Ruptura política no Mercosul pode aproximar Brasil e Colômbia
Em
meio a um contexto de divisão política crescente no Mercosul, o Brasil
encontra-se cada vez mais isolado no Cone Sul, buscando novas alianças entre os
vizinhos da região.
A
Argentina, sob a presidência de Javier Milei, se distancia. Paraguai e Uruguai
também demonstram alinhamentos políticos discrepantes, ainda que de forma mais
discreta.
Dessa
forma, para pesquisadores consultados pela Sputnik Brasil, o governo
brasileiro, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, tem direcionado sua atenção
para a Colômbia.
A
recente proximidade comercial e política entre os países foi evidenciada no
encontro entre empresários dos dois países no Fórum Empresarial
Colômbia-Brasil, acompanhado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial (ABDI).
Para
o professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) Sillas de
Souza Cezar, a mudança não é tanto uma tentativa do Brasil de se afastar do
Mercosul, mas sim uma resposta à reticência dos presidentes dos países-membros
do bloco em relação a Lula.
De
acordo com ele, os líderes Milei, Lacalle Pou (Uruguai) e Santiago Peña
(Paraguai) mostram desinteresse em alinhamentos ideológicos, seja de forma
explícita ou discreta. Assim, o Brasil vê na Colômbia de Gustavo Petro uma
oportunidade de estabelecer parcerias políticas e econômicas mutuamente
benéficas.
A
aproximação sugere também uma possível entrada do país no Mercosul, paralela às
adesões anteriores da Venezuela (atualmente suspensa) e da Bolívia. "Por
seu tamanho, certamente a Colômbia traria ganhos ao Mercosul. Entretanto há
diversos fatores que podem desencorajar essa entrada."
"Devemos
considerar acordos bilaterais do país com outros parceiros, inclusive Estados
Unidos, que em algum grau compensariam sua ausência no bloco do sul. Há também
problemas internos que impediriam a integração, como a persistente influência
de guerrilheiros e traficantes armados na Amazônia colombiana."
Historicamente,
no entanto, Cezar questiona a ideia de que este é o principal período de
aproximação entre os países, lembrando de episódios nos anos 1950 e 1990,
quando Brasil e Colômbia buscaram interesses comuns na agricultura, na cultura
e no combate ao narcotráfico.
"Talvez
a aproximação mais lembrada seja a dos anos 1990, quando os governos dos dois
países uniram forças para combater seus problemas internos com o narcotráfico.
A Colômbia, inclusive, foi mais bem-sucedida nesse esforço."
O
cientista político e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ) Jefferson Nascimento observa que há uma fragmentação e uma polarização
crescentes dentro dos países e entre eles. "A integração latino-americana
como um todo passa por um momento bastante difícil se compararmos [o período de
hoje] ao momento em que Lula teve seus primeiros mandatos."
A
tensão reflete-se no impasse atual do Mercosul, com as posições divergentes de
Montevidéu e Assunção, além de uma priorização de Buenos Aires das relações com
Washington. "Milei já deixou claro que priorizará relações com os EUA em
detrimento dos vizinhos do sul. O Paraguai, mesmo na presidência temporária do
Mercosul, também não parece um grande entusiasta [da integração]."
Entre
os pontos de convergência de Brasil e Colômbia, segundo ele, há questões
ambientais e de segurança nas fronteiras. Ambos os países têm interesse em
promover uma transição energética para fontes mais limpas, ainda que existam
divergências sobre o ritmo dessa transição.
"Petro,
por exemplo, é contrário a que se aprovem novas licenças para a exploração de
petróleo e gás. Já Lula tem uma posição dúbia, às vezes se mostrando favorável,
por exemplo, à exploração de petróleo na Margem Equatorial", detalha.
Nascimento
ressalta que, em um contexto de inserção periférica e dependência de
commodities, a América do Sul só poderá alcançar o desenvolvimento e ter voz
nas disputas internacionais por meio da coordenação e integração entre os
países. "São questões que não podem ser resolvidas de forma
individualizada pelos países. É preciso uma coordenação."
Em
meio a tal conjuntura, o pesquisador avalia que o Brasil emerge como um país
que tenta manter a coesão do bloco, para além de questões comerciais. "O
estreitamento das relações entre Colômbia e Brasil é importante no sentido de
tentar mediar os conflitos políticos internos na Venezuela", exemplifica.
·
Quais são os países que fazem parte do
Mercosul?
O
Mercosul é formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A Venezuela
também compõe o bloco, mas está suspensa dos seus direitos e deveres. Além
disso, há os "Estados associados" — como a Bolívia, que está em
processo de adesão ao Mercosul, previsto para ser consolidado em julho.
Chile,
Equador, Guiana, Peru, Suriname e Colômbia também são Estados associados.
