EUA boicotaram processo de paz entre Rússia
e Ucrânia em 2022 por preferirem caos na Europa
Analistas ocidentais
ativam a criatividade para justificar o boicote dos EUA e Reino Unido às
negociações de paz entre Ucrânia e Rússia ainda em 2022. Apesar do malabarismo
argumentativo, os novos documentos provam que a paz na Europa só será possível
com uma mudança de postura em Washington.
Artigo recém-publicado
pela revista norte-americana Foreign Affairs revela que o conflito ucraniano
poderia ter sido solucionado ainda em maio de 2022, quando Rússia e Ucrânia
publicaram um acordo para colocar fim às hostilidades.
Os autores do artigo
confirmam: Moscou e Kiev publicaram um acordo chamado Comunicado de Istambul e
estavam a um passo da paz, quando países ocidentais interferiram para impedir a
assinatura do armistício.
"Ao invés de
abraçar o Comunicado de Istambul e subsequente processo diplomático, o Ocidente
aumentou a ajuda militar para Kiev e a pressão sobre a Rússia, inclusive com a
imposição de regime de sanções cada vez mais fortes", escrevem os autores
na Foreign Affairs.
Novos documentos
analisados pela revista reafirmam que, durante visitas de alto escalão a Kiev,
representantes de EUA e Reino Unido se opuseram ao processo de paz. Para os
aliados da OTAN, o conflito representava uma oportunidade de enfraquecer a
Rússia às custas dos ucranianos.
O Comunicado de
Istambul, finalizado em abril de 2022, providenciava garantias de segurança
multilaterais para Kiev, reconhecia o status neutro do Estado ucraniano e
previa a sua entrada na União Europeia.
A Ucrânia renunciava
às intenções de aderir à OTAN ou de permitir a instalação de forças militares
internacionais em seu território. Em troca, garantias de segurança robustas
eram oferecidas a Kiev por países como EUA, Reino Unido, França, Canadá, Alemanha,
Israel, Itália, Polônia e Turquia.
As garantias de
segurança previstas no documento eram amplas e bastante detalhadas. Em caso de
invasão estrangeira, as partes eram obrigadas a providenciar assistência
militar, impor uma zona de restrição de voo, fornecer armamentos e intervir
diretamente em caso de necessidade.
O objetivo russo de
desnazificação da Ucrânia também estava contemplado no Comunicado de Istambul.
Além da proibição de ideologias extremistas como o "fascismo, nazismo,
neonazismo e nacionalismo agressivo", a Ucrânia deveria banir a glorificação
de colaboradores nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
O último elemento a
ser resolvido era o território ao qual as garantias de segurança seriam
estendidas. Esse importante fator seria acordado em uma reunião entre os
presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Vladimir Zelensky,
prevista para ocorrer em Jerusalém ainda no primeiro semestre de 2022.
No entanto, a
intervenção do Ocidente impediu que as negociações fossem concluídas. Nas fases
finais das negociações, o então primeiro-ministro do Reino Unido, Boris
Johnson, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o secretário de
Defesa dos EUA, Lloyd Austin, se opuseram ao acordo e garantiram a Zelensky o
apoio militar incondicional.
A estratégia de
Washington para lidar com o conflito ucraniano não incluía negociações de paz,
mas sim "suporte massivo para a Ucrânia, pressão massiva sobre a
Rússia" e a mobilização de "mais de 30 países para esses
esforços", disse o secretário de Estado Antony Blinken durante sua visita
a Kiev em abril de 2022.
O artigo da Foreign
Affairs conclui, sem tirar nem pôr, que a intervenção dos EUA e Reino Unido
impediu a formalização de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia em maio de
2022, com o objetivo deliberado de manter a guerra em curso.
·
Reação distorcida no Ocidente
O artigo da Foreign
Affairs foi recebido no Ocidente com ceticismo. Comentaristas ocidentais
argumentaram que os EUA não poderiam fornecer garantias de segurança à Ucrânia
sem arriscar um confronto nuclear com a Rússia, e por isso acordaram em
rejeitar o Comunicado de Istambul.
De fato, os autores do
artigo da Foreign Affairs apontam que os países do Ocidente não estavam
dispostos a fornecer garantias de segurança à Ucrânia.
"Naquele momento,
e nos dois anos seguintes, a disponibilidade de [...] realmente se comprometer
com a defesa da Ucrânia no futuro esteve notavelmente ausente em Washington e
nas capitais europeias", escreveu a Foreign Affairs.
Muito admira que
Washington não tivesse a intenção de interferir diretamente no conflito
ucraniano. Afinal, os EUA não escondem que mantêm pessoal militar e de
inteligência na Ucrânia atualmente e, portanto, participam do esforço de
guerra.
De acordo com o jornal
The New York Times, serviços de inteligência dos EUA operam bases na Ucrânia
que providenciam informações sobre "alvos para ataques de mísseis,
rastreio de movimentos de tropas russas e apoio a redes de espionagem".
