sábado, 27 de abril de 2024

Quatro em cada 10 lares enfrentam insegurança alimentar na Bahia

 Dados divulgados, nesta quinta-feira (25), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam um cenário alarmante quando se trata de domicílios e pessoas nos três diferentes graus de insegurança alimentar - leve, moderada ou grave (quando pode ocorrer fome). Na Bahia, no ano passado, moradores de 2,222 milhões de domicílios (40,0% do total) sofriam algum grau de insegurança alimentar.

Em âmbito nacional, a Bahia segue como o segundo estado com mais lares ameaçados pela fome (339 mil), atrás apenas de São Paulo (523 mil). Em proporção, a Bahia tem a oitava maior taxa de insegurança alimentar grave dentre os estados, apesar de o número de pessoas vivendo nessa condição ter caído 14,5%, de 987 mil para 844 mil. Quanto ao percentual de domicílios com algum nível de insegurança alimentar, o estado é o segundo do país, atrás de Sergipe.

No país, no quarto trimestre de 2023, a PNAD Contínua estimou um total de 78,3 milhões de domicílios particulares permanentes no Brasil. Dentre esses, 72,4% estavam em situação de segurança alimentar, enquanto 27,6% dos domicílios particulares restantes estavam com algum grau de insegurança alimentar.

Para Mariana Viveiros, supervisora de disseminação de informações do IBGE na Bahia, os dados são importantes para quantificar e qualificar os diversos graus de ocorrência de restrição de algo que é muito básico para a sobrevivência das pessoas, que é o alimento. “É um problema sério, que a sociedade busca resolver com urgência. Os números conseguem dar uma dimensão objetiva e clara do tamanho deste problema”, explica.

Entre 2018 e 2023, o total de pessoas com algum grau de insegurança alimentar na Bahia caiu 13,9%, passando de 7,387 milhões para 6,360 milhões (42,2% da população do estado), ainda assim, era o segundo maior contingente do país e o sexto maior percentual. O dado reflete uma piora no ranking nacional para esse indicador: em 2017-2018, o estado tinha o 3º maior número absoluto de domicílios com insegurança alimentar (2,221 milhões) e era o 14º maior percentual (45,3%).

“A Bahia enfrenta um quadro muito sério, com o sexto maior percentual de domicílios com algum grau de insegurança alimentar. O estado subiu nesse ranking porque teve uma melhora, mas não no ritmo de outros estados. A insegurança alimentar teve uma queda, em geral, em todos os estados, de 2018 a 2023, mas a Bahia teve uma queda mais tímida, com menos intensidade”, explica Viveiros.

Mas, não apenas a insegurança alimentar grave preocupa, quando além dos membros adultos, as crianças, quando presentes, também passaram por privação severa no consumo de alimentos, podendo chegar à sua expressão mais aguda, a fome. Os dados do IBGE apontam aumento absoluto no número de residências com insegurança alimentar leve, que chegou em 1,346 milhão (24,3% dos domicílios do estado), afetando 4,1 milhões de pessoas (26,9% da população) no ano passado.

Neste caso, as famílias revelam preocupação com o acesso aos alimentos no futuro e já se verifica comprometimento da qualidade da alimentação no domicílio e moradores ou os adultos da família assumem estratégias para manter uma quantidade mínima de alimentos disponível aos seus integrantes. Segundo a supervisora do IBGE, este cenário reflete “o malabarismo que as famílias fazem, todos os dias, para conseguir ter o alimento na quantidade que necessitam”.

Viveiros destaca que a renda é um fator crucial para explicar o tamanho desse problema da insegurança alimentar na Bahia, pois existe uma relação direta entre baixa renda e o referido indicador.  Ela cita que, apesar de o estado possuir o sétimo Produto Interno Bruto (PIB) do país, ele possui o menor rendimento de trabalho médio, o quinto mais baixo rendimento domiciliar per capta em 2023, e uma alta taxa de desigualdade de renda.

Pela primeira vez, a segurança alimentar é objeto de investigação na PNAD Contínua. Em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, as informações sobre domicílios e pessoas nos três diferentes graus de insegurança alimentar passarão a ser divulgadas periodicamente.

“É claro que programas de combate à fome ajudam, circunstancialmente. São importantes para aquelas famílias em pior situação, de insegurança moderada e grave, mas os programas, normalmente, têm data de validade”, alerta. Portanto, Viveiros ressalta a importância de concentrar esforços na melhoria da renda.

•        Mais de 24 milhões de pessoas deixaram de passar fome no país

O número de pessoas com insegurança alimentar e nutricional grave no Brasil recuou de 33,1 milhões em 2022 para 8,7 milhões em 2023, passando de 15,5% da população para 4,1%, uma queda de 11,4 pontos percentuais.

Os dados de 2023 são do módulo Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada nesta quinta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já os números de 2022 foram colhidos pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).

A pesquisa do IBGE foi realizada em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDA), usando como referencial metodológico a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), que permite a identificação e classificação dos domicílios de acordo com o nível de segurança alimentar de seus moradores.

<<< Recorde

De acordo com o ministro do MDA, Wellington Dias (foto), este é o segundo melhor resultado de toda a série da EBIA. "Sair de 15,5% da população em situação de fome para 4,1% em apenas um ano é recorde. Importante pontuar que, de 2019 a 2022, não deixaram o IBGE fazer o EBIA, mas o Brasil não ficou sem pesquisa. Os pesquisadores brasileiros, incluindo cientistas e técnicos de várias universidades e técnicos do próprio IBGE, foram a campo e fizeram pela Rede Penssan", disse o ministro à Agência Brasil. 

Ele também lembrou que os dados apresentados são resultado do esforço do governo federal em retomar as políticas públicas de redução da fome e da pobreza. "No ano de 2023, tiramos dessa situação 24,4 milhões de pessoas que passaram a tomar café, almoçar e jantar todos os dias", assinalou.

Segundo o IBGE, em 2023 o país tinha 27,6% (ou 21,6 milhões) dos seus domicílios em situação de insegurança alimentar, sendo 18,2% (ou 14,3 milhões) com insegurança alimentar leve, 5,3% (ou 4,2 milhões) com insegurança alimentar moderada e 4,1% (ou 3,2 milhões) com insegurança alimentar grave.

Para a secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS, Valéria Burity, os números indicam que - em um período curto - as políticas públicas de combate à fome e à pobreza foram muito efetivas.

Ela lembra que o país passou por um período muito grande, a partir de 2016, de retrocesso de políticas públicas no setor.

“A gente comemora, mas nós sabemos que ainda tem muito trabalho pela frente, e vamos continuar fazendo para conseguir vencer a situação de fome e também garantir alimentação como direito, garantir segurança alimentar e nutricional para a população brasileira”, diz a secretária, que é responsável pelo plano Brasil Sem Fome.

 

Fonte: Tribuna da Bahia/Agencia Brasil

 

Nenhum comentário: