sábado, 27 de abril de 2024

Lira diz que Câmara soltaria Brazão se não fosse repercussão do crime e nega ter pedido voto

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quinta-feira (25) que se não fosse pela repercussão do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), o deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) dificilmente estaria preso.

O plenário da Casa manteve neste mês a prisão do parlamentar, acusado de ser um dos mandantes do crime. A votação ocorreu após dias de incerteza sobre qual seria o resultado devido a articulações do centrão pela derrubada da detenção.

"Fato é que não interferi em um voto para que aquele resultado acontecesse e se não fosse a repercussão e a importância do caso da Marielle, dificilmente esse parlamentar estaria preso", disse Lira em entrevista à GloboNews.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, na avaliação de parlamentares, o presidente da Casa saiu enfraquecido dessa votação, uma vez que seus principais aliados encabeçaram as articulações pela derrubada da prisão.

"Eu nunca digo uma coisa para fazer outra. Minha política é reta. Eu apenas coloquei para os líderes o posicionamento da assessoria jurídica da Casa e de alguns advogados com relação aos pré-requisitos, ou não, da prisão do parlamentar, que era o que estava se tratando ali. Ali não estava se tratando se assassinou, se não assassinou, se era miliciano ou traficante. Isso são questões do Conselho de Ética e da Justiça", seguiu o presidente da Câmara.

"Mas como o tema tem a sensibilidade, a repercussão, o clamor de todos pelo esclarecimento, o clima pesou, claro. Tivemos discussão política de alguns partidos, de posicionamentos ideológicos de alguns partidos", acrescentou.

Em outro momento, Lira disse que é "chover no molhado" que Câmara e Senado estão incomodados com situações que tratam das prerrogativas dos parlamentares, como por exemplo casos de busca e apreensão nos gabinetes de deputados.

"Parlamentar ser chamado para depor na Polícia Federal porque disse que um ministro é isso ou aquilo numa CPI é exagerar um pouco a possibilidade de prerrogativas de mandato", disse.

Ele afirmou que todos os partidos na Câmara se dispuseram a conversar sobre essas propostas, citando grupo de trabalho que deverá ser criado, indicando que o assunto será levado ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Lira também defendeu que esse processo seja pautado pela cautela.

"Todos os partidos se predispõem a sentar e discutir, sem o mérito definido, mudanças de legislação para que se dê um regramento claro ao devido processo legal, a prazos de inquérito, questões de foro, o que pode e o que não pode. Depois, se isso andar com o grupo de trabalho, fiquei de me reunir com o presidente Rodrigo Pacheco para ver o que disso se extrai e tem condições de andar no Senado para resolver", disse.

Lira também criticou o adiamento da sessão do Congresso que estava prevista para ocorrer na quarta (24) e disse que essa sucessão de adiamentos "não é normal". Ele indicou também que a tendência hoje é que o Congresso derrube o veto do presidente Lula (PT) na matéria que acaba com as saídas temporárias de presos.

Ainda na entrevista, o parlamentar disse que avalia ser "imprescindível" que Lula se envolva mais diretamente no contato com os deputados, líderes e bancadas. "É imprescindível para o país que o presidente se envolva mais no recebimento de parlamentares. Quando mais o presidente se envolve no processo, mais ele sente a temperatura das coisas, o que está certo e o que está errado", afirmou.

A declaração de Lira se dá num contexto em que há um acirramento das tensões do Executivo e Legislativo com a crise provocada pelas críticas públicas do presidente da Câmara ao ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais).

O alagoano evitou falar o nome de Padillha na entrevista, disse que é positivo que mais ministros participem do diálogo com o Congresso e fez uma analogia com o futebol, dizendo que cabe ao técnico administrar o seu time.

"O fato de envolver os ministros é bom, não vou dizer que atrapalha. Mas sempre quando o jogo é coletivo e um jogador não está bem, aquele time sente. E aí cabe ao técnico administrar."

Ao final, ao ser questionado sobre a sucessão da Mesa Diretora da Câmara, Lira disse que não tem candidato, que isso só será tratado por ele a partir de agosto ou setembro e que tentará apoio do PL e do PT. Em tom de brincadeira, disse ainda que não sabe se terá influência na hora de escolher quem será seu sucessor.

Hoje despontam três nomes para suceder Lira em fevereiro de 2025: Elmar Nascimento (União Brasil-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Antônio Brito (PSD-BA).

