sábado, 27 de abril de 2024

Divisor de águas? Seriedade das sanções dos EUA contra Israel divide especialistas

EUA quebram o tabu e defendem a aplicação de sanções contra unidades militares das Forças de Defesa de Israel. A Sputnik Brasil investiga como Washington sanciona seus aliados e se as ações contra grupos militares em Israel terão efeito sobre as operações na Faixa de Gaza.

Nesta sexta-feira (26), o presidente da França, Emmanuel Macron, considerou a aplicação de sanções contra líderes de assentamentos israelenses na Cisjordânia, em função do aumento da violência contra palestinos.

Durante conversa com o rei da Jordânia Abdullah II, os líderes "condenaram de maneira firme as recentes declarações de Israel sobre os assentamentos", que são "contrários à lei internacional", reportou a AFP.

A iniciativa francesa ecoa a aplicação de sanções pelos EUA contra colonos considerados extremistas por Washington. Na semana passada, os Estados Unidos sancionaram o líder do grupo de assentados Levaha, Bentzi Gopstein, próximo do

Nesta semana, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, avalia a aplicação de sanções contra a unidade das Forças de Defesa de Israel, Netzach Yehuda, reportou o portal Axios. Autoridades norte-americanas estudam aplicar a Lei Leahy, que proíbe os EUA a enviar ajuda militar e financeira para unidades militares que estejam implicadas em violações aos direitos humanos.

Caso aplicada, essa seria a primeira vez que os EUA imporiam sanções contra forças militares de Israel, com consequências abrangentes para a aliança entre os dois países.

"Com certeza será um divisor de águas. Os EUA são o maior aliado de Israel no cenário internacional, é uma aliança especial", disse a professora de Relações Internacionais e assessora do Instituto Brasil-Israel, Karina Calandrin, à Sputnik Brasil. "A aplicação de sanções pelos EUA contra Israel coloca em xeque o futuro dessa relação."

Segundo ela, a unidade Netzach Yehuda "atua como uma milícia nos assentamentos na Cisjordânia", com o objetivo "de ocupar mais territórios e estender a ocupação israelense", até que "os palestinos percam o direito" às terras.

O governo israelense respondeu de forma dura à intenção norte-americana de aplicar sanções à unidade militar Netzach Yehuda. De acordo com postagem do ministro da Defesa, Benny Gantz, na plataforma X, a decisão "abriria precedente perigoso e passaria a mensagem errada aos nossos inimigos comuns em tempos de guerra".

"Se alguém acha que pode impor sanções contra uma unidade das Forças de Defesa de Israel – eu lutarei contra isso com todas as minhas forças", declarou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na plataforma X.

De acordo com Calandrin, as sanções dos EUA têm como alvo a política de assentamentos e sua ligação intrínseca com a extrema direita do país. As sanções acirrariam as disputas entre a extrema direita e demais frações do governo israelense sobre o financiamento dos assentamentos, que poderia levar a um racha no governo, explica a assessora do Instituto Brasil-Israel.

"Os partidos da extrema direita foram eleitos prioritariamente com votos de colonos, então é interessante para esse partido que o financiamento [aos assentamentos] continue", disse Calandrin. "Será uma queda de braço, que pode levar um grupo a sair da coalisão, o governo a perder a maioria e novas eleições serem convocadas."

Morde e assopra

Apesar da retórica inflamada, os EUA ameaçam a aplicação de sanções alguns dias após terem aprovado pacote de ajuda de US$ 26 bilhões (R$ 133 bilhões) para Israel. O financiamento é essencial para que Israel continue a sua operação militar em Gaza, que já vitimou cerca de 34 mil pessoas e coloca os moradores do enclave em situação de fome e extrema carestia.

Para o professor de Relações Internacionais da PUC-SP e pesquisador do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais, Bruno Huberman, os EUA acenam com sanções contra Israel para aplacar as crescentes críticas a Tel Aviv por sua condução violenta da operação em Gaza.

