terça-feira, 30 de abril de 2024

Ex-oficial da CIA: saída das tropas dos EUA do Chade e Níger sinaliza colapso da hegemonia americana

As forças de operações especiais americanas vão se retirar temporariamente do Chade nos próximos dias em resposta ao questionamento da nação do Sahel sobre a legalidade da presença militar dos EUA na região. A mudança ocorre depois que as tropas dos EUA foram forçadas a sair do Níger.

Dezenas de soldados do 75º Regimento Ranger das Forças Especiais do Exército dos EUA estacionados em N'Djamena, capital do Chade, estão sendo retirados antes das eleições presidenciais da nação do Sahel, marcadas para 6 de maio.

Em abril, a liderança do Chade enviou uma carta ao adido de defesa dos EUA informando-o de que N'Djamena rescindia o Acordo sobre o Estatuto das Forças (SOFA, na sigla em inglês) com Washington. O número exato de soldados norte-americanos no país africano, no entanto, ainda não é claro, mas as autoridades norte-americanas insistem que não excede os 100.

Segundo a imprensa norte-americana, o Pentágono ainda espera negociar um novo acordo com o governo chadiano e regressar ao país após as eleições. Mas o veterano da CIA Larry Johnson acredita que os militares dos EUA deixarão o país para sempre.

"Está falhando. É a maneira mais fácil de dizer isso", disse Larry Johnson, oficial de inteligência aposentado da CIA e antigo funcionário do Departamento de Estado, à Sputnik, comentando a retirada dos EUA do Níger e do Chade.

"Eles tiveram algumas bases [militares] em ambos os países, que foram concebidas para encontrar agentes da Al-Qaeda [organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países] e tentar destruí-los. Mas, claramente, a condução da política dos EUA a este respeito está sendo rejeitada pelos governos locais. Portanto, é realmente um problema para os Estados Unidos em termos da sua perda geral de influência e penso que serão substituídos pela Rússia", continuou ele.

"A Rússia não tem um histórico de escravização de negros africanos — número um", explicou Johnson. "A Rússia não está intimamente ligada aos impérios coloniais: os franceses, os britânicos, os alemães, os holandeses, os belgas, — que têm uma longa história de exploração de África e de exploração do povo, de exploração dos recursos. Por isso penso que tanto a Rússia como a China são vistas como negociadores mais honestos, para ser sincero, muito mais do que os Estados Unidos", acrescentou.

"Isto faz parte de um processo mais amplo, digamos, de desmontagem da ordem internacional 'baseada em regras' liderada pelos EUA. O esforço dos Estados Unidos para dominar o mundo foi revertido. Portanto, penso que este é apenas mais um sinal de que a política dos EUA se desviou", concluiu o veterano da CIA.

O Chade esteve sob o domínio colonial francês de 1900 a 1960. Depois que a nação do Sahel conquistou a independência, os franceses continuaram a enviar tropas para a região em várias ocasiões nas décadas de 1960, 1970 e 1980, sob o pretexto de proteger os governos do Chade.

Entre 1986 e 2014, as forças francesas mantiveram uma presença permanente no país africano com o objetivo declarado de proteger o Chade das forças insurgentes líbias. Após 2014, estas forças foram sustituídas pela tropas da Operação Barkhane.

Em maio de 2014, o The Washington Post informou que os EUA enviaram apenas 80 soldados para o Chade para apoiar as operações de inteligência, vigilância e reconhecimento no norte da Nigéria destinadas a encontrar meninas nigerianas raptadas. A Casa Branca disse que a unidade permaneceria no Chade "até que a sua assistência na resolução do sequestro não seja mais necessária".

No entanto, uma investigação do TomDispatch em 2014 descobriu que os EUA tinham aumentado discretamente a sua presença no Chade e em outros locais de África depois do bombardeio da Líbia pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Entre fevereiro de 2022 e março de 2023, as tropas francesas abandonaram o Mali, o Níger e o Burkina Faso — mediante forte pressão popular local — tendo cerca de 1.000 soldados franceses sido realocados para o Chade, onde permanecem até hoje.

¨      Operação em Rafah se aproxima: Netanyahu vai desafiar as advertências de Biden?

Israel está se preparando para a invasão de Rafah, que Tel Aviv chama de último reduto do Hamas. A operação poderá desencadear uma nova onda de violência na escalada na Faixa de Gaza e provocar vítimas massivas.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou nesta segunda-feira (29) que Washington ainda não viu o plano de Tel Aviv para garantir a segurança dos civis palestinos durante a operação em Rafah.

