Esquema que liga fraude em licitações ao
PCC tinha sistema de entrega de pacotes de propina, diz Promotoria
O esquema de fraude em
licitações liderado por dois acusados de integrar a facção criminosa PCC
(Primeiro Comando da Capital) tinha sistema de entrega de propina em pacotes de
dinheiro a vereadores e agentes públicos de prefeituras e câmaras municipais no
estado de São Paulo.
Em trecho da
investigação do Ministério Público, o acusado Vagner Borges Dias, conhecido
como Latrell Brito, dono da empresa Grupo Safe, explica em mensagens como deve
ser feita a entrega de três pacotes a agentes públicos dos municípios
integrantes do esquema. O quarto volume seria destinado ao próprio Latrell. Os
valores variam de R$ 2.500 a R$ 5.000.
Análise dos repasses
feitos por administrações municipais aponta que a empresa do acusado, Vagner
Borges Dias ME, recebeu R$ 106,7 mil em 2014. O valor cresceu nos anos
seguintes, até chegar a R$ 56,9 milhões em 2022.
O Gaeco (grupo do
Ministério Público que investiga o crime organizado) afirmou em denúncia que
ele está associado a dezenas de empresas formadas apenas para simular
concorrências em certames do poder público.
As investigações fazem
parte da denúncia que deflagrou operação do próprio Gaeco de Guarulhos no
último dia 16. Foram presos os vereadores Flavio Batista de Souza (Podemos) de
Ferraz de Vasconcelos; Luiz Carlos Alves Dias, o Luizão Arquiteto (MDB), de Santa
Isabel; e Ricardo de Oliveira, o Ricardo Queixão (PSD), de Cubatão, além de
agentes públicos, empresários e um advogado.
A Folha de S.Paulo só
conseguiu contato com a defesa de Luizão Arquiteto, que disse ter recorrido da
prisão preventiva do político por ele não ser suspeito, mas averiguado.
Todo averiguado,
porém, torna-se oficialmente suspeito, segundo a legislação brasileira.
A Câmara Municipal de
Cubatão informou que está colaborando com as equipes de investigação,
fornecendo todos os documentos solicitados.
Já o Legislativo de
Santa Isabel afirmou que colabora com as investigações, mas que ainda não foi
notificado sobre a prisão. A Câmara de Ferraz de Vasconcelos disse também estar
à disposição da Promotoria. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de
Latrell.
Em troca de mensagens,
Latreel escreveu, em agosto de 2022, sobre uma discussão: "Os caras acham
que nóis é bobo, né, mano, os cara achou que nóis é bobo, o outro irmão falou:
Não, mano, os caras falou que você falou que podia vir de fuzil e eu falei:
como é que eu vou contestar o comando, se eu sempre fui comando".
Segundo o Ministério
Público, o termo comando usado por ele se refere ao PCC.
O acusado também
aparece ostentando armas e munições em imagens anexadas à investigação. Há
trocas de mensagens de negociações sobre um fuzil e também relato de quando foi
parado pela Polícia Militar e justificou a presença da pistola no carro por
trabalhar na área de segurança.
Além de Latrell, o
esquema de fraude em licitações era comandado por outro acusado de integrar a
facção criminosa. Márcio Zeca da Silva, conhecido como Gordo, já foi condenado
por tráfico de drogas. Ele está entre os presos durante operação do Gaeco no último
dia 16. Sua defesa não foi localizada.
VEJA COMO FUNCIONA O
ESQUEMA DE FRAUDE EM LICITAÇÕES
- Empresas eram
formadas pelos mesmos funcionários e representantes que se revezavam entre si
- Essas empresas
formavam uma espécie de cartel e combinavam quem seria a vencedora de
licitações
- A escolhida como
vencedora oferecia o menor orçamento em acordo com as demais concorrentes
- Funcionários
municipais recebiam propina para direcionar as licitações para as empresas
envolvidas no esquema
- Contratos fechados
serviam para financiar e lavar dinheiro do crime organizado
• Entenda quem são e a atuação dos
suspeitos de esquema de licitações do PCC em prefeituras de SP
A Operação Muditia,
deflagrada por uma força-tarefa entre o Ministério Público e a Polícia Militar
de São Paulo neste mês, apontou a existência de um esquema de fraudes em
licitações de prefeituras e câmaras municipais em 12 cidades do Estado para
favorecer o Primeiro Comando da Capital (PCC). Políticos, servidores públicos,
advogados e empresários foram presos, são investigados ou são apontados como
suspeitos de atuarem para viabilizar os desvios.
