Como
bombas do Irã expõem divisão entre árabes e judeus em Israel
"Estou
com muita raiva", diz Kasem Abu al-Hija, de 67 anos.
No
sábado (14/6) , quatro membros da sua família foram mortos quando um
míssil iraniano atingiu sua
casa no norte de Israel, derrubando a
construção de concreto em cima deles.
Livros,
roupas, brinquedos e partes de corpos foram lançados na rua, segundo
testemunhas.
A rua
inteira ficou na escuridão quando o míssil atingiu o local. As equipes de
resgate conseguiram localizar os corpos seguindo rastros de sangue.
As
quatro vítimas foram identificadas como a filha de Kasem, Manar Khatib, de 45
anos, suas duas netas, Shada, de 20 anos, e Hala, de 13, e sua tia, Manal
Khatib, de 41 anos.
Elas
haviam conseguido chegar aos dois cômodos seguros reforçados da casa que
compartilhavam — mas o míssil balístico atingiu diretamente o local.
Elas
moravam em Tamra, uma cidade de maioria árabe no norte de Israel.
Minutos
após suas mortes, surgiu um vídeo na internet. Ele mostrava os mísseis
iranianos cruzando o céu. Enquanto desciam sobre Tamra, uma voz pode ser ouvida
gritando, em hebraico: "No vilarejo, no vilarejo".
"Que
seu vilarejo seja queimado", diz um grupo de pessoas, cantando e batendo
palmas.
"Eles
cantaram pelo que aconteceu com a minha família", diz Kasem, calmamente,
cercado por parentes em uma vigília.
O vídeo
— que mostra israelenses entoando um cântico antiárabe comum, muitas vezes
cantado por judeus ultranacionalistas — foi amplamente condenado em Israel, e
classificado pelo presidente do país, Isaac Herzog, como "terrível e
vergonhoso".
Mas há
outros motivos pelos quais Kasem e a comunidade mais ampla de Tamra estão
irritados com o que aconteceu.
Aqui —
como é o caso de muitas comunidades de maioria árabe em Israel — não há abrigos
antibombas públicos para seus 38 mil moradores.
Para
efeito de comparação, a cidade vizinha de maioria judaica, Karmiel, com 55 mil
habitantes, conta com 126 abrigos públicos.
Os
moradores de Tamra há muito tempo alertam sobre essa disparidade.
Localizada
no norte de Israel, a cerca de 10 km a leste da cidade de Haifa, e a 25 km ao
sul da fronteira com o Líbano, a cidade tem sido
vulnerável aos foguetes disparados pelo grupo libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã. Em outubro de 2024, um foguete
disparado pelo grupo feriu gravemente uma mulher.
Em
Israel, cerca de um quarto da população não tem acesso a um abrigo adequado.
Mas nas
localidades não judaicas, essa parcela chega a quase metade da população, de
acordo com um relatório de 2018 da Controladoria do Estado de Israel, os dados
mais recentes disponíveis.
"Por
muitas décadas, as autoridades locais árabes receberam menos recursos do Estado
em várias áreas, incluindo preparação para emergências", diz Lital Piller,
do instituto de pesquisa Israel Democracy.
Quando
existem abrigos, segundo ela, "são poucos, mal conservados e muitas vezes
inadequados para estadias prolongadas".
A BBC
entrou em contato com o Ministério da Defesa de Israel para comentar o assunto.
Os
árabes israelenses — muitos dos quais preferem ser chamados de cidadãos
palestinos de Israel — constituem um quinto da população do país. Por lei, eles
têm direitos iguais aos dos cidadãos judeus, mas reclamam rotineiramente da
discriminação do Estado e de serem tratados como cidadãos de segunda classe.
Após a
Guerra do Golfo de 1990-1991, quando mísseis iraquianos atingiram Tel Aviv e
Haifa, o governo israelense determinou que todos os novos edifícios
residenciais deveriam conter um cômodo seguro reforçado, ou Mamad,
como são conhecidos.
Mas as
comunidades árabes geralmente enfrentam duras restrições de planejamento, o que
leva a construções não regulamentadas, e a casas sendo construídas sem o
cômodo, dizem os ativistas.