"Essas seriam ações que não teriam efetividade verdadeira. São medidas mínimas de mitigação", disse Huberman à Sputnik Brasil. "Mas para o público interno [norte-americano] e para seus parceiros internacionais, mostra que os EUA supostamente estariam tentando conter Israel."

O contexto eleitoral nos EUA e aumento dos protestos contrários à guerra em universidades de elite do país pressionam o governo Biden a fornecer respostas, ainda que limitadas.

"Biden está colocando sua reeleição em risco por causa de Israel. Uma boa parte do seu eleitorado mais progressista, de ascendência árabe, os muçulmanos, estão abandonando a candidatura Biden", considerou Huberman. "Essas ações contra Israel podem garantir votos para Biden entre os grupos mais à esquerda do Partido Democrata."

As eventuais sanções contra Israel também são um aceno a parceiros internacionais dos EUA, insatisfeitos com o comportamento de Tel Aviv. Com seu principal aliado no Oriente Médio cada vez mais isolado, os EUA procuram controlar qual será o caráter da resposta internacional a Israel.

"Os EUA procuram estar no controle das ações de contenção a Israel. Querem controlar quais sanções são aceitáveis, e quais são inaceitáveis", explicou Huberman. "Sanções a setores militares específicos são toleráveis, mas sanções econômicas não, por exemplo."

Nesse sentido, as sanções propostas por Washington têm como alvo a extrema direita israelense, grupo que nutre relações instáveis com o atual governo na Casa Branca.

"Biden busca conter a extrema direita sem necessariamente se opor ao governo de Israel. O argumento é que haveria uma diferença entre esses atores que atuam de forma violenta contra a Palestina e o governo israelense como um todo. Mas não há", declarou Huberman. "Esses atores são o governo. Representam o Estado, são um braço do Exército."

A estratégia de Washington com as sanções aventadas, portanto, são de aplicar a "tática das 'maçãs podres', indicando que o problema não seria a política contra a Palestina como um todo, mas sim alguns membros que se excedem e propagam ideias de extrema direita".

"De resto, o apoio dos EUA a Israel nas áreas que realmente importam continua inalterado: ajuda militar, apoio na resposta israelense ao Irã. Então, por mais que haja uma crise nas relações, essas sanções não são um divisor de águas", concluiu o especialista.

¨      Israel comete 'os piores crimes contra a humanidade' em Jerusalém e em Gaza, diz ministro palestino

O ministro palestino para Jerusalém contou à Sputnik sobre as atrocidades israelenses que estão sendo cometidas, mas sublinhou que "os palestinos são resistentes".

Em 28 de março, o presidente palestino Mahmoud Abbas aprovou a composição do novo governo e delineou suas novas prioridades. Um dos novos membros nomeado foi Ashraf al-Awar, ministro palestino para Jerusalém.

Em declarações à Sputnik, ele condenou as "violações israelenses contra os palestinos", que "continuam ativamente em Jerusalém", e que têm como objetivo "expulsar os palestinos da cidade".

"As condições de vida da cidade e dos citadinos são muito difíceis. O cerco, as ameaças, os assassinatos, os planos de demolição de casas palestinas, a expulsão de palestinos e a expansão dos bairros israelenses na cidade tornaram-se rotina", referiu ele.

"O que o povo palestino está vivenciando na Faixa de Gaza nunca foi vivenciado por nenhum outro povo no mundo. Assassinato, destruição e bombardeio. Israel está cometendo na Faixa de Gaza os piores crimes contra a humanidade que o mundo já conheceu ou viu", acrescentou.

No entanto, garantiu al-Awar, "os palestinos são resistentes. Nosso ministério os ajudará de todas as formas possíveis. Faremos o máximo para preservar o patrimônio da cidade, seus santuários islâmicos e cristãos".

Em 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou um ataque com foguetes em grande escala contra o Estado judeu, levando o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu a declarar uma guerra em grande escala contra o grupo militante palestino.

