Dose
única de medicamento reduz colesterol em até 69%, diz estudo inicial
“Isso é
realidade; não é ficção científica”, alerta o professor Riyaz Patel, ao
anunciar os resultados preliminares de um ensaio clínico que testou o
medicamento VERVE-102, que promete reduzir os níveis de colesterol LDL de uma
pessoa – o chamado colesterol "ruim" – com somente uma injeção.
Cardiologista
da University College London, Patel foi um dos participantes do ensaio clínico
Heart-2 Fase 1b, cujos resultados foram divulgados preliminarmente por meio de
comunicado de imprensa, via GlobeNewswire, mas ainda não foram revistos por
pares.
Embora
não tenha sido avaliado por outros especialistas da área antes da publicação
formal, o estudo representa um marco potencial no tratamento de doenças
cardiovasculares, oferecendo a possibilidade de substituir décadas de medicação
diária por uma única dose.
O
chamado colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade) é uma substância que
transporta colesterol pelo sangue, levando-o do fígado para os tecidos do
corpo. Mas, quando há excesso dessas transportadoras de gordura na circulação,
elas podem se acumular nas paredes das artérias e formar placas.
Diferentemente
das estatinas, o tratamento mais tradicional e moderno contra o LDL elevado,
que bloqueiam temporariamente a enzima que faz a síntese do colesterol no
fígado (HMG-CoA redutase), o VERVE-102 “desliga” para sempre o gene que degrada
os receptores de LDL nas células hepáticas.
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Como funciona o novo medicamento VERVE-102?
Ao
contrário do que muita gente pensa, a maior parte do colesterol do nosso corpo
não vem da alimentação. Cerca de 75% são sintetizados pelo próprio organismo,
principalmente no fígado, através de uma via metabólica onde o gene PCSK9 é um
regulador-chave.
Sem
ele, um receptor de LDL pode fazer várias "viagens" entre a
superfície e o interior da célula, removendo múltiplas partículas de LDL do
sangue. Mas com o PCSK9, cada receptor faz só uma viagem e é destruído pelas
organelas, o que reduz a capacidade da célula de remover o LDL do sangue.
Por
isso, o VERVE-102 “mira” o PCSK9 para inativá-lo permanentemente, impedindo a
produção da proteína de mesmo nome. Com isso, o fígado mantém mais receptores
ativos, removendo continuamente mais LDL da circulação sanguínea. De
“descartáveis”, os receptores voltam a ser “reutilizáveis”.
A
composição do VERVE-102 inclui dois componentes principais trabalhando em
conjunto: um editor de adenina altamente específico e um RNA guia direcionado
exclusivamente ao gene PCSK9. A abordagem única elimina a necessidade de
medicamentos diários ou injeções frequentes.
Além de
eficiente, o tratamento se mostrou seguro e bem tolerado, sem eventos adversos
graves relacionados ao medicamento. Essa terapia promete transformar o
tratamento cardiovascular, oferecendo controle duradouro do colesterol com uma
dose só, administrada via intravenosa durante duas a quatro horas.
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Resultados do ensaio clínico e preparo de novos testes do VERVE-102
O
ensaio clínico com o medicamento experimental VERVE-102 incluiu 14 pessoas com
hipercolesterolemia familiar, uma condição hereditária que eleva drasticamente
o colesterol LDL e o risco de doenças cardiovasculares. Todos toleraram bem a
injeção única, sem efeitos adversos graves relatados.
Cada
grupo recebeu um número diferente de doses, o que se refletiu nas respostas. No
grupo de menor dose, o colesterol LDL caiu em média 21%. Já o grupo
intermediário teve queda de 41%. Os quatro pacientes que receberam a dose mais
alta apresentaram uma redução média de 53% no colesterol.
Entre
os voluntários que receberam a dose mais elevada, um indivíduo teve queda ainda
mais expressiva: seus níveis de colesterol LDL foram reduzidos em 69%. Esse
resultado isolado chamou a atenção por sugerir um potencial significativo de
eficácia com uma única aplicação do VERVE-102.