De
acordo com as autoridades locais, apenas cerca de 40% das casas de Tamra têm
seu próprio cômodo seguro, o que faz com que a maioria dos moradores tenha que
correr para buscar abrigo com os vizinhos. Em muitos casos, devido ao curto
aviso prévio, isso não é possível.
"As
lacunas são enormes", diz Ilan Amit, do Centro Árabe Judaico para
Empoderamento, Igualdade e Cooperação (Ajeec, na sigla em inglês), que trabalha
para construir abrigos em comunidades árabes. "Eu moro em Jerusalém. Todo
prédio tem um abrigo antibombas. Todo bairro tem um abrigo antibombas
público."
À
medida que a noite cai em Tamra, os telefones dos moradores acendem
simultaneamente com um alerta estridente: "Você deve ficar perto de uma
área protegida".
Logo em
seguida, as sirenes soam, e os moradores — recém-saídos do trauma do ataque de
sábado — entram em pânico.
As mães
reúnem os filhos, e as pessoas correm pela rua gritando. Várias famílias se
amontoam no cômodo seguro de uma casa.
Alguns
choram, outros sorriem ou se contraem de nervoso. Um homem fecha os olhos e
reza. Ouve-se um estrondo atrás do outro.
A
questão dos abrigos é ainda mais evidente nas comunidades árabes beduínas de
Israel — muitas das quais vivem em aldeias no Deserto de Neguev que não são
reconhecidas pelo governo israelense e, portanto, não têm abrigos construídos
para elas.
A única
vítima da escalada das hostilidades entre Israel e Irã
em abril de 2024 foi
uma menina de uma dessas comunidades que ficou gravemente ferida, e passou um
ano no hospital depois que fragmentos de um míssil iraniano atingiram sua
cabeça.
A falta
de abrigos também é um problema prevalente em algumas das comunidades judaicas
mais pobres de Israel em áreas como o sul de Tel Aviv.
Uma
nova pesquisa realizada pela Universidade Hebraica revelou que 82,7% dos judeus
israelenses apoiam o ataque ao Irã, mas 67,9% dos árabes israelenses se opõem.
Além disso, 69,2% dos árabes israelenses relataram sentimentos de medo em
relação aos ataques — e 25,1% manifestaram desespero.
"A
sociedade árabe se sente negligenciada e deixada para trás", diz Amit.
"Há disparidades enormes na educação e no emprego. Há disparidades enormes
nos abrigos, na existência de abrigos."
Adel
Khatib, um funcionário municipal de Tamra, afirma: "Desde que isso
aconteceu, você pode sentir a revolta".
"Não
temos acesso às necessidades básicas", acrescenta. "A maioria das
comunidades árabes não tem centros comunitários ou prédios voltados para
cultura e atividades."
De
acordo com as estatísticas israelenses oficiais, em 2023, 42,4% da população
árabe vivia abaixo da linha da pobreza — mais do que o dobro da proporção da
população geral de Israel.
Nos
últimos anos, houve tentativas de preencher essas lacunas. Em 2021, o governo
anterior de Israel apresentou um plano de desenvolvimento de cinco anos para a
sociedade árabe.
"Estávamos
no meio de um grande salto no desenvolvimento socioeconômico, reduzindo as
disparidades na educação, no ensino superior e no emprego", diz Amit.
Mas a
atual coalizão governamental de direita de Israel, a mais linha dura da
história do país, reduziu lentamente o financiamento para esse plano,
redirecionando a verba para outros lugares.
Alguns
destes cortes ocorreram porque o governo ajustou os orçamentos para lutar
na guerra em curso em Gaza, que começou em
resposta ao ataque pela fronteira liderado pelo Hamas contra Israel
em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras
251 foram feitas reféns.
"Este
governo está simplesmente colocando entraves para este plano quinquenal, não
tornando possível implementar grandes partes dele", acrescenta Amit.
"No
último ano e meio, a sociedade árabe se viu entre a cruz e a espada, no sentido
de que, por um lado, está sofrendo com as políticas do atual governo e, por
outro, está vendo seus irmãos e irmãs em Gaza e na Cisjordânia sofrendo por
causa da guerra", afirma.
