sábado, 27 de abril de 2024

Governo quer mais políticas públicas para indígenas em centros urbanos

As políticas públicas voltadas à população indígena darão atenção especial aos chamados “indígenas em situação de contexto urbano”, grupo cada vez mais presente nas cidades, em especial na busca por estudo e trabalho. Muitos deles vivem dificuldades relacionadas à questão da mobilidade, uma vez que costumam transitar entre a cidade e a aldeia.

A preocupação foi manifestada pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, ao programa Bom Dia, Ministra transmitido nesta quinta-feira (25) por veículos de rádio e TV da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Há cerca de 1,7 milhão de indígenas no Brasil, segundo o Censo 2022. Em 1991, eram 294 mil e, em 2010, esse número já estava em 897 mil. Caso se confirmem os percentuais observados nos censos anteriores, estima-se que metade da população indígena esteja em ambientes urbanos.

De acordo com declarações anteriores da ministra, o crescimento observado entre aqueles que se declaram indígenas se explica não apenas pelo aumento de crianças e jovens, mas também pelo maior sentimento de pertencimento entre indígenas que vivem em contexto urbano.

Durante o Bom Dia, Ministra desta quinta-feira, Sônia Guajajara revelou que há várias frentes de trabalho sendo desenvolvidas pelo Ministério dos Povos Indígenas, seja olhando para quem está nas aldeias, seja para quem está nas áreas isoladas e remotas, e também para os indígenas que estão em contexto urbano.

“Temos, no ministério, uma coordenação de indígenas em situação de contexto urbano. Ontem [quarta-feira, 24] mesmo tivemos a discussão com alguns representantes que estiveram no ministério, para pensarmos políticas que sejam adequadas para atender esses indígenas que estão nas cidades”, disse a ministra.

Segundo Sônia Guajajara, há um “número expressivo” de indígenas na cidade, em várias capitais, e em várias cidades maiores. “Precisamos realmente de políticas para esse povo que, muitas vezes, são excluídos das políticas universais. Não podemos pensar políticas como privilégio. Precisamos que elas sejam, de fato, específicas e adequadas para atender também essa população”, defendeu.

•        Marco Temporal

Quanto ao Marco Temporal, tese jurídica que reconhece como terra indígena apenas aquelas que estavam ocupadas ou em disputa na data de promulgação da Constituição, em 1988, a ministra disse que o instituto “nega o direito originário; não reconhece a ocupação tradicional dos povos indígenas; e exige ainda que os indígenas comprovem a presença física e ainda uma disputa por aquela terra no dia 5 de outubro de 1988”.

“Mas todos sabemos que muitos são os motivos que levaram os indígenas a não estarem em determinadas terras naquela data de 1988. Seja por expulsão, seja por doenças ou por retirada feita pela própria ditadura militar, período em que aconteceram muitas retiradas de indígenas de seus territórios. Indígenas que, com o tempo, reivindicam esse direito de ter o seu território tradicional de volta. Então, o Marco Temporal acaba excluindo muitas terras indígenas de serem devolvidas para seus povos”, acrescentou.

Para a ministra, essa causa precisa de um apoio mais amplo, não restrito às populações indígenas. “A gente precisa muito do apoio da sociedade e de todo mundo, para que possamos de fato enterrar de vez o Marco Temporal, e assim garantir a retomada, acelerando os processos de demarcação de terras indígenas no Brasil”.

Recursos

A ministra lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou o recurso extraordinário e declarou o Marco Temporal como inconstitucional. “Mas, em seguida, o Congresso Nacional apresentou uma proposta de lei com esse mesmo tema. A Câmara e o Senado aprovaram. O presidente Lula então vetou o Marco Temporal integralmente, mas o Congresso derrubou os vetos do presidente Lula”, disse.

“O presidente Lula, então, não sancionou nem assinou a lei, que acabou sendo assinada pelo próprio Congresso Nacional, pelas presidências da Casa. Depois de sancionada, os partidos PSOL, Rede e o movimento indígena, por meio da Apib [Articulação dos Povos Indígenas do Brasil], entraram com uma Adin [ação direta de inconstitucionalidade] no Supremo Tribunal Federal”, contextualizou a ministra.

“Essa ação foi para as mãos do ministro Gilmar Mendes que, surpreendentemente, em vez de colocar na pauta para julgamento como esperava o movimento indígena, publicou uma liminar suspendendo todos os processos de demarcatórios, até que a ação seja julgada pelo pleno do tribunal”, complementou.

 

•        Mulheres indígenas fortalecem o movimento em defesa dos direitos territoriais no ATL

 

A expressiva presença das mulheres indígenas no 20o Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília, chama atenção pela diversidade e protagonismo político. Elas estão em todas as plenárias de debate no ATL, na marcha pelas ruas da capital federal, nas barracas de artesanato e pintura corporal, nas apresentações culturais com cânticos e danças e na sessão especial na Câmara Federal.