Considerado
uma lenda da cardiologia moderna, Eugene Braunwald, professor da Escola Médica
de Harvard, comentou os dados iniciais no comunicado de imprensa da Verve,
embora não tenha participado do estudo. Para ele, os resultados são
"promissores" e sugerem o início de uma nova era no tratamento de
doenças cardiovasculares hereditárias.
A Verve
Therapeutics, empresa que desenvolve o medicamento, iniciou uma nova fase de
testes. Estão sendo recrutados voluntários no Reino Unido, Canadá, Israel,
Austrália e Nova Zelândia, que receberão doses mais altas. A expectativa é que
os resultados sejam divulgados no segundo semestre de 2025.
• Hipertensão arterial pulmonar: entenda o
que é, causas e sintomas
Ligia
Helena Benevides, de 66 anos, era apaixonada por sua profissão. Instrutora de
apicultura em São Luís, no Maranhão, ela passava horas de seu dia em meio à
natureza e em constante movimentação. Mas viu sua rotina mudar completamente ao
ser diagnosticada com hipertensão arterial pulmonar e, devido aos sintomas, ser
aposentada por invalidez.
"Eu
caminhava muito, todos os dias. De repente, eu comecei a sentir um cansaço
extremo. Não conseguia subir uma escada, sentia muita moleza", conta em
entrevista à CNN. "Eu achei que fosse sedentarismo, ou que fosse
consequência da obesidade ou de uma anemia", conta. No entanto, após
consultar diferentes médicos e realizar diversos exames, o diagnóstico foi
confirmado.
Essa é
uma doença rara que atinge, em média, 40 a 55 pessoas a cada um milhão de
adultos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia
(SBPT). O quadro é caracterizado pela pressão anormalmente alta nas artérias
dos pulmões, podendo levar à falta de ar e à fadiga, até mesmo ao realizar
movimentos leves.
"Nós
temos um sistema circulatório que funciona em série. É como se fosse um grande
circuito contínuo, com duas bombas localizadas no coração: uma que manda o
sangue para todo o corpo, que fica no lado esquerdo, e outra que manda sangue
para o pulmão, que fica no lado direito", explica Caio Fernandes,
pneumologista do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), à CNN.
O
especialista explica que a bomba do lado esquerdo é forte, com capacidade para
mandar sangue sob alta pressão para todo o corpo. Já a bomba do lado direito é
mais fraca, enviando o sangue para o pulmão em baixa pressão. "Por uma
série de motivos, a pressão na área do pulmão pode aumentar, e a bomba do lado
direito começa a falhar, sem conseguir lidar com essa pressão. Com isso, o
paciente começa a ter sintomas de falência dessa bomba, como falta de ar e
inchaço", afirma.
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O que causa a hipertensão pulmonar?
A
hipertensão pulmonar é classificada em cinco tipos, de acordo com a causa da
doença. São eles:
• Hipertensão arterial pulmonar (HAP);
• Hipertensão Pulmonar associada a
cardiopatias de câmaras esquerdas;
• Hipertensão Pulmonar associada a
pneumopatias que cursam com hipoxemia (redução no nível de oxigênio);
• Hipertensão Pulmonar Tromboembólica
Crônica (HPTEC), com formação de coágulos de sangue;
• Hipertensão Pulmonar “miscelânea”, ou
seja, com causas relacionadas a outros mecanismos, como distúrbios sanguíneos e
sistêmicos.
"Doenças
que acometem a bomba do lado esquerdo podem causar doenças do lado direito;
doenças do pulmão muito avançadas, como enfisema, fibrose pulmonar, apneia
obstrutiva do sono, podem causar hipertensão pulmonar. Mas outras doenças bem
diferentes, como doenças do tecido conectivo, esclerodermia e HIV, também podem
causar hipertensão pulmonar. Então, é uma série de problemas que podem cursar
com distúrbios nos vasos do pulmão", explica Fernandes.
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Sintomas de hipertensão pulmonar
A
hipertensão pulmonar, inicialmente, é silenciosa, mas em casos avançados pode
apresentar sintomas, principalmente falta de ar durante o esforço, tontura ou
fadiga. Também pode ocorrer inchaço, especialmente nas pernas.
"Quando
o quadro está bastante grave, eventualmente o paciente também tem
desmaios", afirma Fernandes.
