Gustavo
Tapioca: O calcanhar de Aquiles do governo Lula
Lula é,
sem dúvida, um dos maiores comunicadores populares da história do Brasil. Mas
seu governo, paradoxalmente, sofre de um velho problema que se repete: falta de
comunicação eficaz. E não é por ausência de realizações. O que falta é
transformar ações concretas em narrativas que toquem o povo, mobilizem a base e
enfrentem o bombardeio da extrema-direita. Com as eleições de 2026 no horizonte
e as redes sociais fervendo, esse é um ponto que precisa de atenção urgente.
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Comunicação que não chega aonde precisa
O
governo Lula já fez muito. Voltou a investir em programas sociais, retomou
obras paradas, subiu o salário-mínimo, valorizou o meio ambiente, resgatou o
papel do Brasil no mundo. Mas quem sabe disso fora da bolha? Pouca gente.
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O
problema está na forma como as conquistas são comunicadas. É tudo muito
técnico, institucional, distante da linguagem do povo. O governo até publica
nas redes, faz vídeos e discursos, mas falta traduzir isso para o cotidiano das
pessoas, para o WhatsApp da manicure, o TikTok do entregador, a live do pastor.
A política precisa emocionar. Precisa falar do feijão no prato, da água limpa,
do aluguel que voltou a caber no bolso.
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Quando o silêncio é fatal
Outro
ponto crítico: o governo demora demais para reagir às crises. Enquanto a
extrema-direita espalha fake news em tempo real, o governo responde horas
depois — às vezes dias — com notas frias, textos longos e linguagem
burocrática.
Basta
ver o que acontece quando surgem boatos sobre o BNDES financiando ditaduras, a
mentira do PIX, a tentativa de culpar o governo pelo escândalo do INSS. Essas
mentiras se espalham aos milhões, e quando o governo reage, o estrago já está
feito.
Essa
lentidão na resposta passa a impressão de que o governo não sabe se defender
ou, pior, que é culpado. Em tempos de guerra de narrativas, quem demora perde.
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Falta de alinhamento interno
A
comunicação do governo também sofre com a falta de unidade. Um ministro diz uma
coisa, outro diz o contrário. Um fala de ajuste fiscal, outro fala de gasto
social. Um tenta agradar o mercado, outro o movimento social.
Essa
confusão dá margem para a imprensa tradicional plantar crises onde não há, e
pior: passa a imagem de um governo perdido, desorganizado, sem direção.
Comunicação eficiente começa dentro de casa. Se os ministros não falam a mesma
língua, como esperar que o povo entenda?
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A extrema-direita já está em campanha
A
situação fica ainda mais grave quando olhamos para o campo adversário. A
extrema-direita não saiu de cena em 2022. Ao contrário: segue organizadíssima.
Produz conteúdo diário para TikTok, Instagram, YouTube, WhatsApp. Usa humor,
medo, religião, desinformação — tudo junto — para construir um mundo à parte.
Um Brasil imaginário onde Lula é uma ameaça e Bolsonaro é um mártir.
Eles
sabem usar as redes como ninguém. Não falam em prestação de contas: falam em
emoções, fé, família, segurança. Criam identificação com o povo enquanto o
governo se limita a relatórios e notas técnicas.
Com
Bolsonaro inelegível, outros nomes vão surgir. Mas o bolsonarismo como força
política continua vivíssimo — e online.
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Redes sociais: campo de batalha central
Não se
trata mais de “usar redes sociais”. Trata-se de entender que a disputa política
em 2026 será decidida nas redes. Quem dominar o TikTok, o WhatsApp, o YouTube,
dominará o voto da juventude, das mulheres trabalhadoras, dos evangélicos e da
classe média cansada da política tradicional.
A
comunicação digital precisa sair da bolha institucional. É preciso:
- Produzir
conteúdos simples, emocionantes e diretos;
- Investir em
influenciadores populares e canais alternativos;
- Reagir rápido às
fake news;
- Ocupando espaços
digitais com linguagem acessível, memes, vídeos curtos, humor e
sensibilidade social.
A
esquerda tem conteúdo, tem projeto, tem história. Mas precisa falar a língua da
rua, sem medo de disputar símbolos e afetos.
Sem
comunicação, não há vitória
É
simples: não adianta fazer se ninguém fica sabendo. A política hoje se ganha
tanto nas urnas quanto nas telas. Se o governo quer vencer em 2026, precisa
colocar a comunicação no centro da estratégia — e não como acessório.
