Divisor de águas? Seriedade das sanções dos
EUA contra Israel divide especialistas
EUA quebram o tabu e
defendem a aplicação de sanções contra unidades militares das Forças de Defesa
de Israel. A Sputnik Brasil investiga como Washington sanciona seus aliados e
se as ações contra grupos militares em Israel terão efeito sobre as operações
na Faixa de Gaza.
Nesta sexta-feira
(26), o presidente da França, Emmanuel Macron, considerou a aplicação de
sanções contra líderes de assentamentos israelenses na Cisjordânia, em função
do aumento da violência contra palestinos.
Durante conversa com o
rei da Jordânia Abdullah II, os líderes "condenaram de maneira firme as
recentes declarações de Israel sobre os assentamentos", que são
"contrários à lei internacional", reportou a AFP.
A iniciativa francesa
ecoa a aplicação de sanções pelos EUA contra colonos considerados extremistas
por Washington. Na semana passada, os Estados Unidos sancionaram o líder do
grupo de assentados Levaha, Bentzi Gopstein, próximo do
Nesta semana, o
secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, avalia a aplicação de sanções
contra a unidade das Forças de Defesa de Israel, Netzach Yehuda, reportou o
portal Axios. Autoridades norte-americanas estudam aplicar a Lei Leahy, que
proíbe os EUA a enviar ajuda militar e financeira para unidades militares que
estejam implicadas em violações aos direitos humanos.
Caso aplicada, essa
seria a primeira vez que os EUA imporiam sanções contra forças militares de
Israel, com consequências abrangentes para a aliança entre os dois países.
"Com certeza será
um divisor de águas. Os EUA são o maior aliado de Israel no cenário
internacional, é uma aliança especial", disse a professora de Relações
Internacionais e assessora do Instituto Brasil-Israel, Karina Calandrin, à
Sputnik Brasil. "A aplicação de sanções pelos EUA contra Israel coloca em
xeque o futuro dessa relação."
Segundo ela, a unidade
Netzach Yehuda "atua como uma milícia nos assentamentos na
Cisjordânia", com o objetivo "de ocupar mais territórios e estender a
ocupação israelense", até que "os palestinos percam o direito"
às terras.
O governo israelense
respondeu de forma dura à intenção norte-americana de aplicar sanções à unidade
militar Netzach Yehuda. De acordo com postagem do ministro da Defesa, Benny
Gantz, na plataforma X, a decisão "abriria precedente perigoso e passaria
a mensagem errada aos nossos inimigos comuns em tempos de guerra".
"Se alguém acha
que pode impor sanções contra uma unidade das Forças de Defesa de Israel – eu
lutarei contra isso com todas as minhas forças", declarou o
primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na plataforma X.
De acordo com
Calandrin, as sanções dos EUA têm como alvo a política de assentamentos e sua
ligação intrínseca com a extrema direita do país. As sanções acirrariam as
disputas entre a extrema direita e demais frações do governo israelense sobre o
financiamento dos assentamentos, que poderia levar a um racha no governo,
explica a assessora do Instituto Brasil-Israel.
"Os partidos da
extrema direita foram eleitos prioritariamente com votos de colonos, então é
interessante para esse partido que o financiamento [aos assentamentos]
continue", disse Calandrin. "Será uma queda de braço, que pode levar
um grupo a sair da coalisão, o governo a perder a maioria e novas eleições
serem convocadas."
Morde e assopra
Apesar da retórica
inflamada, os EUA ameaçam a aplicação de sanções alguns dias após terem
aprovado pacote de ajuda de US$ 26 bilhões (R$ 133 bilhões) para Israel. O
financiamento é essencial para que Israel continue a sua operação militar em
Gaza, que já vitimou cerca de 34 mil pessoas e coloca os moradores do enclave
em situação de fome e extrema carestia.
Para o professor de
Relações Internacionais da PUC-SP e pesquisador do Grupo de Estudos sobre
Conflitos Internacionais, Bruno Huberman, os EUA acenam com sanções contra
Israel para aplacar as crescentes críticas a Tel Aviv por sua condução violenta
da operação em Gaza.
