quarta-feira, 18 de junho de 2025

Dose única de medicamento reduz colesterol em até 69%, diz estudo inicial

“Isso é realidade; não é ficção científica”, alerta o professor Riyaz Patel, ao anunciar os resultados preliminares de um ensaio clínico que testou o medicamento VERVE-102, que promete reduzir os níveis de colesterol LDL de uma pessoa – o chamado colesterol "ruim" – com somente uma injeção.

Cardiologista da University College London, Patel foi um dos participantes do ensaio clínico Heart-2 Fase 1b, cujos resultados foram divulgados preliminarmente por meio de comunicado de imprensa, via GlobeNewswire, mas ainda não foram revistos por pares.

Embora não tenha sido avaliado por outros especialistas da área antes da publicação formal, o estudo representa um marco potencial no tratamento de doenças cardiovasculares, oferecendo a possibilidade de substituir décadas de medicação diária por uma única dose.

O chamado colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade) é uma substância que transporta colesterol pelo sangue, levando-o do fígado para os tecidos do corpo. Mas, quando há excesso dessas transportadoras de gordura na circulação, elas podem se acumular nas paredes das artérias e formar placas.

Diferentemente das estatinas, o tratamento mais tradicional e moderno contra o LDL elevado, que bloqueiam temporariamente a enzima que faz a síntese do colesterol no fígado (HMG-CoA redutase), o VERVE-102 “desliga” para sempre o gene que degrada os receptores de LDL nas células hepáticas.

<><> Como funciona o novo medicamento VERVE-102?

Ao contrário do que muita gente pensa, a maior parte do colesterol do nosso corpo não vem da alimentação. Cerca de 75% são sintetizados pelo próprio organismo, principalmente no fígado, através de uma via metabólica onde o gene PCSK9 é um regulador-chave.

Sem ele, um receptor de LDL pode fazer várias "viagens" entre a superfície e o interior da célula, removendo múltiplas partículas de LDL do sangue. Mas com o PCSK9, cada receptor faz só uma viagem e é destruído pelas organelas, o que reduz a capacidade da célula de remover o LDL do sangue.

Por isso, o VERVE-102 “mira” o PCSK9 para inativá-lo permanentemente, impedindo a produção da proteína de mesmo nome. Com isso, o fígado mantém mais receptores ativos, removendo continuamente mais LDL da circulação sanguínea. De “descartáveis”, os receptores voltam a ser “reutilizáveis”.

A composição do VERVE-102 inclui dois componentes principais trabalhando em conjunto: um editor de adenina altamente específico e um RNA guia direcionado exclusivamente ao gene PCSK9. A abordagem única elimina a necessidade de medicamentos diários ou injeções frequentes.

Além de eficiente, o tratamento se mostrou seguro e bem tolerado, sem eventos adversos graves relacionados ao medicamento. Essa terapia promete transformar o tratamento cardiovascular, oferecendo controle duradouro do colesterol com uma dose só, administrada via intravenosa durante duas a quatro horas.

<><> Resultados do ensaio clínico e preparo de novos testes do VERVE-102

O ensaio clínico com o medicamento experimental VERVE-102 incluiu 14 pessoas com hipercolesterolemia familiar, uma condição hereditária que eleva drasticamente o colesterol LDL e o risco de doenças cardiovasculares. Todos toleraram bem a injeção única, sem efeitos adversos graves relatados.

Cada grupo recebeu um número diferente de doses, o que se refletiu nas respostas. No grupo de menor dose, o colesterol LDL caiu em média 21%. Já o grupo intermediário teve queda de 41%. Os quatro pacientes que receberam a dose mais alta apresentaram uma redução média de 53% no colesterol.

Entre os voluntários que receberam a dose mais elevada, um indivíduo teve queda ainda mais expressiva: seus níveis de colesterol LDL foram reduzidos em 69%. Esse resultado isolado chamou a atenção por sugerir um potencial significativo de eficácia com uma única aplicação do VERVE-102.