As deputadas federais indígenas Célia Xakriabá (PSOL-MG) e Juliana Cardoso (PT-SP), a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) Joenia Wapichana e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, ocuparam a tribuna da Câmara Federal para discursar em sessão especial no dia 23 que tratou sobre os prejuízos da Lei 14.701/24 que instituiu o Marco Temporal para a demarcação das terras indígenas.

A crítica à atuação da bancada ruralista no Congresso Nacional, contrária aos direitos indígenas, e a onda de violência que vitima lideranças em todo o país marcaram os discursos.

A presidente da Funai defendeu a união dos poderes para fortalecer o órgão. “A responsabilidade deve ser partilhada, o Parlamento tem que contribuir para aprovar o nosso orçamento, e o Judiciário precisa assegurar nossos direitos”, declarou.

Com o tema “Nosso Marco é ancestral. Sempre estivemos aqui”, à tarde, o encontro debateu a educação indígena, saúde mental nas comunidades indígenas, demandas para a preservação ambiental na COP 30, o marco temporal e a atuação da juventude indígena.

A primeira defensora pública estadual do país, a baiana Alessia elogiou a articulação histórica do movimento indígena contra o marco temporal e a resistência de 524 anos contra os invasores de seus territórios. A cacica Ivonete Amaral, a Fia Tupinambá, de Olivença Bahia, reivindicou a demarcação do território tradicionalmente ocupado por seu povo, ainda sem a carta declaratória.

A coordenadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), Jozi Kaingang, homenageou, durante a sessão na Câmara, a pajé Nega Pataxó, assassinada em janeiro em conflitos de terra na Bahia. “Represento no Parlamento as mulheres indígenas de todos os biomas, algumas de nós tombaram na luta, tivemos nossos corpos violentados pelos colonizadores e nossas terras estupradas pelo garimpo ilegal”, afirmou. Ela enfatizou que a história dos povos indígenas não começa em 1500 e defendeu a continuidade da luta contra o marco temporal para construir um país que amplie os direitos conquistados.

Nas plenárias da tarde do dia 23, as advogadas indígenas apresentaram um panorama da legislação e as estratégias para enfrentar os prejuízos da Lei 14.701/23 e a lentidão no processo demarcatório. A proposta da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), uma das seis organizadoras do encontro, é exigir do governo federal a efetiva demarcação dos territórios e a proteção às lideranças ameaças de morte em todo o país. Uma carta com 24 demandas de todos os 180 povos indígenas representados no ATL foi entregue aos três poderes da República.

Em nome da APIB, Elisa Pankararu reafirmou as denúncias de violência e de racismo contra a população indígena e elogiou a resistência através das práticas tradicionais de cura e o sistema de educação.

 

       MPF participa de acordo para regularização fundiária da comunidade quilombola do Charco, no Maranhão

 

O Ministério Público Federal (MPF) participou do acordo entre particulares e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em benefício da comunidade quilombola do Povoado Charco, para regularização fundiária dos territórios conhecidos como Fazenda Juçaral e Fazenda Juçaral II, no município de São Vicente Férrer, no Maranhão. Com o acerto, a posse das terras ficará a cargo da autarquia, responsável pelo processo de regularização fundiária das terras tradicionalmente ocupadas pelas comunidades quilombolas.

O acordo foi homologado no dia 18 de abril pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), no âmbito de duas ações de desapropriação de imóvel por interesse social movidas pelo Incra, uma para cada fazenda. As ações chegaram a ser negadas em primeira instância, mas a autarquia federal recorreu à Corte regional, onde as partes enfim alcançaram entendimento.

Os termos pactuados incluem justa indenização pelas benfeitorias realizadas, desobrigação de pagamento de impostos federais, declaração de plena quitação de todos os direitos relativos aos imóveis por parte dos expropriados, entre outros. O acordo visa encerrar um contexto de sérios e graves conflitos fundiários entre os membros da comunidade quilombola, trabalhadores rurais e proprietários de terras na área, que resultaram inclusive no assassinato do líder quilombola Flaviano Pinto Neto, em 2010.

•        Reconhecimento

A celebração do acordo é um importante passo no sentido de reconhecer o território da comunidade do Charco como de ocupação tradicional quilombola. A desapropriação dos imóveis é um obstáculo a menos para que o Incra possa concluir o processo administrativo de titularização das terras, que se arrasta desde 2009.

A autarquia foi condenada judicialmente a concluir o processo demarcatório em 2016, a pedido do MPF. Para o órgão, trata-se de uma demora injustificável que colaborou para o crescimento das tensões no local.

O direito do reconhecimento da propriedade definitiva das terras ocupadas historicamente por comunidades remanescentes de quilombos é previsto expressamente na Constituição Federal. Nesse sentido, a Carta Magna determina ao Estado o dever de emitir os títulos respectivos.

De acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o quilombo do Charco existe há mais de duzentos anos. No povoado, atualmente, vivem cerca de 70 famílias.

 

Fonte: Agencia Brasil/Brasil de Fato/PGR - 1ª região

 

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