dos legisladores em 2020. Em
contrapartida, os membros com experiência na IRGC tornaram-se cada vez mais
influentes, refletindo o papel crescente das figuras militares e de segurança
na política iraniana. O Majlis detém amplos poderes legislativos, incluindo a
elaboração de leis, a aprovação do orçamento nacional e a ratificação de
acordos internacionais. No entanto, sua autoridade é limitada pelo Conselho dos
Guardiões, que examina todos os candidatos ao Parlamento e tem o poder de
rejeitar legislação que considere inconsistente com a Constituição ou os
princípios islâmicos. Mohammad Bagher Qalibaf, um conservador linha-dura, é
presidente do Parlamento desde 2020 e foi reeleito para o cargo em maio de
2025. Ex-general da IRGC, ex-chefe da polícia nacional e ex-prefeito de Teerã,
Qalibaf é considerado uma das figuras mais influentes do establishment político
iraniano.
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O histórico desastroso das tentativas de "mudança de
regime"
Três
dias após o início da guerra contra o Irã, o primeiro-ministro
israelense Benjamin Netanyahu afirmou em
entrevista à emissora americana Fox News que uma "mudança de regime"
em Teerã "certamente pode ser um desdobramento" da ação das forças de
Tel Aviv ali, já que o governo estava "muito fraco". Já o presidente
dos EUA, Donald Trump, enviou sinais
contraditórios, indicando em alguns momentos que poderia agir para eliminar o
"líder supremo do Irã", o aiatolá Ali Khamenei. "Ele é um alvo
fácil, mas está seguro lá – não vamos tirá-lo de lá (matá-lo!), pelo
menos por enquanto", disse. Ainda
não está claro quanto tempo esse "por enquanto" durará. Quanto mais
tempo durar o conflito entre Israel e o Irã, maior poderá ser a tentação de
Israel e dos EUA de eliminar não apenas o programa nuclear iraniano, mas também
o regime teocrático que controla o Irã há mais de quatro décadas.
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Os riscos das tentativas de "mudança de regime"
"É
altamente duvidoso que uma mudança de regime possa ser implementada de fora,
com o apertar de um botão", adverte Eckart Woertz, diretor do departamento
de estudos do Oriente Médio no Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais
(GIGA), sediado em Hamburgo. "E se ela [a mudança de regime] seguirá a
direção desejada é outra questão completamente diferente", acrescenta. Ele
adverte, por exemplo, para o risco de a Guarda Revolucionária do Irã tomar o
poder, levando o regime a se tornar ainda mais agressivo. Ou que o regime entre
em colapso completo, de maneira semelhante ao que aconteceu no Iraque após a
invasão dos EUA em 2003 ou na Líbia após a campanha da Otan em 2011, gerando
consequências imprevisíveis para a região. Em geral, a "mudança de
regime" promovida por um ator externo é um conceito altamente controverso.
De acordo com a lei internacional, isso é uma clara violação da soberania do
Estado em questão. Além disso, muitas vezes essa medida não é legitimada
democraticamente, e geralmente leva a um vácuo de poder ou a uma fase
de violência e instabilidade. Muitas vezes os governos recém-instalados não
conseguem resolver os problemas do país, o que leva a mais crises e conflitos. Na
história recente, ocorreram várias tentativas de mudança de regime por via
militar externa – e as consequências dessas intervenções ainda podem ser
sentidas hoje.
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Afeganistão (2001)
Após os
ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA, os aliados do país na
Otan se juntaram a Washington para derrubar o regime fundamentalista do
Talibã no Afeganistão, que abrigava a
organização terrorista Al-Qaeda, responsável pelo ataque em Nova York. Os
primeiros sucessos foram alcançados rapidamente e o grupo Talibã foi expulso de
Cabul no final de 2001. Posteriormente, a aliança tentou estabelecer estruturas
democráticas no Afeganistão. Ocorreram melhorias, por exemplo, nos direitos das
mulheres e das minorias, bem como na educação e na saúde. No entanto, os
aliados da Otan discordaram em muitas questões, como, por exemplo, a forma como
a ajuda militar, política e de desenvolvimento deveria ser combinada. Também
não havia um plano de como as estruturas tradicionais do país poderiam ser
adequadamente levadas em consideração durante a reconstrução. Dessa forma, a
segurança no país permaneceu extremamente precária por 20 anos. Nessas duas
décadas, o Afeganistão foi repetidamente palco de conflitos, com o Talibã
lançando regularmente contraofensivas. Cerca de 3,6 mil soldados ocidentais e
quase 50 mil civis afegãos foram mortos entre 2001 e 2021. O custo total da
missão no Afeganistão alcançou mais de um bilhão de dólares.