Além disso, a presença
de tropas da OTAN na Ucrânia foi recentemente confirmada pelo ministro das
Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski. O chanceler alemão Olaf
Scholz foi além disso e atestou a presença de tropas nacionais de França e
Reino Unido na zona de conflito.
·
Conflito nuclear?
A alegação
norte-americana de que aderir ao Comunicado de Istambul colocaria os EUA em
risco de um conflito nuclear com a Rússia também gera questionamentos. É a
manutenção do conflito, e não a paz, que coloca as partes em risco de embate
nuclear. De acordo com o próprio presidente dos EUA, Joe Biden, atualmente o
risco de "Armagedom nuclear" é o maior em 60 anos.
Os norte-americanos
tampouco parecem ter receio de confronto nuclear quando fornecem mísseis de
longo alcance para a Ucrânia atingir alvos dentro do território russo. Nesta
quarta-feira (24), a mídia norte-americana relatou que os EUA forneceram
mísseis ATACMS de forma secreta para a Ucrânia, apesar do risco que os ataques
contra o território russo com armas norte-americanas representam para uma
escalada nuclear.
Portanto, a intenção
de Washington, ao rejeitar o Comunicado de Istambul, não era evitar um conflito
com a Rússia ou uma escalada nuclear. Mas sim engajar-se em um conflito com
Moscou em solo ucraniano, expondo o mundo ao risco de um confronto atômico.
·
Neutralidade em xeque
Analistas ocidentais
também questionam se o Comunicado de Istambul era favorável à Ucrânia, já que
previa o status neutro e não nuclear ao país.
De acordo com o então
líder da delegação ucraniana, David Arakhamia, a Rússia "estava preparada
para terminar a guerra se nós, como a Finlândia, adotássemos a neutralidade e
nos comprometêssemos a não aderir à OTAN".
Para os críticos no
Ocidente, a imposição a Kiev de um status neutro, sob o modelo da neutralidade
da Finlândia durante a Guerra Fria, seria um insulto.
Para aqueles que
estavam interessados na paz, não fica claro por que a neutralidade seria um
status degradante. A Suíça foi um Estado neutro por excelência durante séculos,
o que lhe garantiu uma posição ímpar no sistema internacional. A neutralidade
da Finlândia durante boa parte do século XX também parece não ter ido contra os
interesses de sua população, que atingiu um dos melhores níveis de Índices de
Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo.
·
EUA não sabiam os detalhes do acordo?
Outro argumento
levantado por analistas ocidentais para justificar o boicote ao Comunicado de
Istambul foi que a Ucrânia não teria consultado Washington sobre os
desenvolvimentos das negociações. De acordo com um diplomata norte-americano
entrevistado pela Foreign Affairs, os EUA não estavam a par das provisões do
acordo até a publicação do Comunicado de Istambul.
A afirmação é
duvidosa: o então primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, líder com
inegáveis laços com o Ocidente, declarou em entrevista ao jornalista Hanoch
Daum ter tido acesso a 17 ou 18 rascunhos do acordo. Segundo a Foreign Affairs,
o presidente belarusso Aleksandr Lukashenko também teve acesso aos documentos.
No mais, os EUA
repetem ad nauseam que um eventual acordo de paz deverá ser negociado pela
Ucrânia sem a interferência de atores externos. Washington manifesta
frequentemente essa posição para evitar negociações diretas com a Rússia sobre
o conflito ucraniano. A realidade, entretanto, desmente esse argumento, pois
quando a Ucrânia se engajou em negociações de maneira autônoma, em 2022, o
Ocidente se recusou a reconhecer os seus resultados.
·
Responsabilidade moral?
O contexto no qual a
revista Foreign Affairs optou por assumir a responsabilidade ocidental pelo
insucesso das negociações de paz era de acirradas negociações no Congresso
norte-americano para a aprovação de novo pacote de ajuda financeira para a
Ucrânia.
A exposição do papel
determinante dos EUA para boicotar o processo de paz foi interpretada como
prova da responsabilidade moral de manter o financiamento da guerra. Afinal,
houve comprometimento com a liderança ucraniana de que o Ocidente estaria ao
lado de Kiev nesse embate de grandes proporções.
Ainda que concedamos
que houve erro da parte ocidental em evitar um acordo de paz em maio de 2022,
insistir no erro hoje é uma escolha política. Os termos acordados no Comunicado
de Istambul são um indicador claro de que a paz não só é possível, mas bastante
factível.
A boa notícia é que o
Comunicado de Istambul poderá ser utilizado como um rascunho já bastante
avançado para futuras negociações que coloquem fim às hostilidades na Europa.
Isso, claro, se Washington abandonar os erros do passado e se engajar no
processo de paz.
¨ Recusa de Kiev em seguir negociações com Moscou foi efeito de
'pressão do Reino Unido', diz Kremlin
A recusa de Kiev em
continuar as negociações em Istambul foi causada pela pressão de Londres, disse
o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, neste sábado (27).
