sábado, 21 de junho de 2025

Como bombas do Irã expõem divisão entre árabes e judeus em Israel

"Estou com muita raiva", diz Kasem Abu al-Hija, de 67 anos.

No sábado (14/6) , quatro membros da sua família foram mortos quando um míssil iraniano atingiu sua casa no norte de Israel, derrubando a construção de concreto em cima deles.

Livros, roupas, brinquedos e partes de corpos foram lançados na rua, segundo testemunhas.

A rua inteira ficou na escuridão quando o míssil atingiu o local. As equipes de resgate conseguiram localizar os corpos seguindo rastros de sangue.

As quatro vítimas foram identificadas como a filha de Kasem, Manar Khatib, de 45 anos, suas duas netas, Shada, de 20 anos, e Hala, de 13, e sua tia, Manal Khatib, de 41 anos.

Elas haviam conseguido chegar aos dois cômodos seguros reforçados da casa que compartilhavam — mas o míssil balístico atingiu diretamente o local.

Elas moravam em Tamra, uma cidade de maioria árabe no norte de Israel.

Minutos após suas mortes, surgiu um vídeo na internet. Ele mostrava os mísseis iranianos cruzando o céu. Enquanto desciam sobre Tamra, uma voz pode ser ouvida gritando, em hebraico: "No vilarejo, no vilarejo".

"Que seu vilarejo seja queimado", diz um grupo de pessoas, cantando e batendo palmas.

"Eles cantaram pelo que aconteceu com a minha família", diz Kasem, calmamente, cercado por parentes em uma vigília.

O vídeo — que mostra israelenses entoando um cântico antiárabe comum, muitas vezes cantado por judeus ultranacionalistas — foi amplamente condenado em Israel, e classificado pelo presidente do país, Isaac Herzog, como "terrível e vergonhoso".

Mas há outros motivos pelos quais Kasem e a comunidade mais ampla de Tamra estão irritados com o que aconteceu.

Aqui — como é o caso de muitas comunidades de maioria árabe em Israel — não há abrigos antibombas públicos para seus 38 mil moradores.

Para efeito de comparação, a cidade vizinha de maioria judaica, Karmiel, com 55 mil habitantes, conta com 126 abrigos públicos.

Os moradores de Tamra há muito tempo alertam sobre essa disparidade.

Localizada no norte de Israel, a cerca de 10 km a leste da cidade de Haifa, e a 25 km ao sul da fronteira com o Líbano, a cidade tem sido vulnerável aos foguetes disparados pelo grupo libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã. Em outubro de 2024, um foguete disparado pelo grupo feriu gravemente uma mulher.

Em Israel, cerca de um quarto da população não tem acesso a um abrigo adequado.

Mas nas localidades não judaicas, essa parcela chega a quase metade da população, de acordo com um relatório de 2018 da Controladoria do Estado de Israel, os dados mais recentes disponíveis.

"Por muitas décadas, as autoridades locais árabes receberam menos recursos do Estado em várias áreas, incluindo preparação para emergências", diz Lital Piller, do instituto de pesquisa Israel Democracy.

Quando existem abrigos, segundo ela, "são poucos, mal conservados e muitas vezes inadequados para estadias prolongadas".

A BBC entrou em contato com o Ministério da Defesa de Israel para comentar o assunto.

Os árabes israelenses — muitos dos quais preferem ser chamados de cidadãos palestinos de Israel — constituem um quinto da população do país. Por lei, eles têm direitos iguais aos dos cidadãos judeus, mas reclamam rotineiramente da discriminação do Estado e de serem tratados como cidadãos de segunda classe.

Após a Guerra do Golfo de 1990-1991, quando mísseis iraquianos atingiram Tel Aviv e Haifa, o governo israelense determinou que todos os novos edifícios residenciais deveriam conter um cômodo seguro reforçado, ou Mamad, como são conhecidos.