"Não tenho candidato. Não há um parlamentar na Câmara que tenha ouvido da minha boca que meu candidato é A, B ou C. Os três postos foram meus eleitores, são líderes e presidentes de partidos com muita representatividade na Casa. Não acho justo antecipar um assunto que pode nos dividir", disse.

•        Lira diz que "nunca" apoiará "pautas-bomba", mas defende maior participação do Congresso no Orçamento

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quinta-feira que a Casa não irá patrocinar qualquer "pauta-bomba", como ficaram conhecidas propostas com o poder de causar estragos nas contas públicas, mas avaliou que vetos presidenciais aos projetos orçamentários devem ser derrubados pelo Congresso.

Lira também considerou, em entrevista à GloboNews, que a busca por espaço e poder de decisão em relação à execução do Orçamento entre o Legislativo e o Executivo não será encerrada. Um dos vetos orçamentários diz respeito justamente à aplicação de mais de 5 bilhões de reais em emendas parlamentares.

"Nunca a Câmara -- nem o presidente da Câmara -- causou nenhuma matéria de impacto nem pauta-bomba durante esses 3 anos e pouco... e não vai causar", declarou o deputado na entrevista.

Dizendo-se "previsível" em relação à responsabilidade com propostas econômicas, Lira disse ainda que "nunca" colocará pautas-bomba em votação.

Isso não quer dizer, no entanto, que parlamentares deixem de advogar por maior participação no Orçamento, admitiu.

"É lógico que toda movimentação de busca de espaço, eu disse, que essa discussão entre Executivo e Legislativo com relação ao Orçamento nunca vai findar", acrescentou, afirmando que o Legislativo "não pode ser carimbador de uma peça orçamentária, porque se assim fosse, (o Executivo) não precisava mandar para o Congresso".

Segundo ele, a tendência hoje, pelo que mediu de temperatura entre os líderes de bancada, é que o Congresso derrube os vetos às emendas. O Congresso deve ter sessão conjunta na semana do dia 7 de maio para a análise de uma série de vetos, enquanto o governo trabalha para evitar medidas legislativas com impacto fiscal.

O deputado lembrou ainda da pressão que as eleições de outubro exercem sobre os deputados para que destinem recursos às bases na forma de emendas parlamentares.

"É fato, não tem como a gente esconder, nós estamos num ano eleitoral. Os prefeitos vão apertar os deputados, que vão apertar os líderes, que vai sobrar para mim, para o plenário e para o governo", afirmou.

Em meio à discussão sobre a execução orçamentária e a correlação de forças entre Executivo e Legislativo, Lira voltou a bater na tecla do semi-presidencialismo, regime abertamente defendido por ele.

"Há quem defenda -- como eu defendo -- um sistema de semi- presidencialismo, não é de hoje nem de ontem", disse.

"O (presidencialismo) de coalizão, esse toma lá, dá cá de cargos, a ocupação de espaço, a interferência do Executivo dentro do Legislativo ou vice-versa já deu exemplos de que não funcionava."

•        Senado é responsável por avanço de PEC que turbina salários de juízes, diz Lira

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), responsabilizou, nesta quinta-feira (25), o Senado pelo avanço da PEC (proposta de emenda à Constituição) do Quinquênio, que turbina salários de juízes, promotores, delegados da Polícia Federal, defensores e advogados públicos.

"Cada um com as suas responsabilidades. Não foi a Câmara que pautou o Quinquênio. Cada um que pauta as suas coisas, que responda por elas, não se pode dizer que a Câmara pautou um projeto até hoje de 'pauta-bomba'", disse em entrevista à GloboNews.

Lira disse ainda que é "difícil de prever" se o projeto andará na Câmara porque avalia que o texto pode não avançar no Senado dada a repercussão negativa.

A proposta, já aprovada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, altera a Constituição para garantir aumento automático de 5% do salário para as carreiras contempladas a cada cinco anos, até o limite de 35%.

Inicialmente, a PEC concedia o quinquênio a juízes e membros do Ministério Público. A comissão estendeu o penduricalho para defensores públicos; membros da advocacia da União, dos estados e do Distrito Federal; e delegados da Polícia Federal.

"Quando você trata do assunto magistratura, você tem um problema sério ali para resolver que é uma questão salarial focada numa categoria que decide bilhões de reais ganhando, hoje em dia, muito pouco, então temos que equilibrar a situação. Quando começam a entrar 10, 20, 30 categorias de todas as carreiras de estado, você vai perder o controle", disse Lira.

 

Fonte: FolhaPress

 

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