Do lado
de fora das ruínas da casa da família, Mohamed Osman, de 16 anos, um dos
vizinhos, desabafou: "Todo mundo está com raiva e triste".
Ele
lembra de Shada, que tinha apenas 20 anos. "Ela estudou a vida inteira.
Queria ser a melhor. Seu pai é advogado, e ela queria ser como ele.
Todos
esses sonhos simplesmente desapareceram."
"Eles
eram a melhor imagem de uma família feliz... Quando eu os imagino, imagino os
pedaços deles que vi."
Em uma
vigília antes do funeral, dezenas de membros da comunidade se reúnem,
cumprimentam uns aos outros com apertos de mão, compartilham café e chá, e
sofrem em silêncio.
"As
bombas não escolhem entre árabes ou judeus", diz Kasem. "Precisamos
acabar com essa guerra. Precisamos acabar com ela agora."
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A usina nuclear do Irã que desafia o poderio militar dos
EUA
Uma instalação nuclear iraniana implantada em
uma região montanhosa ao sul de Teerã é o principal obstáculo à meta
autodeclarada de Israel de inviabilizar o programa de enriquecimento de urânio do Irã e impedir que o país desenvolva armas de destruição
em massa.
Desde
que lançou sua ofensiva militar, Israel conseguiu danificar os centros
nucleares de
Natanz e Isfahan, onde o regime persa acumulava altos níveis de urânio
enriquecido a 60% de pureza.
O
complexo nuclear de Fordo, porém, passou praticamente ileso, segundo reportou a
Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Foi lá que, em 2023, a agência
da ONU anunciou ter encontrado partículas de urânio enriquecido a um grau de
83,7% de pureza – próximo dos 90% necessários ao desenvolvimento de armas
nucleares.
Ao
contrário das demais instalações, acredita-se que Fordo tenha sido
construída quase 100 metros abaixo do solo, a partir de uma estrutura de
túneis usados pela elite da Guarda Revolucionária Islâmica, pilar de
sustentação do regime.
Tal
profundidade fornece uma proteção natural contra ataques aéreos israelenses.
Esse aspecto, segundo análises que circularam na imprensa, teria levado o
presidente dos EUA, Donald Trump, a reconsiderar seu nível de
envolvimento direto no
conflito.
Israel
possui armas de destruição de bunkers já usadas, por exemplo, contra alvos da
milícia libanesa Hezbollah. No entanto, seu poder explosivo é
insuficiente para um ataque a Fordo.
Acredita-se
que uma bomba antibunker americana seria a única arma capaz de alcançar o
coração do complexo e
arruiná-lo: a poderosa GBU-57. O explosivo, de 13,6 toneladas, é
capaz de penetrar até 61 metros de rocha ou 18 metros de concreto antes de
detonar.
Não há
consenso entre especialistas, no entanto, sobre a eficácia de seu uso no caso
de Fordo, já que, além de estar situada em uma profundidade superior ao alcance
da bomba, a instalação também possui uma estrutura interna reforçada com
concreto armado.
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Fordo se vale de montanha como defesa natural
Situada
em uma antiga base militar perto da cidade de Qom, Fordo foi
construída secretamente no início dos anos 2000.
A
comunidade internacional sabe das atividades operadas nas profundezas da região
montanhosa ao menos desde 2009, após a República Islâmica reconhecer sua existência.
Ao
menos 3 mil centrífugas de enriquecimento de urânio foram dispostas no
subterrâneo desde então, distribuídas em dois túneis principais. Imagens
de satélite mostram que acima da superfície há apenas um edifício de apoio e
seis entradas subterrâneas.
Embora
Fordo seja um complexo menor do que Natanz, ele é supostamente capaz de
produzir graus mais puros de urânio, o que o torna militarmente mais
significativo.
Antes
do início da ofensiva israelense, o Irã havia anunciado um plano de modernizar as estruturas
do local.