Considerado uma lenda da cardiologia moderna, Eugene Braunwald, professor da Escola Médica de Harvard, comentou os dados iniciais no comunicado de imprensa da Verve, embora não tenha participado do estudo. Para ele, os resultados são "promissores" e sugerem o início de uma nova era no tratamento de doenças cardiovasculares hereditárias.

A Verve Therapeutics, empresa que desenvolve o medicamento, iniciou uma nova fase de testes. Estão sendo recrutados voluntários no Reino Unido, Canadá, Israel, Austrália e Nova Zelândia, que receberão doses mais altas. A expectativa é que os resultados sejam divulgados no segundo semestre de 2025.

•        Hipertensão arterial pulmonar: entenda o que é, causas e sintomas

Ligia Helena Benevides, de 66 anos, era apaixonada por sua profissão. Instrutora de apicultura em São Luís, no Maranhão, ela passava horas de seu dia em meio à natureza e em constante movimentação. Mas viu sua rotina mudar completamente ao ser diagnosticada com hipertensão arterial pulmonar e, devido aos sintomas, ser aposentada por invalidez.

"Eu caminhava muito, todos os dias. De repente, eu comecei a sentir um cansaço extremo. Não conseguia subir uma escada, sentia muita moleza", conta em entrevista à CNN. "Eu achei que fosse sedentarismo, ou que fosse consequência da obesidade ou de uma anemia", conta. No entanto, após consultar diferentes médicos e realizar diversos exames, o diagnóstico foi confirmado.

Essa é uma doença rara que atinge, em média, 40 a 55 pessoas a cada um milhão de adultos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). O quadro é caracterizado pela pressão anormalmente alta nas artérias dos pulmões, podendo levar à falta de ar e à fadiga, até mesmo ao realizar movimentos leves.

"Nós temos um sistema circulatório que funciona em série. É como se fosse um grande circuito contínuo, com duas bombas localizadas no coração: uma que manda o sangue para todo o corpo, que fica no lado esquerdo, e outra que manda sangue para o pulmão, que fica no lado direito", explica Caio Fernandes, pneumologista do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), à CNN.

O especialista explica que a bomba do lado esquerdo é forte, com capacidade para mandar sangue sob alta pressão para todo o corpo. Já a bomba do lado direito é mais fraca, enviando o sangue para o pulmão em baixa pressão. "Por uma série de motivos, a pressão na área do pulmão pode aumentar, e a bomba do lado direito começa a falhar, sem conseguir lidar com essa pressão. Com isso, o paciente começa a ter sintomas de falência dessa bomba, como falta de ar e inchaço", afirma.

<><> O que causa a hipertensão pulmonar?

A hipertensão pulmonar é classificada em cinco tipos, de acordo com a causa da doença. São eles:

•        Hipertensão arterial pulmonar (HAP);

•        Hipertensão Pulmonar associada a cardiopatias de câmaras esquerdas;

•        Hipertensão Pulmonar associada a pneumopatias que cursam com hipoxemia (redução no nível de oxigênio);

•        Hipertensão Pulmonar Tromboembólica Crônica (HPTEC), com formação de coágulos de sangue;

•        Hipertensão Pulmonar “miscelânea”, ou seja, com causas relacionadas a outros mecanismos, como distúrbios sanguíneos e sistêmicos.

"Doenças que acometem a bomba do lado esquerdo podem causar doenças do lado direito; doenças do pulmão muito avançadas, como enfisema, fibrose pulmonar, apneia obstrutiva do sono, podem causar hipertensão pulmonar. Mas outras doenças bem diferentes, como doenças do tecido conectivo, esclerodermia e HIV, também podem causar hipertensão pulmonar. Então, é uma série de problemas que podem cursar com distúrbios nos vasos do pulmão", explica Fernandes.

<><> Sintomas de hipertensão pulmonar

A hipertensão pulmonar, inicialmente, é silenciosa, mas em casos avançados pode apresentar sintomas, principalmente falta de ar durante o esforço, tontura ou fadiga. Também pode ocorrer inchaço, especialmente nas pernas.