A
comunicação não é só ferramenta. É trincheira. É nela que se disputa o que é
verdade, o que é justo, o que é possível.
Se o
campo progressista não acordar para isso, vai continuar perdendo o jogo antes
mesmo do apito inicial.
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Comunicação e destino. Por Otavio A. Filho
Lembro-me
de meu pai contando, estarrecido, que ao passar por uma loja de roupas numa das
ruas do comércio na cidade de Salvador e vendo numa vitrine uma camisa que lhe
interessou, entrou na loja para comprar. Foi atendido por um funcionário jovem
que disse que aquela camisa estava sendo vendida em três prestações.
Meu pai
retrucou dizendo que iria fazer o pagamento à vista. Na época, ainda não eram
populares os cartões de crédito e os boletos precisavam ser pagos em Bancos.
Prevendo todo o trabalho, ele optou pelo pagamento à vista. Para sua surpresa e
incredulidade, o vendedor avisou que infelizmente não poderia vender o produto
à vista e, sim, em três parcelas. Questionado por meu pai, o vendedor foi
categórico: lamento, só em três vezes.
Este
fato marcou profundamente o meu modo de ver como “a loucura se esconde nos
alvéolos da razão’’. Desde então, tenho assistido (pedindo permissão à genial
Fernanda Torres) esse “cortejo de horrores”. Absurdos que fariam Kafka corar de
vergonha, diante da avançada estupidez burocrática do nosso tempo. A
Inteligência artificial está aí para provar que a noção de inteligência é uma
das mais difíceis de ser compreendida.
E essa
loucura vai se juntando a outras e o caldo de delírios vai engrossando a passos
largos. Um verdadeiro angu de caroço. Mas antes que o leitor pense que estou
“ressentido” pelos percalços da comunicação e da desinteligência do nosso
tempo, alerto que sou daqueles apaixonados pelas tecnologias da inteligência e
que, nalgum lugar do passado, tive o privilégio de ter feito um doutorado em
comunicação e também de ter ensinado esse assunto numa universidade pública.
Sinto-me, portanto, tranquilo para apontar essas maluquices vestidas de
inteligência e avanços, nisso que se costuma chamar “comunicação
institucional”.
E, de
forma mais ou menos rápida, entendo “comunicação institucional”, num sentido
mais restrito, nesse conjunto de mensagens e atendimentos feitos por empresas
(bancos, clínicas médicas, hospitais, planos de saúde, lojas de departamento
etc., etc.) aos seus clientes. Imagino que a quase totalidade dos brasileiros
sabem, vivem ou já viveram situações absurdas nesse ambiente de “comunicação
institucional/ empresarial”.
Hoje, a
quase totalidade das comunicações são feitas através do whatsapp (coisa que, do
ponto de vista da soberania nacional, para mim, constitui um crime). A
dependência que o Brasil, e tantos países, têm do supremacismo tecnológico
norte americano é de assustar. Não compreendo por que ainda não fomos capazes
de desenvolver ferramentas para competir nessa seara. O Brasil,
reconhecidamente um país criativo e inovador ainda tropeça feio no mundo
digital.
Temos
aqui empresas reconhecidas mundialmente por sua ousadia inovadora. Basta
lembrar da Petrobrás, Embrapa, Embraer e WEG, dentre outras. O Sírius, nosso
acelerador de partículas em Campinas, é uma coisa assombrosa em termos de
avanços tecnológicos. Por isso, parece paradoxal que estejamos de joelhos
perante as big techs americanas e, agora, também das chinesas.
O
Brasil tem dessas coisas malucas. Dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação mostram que somos o 13º país em produção e publicação de papers no
mundo acadêmico mas, infelizmente, ocupamos o 49° lugar no que diz respeito à
inovação. Parece que tem uma cabeça de burro enterrada na mentalidade atrasada
de muita gente por aí.
No ano
passado, formamos, ainda de acordo com o M CTI, 25.000 doutores e cerca de
66.000 mestres, mas não conseguimos produzir um “uber”, um “airbnb”, um
“tiktok”. Pagamos ao mundo fortunas e só exportamos, ou quase, só soja e milho
para os suínos do mundo. Suínos de olhos azuis capazes de produzir tomógrafos,
satélites geoestacionários e redes sociais que trabalham a serviço da mais
abjeta extrema direita nazifascista.
E olhem
como no meio dessas coisas absurdas, desse deserto de inteligência, florescem
coisas tão belas como o cinema, a música e a literatura. Ou seja, lá do fundo
da alma, a inteligência brasileira grita a todo pulmão: Ainda estamos aqui!.
