Imunoterapia reorganizada mostra eficiência
contra o câncer
O câncer matou cerca
de 9,7 milhões de pessoas, em 2022, segundo a última estimativa da Organização
Mundial da Saúde (OMS). De acordo com pesquisas recentes, a tendência é
aumentar ainda mais a estatística, daí também a incessante busca por
compreender a doença, que tem impulsionado o avanço em direção a procedimentos
menos invasivos e mais eficazes. Na lista das novas terapêuticas, está a
imunoterapia, que usa o sistema imunológico para combater as células
cancerígenas. Os pesquisadores da Virginia Tech, nos Estados Unidos,
desenvolveram uma estratégia para ativar e reprogramar as células imunológicas
para direcionar e destruir as estruturas cancerígenas, utilizando proteínas
citocinas.
Rong Tong, professor
de engenharia química, e Wenjun 'Rebecca' Cai, docente de ciência e engenharia
de materiais, uniram-se para explorar uma abordagem inovadora de imunoterapia.
Apesar da eficácia das citocinas na estimulação das células imunológicas, sua
liberação indiscriminada no corpo pode causar efeitos colaterais graves. Para
contornar esse desafio, a equipe criou uma técnica que permite que essas
proteínas se localizem dentro dos tumores por semanas, minimizando a toxicidade
sistêmica.
Tong enfatiza a
importância da abordagem de engenharia para refinar a eficácia das citocinas,
garantindo que sejam direcionadas especificamente aos tumores, minimizando os
danos às células saudáveis. Por meio da criação de micropartículas
especializadas, a equipe visa facilitar a entrega precisa das citocinas no
ambiente tumoral, prolongando sua retenção e aumentando sua eficácia
terapêutica.
Para o especialista, o
desafio do estudo reside no fato de que as citocinas são altamente eficazes em
estimular e expandir as respostas das células imunológicas, mas também são
muito tóxicas para os tecidos saudáveis, "o que as torna inadequadas para
tratamentos administrados em todo o corpo." "Para confinar nossas
citocinas ancoradas nas partículas no tumor, administramos localmente as
partículas no tumor. Elas permanecem na superfície da partícula e induzem a
imunidade antitumoral no tumor. As citocinas não vazam para a circulação
sistêmica e não causam toxicidade sistêmica."
• Escape
Igor Morbeck,
oncologista da Oncoclínicas Brasília, explica que a célula tumoral tem vários
mecanismos de escape para que cresça e se desenvolva dentro do organismo.
"Uma estratégia é exatamente bloquear o nosso sistema imunológico. Ele
fica adormecido, não reconhece a célula tumoral como algo estranho e, então, o
tumor consegue crescer sem nenhum problema. A imunoterapia faz o desbloqueio
que o câncer promove."
Marcela Crosara,
coordenadora da oncologia do Hospital DF Star, da Rede D'Or, detalha que o
principal papel das micropartículas ancoradas com citocinas é atrair as células
de defesa para o microambiente tumoral, "e assim serem ativadas pela
imunoterapia".
Os resultados
preliminares demonstram que a combinação dessas terapias eliminou com sucesso
muitos tumores em estudo. Além disso, a equipe espera que sua abordagem
inovadora contribua para o desenvolvimento de tratamentos de câncer mais
seguros e eficazes, marcando um avanço significativo na área da imunoterapia.
Conforme Crosara, nos
últimos muitas mudanças e melhorias nos resultados dos tratamentos têm
acontecido. "Graças a inúmeras pesquisas não só com objetivo de encontrar
novas terapias, mas também potencializar a ação de drogas que já estão
comercialmente disponíveis, como o estudo apresentado."
Para Tong, a
descoberta mais inesperada é que a retenção de partículas no tumor depende do
tamanho delas. "As partículas grandes são superiores às nanopartículas
para a entrega de citocinas. Muitos pesquisadores têm se concentrado no
desenvolvimento de sistemas de nanopartículas, mas a eficácia do uso de
nanopartículas em estudos animais antitumor tem sido inadequada."
