Por soberania nacional, o Brasil deve criar
seu próprio sistema de navegação e geolocalização?
Para um país com
grande extensão territorial, como o caso do Brasil, o que significa ter seu
próprio sistema de navegação e geolocalização? À Sputnik Brasil, especialistas
analisam a importância do desenvolvimento da tecnologia para a soberania
nacional.
O Brasil, quando o
assunto é tecnologia de posicionamento, navegação e geolocalização, utiliza o
sistema norte-americano, o GPS (Global Positioning Satellite) — uma marca que,
por aqui, virou sinônimo de tecnologia.
Em um cenário marcado
por sanções ocidentais contra países do Sul Global, a autonomia sobre dados
informacionais dos seus cidadãos e ter seu próprio sistema de navegação têm
sido considerados fatores cada vez mais cruciais para a soberania de um país.
Nesse quesito, a Rússia e a China são exemplos, além dos EUA, por possuírem
seus próprios sistemas.
Tanto o GLONASS,
sistema russo, quanto o BeiDou, tecnologia chinesa, foram passíveis de
investimentos significativos, com a finalidade de "reduzir a dependência
desses países de tecnologias estrangeiras", comenta o senador Styvenson
Valentim (Podemos-RN), que propôs no ano passado um Projeto de Lei (PL) que tem
como objetivo criar um sistema brasileiro.
"Considerando a
geografia do Brasil, seu potencial e todas as múltiplas questões que um sistema
de localização possibilita, vejo como questão de obrigatoriedade termos o nosso
próprio sistema", destaca o parlamentar.
- Brasil pode aprender com Rússia e China para desenvolver o
seu próprio sistema?
"A história
demonstra que somente um país com capacidade tecnológica avançada é capaz de
competir em um cenário global. O realismo político mostra que um país precisa
ter hard power e soft power", afirma Ericson Scorsim, advogado, doutor em
direito pela Universidade de São Paulo (USP) e consultor em direito da
comunicação.
Segundo o
especialista, é fundamental que o Brasil entenda a "imperiosa necessidade
de investimentos em ciência e inovações tecnológicas" e aprenda a
importância da soberania tecnológica para ser "um país soberano de fato e
de direito".
Além disso, Scorsim
ressalta que a soberania econômica também requer uma economia de tecnologias
avançadas.
"Sistemas de
tecnologias de navegação e geolocalização são uma tecnologia considerada
dual-use, isto é, com aplicações civis e militares. Essa tecnologia serve para
monitorar, rastrear, vigiar o movimento de pessoas, veículos, cargas,
infraestruturas e alvos", explica.
Nesse ponto, segundo o
senador Styvenson Valentim, o governo brasileiro, no caso do desenvolvimento do
seu próprio sistema, pode ponderar fazer como fizeram Rússia e China, que
disponibilizaram seu sistema de navegação para uso comercial e civil em todo o
mundo, o que inclui uma nova possibilidade de geração de receita para os
países.
"Seguindo o
exemplo da Rússia e da China, bem como de todos os países que possuem seu
sistema, o Brasil pode trabalhar para construir sua própria infraestrutura de
navegação e geolocalização, aumentando assim sua independência tecnológica e
sua capacidade de proteger seus dados informacionais e sua soberania
nacional", sublinha o senador.
- O que o Brasil precisa para avançar na construção do seu
próprio sistema de navegação?
O ponto fulcral para
começar a trabalhar em um sistema próprio, segundo Scorsim, é a implementação
de uma política de incentivo à pesquisa e ciência em tecnologias avançadas.
"O Brasil precisa
de inovação tecnológica como uma forma de fomentar o ecossistema digital do
país e o sistema de educação em tecnologia, o que exige conhecimentos em
física, matemática, engenharia, sistemas computacionais, entre outros",
comenta.
Outro caminho
sugerido, este por Phillipe Valente, professor de geocartografia da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é o de parcerias com outros
países como uma possibilidade mais viável.
"Vejo isso como
uma possibilidade devido à alta demanda que se tem para o desenvolvimento desse
sistema. Uma ideia interessante seria esse desenvolvimento de parcerias, talvez
até indo um pouco na linha ou da América do Sul ou do próprio BRICS",
sugere.
O analista cita ainda
exemplos de parcerias que o Brasil tem com outras nações no campo da tecnologia
espacial — caso do Satélite de Recursos Terrestres China-Brasil (CBERS, na
sigla em inglês) — como molde de projetos já existentes de parcerias.
- Por que é importante para o Brasil ter seu próprio sistema?
Autor do PL que
"cria o Programa de Desenvolvimento do Sistema Brasileiro de
Posicionamento Global", o senador Styvenson Valentim afirma que o Brasil,
ao depender de tecnologia estrangeira, "fica vulnerável a eventuais
interrupções ou indisponibilidades desses sistemas".