Em meio
à caótica retirada dos EUA no verão de 2021, o Talibã
rapidamente voltou ao poder, e quase todos os avanços dos últimos 20 anos foram
revertidos. Violações de direitos humanos, tortura, assassinatos extrajudiciais
e execuções públicas continuam
ocorrendo. O
país permanece isolado e extremamente pobre, com cerca de 23 milhões de pessoas
dependentes de ajuda humanitária. Em fevereiro de 2024, a Comissão de
Investigação do Parlamento Alemão (Bundestag) sobre a participação militar do
país europeu no Afeganistão fez um balanço desastroso: durante 20 anos, a
coalizão ocidental não teve uma estratégia realista para construir um estado
estável que pudesse garantir sua própria segurança.
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Iraque (2003)
Após
uma década de sanções e de ações "policiais" pontuais contra o Iraque
de Saddam Hussein, os EUA decidiram em 2003 derrubar por completo o regime de
Bagdá por meio de uma invasão militar. A ação, que contou com alguns poucos
países aliados, ocorreu sem autorização do Conselho de Segurança da ONU. Ao
tentar justificar a invasão, o presidente George W. Bush argumentou que a ação
era necessária porque Saddam Hussein teria ligações com a Al-Qaeda, além de
possuir armas de destruição em massa – alegações que depois se provaram falsas. "Saddam
Hussein foi derrubado não porque possuía armas de destruição em massa, mas
justamente porque não as possuía", aponta duas décadas depois o
especialista em Oriente Médio Eckart Woertz. E o Irã pareceu ter notado
isso à época.
Inicialmente,
tudo pareceu correr bem. Após derrotar as tropas de Saddam, os americanos
criaram um governo de transição, sem a participação de membros do antigo
regime. Mas logo os novos regentes passaram a ser acusados de má
administração e falta de conhecimento sobre as complexidades do país. As
hostilidades pré-existentes entre os diferentes grupos étnicos e religiosos do
Iraque logo se transmutaram em quadro de guerra civil. Muçulmanos sunitas
passaram a matar muçulmanos xiitas e vice-versa. Ataques sangrentos passaram a
ocorrer diariamente. Paralelamente, após a dissolução do Exército iraquiano,
soldados desempregados passaram a atacar as tropas de ocupação dos EUA. Uma
década mais tarde, em 2014, em meio ao vácuo de poder, a organização
terrorista Estado Islâmico (EI) conquistou
vastas áreas do Iraque, impondo um regime de terror, na qual a tortura,
violações sistemáticas dos direitos humanos e o assassinato em massa de grupos
étnicos inteiros, como os yazidis, se tornaram a norma. Vinte anos após a
invasão dos EUA e a tentativa de mudança de regime, a situação no Iraque
finalmente parece mais calma. A violência diminuiu e eleições parlamentares
estão previstas para ocorrer em novembro. Ainda assim, o Iraque continua sendo
um país em transição.
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Líbia (2011)
A Líbia
também continua sofrendo as consequências de uma tentativa de mudança forçada
de regime que contou com a participação de atores externos. Uma guerra civil
eclodiu no país em 2011, na esteira da Primavera Árabe, com protestos contra o
governo do ditador Muammar al-Gaddafi. No poder desde 1969, Gaddafi tentou
reprimir a revolta popular com extrema violência. Diante da repressão, a Otan
interveio militarmente, estabelecendo uma zona de exclusão aérea para proteger
a população civil que havia se insurgido contra o regime. A medida enfraqueceu
Gaddafi de maneira decisiva. Ele acabaria sendo assassinado por insurgentes em 20 de
outubro de 2011,
marcando o fim da sua ditadura de mais de quatro décadas. No entanto, as
diferentes facções da Líbia nunca estabeleceram um governo que fosse aceito em
todo o país. Em vez disso, o país foi tomado por novos conflitos entre milícias
rivais, que continuam até hoje. O Estado praticamente se desintegrou, com dois governos
diferentes lutando pelo controle do território desde março de 2022. Além disso,
várias organizações terroristas seguem ativas no país atualmente. Combates
ocorrem constantemente, com o envolvimento de mercenários estrangeiros. A situação
dos direitos humanos no país é extremamente precária: sem um Estado funcional,
há abuso maciço de refugiados, tomada de reféns, tortura e violência contra mulheres.