Mas as comunidades árabes geralmente enfrentam duras restrições de planejamento, o que leva a construções não regulamentadas, e a casas sendo construídas sem o cômodo, dizem os ativistas.

De acordo com as autoridades locais, apenas cerca de 40% das casas de Tamra têm seu próprio cômodo seguro, o que faz com que a maioria dos moradores tenha que correr para buscar abrigo com os vizinhos. Em muitos casos, devido ao curto aviso prévio, isso não é possível.

"As lacunas são enormes", diz Ilan Amit, do Centro Árabe Judaico para Empoderamento, Igualdade e Cooperação (Ajeec, na sigla em inglês), que trabalha para construir abrigos em comunidades árabes. "Eu moro em Jerusalém. Todo prédio tem um abrigo antibombas. Todo bairro tem um abrigo antibombas público."

À medida que a noite cai em Tamra, os telefones dos moradores acendem simultaneamente com um alerta estridente: "Você deve ficar perto de uma área protegida".

Logo em seguida, as sirenes soam, e os moradores — recém-saídos do trauma do ataque de sábado — entram em pânico.

As mães reúnem os filhos, e as pessoas correm pela rua gritando. Várias famílias se amontoam no cômodo seguro de uma casa.

Alguns choram, outros sorriem ou se contraem de nervoso. Um homem fecha os olhos e reza. Ouve-se um estrondo atrás do outro.

A questão dos abrigos é ainda mais evidente nas comunidades árabes beduínas de Israel — muitas das quais vivem em aldeias no Deserto de Neguev que não são reconhecidas pelo governo israelense e, portanto, não têm abrigos construídos para elas.

A única vítima da escalada das hostilidades entre Israel e Irã em abril de 2024 foi uma menina de uma dessas comunidades que ficou gravemente ferida, e passou um ano no hospital depois que fragmentos de um míssil iraniano atingiram sua cabeça.

A falta de abrigos também é um problema prevalente em algumas das comunidades judaicas mais pobres de Israel em áreas como o sul de Tel Aviv.

Uma nova pesquisa realizada pela Universidade Hebraica revelou que 82,7% dos judeus israelenses apoiam o ataque ao Irã, mas 67,9% dos árabes israelenses se opõem. Além disso, 69,2% dos árabes israelenses relataram sentimentos de medo em relação aos ataques — e 25,1% manifestaram desespero.

"A sociedade árabe se sente negligenciada e deixada para trás", diz Amit. "Há disparidades enormes na educação e no emprego. Há disparidades enormes nos abrigos, na existência de abrigos."

Adel Khatib, um funcionário municipal de Tamra, afirma: "Desde que isso aconteceu, você pode sentir a revolta".

"Não temos acesso às necessidades básicas", acrescenta. "A maioria das comunidades árabes não tem centros comunitários ou prédios voltados para cultura e atividades."

De acordo com as estatísticas israelenses oficiais, em 2023, 42,4% da população árabe vivia abaixo da linha da pobreza — mais do que o dobro da proporção da população geral de Israel.

Nos últimos anos, houve tentativas de preencher essas lacunas. Em 2021, o governo anterior de Israel apresentou um plano de desenvolvimento de cinco anos para a sociedade árabe.

"Estávamos no meio de um grande salto no desenvolvimento socioeconômico, reduzindo as disparidades na educação, no ensino superior e no emprego", diz Amit.

Mas a atual coalizão governamental de direita de Israel, a mais linha dura da história do país, reduziu lentamente o financiamento para esse plano, redirecionando a verba para outros lugares.

Alguns destes cortes ocorreram porque o governo ajustou os orçamentos para lutar na guerra em curso em Gaza, que começou em resposta ao ataque pela fronteira liderado pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns.

"Este governo está simplesmente colocando entraves para este plano quinquenal, não tornando possível implementar grandes partes dele", acrescenta Amit.

"No último ano e meio, a sociedade árabe se viu entre a cruz e a espada, no sentido de que, por um lado, está sofrendo com as políticas do atual governo e, por outro, está vendo seus irmãos e irmãs em Gaza e na Cisjordânia sofrendo por causa da guerra", afirma.