Israel iniciou então os ataques retaliatórios em curso, ordenou um bloqueio completo de Gaza e lançou uma invasão terrestre do território palestino com o objetivo declarado de eliminar os militantes do Hamas e resgatar os reféns feitos pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro. Mais de 34.000 pessoas já morreram devido aos ataques israelenses em Gaza até agora, segundo autoridades locais. O número de mortos no Estado de Israel atualmente é de cerca de 1.400.

¨      Sanders para Netanyahu: 'Não é antissemita dizer que o governo israelense matou 34 mil palestinos'

O senador independente dos EUA Bernie Sanders disse que as críticas às políticas do governo israelense não configuram antissemitismo.

A fala foi feita depois de o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ter descrito dessa forma os protestos pró-Palestina que têm ocorrido em campi universitários dos EUA.

"Não, sr. Netanyahu. Não é antissemita ou pró-Hamas apontar que em pouco mais de seis meses o seu governo extremista matou 34 mil palestinos e feriu mais de 77 mil, dos quais 70% são mulheres e crianças", disse ele via X (antigo Twitter).

Sanders, de ascendência judaica, acrescentou que Netanyahu não deveria usar tais acusações para desviar a atenção da acusação criminal que enfrenta nos tribunais israelenses por suposta corrupção.

Anteriormente, o legislador norte-americano tinha criticado o líder israelense pelas ações na Faixa de Gaza. Ele também disse que parassem de "assassinar pessoas inocentes".

 

Ø  Irã convoca países do BRICS a condenar ações de Israel em Gaza

 

O chanceler iraniano Ali Bagheri Kani pede apoio aos países do grupo à denúncia da África do Sul contra Israel por genocídio na Faixa de Gaza.

O Irã fez um apelo aos países do BRICS para que tomem medidas, a fim de cessar os crimes cometidos por Israel na Faixa de Gaza, instando-os a enviar ajuda humanitária ao enclave e a apoiar a denúncia de genocídio apresentada pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ). A informação foi veiculada pela agência de notícias iraniana Tasnim.

"O papel desempenhado por países e organizações internacionais — em relação à crise do regime israelense e à posição que adotam a esse respeito — é importante e ficará registrado na história. Portanto, os membros do BRICS devem mostrar a sua vontade política e atuação para cessar totalmente os ataques a civis e a infraestruturas civis na Faixa de Gaza", disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Ali Bagheri Kani em uma viagem a Moscou.

Bagheri Kani exortou os países do grupo a enviar para a Faixa de Gaza itens de ajuda humanitária como água, alimentos, equipamentos médicos e medicamentos e a apoiar a completa retirada das forças de ocupação israelense e a reconstrução do enclave.

"Neste momento, nosso foco é alcançar a suspensão imediata e permanente dos ataques do regime sionista, a fim de reduzir o desastre humanitário na Faixa de Gaza, expandir o envio de ajuda humanitária internacional a Gaza e fornecer apoio firme às atividades de organizações humanitárias [no enclave], especialmente as ações da UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio]."

A UNRWA foi alvo de congelamentos de financiamentos em série, anunciados por diversos países, após acusações feitas pelo governo israelense de que seus funcionários tiveram envolvimento no ataque do grupo palestino Hamas contra Israel no dia 7 de outubro.

O chanceler sublinhou que "apenas tomar uma posição e fazer uma declaração não é suficiente", e disse que "medidas operacionais eficazes e decisivas devem ser colocadas na agenda para que o regime sionista cumpra os desejos da comunidade internacional".

Ele também agradeceu à África do Sul por levar o caso à CIJ e exortou os países do BRICS a endossar a ação contra Israel.

"A experiência dos últimos 200 dias de crime e agressão por parte do regime sionista mostrou que a nação palestina não pode ser destruída e o povo de Gaza provou que é a criança palestina que vence a bomba israelense."

O chanceler também abordou o ataque israelense ao Consulado do Irã na Síria, classificando a ação como "um crime ilegal sem precedentes" e afirmando que o Irã "reservou o direito de defesa legítima e o regime ocupante recebeu a resposta ao seu crime em Damasco, nos territórios palestinos ocupados".

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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