Cuidados paliativos: como funciona, tipos
de suporte e desafios
As doenças crônicas e
as condições de saúde graves que não têm cura podem levar a um profundo impacto
no paciente e em sua família. A dor e o desconforto da doença se associam ao
medo do desconhecido e ao sofrimento derivados do prognóstico. É nesse cenário
que os cuidados paliativos se tornam essenciais. Eles oferecem um
suporte que engloba não apenas as necessidades físicas, mas também as
emocionais, sociais e espirituais do indivíduo.
Dessa forma, os
cuidados paliativos são um componente essencial e indispensável do tratamento
médico. Seu objetivo é muito mais amplo do que simplesmente prolongar a vida.
Os cuidados paliativos devem entrar em uma nova era no Brasil após a aprovação
pelo Ministério da Saúde da Política Nacional de Cuidados Paliativos. A
oficialização da decisão foi publicada em uma resolução do Conselho Nacional de Saúde em 7 de dezembro e, em 14 de dezembro, foi pactuada com
estados e municípios na 12ª reunião de 2023 da Comissão Intergestores Tripartite (CIT). A portaria com as regras e previsão de orçamento ainda será
publicada, mas principal desafio será formar equipes por todo o país – além de
reduzir o estigma associado ao conceito.
A iniciativa prevê
garantir assistência para melhorar a qualidade de vida, aliviar o sofrimento e
apoiar pacientes que necessitem desses cuidados no Sistema Único de Saúde
(SUS). A expectativa divulgada pelo Ministério da Saúde é realizar um aporte
anual de R$ 851 milhões na política, com o objetivo de
formar até 1.321 equipes multidisciplinares que contam com médicos,
enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais. O investimento também contempla
educação permanente dos profissionais e assistência farmacêutica.
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Mas, afinal, o que são cuidados
paliativos?
Cuidados paliativos
são uma abordagem especializada no atendimento a pacientes com doenças graves,
progressivas e muitas vezes incuráveis. Esse campo de cuidado médico tem como
principal objetivo melhorar a qualidade de vida dos pacientes e de suas
famílias, lidando com todos os tipos de problemas associados a tais condições.
Na prática, os
cuidados paliativos se propõem a gerenciar sintomas desconfortáveis, ao mesmo
tempo em que lidam com aspectos psicológicos e emocionais, como depressão, ansiedade e
medo. Além disso, auxiliam pacientes e familiares a compreenderem suas opções
de tratamento e suas escolhas quanto ao cuidado futuro.
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Tipos de suporte oferecidos em cuidados
paliativos
Os cuidados paliativos
compreendem um suporte multidisciplinar, que envolvem diversas frentes de ação.
Dessa forma, oferecem uma abordagem integral, considerando o paciente em sua
totalidade e dando suporte também à família.
- Controle dos sintomas: inclui o manejo de sintomas como dor,
falta de ar, fadiga, constipação, náuseas, perda de apetite e dificuldade
para dormir, entre outros, através de medicamentos e técnicas.
- Home care e internação: os cuidados paliativos podem incluir tanto cuidados em casa
(home care), em
que uma equipe de profissionais de saúde visita o paciente regularmente
para fornecer tratamento e suporte, quanto cuidados hospitalares, quando os sintomas não podem ser controlados de forma
domiciliar.
- Cuidado espiritual: profissionais
de saúde espiritual, como capelães, podem oferecer apoio para questões de
fé e espiritualidade. Ainda conseguem ajudar o paciente a encontrar
sentido e propósito e auxiliar na reconciliação de conflitos espirituais.
- Reuniões familiares: proporcionam
um espaço para o diálogo aberto sobre os desejos e preocupações do
paciente e da família. Elas facilitam a comunicação entre a equipe médica,
o paciente e os familiares. Dessa forma, promovem o entendimento e a
tomada de decisões compartilhadas.
- Coordenação dos cuidados: envolve garantir que todas as necessidades do paciente
sejam atendidas e que todos os aspectos do cuidado estejam funcionando de
forma harmoniosa. Isso pode envolver a coordenação entre
diferentes profissionais de saúde e o encaminhamento para outros serviços,
como fisioterapia ou aconselhamento.
- Suporte ao luto: ajuda
os familiares a lidar com a perda e a dor da morte. Isso pode incluir
aconselhamento, grupos de apoio e outras formas de assistência emocional.
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Equipe multidisciplinar nos cuidados paliativos
Nos cuidados
paliativos, o papel de uma equipe multidisciplinar é primordial para garantir
um cuidado integral e adequado ao paciente e à sua família. Essa abordagem
multiprofissional busca atender às diversas demandas que se manifestam ao longo
do curso de uma doença grave ou terminal.
A equipe é geralmente
composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais,
fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos, e, por vezes, capelães ou
outros profissionais de saúde espiritual. Cada membro desempenha um papel
específico, mas todos trabalham em conjunto para promover o bem-estar do
paciente.