Do lado de fora das ruínas da casa da família, Mohamed Osman, de 16 anos, um dos vizinhos, desabafou: "Todo mundo está com raiva e triste".

Ele lembra de Shada, que tinha apenas 20 anos. "Ela estudou a vida inteira. Queria ser a melhor. Seu pai é advogado, e ela queria ser como ele.Todos esses sonhos simplesmente desapareceram."

"Eles eram a melhor imagem de uma família feliz... Quando eu os imagino, imagino os pedaços deles que vi."

Em uma vigília antes do funeral, dezenas de membros da comunidade se reúnem, cumprimentam uns aos outros com apertos de mão, compartilham café e chá, e sofrem em silêncio.

"As bombas não escolhem entre árabes ou judeus", diz Kasem. "Precisamos acabar com essa guerra. Precisamos acabar com ela agora."

¨      A usina nuclear do Irã que desafia o poderio militar dos EUA

Uma instalação nuclear iraniana implantada em uma região montanhosa ao sul de Teerã é o principal obstáculo à meta autodeclarada de Israel de inviabilizar o programa de enriquecimento de urânio do Irã e impedir que o país desenvolva armas de destruição em massa.

Desde que lançou sua ofensiva militar, Israel conseguiu danificar os centros nucleares de Natanz e Isfahan, onde o regime persa acumulava altos níveis de urânio enriquecido a 60% de pureza.

O complexo nuclear de Fordo, porém, passou praticamente ileso, segundo reportou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Foi lá que, em 2023, a agência da ONU anunciou ter encontrado partículas de urânio enriquecido a um grau de 83,7% de pureza – próximo dos 90% necessários ao desenvolvimento de armas nucleares.

Ao contrário das demais instalações, acredita-se que Fordo tenha sido construída quase 100 metros abaixo do solo, a partir de uma estrutura de túneis usados pela elite da Guarda Revolucionária Islâmica, pilar de sustentação do regime.

Tal profundidade fornece uma proteção natural contra ataques aéreos israelenses. Esse aspecto, segundo análises que circularam na imprensa, teria levado o presidente dos EUA, Donald Trump, a reconsiderar seu nível de envolvimento direto no conflito.

Israel possui armas de destruição de bunkers já usadas, por exemplo, contra alvos da milícia libanesa Hezbollah. No entanto, seu poder explosivo é insuficiente para um ataque a Fordo.

Acredita-se que uma bomba antibunker americana seria a única arma capaz de alcançar o coração do complexo e arruiná-lo: a poderosa GBU-57. O explosivo, de 13,6 toneladas, é capaz de penetrar até 61 metros de rocha ou 18 metros de concreto antes de detonar.

Não há consenso entre especialistas, no entanto, sobre a eficácia de seu uso no caso de Fordo, já que, além de estar situada em uma profundidade superior ao alcance da bomba, a instalação também possui uma estrutura interna reforçada com concreto armado.

<><> Fordo se vale de montanha como defesa natural

Situada em uma antiga base militar perto da cidade de Qom, Fordo foi construída secretamente no início dos anos 2000.

A comunidade internacional sabe das atividades operadas nas profundezas da região montanhosa ao menos desde 2009, após a República Islâmica reconhecer sua existência.

Ao menos 3 mil centrífugas de enriquecimento de urânio foram dispostas no subterrâneo desde então, distribuídas em dois túneis principais. Imagens de satélite mostram que acima da superfície há apenas um edifício de apoio e seis entradas subterrâneas.

Embora Fordo seja um complexo menor do que Natanz, ele é supostamente capaz de produzir graus mais puros de urânio, o que o torna militarmente mais significativo.

Antes do início da ofensiva israelense, o Irã havia anunciado um plano de modernizar as estruturas do local.