Nascimento
entende que a entrada da Colômbia no Mercosul é improvável no momento, devido à
necessidade de consenso entre os membros.
Para
Cezar, devido a uma aproximação na história recente de Bogotá com a direita,
uma eventual adesão sempre foi questionada, ainda que tal ideia possa sofrer
alterações. "Os governos da Colômbia foram mais inclinados à direita, algo
historicamente malvisto na tradicional e predominante visão ideológica do
Mercosul. Mas isso tem mudado", observa.
Nascimento
destaca um acordo de complementação econômica, o de número 58 (ACE 58),
assinado em 2005 como uma oportunidade para ampliar as relações econômicas
entre o Mercosul e outros países da região, incluindo a Colômbia, que é o
terceiro maior país em população do continente.
¨
Encontro bilateral
entre Brasil e Argentina vai ocorrer quando for conveniente para Lula
O presidente
brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ter recebido uma carta do seu
homólogo argentino Javier Milei, mas afirmou não ter lido o documento.
A carta foi entregue
pela chanceler argentina Diana Mondino ao seu homólogo Mauro Vieira na semana
passada, durante reunião em Brasília.
A visita de Mondino ao
país foi sua primeira oficial desde a posse do governo de Javier Milei, em
dezembro de 2023. A chanceler garantiu que Buenos Aires está "muito
interessada" em manter a relação bilateral com o gigante sul-americano.
"O gesto de Milei
é importante visto que as relações entre essas duas nações devem ser de
interesse comum, além das atuais diferenças ideológicas", disse o
cientista político brasileiro Guilherme Simões Reis, professor da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, à Sputnik.
Enquanto isso, Lula e
Milei mantêm uma distância política quase absoluta. O atual chefe de Estado
argentino expressou repetidamente a sua afinidade com o ex-presidente
brasileiro Jair Bolsonaro, antecessor de Lula no cargo e forte rival político.
"Tanto Bolsonaro
quanto Milei se apresentaram como líderes de ruptura, e de forma agressiva,
diante da aproximação histórica dos países sul-americanos", afirmou o
especialista.
Para ilustrar as
semelhanças entre os dois líderes políticos de direita, o especialista lembra
que Milei realizou um encontro presencial nos EUA em abril com Elon Musk, dono
da rede social X que desafia o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, que o
acusou de "manipulação criminosa e intencional" da plataforma X
(anteriormente Twitter) e de "obstrução" da Justiça.
No último fim de
semana, Bolsonaro participou de uma grande mobilização no Rio de Janeiro, onde
expressou seu apoio a Musk enquanto criticava o sistema de justiça nacional.
De acordo com Simões
Reis, os contínuos ataques de Milei à figura de Lula, principalmente durante a
campanha política na Argentina em 2023, não conseguem se sustentar por muito
tempo e que a recente carta enviada a Lula é um sinal disso.
Para o cientista
político, no entanto, um encontro bilateral entre os líderes é viável no curto
prazo, mas será em um momento "mais interessante" em termos de
conveniência para Lula do que para Milei.
¨ Cooperação com o BRICS pode ajudar Bolívia a acelerar processo
de industrialização, diz Arce
Em entrevista
exclusiva à Sputnik, o presidente da Bolívia, Luis Arce, falou sobre a intenção
boliviana em fazer parte do BRICS, as reservas minerais do país e a integração
social com a Palestina através da ALBA.
A Bolívia alimenta o
interesse em compor o BRICS, tendo inclusive formalizado o pedido para integrar
o bloco no ano passado, durante a 15ª Cúpula do BRICS, na África do Sul. À
Sputnik, o presidente Luis Arce afirmou que o país vai passar pelo processo necessário
para realizar o ingresso.
"Temos muito a
compartilhar", disse, trazendo como exemplo, em seguida, o fato de o país
ser dono de importantes reservas de lítio, além da riqueza em minerais raros.
"Queremos fazer
parte do grupo para realizar o intercâmbio entre a tecnologia com nossos
recursos naturais", ressaltou Arce.
Atualmente, duas
empresas chinesas trabalham nas reservas de lítio boliviana, além de uma
empresa russa acertando detalhes de contrato para trabalhar no Salar de Uyuni,
podendo "explorar e produzir carbonato de lítio e seus derivados",
afirmou o presidente, que disse que uma cooperação com o BRICS poderá trazer os
países do bloco "para realizar a industrialização" na Bolívia.
Arce reconhece o valor
que o lítio tem para a Bolívia, enfatizando que o país é dono das principais
reservas do mineral e que isso atrai o olhar de vários países. Por isso, ele
conta que "abriu para que vários países entrem numa espécie de competição
para virem, de forma saudável, investir na extração direta de lítio, um método
para acelerar a exploração e a industrialização do lítio boliviano".