"Dissemos claramente, e já há algum tempo sobre Rafah, que, na ausência de um plano para garantir que os civis não serão feridos, não podemos apoiar uma grande operação militar em Rafah", disse Blinken durante um painel no Fórum Econômico Mundial (WEF) nesta segunda-feira. "E ainda não vimos um plano que nos dê confiança de que os civis possam ser efetivamente protegidos".

No entanto, os preparativos para a operação israelense seguem a todo vapor. O Quincy Institute for Responsible Statecraft se referiu a novas imagens de satélite que parecem mostrar as forças israelenses modernizando dois postos militares avançados no centro de Gaza.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) procuram consolidar o controle do chamado Corredor Netzarim, que vai de leste a oeste desde a fronteira Gaza-Israel até ao mar Mediterrâneo e que separa de fato o norte e o sul de Gaza.

O corredor atravessa um vale fluvial que também serve como barreira natural entre duas partes de Gaza. É também a parte mais estreita da faixa, o que a torna relativamente fácil de controlar.

O Times of Israel informou que as FDI podem enviar duas brigadas adicionais para o Corredor Netzarim para o ataque planejado a Rafah. O jornal explicou que o corredor estratégico permite às FDI realizar ataques em ambas as partes de Gaza e reforçar o controle sobre os movimentos dos refugiados palestinos.

As autoridades israelenses afirmaram repetidamente que sem tomar Rafah, que se acredita ser o último reduto do Hamas, a vitória na guerra de Gaza seria impossível.

Apesar de fornecer novas armas a Tel Aviv, a administração Biden parece estar apreensiva com a potencial operação Rafah das FDI.

A invasão israelense de Rafah pode agravar ainda mais as tensões na região e levar a novas escaladas por parte do Hezbollah e do governo liderado pelo Ansar Allah, no Iêmen, que apoiam a Palestina. A escalada em Gaza também pode aumentar o sentimento anti-Israel nos EUA, onde ocorreram protestos estudantis massivos nas últimas duas semanas, e prejudicar as chances de reeleição de Biden em novembro.

A operação israelense em Rafah também pode atrapalhar os esforços do governo Biden para intermediar a normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita. Um recente artigo de opinião do The New York Times escrito por Thomas Friedman alertou que "Israel tem uma escolha a fazer: Rafah ou Riad".

Os conservadores israelenses pressionam pela continuação da guerra em Gaza até à "vitória total". O correspondente do Jerusalem Post, Seth Frantzman, argumentou que "a única maneira de chegar a Riad para um acordo de paz é através de Rafah, não sem Rafah".

Para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a operação em Rafah faz parte de sua campanha eleitoral, segundo o Haaretz. Não está claro se o ataque a Rafah seria apenas um golpe de relações públicas para Netanyahu ou se será lançada uma campanha militar completa. O primeiro-ministro tem um longo histórico de desobediência a ordens e de não acatar os avisos de Washington.

¨      Israel está preocupado com possível traição de Biden no Tribunal Penal Internacional

As autoridades israelenses estão preocupadas com a possibilidade de Washington abandonar o governo de Netanyahu se o Tribunal Penal Internacional emitir mandados de prisão contra o primeiro-ministro israelense e membros seniores do seu gabinete.

Embora nem os Estados Unidos, nem Israel sejam signatários do TPI, a maioria dos aliados dos EUA assinaram o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional.

Ouvida pelo pelo Jerusalem Post, uma fonte diplomática israelense afirmou que a liderança do país está preocupada com o silêncio de Biden sobre as acusações feitas no TPI. "Onde está Biden? Por que ele está quieto enquanto Israel será potencialmente jogado debaixo do ônibus?", disse o oficial.

Os comentários seguem notícias publicadas nos meios de comunicação israelenses esta semana, que citam fontes importantes do TPI de que Haia só consideraria emitir mandados de prisão contra os líderes de Israel a partir do consentimento informal da Casa Branca.

O portal Jewish News Syndicate destacou a tendência do procurador-chefe do TPI, Karim Ahmad Khan, de receber direcionamentos dos Estados Unidos, uma vez que recebeu apoio da Casa Branca para se tornar o líder do tribunal em 2021.

O jornal apontou também a sua controversa decisão de encerrar dois julgamentos do TPI que "pertubavam muito os americanos" relacionados a suspeitas de crimes de guerra dos EUA no Afeganistão.

"As fontes em Haia disseram que é impossível que o procurador-chefe tivesse decidido dar um passo tão dramático, em uma guerra que ainda está em curso se não tivesse pelo menos recebido uma 'luz verde' dos americanos. Se isto for verdade, este é outro ponto baixo nas relações entre Israel e os EUA, em um momento muito delicado, na véspera da entrada terrestre em Rafah", escreveu o jornalista israelita Amit Segal.

Separadamente, no domingo, o site de notícias israelense Walla informou que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, realizou inúmeros esforços focados em ligações para a Casa Branca, para evitar a emissão de mandados de prisão do TPI.

Netanyahu alertou na sexta-feira que Israel "nunca deixaria de se defender" e que, embora "as decisões do tribunal de Haia não afetem as ações de Israel, seriam um precedente perigoso que ameaçaria os soldados e funcionários de qualquer democracia que lutasse contra o terrorismo criminoso e a agressão."

Altos funcionários do gabinete israelense realizaram várias reuniões de emergência para discutir os possíveis mandados de prisão, que, segundo relatos, poderiam atingir Netanyahu, o ministro da Defesa Yoav Gallant e o chefe do Estado-Maior das FDI, Herzi Halevi.

As acusações envolveriam a forma que Israel tem levado o conflito, que resultou na mutilação e matança de mais de 5% da população da Faixa de Gaza antes da guerra.

Ainda não está claro quando ou em que circunstâncias os mandados de prisão poderiam ser emitidos. No entanto, o Ministro da Justiça turco, Yilmaz Tunc, apelou ao procurador do TPI para agilizar as deliberações no sábado.

"As autoridades israelitas que cometeram crimes de guerra, agressões, assassinaram crianças e cometeram genocídio, incluindo Netanyahu, devem ser levadas perante o Tribunal", disse Tunc numa conferência interparlamentar.

O possível papel da Turquia em quaisquer deliberações não é claro. A própria Ancara não é um Estado parte do Tribunal, nem signatária do Estatuto de Roma, e enfrentou recentemente problemas jurídicos próprios com o tribunal altamente politizado.

¨      'EUA estão fartos da política soberana da Turquia', argumenta analista

Na fase atual, as relações entre a Turquia e os EUA são muito complicadas, uma vez que Washington não apoia a política independente de Ancara em muitas questões, disse o ex-diplomata e cientista político do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais da Academia Russa de Ciências, Viktor Mizin, à Sputnik.

Segundo o cientista político Viktor Mizin, os norte-americanos gostariam muito que a Turquia fosse o seu satélite e posto avançado contra a Rússia, como foi na década de 1950. Para o especialista, eles estão incomodados pelo fato de o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, chefe da primeira potência regional, praticar há mais de 20 anos uma política independente no Oriente Médio, na Líbia e na Síria, especificou.

"Agora a Turquia tem uma política diferente e as relações entre os EUA e a Turquia são extremamente tensas. Muitos especialistas conservadores norte-americanos já não consideram a Turquia um país amigo como antes. O fato é que a classe dominante dos EUA está farta da política soberana de Erdogan", argumentou o especialista.

Além disso, a situação é complicada pela posição de Washington sobre o opositor Fethullah Gulen (líder da FETO, organização considerada terrorista na Turquia), que vive nos Estados Unidos. Os líderes norte-americanos se recusam a deportá-lo para a Turquia para ser julgado, lembrou Mizin.

"Esta é uma questão sensível e de princípio para Ancara, e Washington não quer se comprometer com o que poderia parecer ser seu aliado", comentou.

Entretanto, o especialista sublinhou que um importante ponto de discórdia entre a Turquia e os Estados Unidos é a tentativa de golpe militar de 2016, sobre a qual a Rússia alertou a Turquia. "O governo turco acredita, não sem razão, que estes soldados foram treinados em escolas militares norte-americanas", disse Mizin.

As ações dos EUA no Oriente Médio também complicam as relações com Ancara, indicou o cientista político. Washington continua fornecendo armas a Tel Aviv. O líder turco, por sua vez, apoia o povo palestino. Erdogan, depois de se reunir com o chefe do movimento palestino Hamas, Ismail Haniyeh, declarou o seu total apoio à luta palestina, destacou o especialista.

"É claro que existem contradições entre as duas abordagens aqui. Os serviços de inteligência norte-americanos estão muito preocupados com a questão israelense e, no âmbito de uma possível visita, o lado dos EUA tentará persuadir Erdogan a mudar a sua posição. No entanto, tenho a certeza de que isso é impossível", enfatizou.

Falando sobre as tendências nas relações EUA-Turquia na fase atual, Mizin destacou que o adiamento da visita de Erdogan a Washington é um indicador controverso. Este tipo de esforços diplomáticos e adiamentos de visitas oficiais de Estado são um alerta que reflete os problemas crescentes de interação, explicou.

"O constante adiamento da visita é mais uma indicação de que para os norte-americanos a Turquia não é definitivamente um aliado claro, esta relação é muito problemática", concluiu.

Anteriormente, a viagem planejada do presidente turco aos Estados Unidos foi adiada e deve ocorrer em um momento conveniente para ambas as partes, informou o Ministério das Relações Exteriores turco.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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