"Os estoques de mísseis, os lançadores, as bases militares, as instalações de produção, os cientistas nucleares, o comando e o controle militar do regime sofreram um golpe duro", disse Behnam Ben Taleblu, diretor do programa para o Irã da Fundação para a Defesa das Democracias (FDD), à agência de notícias AFP.

"Mas ainda há grandes dúvidas sobre a eficácia do ataque de Israel contra o programa nuclear do Irã. Todos os olhos [agora] estarão voltados para Fordo", completou.

<><> A bomba GBU-57

Segundo o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, o Pentágono forneceu opções a Trump sobre os próximos passos a serem tomados em relação ao Irã, incluindo a disponibilidade da bomba GBU-57.

No entanto, seu uso demandaria uma operação mais abrangente, já que o núcleo de Fordo está muito além do alcance da bomba.

"Para derrotar esses alvos enterrados, essas armas precisam ser projetadas com invólucros bastante espessos de aço endurecido para atravessar as camadas de rocha", disse Masao Dahlgren, pesquisador de defesa antimísseis do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), à AFP.

Devido ao seu peso e forma de operação, o explosivo antibunker de 6,2 metros de comprimento precisa ser lançado a 12 quilômetros de altura a partir da única aeronave capaz de carregá-lo: o bombardeiro americano B-2.

Isto exigiria o disparo certeiro de mais de um explosivo para de fato neutralizar a operação nuclear no local, o que diminui a chance de sucesso de um ataque deste tipo. Estruturas de concreto também podem barrar o avanço da GBU-57 no subsolo, ainda que a bomba seja equipada com dispositivos de GPS.

<><> "Bagagem política para os EUA"

Essa intervenção viria com "muita bagagem política para os Estados Unidos", argumentou Taleblu, da Fundação para a Defesa das Democracias (FDD).

Trump até o momento tem apostado em saídas diplomáticas, ainda que cite a possibilidade de se envolver no conflito.

Tal operação exigiria dos EUA que invadissem o espaço aéreo iraniano. No início de maio, imagens de satélite mostraram que o país armazenava seis aviões B-2 na base militar de Diego Garcia, próximo às ilhas Maurício – e a uma distância conveniente do Irã. Cada aeronave é capaz de carregar duas bombas deste tipo.

Uma intervenção também colocaria as tropas americanas na região como alvo de uma retaliação iraniana e poderia causar uma ampla contaminação nuclear na região.

No último domingo, o embaixador de Israel em Washington, Yechiel Leiter, disse ao canal de TV americano ABC que seu país tem "várias opções" para lidar com Fordo. Entre elas, ele elencou a possibilidade de desembarcar no local suas próprias forças, capturar a instalação e causar a máxima destruição em seu interior.

¨      A montanha que protege o programa nuclear do Irã alvo de Israel

Um dos pontos cruciais no atual conflito entre Israel Irã é o futuro do programa nuclear iraniano.

Irã afirma que tem um programa pacífico, destinado apenas a geração de energia. Mas Israel diz que o objetivo iraniano é construir uma bomba atômica.

Especialistas dizem que Israel também possui tecnologia para produzir uma bomba nuclear — algo que o governo israelense nunca confirmou.

Há décadas, os Estados Unidos vêm negociando diplomaticamente com o Irã formas de fazer com que o regime de Teerã desista de seu projeto nuclear.

Os ataques de Israel às instalações nucleares do Irã abriram a discussão sobre a possibilidade de os EUA participarem do ataque a Teerã — acabando com o programa atômico por meios militares em vez de diplomáticos.

Mas atingir o programa nuclear de Teerã traz um desafio logístico enorme: as principais instalações nucleares estão enterradas em uma montanha.

<><> Montanha estratégica

A instalação nuclear mais fortificada do Irã, Fordow, foi construída no interior de uma montanha para protegê-la de um ataque.

Fordow já foi construída estrategicamente embaixo da montanha justamente para evitar ataques aéreos de adversários militares.

Em 1981, Israel usou caças para bombardear uma instalação nuclear perto de Bagdá como parte de seu esforço para impedir que o Iraque adquirisse armas nucleares. A instalação ficava na superfície, o que facilitou o bem-sucedido ataque israelense.