"Não estamos
falando apenas do Waze, Maps ou tráfego de carros de aplicativos, o que por si
só já é muito importante. Estamos falando de soberania. Utilizar sistemas
estrangeiros implica em insegurança e na possível falta de privacidade dos
dados de localização dos usuários brasileiros", diz o senador.
Criar seu próprio
sistema, segundo afirma Valente, faria com que o Brasil tivesse tecnologia
voltada para as suas próprias questões logísticas de geolocalização.
"Desenvolvendo o próprio sistema, você poderia atender mais às suas
demandas específicas do país, principalmente voltadas para a indústria, para a
agricultura de precisão", avalia.
Outro ponto-chave para
a discussão de um sistema autônomo é a segurança, que, segundo o senador,
poderia abarcar a criação de medidas mais robustas na área.
"Estamos falando
de autonomia, independência, segurança nacional, desenvolvimento tecnológico,
benefícios econômicos. Ter nosso próprio sistema de navegação proporcionará ao
Brasil maior segurança, autonomia e capacidade de competir no cenário global,
além de impulsionar o desenvolvimento tecnológico e econômico do país",
resume o proponente do projeto que está sob a relatoria do senador Marcos
Pontes (PL-SP) e segue em tramitação.
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Missão humanitária
brasileira auxilia Guiana em combate a incêndios florestais
Atendendo ao pedido do
governo da República Cooperativa da Guiana, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva determinou o envio de uma missão humanitária ao país vizinho.
É o que informa uma
nota publicada nesta sexta-feira (26) pelo Itamaraty.
Segundo o informativo,
a missão, composta por cinco especialistas em combate a incêndios florestais,
tem como objetivo realizar uma avaliação conjunta da situação atual das regiões
afetadas pelos incêndios que vêm assolando a Guiana nas últimas semanas.
A missão brasileira,
organizada pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações
Exteriores, terá duração de cinco dias, entre 25 e 29 de abril. Os
especialistas, provenientes das corporações de bombeiros militares do Distrito
Federal e dos estados de Roraima, Amazonas e Minas Gerais, serão liderados pelo
Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.
A iniciativa demonstra
a solidariedade do Brasil para com a Guiana, reforçando os laços de amizade e
cooperação entre os dois países.
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Confira a nota na íntegra
O Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva determinou o envio à República Cooperativa da Guiana de
missão de assistência humanitária, com vistas a realizar avaliação conjunta da
situação atual em que se encontram diversas regiões afetadas pelos incêndios
que atingiram o país vizinho nas últimas semanas.
A pedido do governo
guianense, a missão brasileira foi organizada pela Agência Brasileira de
Cooperação do Ministério das Relações Exteriores e será realizada entre os dias
25 e 29 de abril. Integrada por 5 especialistas em combate a incêndios
florestais das corporações de bombeiros militares do Distrito Federal e dos
Estados de Roraima, Amazonas e Minas Gerais, a missão é chefiada pelo
Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR).
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Garimpo em áreas
indígenas da Amazônia cresceu 361% entre 2016 e 2022, aponta pesquisa
As ocupações feitas
por garimpos na Amazônia brasileira abrangem cerca de 241 mil hectares,
equivalente a duas vezes o tamanho da cidade de Belém, capital do Pará.
Entre essa extensão,
25 mil hectares correspondem a áreas de 17 terras indígenas (TIs), conforme
revelado por um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM),
divulgado nesta sexta-feira (26).
O estudo investigou a
atividade mineradora na região ao longo de 37 anos, de 1985 a 2022, destacando
o período entre 2016 e 2022 como o de maior impacto, com um aumento de 361% na
presença de garimpos em terras indígenas. Notavelmente, a maioria das atividades
mineradoras que afetam os povos originários da Amazônia (78%) teve início nesse
período.
Em apenas seis anos, o
avanço do garimpo na Amazônia aumentou 12 vezes em extensão, enquanto nas TIs
específicas as áreas invadidas cresceram 16 vezes.
À Agência Brasil,
Martha Fellows Dourado, uma das pesquisadoras expressou surpresa com esse
resultado, destacando que em algumas TIs, como a Kayapó, houve aumento de
1.339% nesse curto período.
"Em algumas
terras indígenas, o aumento foi muito expressivo. Por exemplo, a TI Kayapó teve
um aumento de 1.339% nesse curto período. A gente já trabalhava com a hipótese
de crescimento do garimpo nessas áreas, mas não imaginava que iria ser tão agressivo",
ressalta Martha Fellows Dourado.
O impacto se estende
aos rios que cortam as reservas, sendo afetados pela atividade garimpeira.
Segundo os pesquisadores, 122 TIs foram alcançadas pelas águas dos rios
utilizados pelo garimpo, somando 139 povos indígenas que enfrentam as
consequências, como rios assoreados, morte de animais e contaminação da água e
da vegetação pelo mercúrio, usado na extração do ouro.