"Quando o quadro está bastante grave, eventualmente o paciente também tem desmaios", afirma Fernandes.

Os sintomas da hipertensão pulmonar, quando já bem estabelecida, podem ser incapacitantes. Ligia conta, por exemplo, que sua rotina foi extremamente impactada pelo diagnóstico da doença. Uma delas é a mudança de cidade. Por conta do tratamento, precisou voltar para Sorocaba, no estado de São Paulo, onde nasceu, e se afastar do Maranhão.

O segundo impacto aconteceu em sua rotina diária. Sem poder trabalhar e com muito cansaço para realizar tarefas comuns do dia a dia, Ligia preencheu seu tempo livre com cursos. "Fiz colégio técnico em alimentos e estou pensando em fazer, no próximo ano, um curso de segurança no trabalho. Eu não vou trabalhar com nenhuma dessas coisas, porque não consigo, mas pelo menos irei preencher meu tempo", conta.

<><> Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da hipertensão pulmonar pode ser feito com exames de imagem, como radiografias do tórax, ecocardiograma e eletrocardiograma. Eles costumam ser solicitados quando os médicos suspeitam da doença com base nos sintomas, principalmente em pessoas que tenham doenças pulmonares anteriores ou apresentam fatores de risco para desenvolver a hipertensão pulmonar.

Os testes de função pulmonar também podem auxiliar os médicos a avaliar a extensão da lesão pulmonar. O diagnóstico definitivo geralmente requer o cateterismo do lado direito do coração para medir a pressão sanguínea no ventrículo direito e na artéria pulmonar.

<><> Tratamento inovador chegou ao Brasil neste mês

Tradicionalmente, o tratamento da hipertensão pulmonar inclui medicamentos para tratar a causa da doença e para aliviar os sintomas, como remédios que dilatam os vasos sanguíneos. Em alguns casos, é necessário o uso de cilindro de oxigênio para reduzir a pressão sanguínea nas artérias pulmonares e aliviar a falta de ar.

Por muitos anos, Ligia andou acompanhada do cilindro de oxigênio e fez uso de medicamentos vasodilatadores, como o Viagra, para tratar os sintomas, enquanto aguardava na fila do transplante de pulmão. Mas foi selecionada para participar de um ensaio clínico para um novo medicamento.

"O estudo era fechado, ou seja, não sabíamos quem ia tomar o medicamento e quem ia tomar placebo. Quando abriu, descobri que estava tomando uma dose de placebo e outra dose mínima do medicamento. E para mim já fez muita diferença. Eu saí da fila de transplante e parei de usar o oxigênio", conta.

O medicamento em questão é o Winrevair (sotatercepte), da farmacêutica MSD, que foi aprovado em dezembro de 2024 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e chegou às farmácias neste mês. O tratamento tem foco em aumentar a capacidade de exercícios e locomoção dos pacientes com hipertensão arterial pulmonar, além de reduzir os riscos de piora clínica.

Ele representa uma nova classe de terapia que melhora o equilíbrio entre a sinalização pró e antiproliferativa, regulando a proliferação de células vasculares associadas à HAP. A aprovação do tratamento foi baseada nos resultados do estudo clínico de Fase 3 "STELLAR", que comparou o Winrevair ao placebo, ambos em combinação com terapias de base em pacientes adultos com hipertensão arterial pulmonar.

De acordo com o estudo, adicionar o novo medicamento à terapia de base aumentou em 41 metros a distância percorrida pelos pacientes ao realizar o Teste de Caminhada de Seis Minutos, utilizado na avaliação de doenças pulmonares e cardiovasculares. Além disso, o tratamento reduziu o risco de morte e de piora clínica pela doença em 84%, quando comparado à terapia de base isolada.

"A minha qualidade de vida é outra agora. A medicação não cura, mas oferece mais dignidade", afirma Ligia.

O medicamento é administrado uma vez a cada três semanas por aplicação subcutânea, que pode ser realizada por pacientes e cuidadores, após treinamento e acompanhamento de um profissional de saúde.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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