Os
sintomas da hipertensão pulmonar, quando já bem estabelecida, podem ser
incapacitantes. Ligia conta, por exemplo, que sua rotina foi extremamente
impactada pelo diagnóstico da doença. Uma delas é a mudança de cidade. Por
conta do tratamento, precisou voltar para Sorocaba, no estado de São Paulo,
onde nasceu, e se afastar do Maranhão.
O
segundo impacto aconteceu em sua rotina diária. Sem poder trabalhar e com muito
cansaço para realizar tarefas comuns do dia a dia, Ligia preencheu seu tempo
livre com cursos. "Fiz colégio técnico em alimentos e estou pensando em
fazer, no próximo ano, um curso de segurança no trabalho. Eu não vou trabalhar
com nenhuma dessas coisas, porque não consigo, mas pelo menos irei preencher
meu tempo", conta.
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Como é feito o diagnóstico?
O
diagnóstico da hipertensão pulmonar pode ser feito com exames de imagem, como
radiografias do tórax, ecocardiograma e eletrocardiograma. Eles costumam ser
solicitados quando os médicos suspeitam da doença com base nos sintomas,
principalmente em pessoas que tenham doenças pulmonares anteriores ou
apresentam fatores de risco para desenvolver a hipertensão pulmonar.
Os
testes de função pulmonar também podem auxiliar os médicos a avaliar a extensão
da lesão pulmonar. O diagnóstico definitivo geralmente requer o cateterismo do
lado direito do coração para medir a pressão sanguínea no ventrículo direito e
na artéria pulmonar.
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Tratamento inovador chegou ao Brasil neste mês
Tradicionalmente,
o tratamento da hipertensão pulmonar inclui medicamentos para tratar a causa da
doença e para aliviar os sintomas, como remédios que dilatam os vasos
sanguíneos. Em alguns casos, é necessário o uso de cilindro de oxigênio para
reduzir a pressão sanguínea nas artérias pulmonares e aliviar a falta de ar.
Por
muitos anos, Ligia andou acompanhada do cilindro de oxigênio e fez uso de
medicamentos vasodilatadores, como o Viagra, para tratar os sintomas, enquanto
aguardava na fila do transplante de pulmão. Mas foi selecionada para participar
de um ensaio clínico para um novo medicamento.
"O
estudo era fechado, ou seja, não sabíamos quem ia tomar o medicamento e quem ia
tomar placebo. Quando abriu, descobri que estava tomando uma dose de placebo e
outra dose mínima do medicamento. E para mim já fez muita diferença. Eu saí da
fila de transplante e parei de usar o oxigênio", conta.
O
medicamento em questão é o Winrevair (sotatercepte), da farmacêutica MSD, que
foi aprovado em dezembro de 2024 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) e chegou às farmácias neste mês. O tratamento tem foco em aumentar a
capacidade de exercícios e locomoção dos pacientes com hipertensão arterial
pulmonar, além de reduzir os riscos de piora clínica.
Ele
representa uma nova classe de terapia que melhora o equilíbrio entre a
sinalização pró e antiproliferativa, regulando a proliferação de células
vasculares associadas à HAP. A aprovação do tratamento foi baseada nos
resultados do estudo clínico de Fase 3 "STELLAR", que comparou o
Winrevair ao placebo, ambos em combinação com terapias de base em pacientes
adultos com hipertensão arterial pulmonar.
De
acordo com o estudo, adicionar o novo medicamento à terapia de base aumentou em
41 metros a distância percorrida pelos pacientes ao realizar o Teste de
Caminhada de Seis Minutos, utilizado na avaliação de doenças pulmonares e
cardiovasculares. Além disso, o tratamento reduziu o risco de morte e de piora
clínica pela doença em 84%, quando comparado à terapia de base isolada.
"A
minha qualidade de vida é outra agora. A medicação não cura, mas oferece mais
dignidade", afirma Ligia.
O
medicamento é administrado uma vez a cada três semanas por aplicação
subcutânea, que pode ser realizada por pacientes e cuidadores, após treinamento
e acompanhamento de um profissional de saúde.
Fonte:
CNN Brasil

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