Os médicos e
enfermeiros são responsáveis pelo controle dos sintomas e pela administração de
tratamentos necessários. Os psicólogos ajudam a lidar com o impacto emocional
da doença e da proximidade da morte. Por outro lado, os assistentes sociais
oferecem apoio para lidar com questões práticas e burocráticas que podem
surgir.
Os fisioterapeutas
podem ajudar a manter ou recuperar a mobilidade e a funcionalidade do paciente.
Já os nutricionistas trabalham para garantir uma nutrição adequada. Isso que
pode ser um desafio diante da falta de apetite ou de dificuldades para comer.
Os farmacêuticos têm a
função de gerir a medicação do paciente, garantindo que os medicamentos sejam
tomados corretamente e minimizando os efeitos colaterais. Já os profissionais
de saúde espiritual podem oferecer suporte nas questões de fé e espiritualidade.
Em outras palavras, auxiliam o paciente a encontrar sentido e propósito mesmo
em meio à doença e ao sofrimento.
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Desafios nos cuidados
paliativos
A Organização Mundial
da Saúde (OMS) sinaliza a importância de se adiantar na instauração do
tratamento paliativo ao mesmo tempo em que se implementam os esforços
curativos. Esse duplo enfoque tem por objetivo a compreensão e controle
adequado dos sintomas. Isso, por sua vez, pode proporcionar mais qualidade de
vida e, possivelmente, uma extensão do tempo de vida do paciente.
No Brasil, estima-se
que pelo menos 1,2 milhão de pacientes terão necessidades de cuidados
paliativos em 2040. De acordo com dados da
Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) obtidos pelo Futuro da Saúde em
dezembro de 2022, havia 250 equipes especializadas na área em todo o país.
Entretanto, a
realidade global, conforme observado pela OMS, mostra que a oferta de cuidados paliativos está muito abaixo
do necessário na maioria dos países. A estimativa da instituição é de que mais
de 56,8 milhões de pessoas necessitam desse tipo de assistência a cada ano.
Porém, apenas um em cada dez acaba tendo acesso a tal serviço.
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Futuro preocupante
Um olhar para o futuro
mostra um quadro ainda mais preocupante. As projeções indicam que, até o ano de
2060, a demanda por cuidados paliativos quase dobrará. Trata-se de uma
realidade que pede atenção, uma vez que cuidados paliativos eficazes são
fundamentais para assegurar a dignidade e o conforto dos pacientes em momentos
de vulnerabilidade extrema.
Os desafios são
muitos. Primeiramente, fatores como localização geográfica, recursos
financeiros e políticas de saúde podem restringir a disponibilidade de cuidados
paliativos de qualidade. Além disso, muitos profissionais de saúde ainda não
são treinados adequadamente nesta área. A falta de formação e sensibilização
pode também alimentar estigmas associados à mortalidade e ao fim da vida.
Por fim, não se pode
ignorar o impacto emocional no cuidador. O
esgotamento físico e mental é uma preocupação entre aqueles que fornecem
cuidados paliativos, seja um profissional ou um familiar.
Então, superar esses
desafios requer uma abordagem colaborativa. Através de esforços conjuntos se
pode tornar os cuidados paliativos uma prática acessível e humana, digna do
significado profundo que carrega em nossa compreensão da vida e da morte.
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Cuidados paliativos:
uma abordagem para promover qualidade de vida
À medida que o mundo
se depara com o envelhecimento acelerado e a proliferação de doenças crônicas,
os cuidados paliativos emergem como uma atividade cada vez importante. Segundo
a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 56 milhões de pessoas poderiam
ser beneficiados com este tipo de cuidado e a tendência é que esse número
continue em expansão. Ao contrário do que muitos pensam, cuidados paliativos
não são apenas usados em pacientes em fase terminal e muito menos significa que
a equipe médica desistiu de oferecer tratamento. Na verdade, eles têm o
objetivo de melhorar a qualidade de vida, conforto e bem-estar de alguém que
esteja passando por algum tipo de condição.
O termo é originário
do latim “pallium”, que evoca a imagem de um manto, uma espécie de proteção que
simboliza conforto, amparo e cuidado. A visão revolucionária da inglesa Cicely
Saunders, que trouxe à tona o conceito de hospice no século 21, preconiza um
cuidado que vai além do físico, englobando as dimensões psíquicas e sociais do
ser humano. Contudo, há um estigma muito intenso ainda relacionado a essa área
de atuação – o que representa um dos desafios para o avanço dos cuidados
paliativos no Brasil. Para superar essa barreira, uma das saídas é estimular o
conhecimento do tema tanto entre profissionais de saúde quanto entre pacientes
e familiares.
Além disso, outro
desafio é estimular a criação de políticas públicas, que teriam o papel de fomentar a formação de mais
especialistas na área, desenhar diretrizes de atuação – por exemplo, com uma
equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, nutricionistas e
fisioterapeutas, dentre outras especialidades – e garantir que os pacientes que
demandem esse tipo de cuidado tenham acesso tanto no sistema público quanto no
privado.
Fonte: Futuro da Saúde
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