"Os iranianos entenderam perfeitamente que os israelenses tentariam invadir seus programas e construíram Fordow dentro de uma montanha há muito tempo para resolver o problema pós-Iraque", disse Vali Nasr, especialista em Irã e professor da Universidade Johns Hopkins, em entrevista ao jornal americano The New York Times.

Segundo o jornal, ao longo de vários anos, Israel elaborou uma série de planos para atacar Fordow usando apenas as suas próprias armas.

Em um desses planos, que foi apresentado ao governo do então presidente Barack Obama, helicópteros israelenses carregados com soldados voariam até o local. Os soldados travariam batalhas para entrar na instalação nuclear iraniana e explodi-la.

Algo semelhante já foi feito por Israel na Síria no ano passado, quando o país destruiu uma fábrica de mísseis do Hezbollah.

Mas Fordow exigiria um esforço e preparo muito maior, segundo as autoridades militares.

Outra possibilidade que já foi estudada no passado foi a de jogar uma bomba em Fordow. No entanto, Israel não possui nenhuma arma capaz de explodir as instalações subterrâneas iranianas. Somente os EUA possuem armamento capaz de tentar algo assim.

Estima-se que o bunker onde os cientistas nucleares iranianos trabalham está enterrado no solo muito longe do alcance das chamadas "armas antibunker" que Israel possui.

As armas antibunker são projetadas para destruir alvos que estão abaixo do solo.

Elas são pesadas e, ao caírem no solo, penetram camadas de terra ou concreto e explodem só depois de atingir a profundidade máxima.

Especialistas militares dizem que até agora Israel teria usado armas antibunker GBU-28 com capacidade de penetração de 6 metros.

Isso não seria suficiente para atingir as instalações de Fordow.

A profundidade exata do bunker onde ficam instalações nucleares iranianas é desconhecida entre militares ocidentais.

A montanha em si teria até 80 metros de rocha e solo — muito além do alcance das armas israelenses.

Mas segundo o jornal britânico Financial Times, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi, afirmou que algumas das instalações mais sensíveis de Fordow podem estar enterradas ainda mais profundamente, a até 800 metros de profundidade.

"Já estive lá muitas vezes", disse Grossi ao Financial Times este mês. "Para chegar lá, você pega um túnel em espiral que desce, desce, desce..."

"No caso iraniano, como o Conselho de Segurança Nacional dos EUA pode ter certeza de que conseguirá atingir tudo? Essa é a grande questão", o historiador militar Robert Pape ao jornal britânico.

Apenas os EUA possuem uma única arma capaz disso: a Massive Ordnance Penetrator (MOP, ou também conhecida como GBU-57), uma bomba antibunker de 13,6 mil kg, que é tão pesada que só pode ser lançada por bombardeiros estratégicos B2, que só os EUA têm.

A MOP dos EUA teria capacidade de atingir uma profundidade de 60 metros — dez vezes mais do que as armas do tipo que Israel possui.

A MOP funciona sem nenhum tipo de propulsor. Ou seja, ela é apenas lançada do avião, e guiada em alta-precisão por aletas de grade, que direcionam a bomba. Depois que ela atinge sua profundidade máxima, ela é detonada.

Por contar apenas com a gravidade para atingir o chão, a bomba precisa ser lançada de uma altitude muito grande. Ela também é muito pesada — e por isso precisa de aviões especiais, como os B2 americanos.

"Para destruir Fordow, para o qual a MOP foi explicitamente projetada, provavelmente seriam necessárias pelo menos duas bombas, cada uma atingindo exatamente o mesmo ponto", disse Pape ao Financial Times.

"Isso pode ser bom, e tenho certeza de que a Força Aérea dos EUA tem as capacidades técnicas. Mas isso nunca foi feito antes em uma guerra real."

Segundo o New York Times, Trump estaria considerando agora o uso de bombardeiros B2 equipados com a bomba MOP para ajudar Israel a atingir o programa nuclear iraniano.

Um ataque militar potente contra as instalações nucleares do Irã só poderia ser lançado pelos EUA, que possui os bombardeiros B2 e a bomba MOP.

O New York Times diz que nos últimos dois anos militares americanos, sob acompanhamento próximo da Casa Branca, desenvolveram uma operação para atacar Fordow que envolveria o uso de múltiplas bombas MOP jogadas uma depois da outra, sempre no mesmo buraco provocado pela primeira bomba.

Essa ideia que antes era tratada apenas como um exercício militar teria ganhado força após os ataques de Israel contra o Irã na semana passada.

¨      Como funciona a poderosa bomba dos EUA que pode destruir instalações nucleares do Irã

Entre as armas capazes de atingir as instalações nucleares subterrâneas do Irã, uma permanece sem uso — e fora do alcance de Israel por enquanto: a GBU-57A/B, ou Massive Ordnance Penetrator (MOP, na sigla em inglês), a maior bomba "antibunker" não nuclear do mundo, de propriedade exclusiva dos Estados Unidos.

Essa arma de 13.600 kg, guiada com precisão, poderia penetrar no complexo subterrâneo de enriquecimento de combustível nuclear de Fordo, no Irã, abrigado no interior de uma montanha.

Até o momento, os EUA não deram acesso a Israel à MOP.

Mas, afinal, o que é esta arma, quais são os desafios — e será que ela poderia ser usada?

De acordo com o governo dos EUA, a GBU-57A/B é uma "arma de grande penetração com capacidade de atacar bunkers e túneis localizados bem abaixo do solo e reforçados".

Com seis metros de comprimento, acredita-se que ela seja capaz de penetrar aproximadamente 61 metros abaixo da superfície antes de explodir. Várias bombas podem ser lançadas em sequência, perfurando efetivamente mais fundo a cada explosão.

Fabricada pela Boeing, a MOP nunca foi usada em combate, mas foi testada no campo de testes de mísseis de White Sands, uma área de testes militares dos EUA no Estado do Novo México.

Ela é mais potente do que a Massive Ordnance Air Blast (MOAB), uma arma de 9.800 kg conhecida como a "mãe de todas as bombas", que foi usada em combate no Afeganistão em 2017.

"A Força Aérea dos EUA se esforçou significativamente para criar armas de tamanho semelhante ao da MOAB, mas com a carga explosiva contida em uma cápsula de metal extremamente rígida. O resultado foi a GBU-57A/B, a MOP", diz Paul Rogers, professor de estudos da paz na Universidade de Bradford, no Reino Unido.

Atualmente, somente o B-2 Spirit dos EUA — também conhecido como bombardeiro furtivo — está configurado e programado para lançar a MOP. Este avião, geralmente chamado de B-2, é produzido pela Northrop Grumman, e é uma das aeronaves de guerra mais avançadas do arsenal da Força Aérea americana.

De acordo com o fabricante, o B-2 pode transportar uma carga útil de 18.000 kg. No entanto, a Força Aérea dos EUA afirmou que testou com sucesso o B-2 transportando duas bombas GBU-57A/B — um peso total de cerca de 27.200 kg.

Esse avião bombardeiro pesado de longo alcance tem um alcance de cerca de 11.000 quilômetros sem reabastecimento, e de até 18.500 quilômetros com um reabastecimento em voo, o que permite a ele chegar a praticamente qualquer ponto do planeta em poucas horas, de acordo com a Northrop Grumman.

Rogers diz que se a MOP fosse usada contra um inimigo com defesas aéreas modernas, como o Irã, os bombardeiros B-2 provavelmente seriam acompanhados por outras aeronaves. Por exemplo, aeronaves furtivas de ataque F-22 poderiam ser usadas para suprimir as defesas do inimigo, seguidas por drones para avaliar os danos e determinar se novos ataques seriam necessários.