O empresário Vagner
Borges Dias é apontado pelos investigadores como o líder da quadrilha e foi a
partir da quebra de sigilo das mensagens dele que a investigação expandiu para
os demais alvos. Foragido da Justiça, ele é cantor de pagode, conhecido pelo nome
artístico Latrell Brito, e era a quem vereadores cooptados recorriam para
cobrar propina sobre os contratos públicos, segundo a investigação.
Vagner Borges Dias
levava uma vida de ostentação, com viagens ao exterior, tem registro de
Caçador, Atirador e Colecionador (CAC) e possui ao menos três armas de fogo.
Mensagens obtidas pelo Ministério Público mostram que ele foi pressionado pelo
PCC a repassar para integrantes da facção parte dos R$ 14 milhões obtidos pela
empresa dele, a Vagner Borges Dias ME, em um contrato para prestar serviços de
limpeza para o Metrô. A estatal afirmou que o contrato foi encerrado no ano
passado e que a empresa apresentou os documentos e garantias exigidos pelo
edital.
Vagner, ou Latrell,
seria sócio, segundo a investigação, de Márcio Zeca da Silva. Conhecido como
“Gordo”, ele foi condenado por tráfico de drogas em 2023, após por ter sido
flagrado, em 2021, com 200 porções de cocaína escondidas no fundo falso de uma
Mercedes. De acordo com a Promotoria, ele tem histórico de envolvimento com o
PCC, assumindo, inclusive, a liderança de negócios com o objetivo de lavar o
dinheiro obtido pelo tráfico.
As investigações
apontam que o esquema usava diferentes empresas e representantes para dar ares
de concorrência às licitações que visavam vencer. Carlos Roberto Galvão Júnior,
o “Juninho”, é dono da empresa Centermix. Na visão do Ministério Público, ele apenas
emprestou o nome e atuava como “laranja”.
Ao mesmo tempo,
Antônio Carlos de Morais se apresentava nos prego~es presenciais e eletro^nicos
como representante das empresas investigadas, além de comandar a parte
burocrática e administrativa da operação – há mensagens em que ele orienta
servidores públicos sobre como os editais deveriam ser feitos para beneficiar a
quadrilha. O pagamento de propinas aos agentes públicos seria responsabilidade
de Wellington Costa, o “Bola”, com quem os promotores encontraram registros de
envelopes com dinheiro vivo.
Vereadores e agentes
públicos
O Ministério Público
denunciou quatro vereadores e três servidores públicos por suposta participação
na organização criminosa. Flávio Batista de Souza (Podemos), o Inha, foi
vice-prefeito e secretário municipal de Ferraz de Vasconcelos e está no
terceiro mandato como vereador. Preso pela Muditia, ele caiu no grampo cobrando
que Latrell pagasse a propina combinada sobre um contrato de serviço de limpeza
para a prefeitura da cidade na Grande São Paulo.
Outro vereador preso,
Ricardo Queixão (PSD), de Cubatão, enviou mensagens ao pagodeiro pedindo
propina no final de 2020 para comprar o terno que usaria na posse como vereador
dias depois – ele tem mandato na Câmara Municipal desde 2013.
Luiz Carlos Alves Dias
(MDB), o Luizão Arquiteto, também foi preso. Vereador há três mandatos em Santa
Isabel, ele tinha uma arma de fogo não registrada em casa, que foi apreendida.
Já Gabriel dos Santos (PSD), vereador de Arujá e único parlamentar que não está
preso, alegou que os R$ 80 mil em espécie encontrados pela operação em sua
residência eram uma premiação que recebeu pela sua atuação como golfista.
Também foram
denunciados Eduardo Antônio Sesti Júnior, ex-secretário de Administração da
prefeitura de Itatiba; Fabiana de Abreu Silva, ex-assessora especial de
Políticas Estratégicas da prefeitura de Cubatão, exonerada após a Muditia e
atualmente em prisão domiciliar; e Jesus Cristian Ermendel dos Reis, servidor
da Câmara de Arujá, que integrava a equipe responsável pelos pregões realizados
pela Casa.