"Essas seriam
ações que não teriam efetividade verdadeira. São medidas mínimas de
mitigação", disse Huberman à Sputnik Brasil. "Mas para o público
interno [norte-americano] e para seus parceiros internacionais, mostra que os
EUA supostamente estariam tentando conter Israel."
O contexto eleitoral
nos EUA e aumento dos protestos contrários à guerra em universidades de elite
do país pressionam o governo Biden a fornecer respostas, ainda que limitadas.
"Biden está
colocando sua reeleição em risco por causa de Israel. Uma boa parte do seu
eleitorado mais progressista, de ascendência árabe, os muçulmanos, estão
abandonando a candidatura Biden", considerou Huberman. "Essas ações
contra Israel podem garantir votos para Biden entre os grupos mais à esquerda
do Partido Democrata."
As eventuais sanções
contra Israel também são um aceno a parceiros internacionais dos EUA,
insatisfeitos com o comportamento de Tel Aviv. Com seu principal aliado no
Oriente Médio cada vez mais isolado, os EUA procuram controlar qual será o
caráter da resposta internacional a Israel.
"Os EUA procuram
estar no controle das ações de contenção a Israel. Querem controlar quais
sanções são aceitáveis, e quais são inaceitáveis", explicou Huberman.
"Sanções a setores militares específicos são toleráveis, mas sanções
econômicas não, por exemplo."
Nesse sentido, as
sanções propostas por Washington têm como alvo a extrema direita israelense,
grupo que nutre relações instáveis com o atual governo na Casa Branca.
"Biden busca
conter a extrema direita sem necessariamente se opor ao governo de Israel. O
argumento é que haveria uma diferença entre esses atores que atuam de forma
violenta contra a Palestina e o governo israelense como um todo. Mas não
há", declarou Huberman. "Esses atores são o governo. Representam o
Estado, são um braço do Exército."
A estratégia de
Washington com as sanções aventadas, portanto, são de aplicar a "tática
das 'maçãs podres', indicando que o problema não seria a política contra a
Palestina como um todo, mas sim alguns membros que se excedem e propagam ideias
de extrema direita".
"De resto, o
apoio dos EUA a Israel nas áreas que realmente importam continua inalterado:
ajuda militar, apoio na resposta israelense ao Irã. Então, por mais que haja
uma crise nas relações, essas sanções não são um divisor de águas",
concluiu o especialista.
¨
Israel comete 'os
piores crimes contra a humanidade' em Jerusalém e em Gaza, diz ministro
palestino
O ministro palestino
para Jerusalém contou à Sputnik sobre as atrocidades israelenses que estão
sendo cometidas, mas sublinhou que "os palestinos são resistentes".
Em 28 de março, o
presidente palestino Mahmoud Abbas aprovou a composição do novo governo e
delineou suas novas prioridades. Um dos novos membros nomeado foi Ashraf
al-Awar, ministro palestino para Jerusalém.
Em declarações à
Sputnik, ele condenou as "violações israelenses contra os
palestinos", que "continuam ativamente em Jerusalém", e que têm
como objetivo "expulsar os palestinos da cidade".
"As condições de
vida da cidade e dos citadinos são muito difíceis. O cerco, as ameaças, os
assassinatos, os planos de demolição de casas palestinas, a expulsão de
palestinos e a expansão dos bairros israelenses na cidade tornaram-se
rotina", referiu ele.
"O que o povo
palestino está vivenciando na Faixa de Gaza nunca foi vivenciado por nenhum
outro povo no mundo. Assassinato, destruição e bombardeio. Israel está
cometendo na Faixa de Gaza os piores crimes contra a humanidade que o mundo já
conheceu ou viu", acrescentou.
No entanto, garantiu
al-Awar, "os palestinos são resistentes. Nosso ministério os ajudará de
todas as formas possíveis. Faremos o máximo para preservar o patrimônio da
cidade, seus santuários islâmicos e cristãos".
Em 7 de outubro de
2023, o Hamas lançou um ataque com foguetes em grande escala contra o Estado
judeu, levando o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu a declarar uma
guerra em grande escala contra o grupo militante palestino.
Israel iniciou então
os ataques retaliatórios em curso, ordenou um bloqueio completo de Gaza e
lançou uma invasão terrestre do território palestino com o objetivo declarado
de eliminar os militantes do Hamas e resgatar os reféns feitos pelo Hamas
durante o ataque de 7 de outubro. Mais de 34.000 pessoas já morreram devido aos
ataques israelenses em Gaza até agora, segundo autoridades locais. O número de
mortos no Estado de Israel atualmente é de cerca de 1.400.