Ele estima que os EUA tenham um estoque limitado de bombas do tipo MOP.

"Eles provavelmente têm um estoque operacional de talvez 10, talvez 20 bombas no total", diz ele.

<><> Será que a MOP vai ser usada contra o Irã?

Fordow é a segunda instalação de enriquecimento nuclear do Irã, depois de Natanz, a principal.

Ela foi construída na encosta de uma montanha perto da cidade de Qom, a cerca de 95 quilômetros a sudoeste de Teerã. Acredita-se que a construção tenha começado por volta de 2006, e que a instalação tenha entrado em operação em 2009 — mesmo ano em que Teerã reconheceu publicamente sua existência.

Além de estar enterrada a cerca de 80 metros de profundidade sob rochas e solo, Fordow é supostamente protegida por sistemas de mísseis terra-ar iranianos e russos.

Em março de 2023, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) detectou partículas de urânio enriquecidas com 83,7% de pureza — quase o grau de pureza necessário para fabricação de armamento — no local.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que o objetivo de atacar o Irã é eliminar seu programa nuclear e de mísseis, que ele descreveu como "uma ameaça existencial a Israel".

As autoridades disseram que Fordo faz parte desse objetivo.

"Toda essa operação... realmente tem que ser concluída com a eliminação de Fordow", afirmou Yechiel Leiter, embaixador de Israel nos EUA, à rede Fox News na sexta-feira (13/6).

Mas Israel não tem a capacidade de lançar a MOP por conta própria, e os EUA não permitiriam seu uso sem envolvimento direto, diz Rogers.

"Eles certamente não deixariam os israelenses fazerem isso sozinhos. E Israel não tem penetradores desse tamanho."

A liberação dessa bomba pelos EUA vai depender, em grande parte, da sua disposição em aumentar seu envolvimento — principalmente sob a liderança do presidente americano, Donald Trump.

"Realmente depende se Trump está disposto a dar o máximo para ajudar os israelenses", acrescenta Rogers.

Na reunião do G7 no Canadá, perguntaram a Trump o que seria necessário para que Washington se envolvesse militarmente. Ele respondeu: "Não quero falar sobre isso".

Em uma entrevista recente à rede ABC News, o embaixador Leiter foi questionado sobre a possibilidade de envolvimento americano em um ataque a Fordow. Ele disse que Israel só pediu ajuda defensiva aos EUA.

"Temos uma série de contingências (...) que vão nos permitir lidar com Fordow", afirmou.

"Nem tudo é uma questão de, você sabe como é, voar e bombardear de longe."

O Irã sempre afirmou que seu programa nuclear é totalmente pacífico, e que nunca procurou desenvolver uma arma nuclear.

Mas, na semana passada, o conselho da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), formado por 35 nações, declarou formalmente que o Irã violou suas obrigações de não proliferação pela primeira vez em 20 anos.

<><> Divisor de águas

Apesar dos recentes ataques aéreos israelenses às instalações nucleares do Irã, Rogers diz acreditar que é altamente improvável "que Israel tenha conseguido de alguma forma danificar as instalações nucleares iranianas profundamente enterradas".

"Eles basicamente precisariam de algo como a MOP para fazer o que não podem fazer sozinhos."

Kelsey Davenport, diretora de políticas de não proliferação da Associação de Controle de Armas, com sede nos EUA, diz que "enquanto Fordow permanecer operacional, o Irã ainda representa um risco de proliferação no curto prazo. Teerã tem a opção de aumentar o enriquecimento para níveis de grau (de pureza) para armamento no local ou desviar o urânio para um local não declarado".

Mas mesmo que a MOP seja usada, o sucesso não é garantido devido à profundidade e à proteção desconhecidas das instalações iranianas, observa Rogers.

"Essa arma em particular apresenta a melhor chance de danificar as capacidades nucleares iranianas no subsolo do que qualquer outra arma existente no momento. Mas se ela conseguiria fazer isso — vai saber?"

 

Fonte: BBC News Mundo

 

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