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E as chances de uma mudança de regime no Irã?
Diante
do histórico do Afeganistão, Iraque e Líbia, seria de se esperar mais cautela
diante uma iniciativa semelhante no Irã. O especialista Eckart Woertz vê um
problema adicional: no final das contas, algum grupo interno ainda teria que
agir para forçar uma mudança de governo. "Não vejo um movimento rebelde
muito forte dentro do Irã que possa derrubar o regime atual", diz. E se
essa força vir de fora do Irã? "Houve uma mudança de regime bem-sucedida
na Alemanha no final da Segunda Guerra Mundial, mas isso exigiu uma invasão
terrestre", diz Woertz. "E você ainda precisaria de uma transição na
qual a população local se agrupe para apoiá-lo. Isso pode ser facilitado se
houver um inimigo externo comum, como a União Soviética depois de 1945, que
encubra as diferenças. E uma mudança de regime [bem-sucedida] nunca aconteceu
apenas com bombardeios aéreos, e não acho que o Irã será uma exceção
agora."
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Temendo ser o próximo, líder supremo do Irã prepara
sucessão
Enfraquecido
após perder vários auxiliares e ciente de que pode ser ele mesmo vítima de um
atentado em breve, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, nomeou à Assembleia
dos Peritos três clérigos como candidatos à sucessão, informou o jornal
americano The New York Times neste sábado (21/06). Com
isso, Khamenei, de 86 anos, quer
evitar um eventual colapso do regime e assegurar uma transição rápida e ordeira
caso ele seja assassinado – já que, em circunstâncias normais, o processo de
escolha de um novo líder supremo pela Assembleia dos Peritos poderia levar meses.
Khamenei,
que comanda os militares, o Judiciário, o Legislativo e o Executivo, é também o
mais alto clérigo na hierarquia dos muçulmanos xiitas. Ele conduz o país com
mão de ferro desde 1989 e é o mais longevo chefe de Estado em todo o Oriente
Médio. Além de nomear os candidatos à sucessão, o aiatolá também teria
designado uma série de substitutos do alto escalão militar, que foi gravemente desfalcado desde o início
dos ataques israelenses, no último dia 13. Os nomes são mantidos em segredo,
por razões estratégicas, já que a inteligência israelense tem sido rápida em
abater também substitutos recém-nomeados e anuncia todos os dias a morte de
novas lideranças. Em 2024, o presidente iraniano Ibrahim Raisi, que era cotado
para suceder Khamenei, morreu em um acidente de helicóptero. Outro nome que já
circulou no passado é o de Mojtaba, filho de Khamenei ligado à Guarda Revolucionária do Irã, mas o NYT afirma
que ele não estaria na lista de candidatos apresentada pelo pai.
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Líder supremo escondido em um bunker
A
guerra entre Israel e a República Islâmica mal completou dez dias e já causou
mais danos à capital iraniana, Teerã, que em toda a guerra entre Iraque e Irã
(1980-1988), último grande conflito vivido pelo país. Khamenei tem passado os
dias escondido em um bunker e, segundo o NYT, só se comunica agora
por mensageiros, por temer ser rastreado. À população iraniana, ele tem se
dirigido por meio de pronunciamentos gravados em vídeo.
No
início da semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a
pressionar o aiatolá publicamente a abdicar do poder e sugeriu que há planos de assassiná-lo. "Sabemos
exatamente onde o chamado 'líder supremo' está escondido. Ele é um alvo fácil,
mas está seguro lá – não vamos matá-lo, pelo menos não por enquanto",
disse Trump em uma publicação na rede Truth Social. O premiê israelense
Benjamin Netanyahu também sinalizou que não descartava assassinar Khamenei,
argumentando que isso poria fim ao conflito.