Entretanto, o
presidente afirma estar ciente de que há países que acreditam que as reservas
de um país [no caso a Bolívia] são suas. Em uma oportunidade, a chefe do
Comando Sul dos EUA, Laura Richardson, praticamente disse que precisa que o
país exerça a tutela sobre o lítio presente na Bolívia, na Argentina e no
Chile.
"Na ocasião, a
senhora do Comando Sul afirmou que há três coisas que lhe interessam: terras
raras, água doce e lítio. Esses três recursos naturais são o que temos na
Bolívia, por isso estamos muito atentos para poder responder porque temos que
defender a nossa soberania e os nossos recursos naturais na Bolívia",
frisou Arce.
·
Que mensagem a Bolívia passa ao mundo ao
convidar a Palestina para compor a ALBA-TCP?
Para o presidente
boliviano, a Palestina enfrenta uma situação de injustiça ao sofrer o veto por
parte dos EUA quando o Conselho de Segurança da ONU tratava do possível
ingresso palestino como membro permanente da Organização das Nações Unidas.
Arce tratou ainda de
descrever como genocídio o que acontece na Faixa de Gaza, afirmando que "o
mundo pôde observar os bombardeios, onde crianças e idosos são vítimas das
agressões de Israel".
Sobre o convite, o
presidente disse que se a ONU não quis reconhecer a Palestina através do veto,
"na ALBA-TCP, que é um grupo de países que pensa diferente, que sabe
respeitar a soberania dos países, que respeita a autodeterminação dos povos,
que a tenhamos entre nós de uma forma, mesmo que nominal, mas que os irmãos
palestinos sintam que há países que os reconhecem e, claro, que gostaríamos de
ter todos os tipos de relações econômicas e internacionais com esse país".
Segundo Arce, a
iniciativa mostra ao mundo "que há países dispostos a estabelecer relações
e a considerar a Palestina como mais um entre tantos países com os quais nossos
países da região mantêm relações".
Arce rechaça postura
do governo equatoriano contra embaixada do México em Quito
"Nem mesmo nos
tempos de ditaduras militares que sofremos nas décadas de 1960, 1970 e até 1980
em vários países da região [...] nunca tivemos esse tipo de agressão e violação
de tratados internacionais", comparou Arce sobre a invasão da embaixada
mexicana em Quito a mando do governo equatoriano.
No dia 5 de abril
deste ano, a polícia entrou à força na embaixada mexicana na capital
equatoriana, onde estava o ex-vice-presidente do Equador, Jorge Glas, acusado
de corrupção no caso Odebrecht.
A ação do governo do
Equador, conforme Arce, abre um precedente desastroso, uma vez que viola e
coloca em risco o direito de asilo reconhecido pelas leis internacionais.
O presidente
argumentou que se não houver sanções contra a ação do governo equatoriano,
"o direito ao asilo pode se tornar um tema variável, vulnerável", em
"qualquer parte do mundo".
Arce afirmou que
sempre tratará do assunto em total desacordo com o que aconteceu, concordando
com os protestos do povo mexicano. Ele disse ainda que a Bolívia "apoiará
as ações que o México tomará para restabelecer o direito de asilo do
beneficiário".
Bullrich faz
comentários sobre a Bolívia para tirar 'a atenção da crise' econômica da
Argentina
Recentemente, a
ministra da Segurança argentina, Patricia Bullrich, declarou que a fronteira
com a Bolívia foi reforçada por ser considerada perigosa para a região, porque,
segundo ela, identificaram combatentes iranianos no local.
A declaração foi
totalmente rechaçada por Arce, que chamou a acusação de falsa e disse que
Bullrich não tem provas.
"Ela apenas
tentou desviar a atenção da crise que a Argentina atravessa. Eles têm inflação
de 53% em três meses e não sabem como esconder essa inflação."
O presidente afirmou
ainda que a fala da ministra argentina recebeu resposta da chancelaria
boliviana.
Arce acrescentou que o
desejo da Argentina em se tornar sócia global da OTAN coloca em risco a paz da
região. "Sabemos o que a OTAN faz em diferentes países, vejam o que está
ocorrendo no conflito entre Rússia e Ucrânia. A OTAN tem papel fundamental
sobre o que acontece naquela parte do planeta", argumentou.
Ao fim da entrevista,
o presidente boliviano destacou também a importância da Sputnik na América
Latina, ressaltando a transparência do trabalho do veículo de comunicação.
A Sputnik "tem se
mostrado um importante meio de comunicação que fala a verdade, ao contrário de
outras redes de televisão que têm certa tendência a desinformar ou a dizer
coisas de tal forma que a população não é alcançada com a verdade", finalizou.
Fonte: Sputnik Brasil
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