Completando o rol de
políticos, está Dario Reisinger Ferreira, presidente do União Brasil em Suzano,
que expressou intenção de concorrer a vice-prefeito da cidade na eleição em
outubro. Ele estava foragido, mas se entregou à Justiça na terça-feira, 23.
O advogado entrou na
mira da operação ao assinar pedidos de impugnação de editais e licitações no
Tribunal de Contas do Estado e por atuar em nome de empresas suspeitas de terem
sido criadas em nome de “laranjas” e com a única finalidade de perder licitações,
segundo o Ministério Público, dando ares de legalidade ao conluio.
Ele teve um habeas
corpus negado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A defesa de Dario
argumenta que a prisão foi ilegal e que o MP tenta criminalizar a atuação
profissional dele como advogado, além de afirmar que ele foi arrastado ao
inquérito exclusivamente por representar pessoas físicas e jurídicas
investigadas. Os demais citados foram procurados pelo Estadão após a operação,
mas não responderam.
·
Advogado de André do Rap
O advogado Áureo
Tupinambá de Oliveira Fausto Filho também foi detido pela operação.
Representante do líder do PCC, André do Rap, perante a Justiça, ele também era
diretor-secretário da Câmara Municipal de Cubatão, cargo do qual foi exonerado
no dia 16 de abril após ter sido preso.
O Ministério Público
suspeita que ele tinha uma linha direta com Latrell Brito, com quem trocava
mensagens para discutir propina e ajustar os contratos do Legislativo municipal
para que a empresa do cantor de pagode levasse vantagem.
O criminalista Marcelo
Cruz, que defende Áureo, afirma que as mensagens trocadas com Latrell não
apontam “eventual responsabilidade criminal” de seu cliente. “A extração de
meros trechos de conversas sem a exposição de todo o seu contexto acaba levando
a interpretação equivocada”, disse. “Finalizamos registrando que o investigado,
desde que tomou conhecimento dos fatos, vem se colocando à disposição para
esclarecimentos”, concluiu.
• Operação Fim da Linha
O Ministério Público
também investiga a infiltração do PCC em empresas de ônibus que mantêm contrato
com a Prefeitura de São Paulo. Uma das empresas na mira da Operação Fim da
Linha, também deflagrada em abril, foi a Transwolff, cujos diretores aparecem em
casos ligados a integrantes ou parentes de membros da facção criminosa.
O presidente afastado
da empresa, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, foi preso no início de
abril. Ele atua no setor de transporte há quase três décadas e era um dos
líderes dos perueiros clandestinos na capital nos anos 1990. Em 2006, ele teria
participado da tentativa de resgate de Nivaldo Eli Flausino Alves, o Branco,
irmão de um dos chefes do PCC, Antonio José Muller Junior, o Granada.
Outro diretor da
empresa é Róbson Flares Lopes Pontes, preso na mesma operação. Ele é irmão de
Gilberto Flares Lopes Pontes, o Dinamarca, ex-integrante da cúpula do PCC que
foi alvo da Operação Sharks, que mirou as lideranças da facção. Dinamarca foi
morto em 2021. Na quarta-feira, 24, a Justiça aceitou a denúncia contra os dois
dirigentes da empresa e outros acusados. O Estadão não conseguiu localizar os
defensores deles.
• Apontado como chefe de esquema de
licitações do PCC em prefeituras de SP é CAC e possui três armas
O empresário Vagner
Borges Dias, conhecido como Latrell Brito, apontado como o líder de um esquema
criminoso envolvendo licitações que favoreciam empresas ligadas ao Primeiro
Comando da Capital (PCC), possui registro de Caçador, Atirador e Colecionador (CAC)
e pelo menos três armas de fogo.
Conforme denúncia
oferecida pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), que obteve conversas e
imagens do celular de Latrell, o empresário e pagodeiro utilizava as armas,
mesmo que legalizadas, de forma ilícita.
Em um dos vídeos
obtidos pela investigação e descritos em relatório, Latrell pergunta a um
interlocutor se deveria resolver o conflito sobre o qual conversavam com um dos
três “brinquedinhos”, referindo-se às armas. A denúncia foi obtida pelo
Estadão. O suspeito é considerado foragido da Justiça e a reportagem não
localizou a defesa dele.