¨
Sanders para
Netanyahu: 'Não é antissemita dizer que o governo israelense matou 34 mil
palestinos'
O senador independente
dos EUA Bernie Sanders disse que as críticas às políticas do governo israelense
não configuram antissemitismo.
A fala foi feita
depois de o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ter descrito
dessa forma os protestos pró-Palestina que têm ocorrido em campi universitários
dos EUA.
"Não, sr.
Netanyahu. Não é antissemita ou pró-Hamas apontar que em pouco mais de seis
meses o seu governo extremista matou 34 mil palestinos e feriu mais de 77 mil,
dos quais 70% são mulheres e crianças", disse ele via X (antigo Twitter).
Sanders, de
ascendência judaica, acrescentou que Netanyahu não deveria usar tais acusações
para desviar a atenção da acusação criminal que enfrenta nos tribunais
israelenses por suposta corrupção.
Anteriormente, o
legislador norte-americano tinha criticado o líder israelense pelas ações na
Faixa de Gaza. Ele também disse que parassem de "assassinar pessoas
inocentes".
Ø Irã convoca países do BRICS a condenar ações de Israel em Gaza
O chanceler iraniano
Ali Bagheri Kani pede apoio aos países do grupo à denúncia da África do Sul
contra Israel por genocídio na Faixa de Gaza.
O Irã fez um apelo aos
países do BRICS para que tomem medidas, a fim de cessar os crimes cometidos por
Israel na Faixa de Gaza, instando-os a enviar ajuda humanitária ao enclave e a
apoiar a denúncia de genocídio apresentada pela África do Sul na Corte Internacional
de Justiça (CIJ). A informação foi veiculada pela agência de notícias iraniana
Tasnim.
"O papel
desempenhado por países e organizações internacionais — em relação à crise do
regime israelense e à posição que adotam a esse respeito — é importante e
ficará registrado na história. Portanto, os membros do BRICS devem mostrar a
sua vontade política e atuação para cessar totalmente os ataques a civis e a
infraestruturas civis na Faixa de Gaza", disse o ministro das Relações
Exteriores do Irã, Ali Bagheri Kani em uma viagem a Moscou.
Bagheri Kani exortou
os países do grupo a enviar para a Faixa de Gaza itens de ajuda humanitária
como água, alimentos, equipamentos médicos e medicamentos e a apoiar a completa
retirada das forças de ocupação israelense e a reconstrução do enclave.
"Neste momento,
nosso foco é alcançar a suspensão imediata e permanente dos ataques do regime
sionista, a fim de reduzir o desastre humanitário na Faixa de Gaza, expandir o
envio de ajuda humanitária internacional a Gaza e fornecer apoio firme às atividades
de organizações humanitárias [no enclave], especialmente as ações da UNRWA
[Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no
Oriente Médio]."
A UNRWA foi alvo de
congelamentos de financiamentos em série, anunciados por diversos países, após
acusações feitas pelo governo israelense de que seus funcionários tiveram
envolvimento no ataque do grupo palestino Hamas contra Israel no dia 7 de
outubro.
O chanceler sublinhou
que "apenas tomar uma posição e fazer uma declaração não é
suficiente", e disse que "medidas operacionais eficazes e decisivas
devem ser colocadas na agenda para que o regime sionista cumpra os desejos da
comunidade internacional".
Ele também agradeceu à
África do Sul por levar o caso à CIJ e exortou os países do BRICS a endossar a
ação contra Israel.
"A experiência
dos últimos 200 dias de crime e agressão por parte do regime sionista mostrou
que a nação palestina não pode ser destruída e o povo de Gaza provou que é a
criança palestina que vence a bomba israelense."
O chanceler também
abordou o ataque israelense ao Consulado do Irã na Síria, classificando a ação
como "um crime ilegal sem precedentes" e afirmando que o Irã
"reservou o direito de defesa legítima e o regime ocupante recebeu a
resposta ao seu crime em Damasco, nos territórios palestinos ocupados".
Fonte: Sputnik Brasil
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