"Os
estoques de mísseis, os lançadores, as bases militares, as instalações de
produção, os cientistas nucleares, o comando e o controle militar do regime
sofreram um golpe duro", disse Behnam Ben Taleblu, diretor do programa
para o Irã da Fundação para a Defesa das Democracias (FDD), à agência de
notícias AFP.
"Mas
ainda há grandes dúvidas sobre a eficácia do ataque de Israel contra o programa
nuclear do Irã. Todos os olhos [agora] estarão voltados para Fordo",
completou.
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A bomba GBU-57
Segundo
o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, o Pentágono forneceu
opções a Trump sobre os próximos passos a serem tomados em relação ao Irã,
incluindo a disponibilidade da bomba GBU-57.
No
entanto, seu uso demandaria uma operação mais abrangente, já que o núcleo
de Fordo está muito além do alcance da bomba.
"Para
derrotar esses alvos enterrados, essas armas precisam ser projetadas com
invólucros bastante espessos de aço endurecido para atravessar as camadas
de rocha", disse Masao Dahlgren, pesquisador de defesa antimísseis do
Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), à AFP.
Devido
ao seu peso e forma de operação, o explosivo antibunker de 6,2 metros de
comprimento precisa ser lançado a 12 quilômetros de altura a partir da única
aeronave capaz de carregá-lo: o bombardeiro americano B-2.
Isto
exigiria o disparo certeiro de mais de um explosivo para de fato neutralizar a
operação nuclear no local, o que diminui a chance de sucesso de um ataque deste
tipo. Estruturas de concreto também podem barrar o avanço da GBU-57 no subsolo,
ainda que a bomba seja equipada com dispositivos de GPS.
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"Bagagem política para os EUA"
Essa
intervenção viria com "muita bagagem política para os Estados
Unidos", argumentou Taleblu, da Fundação para a Defesa das Democracias
(FDD).
Trump
até o momento tem apostado em saídas diplomáticas, ainda que cite a
possibilidade de se envolver no conflito.
Tal
operação exigiria dos EUA que invadissem o espaço aéreo iraniano. No início de
maio, imagens de satélite mostraram que o país armazenava seis aviões B-2 na
base militar de Diego Garcia, próximo às ilhas Maurício – e a uma distância
conveniente do Irã. Cada aeronave é capaz de carregar duas bombas deste tipo.
Uma
intervenção também colocaria as tropas americanas na região como alvo de uma
retaliação iraniana e poderia causar uma ampla contaminação
nuclear na região.
No
último domingo, o embaixador de Israel em Washington, Yechiel Leiter,
disse ao canal de TV americano ABC que seu país tem "várias
opções" para lidar com Fordo. Entre elas, ele elencou a
possibilidade de desembarcar no local suas próprias forças, capturar a
instalação e causar a máxima destruição em seu interior.
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A montanha que protege o programa nuclear do Irã alvo de
Israel
Um dos
pontos cruciais no atual conflito entre Israel e Irã é o futuro do programa nuclear iraniano.
O Irã afirma que tem um programa pacífico, destinado apenas a
geração de energia. Mas Israel diz que o objetivo iraniano é construir uma
bomba atômica.
Especialistas
dizem que Israel também possui tecnologia para
produzir uma bomba nuclear — algo que o governo israelense nunca confirmou.
Há
décadas, os Estados Unidos vêm negociando diplomaticamente com o Irã formas de fazer
com que o regime de Teerã desista de seu projeto nuclear.
Os ataques de Israel às instalações
nucleares do Irã abriram
a discussão sobre a possibilidade de os EUA participarem do ataque a Teerã —
acabando com o programa atômico por meios militares em vez de diplomáticos.
Mas
atingir o programa nuclear de Teerã traz um desafio logístico enorme: as principais instalações nucleares
estão enterradas em uma montanha.
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Montanha estratégica
A
instalação nuclear mais fortificada do Irã, Fordow, foi construída no interior
de uma montanha para protegê-la de um ataque.
Fordow
já foi construída estrategicamente embaixo da montanha justamente para evitar
ataques aéreos de adversários militares.
Em
1981, Israel usou caças para bombardear uma instalação nuclear perto de Bagdá
como parte de seu esforço para impedir que o Iraque adquirisse armas nucleares.