Segundo as
investigações do Ministério Público, houve infiltração de uma quadrilha ligada
ao PCC em prefeituras e câmaras municipais do interior e da Grande São Paulo
para assumir contratos de limpeza e serviços que superam R$ 200 milhões. Os
promotores observaram que a influência da facção pode ter alcançado até um
pregão do Metrô no valor de R$ 14,1 milhões, conforme indicado em mensagens
encontradas no celular do empresário Vagner Borges Dias.
• O interesse do crime organizado nos
registros de CACs
Casos de apreensão de
arsenais em posse de integrantes da facção criminosa têm se repetido nos
últimos anos. Com a facilitação do acesso a armas por civis durante o governo
do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a compra de armas de fogo legalizadas,
via CACs, passou a interessar ao crime organizado por ser mais fácil e barata
do que as velhas formas de acesso ilegal a armamentos, como via contrabando. O
fenômeno aparece tanto em investigações policiais quanto em estudos de
especialistas em segurança pública.
Como mostrou o
Estadão, o Exército emitiu licenças de CACs para condenados por crimes como
tráfico de drogas e homicídio, pessoas com mandados de prisão em aberto e para
cidadãos que podem ter sido usados como “laranjas” do crime organizado entre
2019 e 2022.
Nesse período, foram
concedidos certificados de registro para 5.235 pessoas em cumprimento de pena.
Do total, 1.504 tinham processos de execução penal ativos quando submeteram a
documentação ao Exército, mas não foram barradas. O Exército também liberou armas
de fogo a 2.690 pessoas foragidas da Justiça. Os dados fazem parte de um
relatório do Tribunal de Contas da União (TCU).
Nesta quarta-feira,
24, em mais uma investida contra o “revogaço” proposto pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) logo no início do mandato para reverter o acesso
facilitado às armas na gestão do antecessor, a Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Câmara aprovou um projeto de lei que delega aos Estados o
poder de legislar sobre a posse e o porte de armas de fogo.
A permissão passaria a
ser concedida pelos governos estaduais tanto para defesa pessoal como para
práticas esportivas e de controle de fauna exótica invasora, o que pode
beneficiar os CACs.
·
Esquema de licitações em São Paulo
Vagner Borges Dias, o
Latrell, é apontado como o “cabeça” do esquema de fraudes em licitações sob
influência do PCC, que teria infiltrado uma quadrilha em prefeituras e câmaras
municipais do interior e da Grande São Paulo.
Quatro vereadores –
Flávio Batista de Souza (Podemos), de Ferraz de Vasconcelos, Gabriel dos Santos
(PSD), de Arujá, Luiz Carlos Alves Dias (MDB), de Santa Isabel e Ricardo de
Oliveira (PSD), de Cubatão, são acusados de integrarem organização criminosa e
foram denunciados pela Promotoria na quinta-feira, 25.
Segundo os promotores,
os denunciados integram uma organização criminosa que visava a “vantagem
patrimonial com a manutenção de contratos com a Administração Pública, nas
esferas municipal (legislativo e executivos) e estadual (executivo)”. O grupo
teria sido “cooptado” por Latrell, que supostamente pagava propina aos
parlamentares para obter vantagens para a facção criminosa nas licitações.
Segundo o MPSP, a
atuação de Latrell “está vinculada a outra série de ilícitos, notadamente para
prestigiar interesses escusos que extrapolam o benefício pessoal e alcançam
efetivamente o PCC”. O relatório cita ainda que é possível notar “a violência e
a periculosidade” como tônicas nas conversas do pagodeiro, com
compartilhamentos de chacinas, assassinatos e outros crimes violentos.
¨ ‘Estado paralelo das gangues foi destruído’ em El Salvador,
garante ministro
O “Estado paralelo”
criado pelas gangues em El Salvador foi destruído com a “guerra” do presidente
Nayib Bukele, mas o regime de exceção que permite detenções sem ordem judicial
deve continuar, afirmou o ministro encarregado desta cruzada.
“O que conhecíamos
como esse Estado criminoso paralelo instaurado pelas gangues terroristas neste
país basicamente já está destruído”, disse o ministro da Justiça e Segurança,
Gustavo Villatoro, em entrevista à AFP.