Uma
eventual sucessão de poder no Irã também estaria sendo estudada por diplomatas
americanos e europeus, segundo a emissora americana CBS. Algumas lideranças
europeias têm expressado publicamente reservas à ideia de derrubar o regime do
aiatolá pela força, como o presidente francês Emmanuel Macron. "Alguém
acha que o que foi feito no Iraque em 2003 [...] ou na Líbia na década passada
[em 2011] foi uma boa ideia? Não", disse Macron durante viagem ao Canadá
para participar da cúpula do G7.Em ambos os casos de intervenção ocidental
citados por Macron, ditaduras foram depostas, mas o que seguiu depois foi um
cenário de instabilidade e conflitos sangrentos. Há também o temor de que uma
operação do tipo acabe por facilitar a ascensão ao poder de forças ainda mais
radicais no Irã.
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Temor de infiltração
A
rapidez com que Israel foi capaz de abater auxiliares do altíssimo escalão do
governo expôs um poder frágil, abalado por ataques organizados e realizados
dentro de território iraniano mediante a colaboração de agentes infiltrados.
Ainda assim, segundo o NYT, o regime ainda parece estar
ideologicamente coeso. Militares do alto escalão iraniano teriam sido
instruídos a abandonar meios eletrônicos de comunicação, e a população está
praticamente sem acesso à internet.
Apesar
de o regime de Khamenei ser altamente impopular entre os iranianos e muitos
desejarem seu fim, a guerra tem sido criticada até mesmo por aqueles que mais
ferrenhamente se opuseram à República Islâmica. Milhares fugiram às pressas de Teerã em meio aos
bombardeios. O país não dispõe de abrigos antibombas para civis.
"Acabem
com a guerra e escolham o diálogo em vez da destruição", apelaram na
segunda-feira (16/06) as ativistas iranianas Narges
Mohammadi e Shirin Ebadi, detentoras do prêmio Nobel da paz, ao
defender o fim do programa de enriquecimento de urânio do Irã. "Esta
guerra, iniciada por Israel sob violação do direito internacional, já provoca
um sofrimento imenso e ameaça descambar para um conflito maior regional e
mundial." À BBC, Mohammadi, notória opositora do regime e cujo marido
está preso em Teerã, argumentou que "democracia, direitos humanos e
liberdade não podem vir através de violência e guerra".
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Por que Israel e Irã estão em guerra?
Os
ataques contra o Irã foram deflagrados por Israel sob a justificativa declarada
de impedir que a República Islâmica desenvolva armas nucleares – pretensão que o Irã nega ter. Teerã, que é
signatário do Tratado Internacional de Não Proliferação, que veta armas
nucleares, alega desenvolver a tecnologia somente para fins civis. Israel, que
não é signatária desse tratado, é o único país do Oriente Médio que,
acredita-se, dispõe de tais armas – algo que Tel Aviv não nega nem confirma.
Antes
de ser bombardeado por Israel, porém, o Irã foi censurado pela Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão de fiscalização nuclear da ONU,
por descumprir obrigações previstas no
tratado.
O país produz urânio enriquecido a 60% de pureza – muito acima do necessário
para fins civis, mas ainda abaixo dos 90% que possibilitariam a produção de
armas de destruição em massa. Em 2023, a AIEA anunciou ter encontrado
partículas de urânio enriquecido a um grau de 83,7% de pureza em uma dessas
instalações nucleares, Fordo, fortaleza encravada nos subterrâneos
de uma montanha e
que, até agora, segue ilesa aos bombardeios israelenses. Segundo a CBS,
diplomatas europeus e americanos teriam avaliado nesta semana as consequências
e riscos de ataques a instalações nucleares
iranianas,
incluindo Fordo. Desde o início da guerra, ao menos 24 pessoas foram mortas e
592 ficaram feridas nos ataques iranianos a Israel. Já os bombardeios
israelenses teriam feito mais de 430 vítimas e ferido outras 3,5 mil pessoas,
segundo números oficiais do regime.
Fonte:
DW Brasil

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