Martha explica que a
equipe também analisou outros estudos para compreender melhor o alcance do
impacto do garimpo nas águas: "O garimpo tem um impacto direto na saúde
indígena, documentado em um estudo da Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz], que
mostra a contaminação pelo consumo de peixes e água. Além disso, outros estudos
indicam que o mercúrio contaminado é incorporado à vegetação, sendo liberado na
atmosfera durante incêndios em períodos secos e se dispersando por correntes de
ar, alcançando áreas ainda mais distantes."
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Oferta e concorrência
justificam alta no mercado aeronáutico latino-americano, aponta analista
Brasil, Colômbia e
México iniciaram 2024 com número recorde de passageiros em voos domésticos e
internacionais, com crescimento superior a 13% em relação a 2023. Em diálogo
com a Sputnik, o analista aeronáutico Nicolás Larenas atribuiu o boom à chegada
de novas companhias aéreas e a uma "mudança filosófica" ocorrida após
COVID-19.
Quatro anos depois de
a pandemia de COVID-19 ter deixado o setor em xeque, o mercado aeronáutico
latino-americano atravessa um momento de crescimento com números recorde de
passageiros e novas companhias aéreas. Brasil, Colômbia e México, por exemplo,
tiveram em fevereiro de 2024 o melhor número de passageiros pelo segundo mês do
ano em toda a sua história, segundo relatório da Associação Latino-Americana e
do Caribe de Transporte Aéreo (ALTA).
O estudo da ALTA,
publicado em abril, mas com dados fechados até fevereiro, indica que nesse mês
viajaram 38,5 milhões de passageiros de e para a América Latina e Caribe, 13,4%
a mais que no mesmo período de 2023. Enquanto os voos domésticos aumentaram 8,6%,
nos voos internacionais o aumento foi mais acentuado, atingindo 19%.
Os dados são mais
impressionantes tomando como referência o México, a Colômbia e o Brasil, três
dos mais importantes centros aeronáuticos da região. A Colômbia se destacou com
um aumento de 37% no número de passageiros com voos internacionais, enquanto o
Brasil teve um aumento de 29%, ultrapassando pela primeira vez os 2 milhões de
passageiros no mês de fevereiro. O México, por sua vez, foi origem ou destino
de 4,9 milhões de passageiros internacionais, 13% a mais que no mesmo mês de
2023.
"O aumento nestes
três mercados se deve sobretudo ao fato de haver mais concorrência entre
companhias aéreas, tanto tradicionais como low cost ou ultra low cost. Como há
mais concorrência, há um dinamismo que baixou consideravelmente os preços nestes
mercados, possibilitando que mais pessoas voem", explicou o analista
aeronáutico equatoriano Nicolás Larenas à Sputnik.
O especialista
explicou que, quando surge uma nova companhia aérea no mercado aeronáutico,
"todo o mercado é estimulado" e impulsiona todo o setor para cima. Ao
contrário das teorias que indicam que as companhias aéreas de baixo custo
colocam em risco as companhias aéreas tradicionais, Larenas afirmou que
"quando uma companhia aérea de baixo custo entra no mercado, incentiva
mais pessoas a voar e obriga as companhias aéreas tradicionais a baixarem os
seus preços para não perderem passageiros".
Este fenômeno, segundo
o especialista, faz com que o mercado ganhe novos passageiros, dado que
"há pessoas que querem e podem adquirir passagens e que antes não
conseguiam devido ao preço". Um dado significativo é que o aumento de
passageiros internacionais ocorreu mais fortemente nos voos intrarregionais,
especialmente entre Brasil e Chile e entre Argentina e Brasil.
Larenas destacou que
um dos dados mais importantes é que a América Latina e o Caribe já
ultrapassaram o número de passageiros registrado em 2019, pouco antes da
pandemia, e "a tendência continua aumentando. Poderá haver alguma
diminuição no percentual de crescimento, talvez passe de 7% em 2023 para 4%,
mas as perspectivas são de que o mercado continue a crescer devido à maior
concorrência no setor", considerou.
A isto, o especialista
acrescentou outro fato que não escapa aos analistas: depois do surto da
COVID-19, as pessoas querem viajar mais.
"Depois da
pandemia houve um boom, não só na América Latina, mas em todo o mundo, de que
as pessoas querem viajar, precisam voar mais e não ficar presas. As pessoas
querem sair, explorar o mundo e seus países, aproveitar a vida", resumiu
Larenas.
Embora o analista
reconheça que se trata "até de uma questão filosófica" que pode
escapar aos estudos estritamente técnicos, esta mudança no estilo de vida de
muitos latino-americanos "é um fenômeno que se tem verificado na indústria
aeronáutica".
Fonte: Sputnik Brasil
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