Bukele declarou
“guerra” às gangues em 27 de março de 2022, após uma escalada de 87 homicídios
em um fim de semana, amparado em um contestado regime de exceção que permite a
militares e policiais realizar detenções sem ordem judicial.
“Em termos de
desmantelamento da indústria do crime, esse Estado criminoso com seu
aparelhamento de arrecadação, seja aluguel ou extorsão, estava gerando de 1,5 a
2 bilhões de dólares [R$ 7,6 a 10 bilhões] por ano [às gangues], agora não
chega nem mesmo a 5%”, assegurou Villatoro.
As ‘maras’, como são
chamadas as gangues em El Salvador, controlavam 80% do território nacional,
segundo Bukele, e eram financiadas por meio da cobrança de extorsão a milhares
de salvadorenhos, principalmente comerciantes e profissionais de transporte. Quem
não pagava, era assassinado.
O recrutamento em
massa feito pelas ‘maras’ está “neutralizado”, disse o ministro.
“Era um crime
organizado que usurpava cinco elementos de todo Estado de Direito: território,
população, arrecadação, justiça e exército”, ressaltou Villatoro.
Ele destacou que 492
líderes que controlavam as ‘maras’ ou gangues estão presos e “sendo
processados”, e deverão responder pelos 120 mil homicídios que executaram nas
últimas três décadas.
A cruzada de Bukele
devolveu a tranquilidade às ruas e aumentou sua popularidade, o que permitiu
que, em fevereiro, fosse reeleito para um segundo mandato de cinco anos.
– Quase 80.000 presos
–
Desde o início da
“guerra”, as autoridades detiveram 79.800 supostos membros de gangues, dos
quais 7.600 foram libertados, disse Villatoro.
Ele explicou que estes
não foram libertados por serem inocentes, mas porque serão julgados em
liberdade pois “se conseguiu estabelecer que estavam trabalhando para a gangue
por coação”.
No entanto, grupos de
defesa dos direitos humanos afirmam que entre os detidos há muitos inocentes e
que a “crise” de direitos humanos pode “se perpetuar” no país.
Em março, a Anistia
Internacional advertiu que o governo salvadorenho tende “a minimizar, ocultar,
deslegitimar e negar as acusações” feitas contra ele.
Isto “sugere que
durante o segundo mandato do presidente Bukele poderia haver um aprofundamento
da crise [de direitos humanos] que se observou nos últimos anos”, sustentou a
ONG.
A Anistia e outras
organizações exigem o fim das detenções sem ordem judicial. Este é o mesmo
desejo de 64% dos salvadorenhos, segundo uma pesquisa universitária divulgada
há duas semanas, embora 87,5% tenham declarado que agora se sentem “seguros”.
Mas Villatoro
assegurou que a “desativação do regime de exceção” só deve ocorrer quando não
restar nenhum membro de gangue livre.
“Não queremos nenhum
membro ‘homeboy’ [integrante de gangue] livre no território salvadorenho”,
expressou.
Diante das denúncias
de superlotação e maus-tratos nas prisões, ele disse que “em qualquer
democracia há acusações” e assegurou que o governo não faz nada fora da lei.
– Menos homicídios –
O ministro informou
que, do total de capturados, quase 65% faziam parte da Mara Salvatrucha
(MS-13); os 35% restantes eram da gangue Barrio 18 e suas duas facções, Sureños
(Sulistas) e Revolucionarios.
Foram detidos 75% dos
membros de gangues, disse Villatoro, e muitos dos 25.000 restantes “estão fora
do país”, na Guatemala e no México.
Outros “voltaram às
suas origens na Califórnia” (oeste dos Estados Unidos), onde residentes
salvadorenhos criaram a Mara Salvatrucha na década de 1980.
O ministro destacou a
redução do número de homicídios no país, assim como dos casos não resolvidos.
De 105 homicídios por
100.000 habitantes em 2015, a taxa caiu para 2,4 por 100.000 habitantes em
2023.
E a projeção é
encerrar o ano com 1,4 ou 1,7 homicídios por 100.000 habitantes, disse.
Noventa e sete por
cento dos homicídios estavam impunes há nove anos, mas, em 2023, foi feita
justiça em 95% dos 155 homicídios registrados no país, segundo Villatoro.
Fonte:
FolhaPress/Agencia Estado/IstoÉ
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