A última rodada de
negociações feita entre Rússia e Ucrânia em Istambul aconteceu no final de
março de 2022. As trativas chegaram ao fim sem acordos firmados, mas com novas
informações sobre as exigências de ambos os lados para encaminharem as
conversas adiante.
"É sabido que o
documento foi rubricado de fato. Todos também estão bem cientes do que
exatamente fez com que os ucranianos se recusassem a continuar e finalizar o
trabalho sobre o documento, segundo representantes do lado ucraniano que
participaram nos diálogos. Foi devido à pressão direta de Londres",
afirmou Peskov a repórteres quando questionado se é verdade que Moscou
apresentou novas exigências a Kiev após a cúpula em Istambul em 2022, que a
Ucrânia recusou.
O porta-voz
presidencial acrescentou que "não há pré-requisitos para negociações com
Kiev no momento, inclusive devido à posição da Ucrânia contra quaisquer
negociações, portanto, a operação militar especial russa continua",
acrescentou Peskov.
Desde 2022, outras
cúpulas para "paz na Ucrânia" foram realizadas, contudo, todas elas
sem a presença da Rússia, que não foi convidada. A medida não faz sentido,
visto que reais acordos só podem ser atingidos com ambas as partes do conflito
na mesma mesa.
Agora em junho, nos
dias 15 e 16, acontecerá uma outra cúpula na Suíça com o mesmo intuito. Moscou
foi convidada, no entanto, devido às recentes ações de Berna – que afastaram o
país do seu tradicional status de neutralidade, implementando várias rodadas de
sanções da União Europeia contra a Rússia – a Rússia não aceitou participar do
encontro.
"Nessas
circunstâncias, a Suíça não pode ser um anfitrião neutro por definição, muito
menos um mediador", disse no início deste mês a representante oficial da
chancelaria russa, Maria Zakharova, conforme noticiado.
¨ Embaixadas ucranianas funcionam como centros de recrutamento de
mercenários, diz ex-oficial francês
As embaixadas
ucranianas funcionam como centros de recrutamento de mercenários para
participar das hostilidades ao lado das Forças Armadas da Ucrânia, disse à
Sputnik Nicolas Cinquini, ex-funcionário do serviço de inteligência
antiterrorismo francês.
"Desde o início
da operação militar especial russa, as embaixadas ucranianas têm servido como
centros de recrutamento. Notei também que os primeiros voluntários, uma vez na
Ucrânia, também começaram a recrutar [outros] através das redes sociais",
contou ele em entrevista exclusiva à Sputnik.
Ainda segundo
Cinquini, aos militares franceses estão sendo prometidos um "paraquedas
dourado" por se demitirem do Exército de seu país de forma fictícia e
lutarem na Ucrânia.
Alguns podem estar na
Ucrânia desde o início da operação militar especial em fevereiro de 2022,
juntamente com civis franceses comuns que foram lutar pelo regime de Kiev por
conta própria.
"São agentes que
permanecem muito secretos e são difíceis de identificar," observou o
ex-oficial. "Fontes nos disseram que nas fileiras do Exército francês os
especialistas receberam propostas atraentes: falsa demissão, uma garantia de
reintegração após a conclusão e, entretanto, uma renda significativamente
superior ao seu salário normal" disse ele.
Em fevereiro, o
presidente francês Emmanuel Macron afirmou que Paris faria de tudo para impedir
a Rússia de "vencer esta guerra". Em uma conferência sobre
assistência à Ucrânia, ele levantou a questão do envio de tropas francesas para
a zona de combate, mas nem os líderes europeus nem a oposição em seu próprio
país o apoiaram.
No início de março,
Macron também enfatizou que a França "não tem limites ou linhas
vermelhas" em questões de apoio à Ucrânia.
O diretor do Serviço
de Inteligência Externa russo, Sergei Naryshkin, afirmou que a França já havia
começado a treinar um contingente a ser enviado para a zona de conflito,
composto por cerca de 2 mil militares na fase inicial.
O ministro da Defesa
russo, Sergei Shoigu, disse por telefone ao seu homólogo francês, Sébastien
Lecornu, que o envio de tropas francesas para a Ucrânia criaria problemas para
a própria França.
O presidente russo
Vladimir Putin declarou recentemente que o envio de tropas europeias para a
Ucrânia não mudará a situação no campo de batalha, mas levará a consequências
graves para Kiev. Em resposta às palavras de Macron sobre a ausência de linhas
vermelhas, o líder russo disse que Moscou também não terá restrições em relação
a tal abordagem.
Apesar da divulgação
na imprensa de fatos sobre cidadãos franceses mortos na Ucrânia, o Ministério
das Relações Exteriores francês negou a presença de mercenários franceses nas
fileiras das Forças Armadas da Ucrânia, acusando a Rússia de "desinformação".
Em meados de março, o
ministro da Defesa russo informou que, durante a operação militar especial,
mais de 13 mil mercenários estrangeiros chegaram à Ucrânia e que cerca de 6 mil
deles foram eliminados.
Fonte: Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário