Dengue é “exportada” para outros países por
conta da crise climática
A dengue é um dos
principais problemas de saúde pública do mundo. A doença febril aguda é causada
por um vírus, e seu principal vetor de transmissão é o famoso mosquito Aedes
aegypti. A doença tem quatro tipos porque o transmissor dela tem quatro sorotipos
diferentes. São eles: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Em nosso país, já foram
encontrados todos esses tipos de dengue.
Por mais que a doença
seja muito relacionada com o Brasil, ela não é uma exclusividade do nosso país.
Contudo, com as mudanças climáticas que estão acontecendo no mundo todo, uma
das consequências é a chegada da dengue e outras doenças que são transmitidas
por mosquitos em locais inéditos, como por exemplo, na Europa.
Isso é tão real que o
grupo global de resiliência à saúde no Centro de Supercomputação de Barcelona
está se preparando para apresentar no congresso global da Sociedade Europeia de
Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas uma projeção a respeito dos surtos
de doenças transmitidas por mosquitos nas próximas décadas. Em sua
apresentação, um dos alvos principais mencionados por eles é o norte da Europa,
a Ásia, a América do Norte e a Austrália
De acordo com a
perspectiva desse grupo, por conta do aquecimento global, os mosquitos podem se
proliferar em mais lugares do mundo, fazendo com que aconteçam surtos em locais
onde as pessoa não estão preparadas imunologicamente.
Outro ponto importante
é saber que as estações mais quentes durando mais tem o potencial de aumentar a
janela sazonal da propagação das doenças que são transmitidas pelos mosquitos e
favorecer que aconteçam surtos com mais frequência.
• Dengue na Europa
Normalmente, a dengue
era vista em locais tropicais e subtropicais, como o Brasil, por conta das
larvas e ovos do inseto não conseguirem sobreviver em lugares com temperaturas
baixas.
Contudo, por conta das
mudanças climáticas, as estações quentes estão ficando cada vez maiores. Isso
faz com que a dengue possa se alastrar pela Europa de forma rápida. No
continente, a doença pode ser transmitida pelo mosquito-tigre-asiático (Aedes
albopictus), “primo” do mosquito da dengue que já se estabeleceu na Europa.
Na visão do grupo, as
secas e inundações relacionadas com as mudanças climáticas podem fazer com que
haja uma transmissão maior do vírus. Para se ter um noção, segundo um
levantamento feito pelo European Centre for Disease Prevention and Control, 13
países europeus enfrentaram a dengue desde 2023. Foram eles:
• Itália
• França
• Espanha
• Malta
• Mônaco
• São Marino
• Gibraltar
• Liechtenstein
• Suíça
• Alemanha
• Áustria
• Grécia
• Portugal
<<<< Temperatura alta
Como dito, o mosquito
gosta de regiões com temperaturas altas. E isso foi confirmado por um
estudo feito pelos pesquisadores da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). De acordo com ele, mais casos de
dengue foram vistos, no período de 10 anos, nas cidades de Minas Gerais que
tinham uma média de temperaturas mínimas de 21,2°C. E Minas Gerais é uma das
regiões com maior incidência de casos prováveis da doença esse ano.
De acordo com o
estudo, a incidência de dengue e a temperatura tem uma relação que os
pesquisadores chamam de não linear, o que quer dizer que não aumenta de forma
igual uma para a outra. E conforme for a temperatura, ela pode funcionar como
fator de risco ou proteção. Por exemplo, um frio moderado ou extremo age como
proteção, enquanto que o calor moderado está relacionado com um risco maior de
infecções.
O estudo usou um
levantamento de variação de temperatura média diária durante 10 anos, de 2010 a
2019, para fazer a análise em 66 microrregiões de Minas Gerais. Contudo,
somente 38 foram consideradas, já que algumas não tiveram casos de dengue
suficientes para serem analisados.
A variação das
temperaturas mínimas, normalmente vistas na madrugada, foi grande. Indo de
2,5°C em Porto Alegre, até 26,5°C em Frutal e Ituiutaba no oeste de Minas. O
estudo notou que os casos de dengue foram menores nos locais que tinham uma
média de temperatura mínima diária entre 11,6 a 13,7°C, o que é tido como frio
extremo e moderado.
“As temperaturas
mínimas são as mais utilizadas em estudos do tipo. A ideia é que por ser uma
temperatura limítrofe, ela é correlata com as temperaturas mais quentes e ainda
captura o efeito do frio, que pode ser limitante para o desenvolvimento do
mosquito”, explicou João Pedro Medeiros, coautor do estudo.
A sobrevivência do
mosquito e do vírus da dengue é influenciada pelas temperaturas. Tanto é que
estudos anteriores já tinham mostrado que existe uma faixa de temperatura ideal
para o desenvolvimento do mosquito: entre 16 e 34°C. Em lugares onde a temperatura
é menor que 8°C, as larvas do mosquito não se movem e morrem em alguns dias.
Além disso, o mosquito não consegue se mover em temperaturas menores que 10°C.
Mesmo assim, Medeiros
pontuou que a temperatura não era um fator igualitário em todas as cidades
porque outros fatores também influenciavam no número de casos de dengue, como
por exemplo, acesso à saúde e saneamento básico.
Fonte: Canaltech
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