Quatro em cada 10 lares enfrentam
insegurança alimentar na Bahia
Dados divulgados, nesta quinta-feira (25),
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam um cenário
alarmante quando se trata de domicílios e pessoas nos três diferentes graus de
insegurança alimentar - leve, moderada ou grave (quando pode ocorrer fome). Na
Bahia, no ano passado, moradores de 2,222 milhões de domicílios (40,0% do
total) sofriam algum grau de insegurança alimentar.
Em âmbito nacional, a
Bahia segue como o segundo estado com mais lares ameaçados pela fome (339 mil),
atrás apenas de São Paulo (523 mil). Em proporção, a Bahia tem a oitava maior
taxa de insegurança alimentar grave dentre os estados, apesar de o número de
pessoas vivendo nessa condição ter caído 14,5%, de 987 mil para 844 mil. Quanto
ao percentual de domicílios com algum nível de insegurança alimentar, o estado
é o segundo do país, atrás de Sergipe.
No país, no quarto
trimestre de 2023, a PNAD Contínua estimou um total de 78,3 milhões de
domicílios particulares permanentes no Brasil. Dentre esses, 72,4% estavam em
situação de segurança alimentar, enquanto 27,6% dos domicílios particulares
restantes estavam com algum grau de insegurança alimentar.
Para Mariana Viveiros,
supervisora de disseminação de informações do IBGE na Bahia, os dados são
importantes para quantificar e qualificar os diversos graus de ocorrência de
restrição de algo que é muito básico para a sobrevivência das pessoas, que é o
alimento. “É um problema sério, que a sociedade busca resolver com urgência. Os
números conseguem dar uma dimensão objetiva e clara do tamanho deste problema”,
explica.
Entre 2018 e 2023, o
total de pessoas com algum grau de insegurança alimentar na Bahia caiu 13,9%,
passando de 7,387 milhões para 6,360 milhões (42,2% da população do estado),
ainda assim, era o segundo maior contingente do país e o sexto maior percentual.
O dado reflete uma piora no ranking nacional para esse indicador: em 2017-2018,
o estado tinha o 3º maior número absoluto de domicílios com insegurança
alimentar (2,221 milhões) e era o 14º maior percentual (45,3%).
“A Bahia enfrenta um
quadro muito sério, com o sexto maior percentual de domicílios com algum grau
de insegurança alimentar. O estado subiu nesse ranking porque teve uma melhora,
mas não no ritmo de outros estados. A insegurança alimentar teve uma queda, em
geral, em todos os estados, de 2018 a 2023, mas a Bahia teve uma queda mais
tímida, com menos intensidade”, explica Viveiros.
Mas, não apenas a
insegurança alimentar grave preocupa, quando além dos membros adultos, as
crianças, quando presentes, também passaram por privação severa no consumo de
alimentos, podendo chegar à sua expressão mais aguda, a fome. Os dados do IBGE
apontam aumento absoluto no número de residências com insegurança alimentar
leve, que chegou em 1,346 milhão (24,3% dos domicílios do estado), afetando 4,1
milhões de pessoas (26,9% da população) no ano passado.
Neste caso, as
famílias revelam preocupação com o acesso aos alimentos no futuro e já se
verifica comprometimento da qualidade da alimentação no domicílio e moradores
ou os adultos da família assumem estratégias para manter uma quantidade mínima
de alimentos disponível aos seus integrantes. Segundo a supervisora do IBGE,
este cenário reflete “o malabarismo que as famílias fazem, todos os dias, para
conseguir ter o alimento na quantidade que necessitam”.
Viveiros destaca que a
renda é um fator crucial para explicar o tamanho desse problema da insegurança
alimentar na Bahia, pois existe uma relação direta entre baixa renda e o
referido indicador. Ela cita que, apesar
de o estado possuir o sétimo Produto Interno Bruto (PIB) do país, ele possui o
menor rendimento de trabalho médio, o quinto mais baixo rendimento domiciliar
per capta em 2023, e uma alta taxa de desigualdade de renda.
Pela primeira vez, a
segurança alimentar é objeto de investigação na PNAD Contínua. Em parceria com
o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome,
as informações sobre domicílios e pessoas nos três diferentes graus de insegurança
alimentar passarão a ser divulgadas periodicamente.
“É claro que programas
de combate à fome ajudam, circunstancialmente. São importantes para aquelas
famílias em pior situação, de insegurança moderada e grave, mas os programas,
normalmente, têm data de validade”, alerta. Portanto, Viveiros ressalta a importância
de concentrar esforços na melhoria da renda.
• Mais de 24 milhões de pessoas deixaram
de passar fome no país
O número de pessoas
com insegurança alimentar e nutricional grave no Brasil recuou de 33,1 milhões
em 2022 para 8,7 milhões em 2023, passando de 15,5% da população para 4,1%, uma
queda de 11,4 pontos percentuais.
Os dados de 2023 são
do módulo Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) Contínua, divulgada nesta quinta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Já os números de 2022 foram colhidos pela Rede
Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede
Penssan).
A pesquisa do IBGE foi
realizada em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social,
Família e Combate à Fome (MDA), usando como referencial metodológico a Escala
Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), que permite a identificação e
classificação dos domicílios de acordo com o nível de segurança alimentar de
seus moradores.
<<< Recorde
De acordo com o
ministro do MDA, Wellington Dias (foto), este é o segundo melhor resultado de
toda a série da EBIA. "Sair de 15,5% da população em situação de fome para
4,1% em apenas um ano é recorde. Importante pontuar que, de 2019 a 2022, não
deixaram o IBGE fazer o EBIA, mas o Brasil não ficou sem pesquisa. Os
pesquisadores brasileiros, incluindo cientistas e técnicos de várias
universidades e técnicos do próprio IBGE, foram a campo e fizeram pela Rede
Penssan", disse o ministro à Agência Brasil.
Ele também lembrou que
os dados apresentados são resultado do esforço do governo federal em retomar as
políticas públicas de redução da fome e da pobreza. "No ano de 2023,
tiramos dessa situação 24,4 milhões de pessoas que passaram a tomar café, almoçar
e jantar todos os dias", assinalou.
Segundo o IBGE, em
2023 o país tinha 27,6% (ou 21,6 milhões) dos seus domicílios em situação de
insegurança alimentar, sendo 18,2% (ou 14,3 milhões) com insegurança alimentar
leve, 5,3% (ou 4,2 milhões) com insegurança alimentar moderada e 4,1% (ou 3,2 milhões)
com insegurança alimentar grave.
Para a secretária
extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS, Valéria Burity, os números
indicam que - em um período curto - as políticas públicas de combate à fome e à
pobreza foram muito efetivas.
Ela lembra que o país
passou por um período muito grande, a partir de 2016, de retrocesso de
políticas públicas no setor.
“A gente comemora, mas
nós sabemos que ainda tem muito trabalho pela frente, e vamos continuar fazendo
para conseguir vencer a situação de fome e também garantir alimentação como
direito, garantir segurança alimentar e nutricional para a população brasileira”,
diz a secretária, que é responsável pelo plano Brasil Sem Fome.
Fonte: Tribuna da
Bahia/Agencia Brasil
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