Por
isso, o desconforto quando vemos a estupidez caminhar sorridente pela
comunicação institucional/empresarial com a qual, raramente, o consumidor mal
consegue um telefone para se comunicar com alguém. Observem que os sites, em
sua grande maioria, não têm telefone. Só e-mails e o whatsapp.
Estou
seguro disso, sabemos o tormento que é ligar para uma dessas empresas e ser
atendido por uma gravação que começa sugerindo ao cliente baixar o app da
empresa para encontrar lá “todas as facilidades” necessárias ao “bom
atendimento”. Ledo e desesperado engano. Quão longe está hoje o consumidor
brasileiro de ter um atendimento decente nesses ambientes digitais. Beira,
muitas vezes, o cinismo, a estupidez e a burrice.
O
cliente liga para um hospital, uma clínica, uma empresa qualquer e tem que
ouvir uma longa lista de opções para digitar um número. “Se você ligou para
exames, digite o um, se ligou para resultados de exame, digite o dois, se ligou
para fazer uma cirurgia do calcanhar, digite o três, se você quer um seguro de
vida, digite o quatro mas, se assunto for reservar um lugar no cemitério,
digite o cinco.” E, nalguns raros casos, aguarde para ser atendido por um dos
nossos funcionários. Culmina, então, cinicamente, que esta ligação está sendo
gravada para sua segurança.
A
cabeça de burro é uma espécie de vírus que, como a Covid, foi negada por um
bando de imbecis, que acreditavam e acreditam que a Terra é plana e que a
vacina é um chip implantado no cérebro, capaz de fritar os miolos dos imbecis.
Antes fosse assim, pois através de uma vacinação obrigatória, poderíamos dar um
jeito nesse maldito vírus da burrice.
Não
será fácil essa tarefa, não será fácil vencer o atraso, sobretudo quando
sabemos que por aí proliferam Dudus bananinhas, fritadores de hamburgers, que
aspiram ocupar a embaixada do Brasil em Washington. Patriotários analfabetos
funcionais, ocupando cargos decisivos na estrutura do Estado brasileiro. Não,
não será fácil arrancar essa maldita cabeça de burro, encravada na mentalidade
atrasada da vida nacional.
A
Bahia, esse estranho enclave em que um dia um governador disse: “pense num
absurdo: na Bahia tem antecedentes”, e é um lugar onde brotam grandes e
poéticas inteligências. Música, artes visuais, cinema (no passado), e uma
escola de comunicação política, que é um desses celeiros de criatividade e
inventividade.
Ao
mesmo tempo, é um cruel retrato do Brasil de contrastes abomináveis. Estradas,
cidades, escolas, hospitais e a criminalidade mostram a fratura exposta das
nossas múltiplas realidades. O grande político paulista, Mário Covas,
ex-governador, ex-senador da República, um estadista dos grandes, disse, certa
vez, como apreciava o modo como os baianos davam nomes às coisas. Ele se
referia ao programa do Governo da Bahia para atender aos jovens carentes:
“Cuida bem de mim”. Nada mais doce e carinhoso que essa frase para dizer o
afeto que se encerra em nosso peito juvenil.
Pois a
Bahia tem, na Universidade Federal, na Escola Politécnica, um programa de
Inteligência Artificial que é um primor. É o PRAIA – “Pesquisa em Inteligência
Artificial visando a criação de um Centro de Pesquisa Avançado em Inteligência
Artificial (Centro de Pesquisa Realmente Aplicada em Inteligência Artificial).
A missão do centro é ser um hub de integração entre mercado e academia, visando
aumentar a competitividade das empresas, bem como ajudar a criar novas empresas
a partir de um maior domínio das técnicas da Inteligência Artificial e de suas
possíveis aplicações no mercado público e privado”.
Essas
iniciativas no coração da Universidade pública brasileira, são de emocionar
todos aqueles que amam o Brasil e esperam que nos tornemos não só um imenso
Portugal, mas também uma nação digna da grandeza do seu povo. Afinal, é assim,
aos solavancos, que caminha a humanidade.
Mais
dia, menos dia, esperamos todos, um raio descerá numa velocidade estonteante de
uma nave brilhante e colorida e pousará no coração atormentado da cegueira
humana e, num claro instante, vamos render nossas homenagens à mais avançada,
das mais avançadas tecnologias: a tal da inteligência!
Fonte:
Brasil 247/A Terra é Redonda

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