Segundo ele, como as
citocinas funcionam via receptores de superfície, "a sabedoria
convencional de usar pequenas partículas para a internalização celular e
liberação intracelular não se aplica à entrega de citocinas."
• Próximos passos
A nova fase da
pesquisa envolve a combinação das citocinas localizadas com anticorpos de
bloqueio de checkpoint aprovados pela Food and Drugs Administration (FDA), a
agência reguladora dos Estados Unidos. A abordagem busca reativar as células
imunológicas suprimidas pelos tumores, proporcionando uma resposta mais robusta
contra as células cancerígenas.
Os autores também
destacam a importância da colaboração interdisciplinar entre engenharia química
e ciência dos materiais. "Acreditamos que o avanço na ciência e engenharia
de materiais pode ajudar os pesquisadores no campo biomédico a desenvolver novas
formulações terapêuticas e utilizar métodos avançados de caracterização para
entender os princípios subjacentes dos biomateriais", frisaram.
• Desenhando o futuro
“Atualmente a
oncologia tem vários tipos de tratamento. Dentro das abordagens sistêmicas,
temos a imunoterapia. Ela funciona com medicamentos que impedem proteínas
responsáveis pela inibição do sistema imunológico. Ao bloquear essas
substâncias, o sistema imunológico ataca o câncer. Isso já é utilizado há um
bom tempo. Contudo, há dois problemas. Existem tumores mais quentes para a
imunoterapia, e os mais frios. Estamos em busca de algum tratamento que faça os
frios se tornarem quentes e assim respondam melhor à imunoterapia. Outra coisa
é o efeito colateral. Ao usar os inibidores de checkpoint, a atividade do
sistema imunológico aumenta, assim como ele é ativado contra o câncer, pode
atacar células normais. A ideia do trabalho é utilizar as citocinas e desenhar
uma que possa diminuir os efeitos colaterais. Através do desenho dessas
partículas, também é possível fazer com que elas fiquem somente na região do
tumor.” - Oren Smaletz, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein
• Câncer na região inguinal: especialista
explica doença
O cantor Anderson
Leonardo, vocalista do grupo Molejo, morreu nesta sexta-feira (26/4), vítima de
um câncer na região inguinal. No meio médico, a terminologia é usada para
designar um "câncer na barriga", sem dizer especificamente quais os
órgãos foram afetados pela doença.
Dentre os locais que
podem ser afetados por este câncer são os linfonodos, que atuam como filtro das
substâncias nocivas ao corpo. Porém, a doença não se origina neles. "O
câncer normalmente se origina em outros órgãos e se espalha pela região. Podem
ser cânceres de pênis, de vulva, de canal anal, de intestino, entre
outros", explica Daniel Vargas, oncologista da Oncoclínicas Brasília, ao
Correio.
No caso de Anderson,
não foi informado em qual órgão se originou o câncer. É provável, no entanto,
que a doença tenha se espalhado por órgãos importantes do organismo, pelo grau
de agressividade do tumor.
A região inguinal é
delicada, de acordo com Vargas, por abrigar estruturas essenciais para o
organismo. "É uma região crítica e propensa a possíveis complicações,
porque ali estão vasos sanguíneos importantes, como a ramificação da artéria
aorta (que sai do coração), além de estruturas essenciais do sistema linfático
e nervoso". Uma cirurgia nesta região, a depender do órgão afetado, pode
ser mais difícil de ser realizada.
O tratamento para o
câncer na região inguinal pode ser feito com quimioterapia, radioterapia,
cirurgia (se for possível) e, em alguns casos, imunoterapia.
A prevenção de tumores
na região pode ser realizada ao se manter hábitos de vida saudáveis — e também
ter a vacina do Papilomavírus Humano (HPV) em dia, considera Vargas.
"Tumores no pênis, na vagina e na vulva e ânus podem se espalhar pela
região toda, e têm como causa a infecção pelo HPV. A melhor forma de prevenir
esses tumores é por meio da vacina contra o vírus, que está disponível no
Sistema Único de Saúde", finaliza.
Fonte: Correio
Braziliense
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