De Santa Catarina até o Império Inca: a
história de Aleixo Garcia e o caminho de Peabiru
Ao imergir em suas
pesquisas sobre o Império Inca, a jornalista e escritora Rosana Bond se deparou
com uma narrativa fascinante em um antigo livro espanhol: a história de Aleixo
Garcia, possivelmente o primeiro europeu a ser avistado pelos povos dos Andes.
Inicialmente, essa
descoberta foi apenas um apontamento casual em suas notas, mas ao longo dos
anos, conforme mergulhava mais fundo na história da América Latina, o nome de
Aleixo Garcia tornou-se uma presença constante em suas leituras e estudos.
A surpresa atingiu um
novo nível quando, ao pesquisar sobre a história de Santa Catarina, ela
encontrou uma menção ao mesmo nome em um folheto sobre Desterro, hoje conhecida
como Florianópolis. A intersecção desses dois contextos despertou sua
curiosidade e a impulsionou a desvendar a saga por trás desse misterioso
personagem.
• Aleixo Garcia e a história
latino-americana
Com as peças do
quebra-cabeça dispersas em livros antigos, documentos e relatos orais, Rosana
Bond embarcou em uma jornada intelectual para reconstruir a vida e as aventuras
de Aleixo Garcia. Através de entrevistas com comunidades indígenas e imersão em
pesquisas históricas, ela lentamente desvendou os detalhes de uma história que
parecia ter sido esquecida pelo tempo.
O resultado de seu
trabalho meticuloso culminou na publicação de “A Saga de Aleixo Garcia – o
descobridor do Império Inca” em 1996. Este livro trouxe à luz uma figura
obscura da história latino-americana, ajudando a resgatar a memória de um
marinheiro português e sua notável jornada pelos caminhos desconhecidos da
América do Sul.
• Naufrágio
A história de Aleixo
Garcia começa com um naufrágio em Florianópolis, onde foi acolhido pelos
guaranis locais e viveu entre eles por anos. Durante esse tempo, ele absorveu
histórias sobre um reino distante, com muitas riquezas, que despertaram sua
curiosidade e o levaram a explorar além das fronteiras conhecidas.
Com um grupo de
indígenas como guias, Garcia percorreu o enigmático Caminho de Peabiru, uma
antiga rota que cortava as densas florestas e as vastas planícies sul
americanas. Ele chegou ao epicentro do Império Inca, onde foi espectador do
magnífico esplendor e da imponente grandiosidade de uma civilização altamente
desenvolvida.
• Peabiru, em tupi-guarani significa
“grama amassada”
O termo “Peabiru” é
provavelmente de origem tupi-guarani, traduzido como “grama amassada”. Essa
denominação remete ao método empregado pelos indígenas para manterem os
caminhos livres de vegetação densa, plantando gramíneas que cobriam o solo e
impediam o crescimento de árvores e arbustos.
Segundo Claudia Inês
Parellada, coordenadora do núcleo de arqueologia do Museu Paranaense, essa
extensa rede de trilhas encontrava-se em interseção com o sistema de caminhos
andinos dos incas, conhecido como Qhapaq Ñan, possibilitando uma rota que se
estendia do Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico.
A expedição
catarinense, liderada por Aleixo Garcia, seguiu por esse lendário caminho.
Partindo das proximidades de Florianópolis, possivelmente na região da atual
cidade de Palhoça, por volta de 1524 – embora a data exata permaneça incerta –
Garcia, junto com outros três náufragos e os indígenas guaranis, acompanhados
de mulheres e crianças, empreenderam uma jornada ao norte ao longo do litoral,
adentrando o Peabiru pelo rio Itapocu.
Cruzando os
territórios do Paraná, Paraguai e Bolívia, a expedição recrutou mais indígenas
ao longo do caminho, estimando-se que a legião tenha alcançado cerca de dois
mil integrantes.
• Legado e conexão
A história de Aleixo
Garcia é também uma tragédia. Após retornar com algumas riquezas, ele encontrou
seu fim em circunstâncias misteriosas no atual Paraguai. Mas o seu legado
sobreviveu, inspirando outros a seguir seus passos e explorar os mistérios das terras
desconhecidas.
Para Bond, a
importância de Aleixo Garcia reside não apenas em suas realizações individuais,
mas também em sua conexão com as comunidades indígenas que o acolheram e o
ajudaram em sua jornada. Sua história é um lembrete da complexidade e da
riqueza da história latino-americana, uma história que continua a revelar novos
segredos e mistérios até os dias de hoje.
Fonte: Só Cientifica
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