A instalação ficava na superfície, o que facilitou o bem-sucedido ataque
israelense.
"Os
iranianos entenderam perfeitamente que os israelenses tentariam invadir seus
programas e construíram Fordow dentro de uma montanha há muito tempo para
resolver o problema pós-Iraque", disse Vali Nasr, especialista em Irã e
professor da Universidade Johns Hopkins, em entrevista ao jornal americano The
New York Times.
Segundo
o jornal, ao longo de vários anos, Israel elaborou uma série de planos para
atacar Fordow usando apenas as suas próprias armas.
Em um
desses planos, que foi apresentado ao governo do então presidente Barack Obama,
helicópteros israelenses carregados com soldados voariam até o local. Os
soldados travariam batalhas para entrar na instalação nuclear iraniana e
explodi-la.
Algo
semelhante já foi feito por Israel na Síria no ano passado, quando o país
destruiu uma fábrica de mísseis do Hezbollah.
Mas
Fordow exigiria um esforço e preparo muito maior, segundo as autoridades
militares.
Outra
possibilidade que já foi estudada no passado foi a de jogar uma bomba em
Fordow. No entanto, Israel não possui nenhuma arma capaz de explodir as
instalações subterrâneas iranianas. Somente os EUA possuem armamento capaz de
tentar algo assim.
Estima-se
que o bunker onde os cientistas nucleares iranianos trabalham está enterrado no
solo muito longe do alcance das chamadas "armas antibunker" que
Israel possui.
As
armas antibunker são projetadas para destruir alvos que estão abaixo do solo.
Elas
são pesadas e, ao caírem no solo, penetram camadas de terra ou concreto e
explodem só depois de atingir a profundidade máxima.
Especialistas
militares dizem que até agora Israel teria usado armas antibunker GBU-28 com
capacidade de penetração de 6 metros.
Isso
não seria suficiente para atingir as instalações de Fordow.
A
profundidade exata do bunker onde ficam instalações nucleares iranianas é
desconhecida entre militares ocidentais.
A
montanha em si teria até 80 metros de rocha e solo — muito além do alcance das
armas israelenses.
Mas
segundo o jornal britânico Financial Times, o chefe da Agência Internacional de
Energia Atômica, Rafael Grossi, afirmou que algumas das instalações mais
sensíveis de Fordow podem estar enterradas ainda mais profundamente, a até 800
metros de profundidade.
"Já
estive lá muitas vezes", disse Grossi ao Financial Times este mês.
"Para chegar lá, você pega um túnel em espiral que desce, desce,
desce..."
"No
caso iraniano, como o Conselho de Segurança Nacional dos EUA pode ter certeza
de que conseguirá atingir tudo? Essa é a grande questão", o historiador
militar Robert Pape ao jornal britânico.
Apenas
os EUA possuem uma única arma capaz disso: a Massive Ordnance Penetrator (MOP,
ou também conhecida como GBU-57), uma bomba antibunker de 13,6 mil kg, que é
tão pesada que só pode ser lançada por bombardeiros estratégicos B2, que só os
EUA têm.
A MOP
dos EUA teria capacidade de atingir uma profundidade de 60 metros — dez vezes
mais do que as armas do tipo que Israel possui.
A MOP
funciona sem nenhum tipo de propulsor. Ou seja, ela é apenas lançada do avião,
e guiada em alta-precisão por aletas de grade, que direcionam a bomba. Depois
que ela atinge sua profundidade máxima, ela é detonada.
Por
contar apenas com a gravidade para atingir o chão, a bomba precisa ser lançada
de uma altitude muito grande. Ela também é muito pesada — e por isso precisa de
aviões especiais, como os B2 americanos.
"Para
destruir Fordow, para o qual a MOP foi explicitamente projetada, provavelmente
seriam necessárias pelo menos duas bombas, cada uma atingindo exatamente o
mesmo ponto", disse Pape ao Financial Times.
"Isso
pode ser bom, e tenho certeza de que a Força Aérea dos EUA tem as capacidades
técnicas. Mas isso nunca foi feito antes em uma guerra real."
Segundo
o New York Times, Trump estaria considerando agora o uso de bombardeiros B2
equipados com a bomba MOP para ajudar Israel a atingir o programa nuclear
iraniano.
Um
ataque militar potente contra as instalações nucleares do Irã só poderia ser
lançado pelos EUA, que possui os bombardeiros B2 e a bomba MOP.
O New
York Times diz que nos últimos dois anos militares americanos, sob
acompanhamento próximo da Casa Branca, desenvolveram uma operação para atacar
Fordow que envolveria o uso de múltiplas bombas MOP jogadas uma depois da
outra, sempre no mesmo buraco provocado pela primeira bomba.
Essa
ideia que antes era tratada apenas como um exercício militar teria ganhado
força após os ataques de Israel contra o Irã na semana passada.
¨
Como funciona a poderosa bomba dos EUA que pode destruir
instalações nucleares do Irã
Entre
as armas capazes de
atingir as instalações nucleares subterrâneas do Irã, uma permanece sem uso — e fora do
alcance de Israel por enquanto: a
GBU-57A/B, ou Massive Ordnance Penetrator (MOP, na sigla em inglês), a maior bomba "antibunker" não nuclear do
mundo, de propriedade exclusiva dos Estados Unidos.
Essa
arma de 13.600 kg, guiada com precisão, poderia penetrar no complexo
subterrâneo de enriquecimento de combustível nuclear de Fordo, no Irã, abrigado
no interior de uma montanha.
Até o
momento, os EUA não deram acesso a Israel à MOP.
Mas,
afinal, o que é esta arma, quais são os desafios — e será que ela poderia ser
usada?
De
acordo com o governo dos EUA, a GBU-57A/B é uma "arma de grande penetração
com capacidade de atacar bunkers e túneis localizados bem abaixo do solo e
reforçados".
Com
seis metros de comprimento, acredita-se que ela seja capaz de penetrar
aproximadamente 61 metros abaixo da superfície antes de explodir. Várias bombas
podem ser lançadas em sequência, perfurando efetivamente mais fundo a cada
explosão.
Fabricada
pela Boeing, a MOP nunca foi usada em combate, mas foi testada no campo de
testes de mísseis de White Sands, uma área de testes militares dos EUA no
Estado do Novo México.
Ela é
mais potente do que a Massive Ordnance Air Blast (MOAB), uma arma de 9.800 kg
conhecida como a "mãe de todas as bombas", que foi usada em combate
no Afeganistão em 2017.
"A
Força Aérea dos EUA se esforçou significativamente para criar armas de tamanho
semelhante ao da MOAB, mas com a carga explosiva contida em uma cápsula de
metal extremamente rígida. O resultado foi a GBU-57A/B, a MOP", diz Paul
Rogers, professor de estudos da paz na Universidade de Bradford, no Reino
Unido.
Atualmente,
somente o B-2 Spirit dos EUA — também conhecido como bombardeiro furtivo — está
configurado e programado para lançar a MOP. Este avião, geralmente chamado de
B-2, é produzido pela Northrop Grumman, e é uma das aeronaves de guerra mais
avançadas do arsenal da Força Aérea americana.
De
acordo com o fabricante, o B-2 pode transportar uma carga útil de 18.000 kg. No
entanto, a Força Aérea dos EUA afirmou que testou com sucesso o B-2
transportando duas bombas GBU-57A/B — um peso total de cerca de 27.200 kg.
Esse
avião bombardeiro pesado de longo alcance tem um alcance de cerca de 11.000
quilômetros sem reabastecimento, e de até 18.500 quilômetros com um
reabastecimento em voo, o que permite a ele chegar a praticamente qualquer
ponto do planeta em poucas horas, de acordo com a Northrop Grumman.
Rogers
diz que se a MOP fosse usada contra um inimigo com defesas aéreas modernas,
como o Irã, os bombardeiros B-2 provavelmente seriam acompanhados por outras
aeronaves. Por exemplo, aeronaves furtivas de ataque F-22 poderiam ser usadas
para suprimir as defesas do inimigo, seguidas por drones para avaliar os danos
e determinar se novos ataques seriam necessários.
Ele
estima que os EUA tenham um estoque limitado de bombas do tipo MOP.
"Eles
provavelmente têm um estoque operacional de talvez 10, talvez 20 bombas no
total", diz ele.
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Será que a MOP vai ser usada contra o Irã?
Fordow
é a segunda instalação de enriquecimento nuclear do Irã, depois de Natanz, a
principal.
Ela foi
construída na encosta de uma montanha perto da cidade de Qom, a cerca de 95
quilômetros a sudoeste de Teerã. Acredita-se que a construção tenha começado
por volta de 2006, e que a instalação tenha entrado em operação em 2009 — mesmo
ano em que Teerã reconheceu publicamente sua existência.
Além de
estar enterrada a cerca de 80 metros de profundidade sob rochas e solo, Fordow
é supostamente protegida por sistemas de mísseis terra-ar iranianos e russos.
Em março
de 2023, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) detectou partículas
de urânio enriquecidas com 83,7% de pureza — quase o grau de pureza necessário
para fabricação de armamento — no local.
O
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que o objetivo de atacar o Irã é eliminar seu
programa nuclear e de mísseis, que ele descreveu como "uma ameaça
existencial a Israel".
As
autoridades disseram que Fordo faz parte desse objetivo.
"Toda
essa operação... realmente tem que ser concluída com a eliminação de
Fordow", afirmou Yechiel Leiter, embaixador de Israel nos EUA, à rede Fox
News na sexta-feira (13/6).
Mas
Israel não tem a capacidade de lançar a MOP por conta própria, e os EUA não
permitiriam seu uso sem envolvimento direto, diz Rogers.
"Eles
certamente não deixariam os israelenses fazerem isso sozinhos. E Israel não tem
penetradores desse tamanho."
A
liberação dessa bomba pelos EUA vai depender, em grande parte, da sua
disposição em aumentar seu envolvimento — principalmente sob a liderança do
presidente americano, Donald Trump.
"Realmente
depende se Trump está disposto a dar o máximo para ajudar os israelenses",
acrescenta Rogers.
Na
reunião do G7 no Canadá, perguntaram a Trump o que seria necessário para que
Washington se envolvesse militarmente. Ele respondeu: "Não quero falar
sobre isso".
Em uma
entrevista recente à rede ABC News, o embaixador Leiter foi questionado sobre a
possibilidade de envolvimento americano em um ataque a Fordow. Ele disse que
Israel só pediu ajuda defensiva aos EUA.
"Temos
uma série de contingências (...) que vão nos permitir lidar com Fordow",
afirmou.
"Nem
tudo é uma questão de, você sabe como é, voar e bombardear de longe."
O Irã
sempre afirmou que seu programa nuclear é totalmente pacífico, e que nunca
procurou desenvolver uma arma nuclear.
Mas, na
semana passada, o conselho da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA),
formado por 35 nações, declarou formalmente que o Irã violou suas obrigações de
não proliferação pela primeira vez em 20 anos.
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Divisor de águas
Apesar
dos recentes ataques aéreos israelenses às instalações nucleares do Irã, Rogers
diz acreditar que é altamente improvável "que Israel tenha conseguido de
alguma forma danificar as instalações nucleares iranianas profundamente
enterradas".
"Eles
basicamente precisariam de algo como a MOP para fazer o que não podem fazer
sozinhos."
Kelsey
Davenport, diretora de políticas de não proliferação da Associação de Controle
de Armas, com sede nos EUA, diz que "enquanto Fordow permanecer
operacional, o Irã ainda representa um risco de proliferação no curto prazo.
Teerã tem a opção de aumentar o enriquecimento para níveis de grau (de pureza)
para armamento no local ou desviar o urânio para um local não declarado".
Mas
mesmo que a MOP seja usada, o sucesso não é garantido devido à profundidade e à
proteção desconhecidas das instalações iranianas, observa Rogers.
"Essa
arma em particular apresenta a melhor chance de danificar as capacidades
nucleares iranianas no subsolo do que qualquer outra arma existente no momento.
Mas se ela conseguiria fazer isso — vai saber?"
Fonte:
BBC News Mundo

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