Brasil
e Itália assinam acordo para criação de equipes permanentes de investigação
contra máfias e facções
A
Procuradoria-Geral da República (PGR) asinou nesta terça-feira (24) um acordo
de cooperação com autoridades italianas para a criação de equipes conjuntas de
investigação permanente que têm como alvo a atuação de máfias e organizações
criminosas nos dois países.
O
procurador nacional antimáfia e antiterrorismo da Itália, Giovanni Melillo,
está em São Paulo para assinar o acordo. Ele também participa do seminário
internacional “Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América
Latina: Construindo uma Agenda de Ação”, que reunirá na USP especialistas,
autoridades do sistema de justiça e lideranças políticas para debater
estratégias, legislações e cooperação internacional no enfrentamento às redes
criminosas.
Como o
g1 e a GloboNews anteciparam, a iniciativa é inédita. Nunca promotorias
firmaram um acordo para compartilhamento de informações permanente e sem prazo
para acabar. Antes, havia apenas investigações colaborativas pontuais entre as
polícias dos países.
As
tratativas para a criação desse acordo começaram no ano passado, quando
autoridades italianas convidaram procuradores brasileiros a participar das
investigações sobre o tráfico internacional de drogas da facção criminosa
Primeiro Comando da Capital (PCC) para a Europa. As informações sobre o esquema
foram reveladas pelo traficante italiano Vincenzo Pasquino preso no Brasil e
extraditado, que fez acordo de delação com a Justiça da Itália e está preso em
Roma.
Pasquino
morou na cidade de São Paulo, onde negociava com a facção criminosa. Um
documento enviado pela Direção Nacional Antimáfia e Antiterrorismo da Itália
para a Procuradoria-Geral da República em Brasília e para as procuradorias no
Rio de Janeiro e em São Paulo sobre a delação do traficante italiano mostra que
é proposto que os procuradores brasileiros realizem interrogatórios conjuntos
com o criminoso para que os dois países possam conseguir mais informações sobre
o esquema internacional de tráfico.
Segundo
o ofício encaminhado ao Brasil, as drogas saíam do país em grande quantidade
pelo mar para famílias de mafiosos na Itália.
Uma
comitiva de investigadores italianos participou de um seminário sobre segurança
pública, direitos humanos e democracia promovido pelo IREE em São Paulo (SP) em
maio. Tanto os procuradores estrangeiros quanto os brasileiros reforçaram que o
combate às máfias e ao tráfico internacional de drogas não pode funcionar sem a
cooperação entre autoridades estrangeiras.
"Na
Itália, antigamente, a cooperação se limitava na fase final (da investigação).
Hoje felizmente temos instrumentos de investigação para que possamos fazer a
intervenção ainda durante o processo. Temos resultados nas investigações com a
ajuda de brasileiros que são importantíssimos. É muito importante termos essa
cooperação”, disse Giovanni Bombardieri, procurador Distrital Antimáfia de
Turim.
"Chegar
tarde significa não atacar esse grupo criminoso", completou.
Segundo
o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que investiga o crime organizado há 21
anos, as equipes de investigação serão como forças-tarefas que envolvem
promotores, procuradores e policiais, mas a diferença é que serão permanentes.
"Interessante
que tenham equipes permanentes, com investigações aqui e lá. A princípio, o
acordo será só com a Itália, mas pode avançar para países com mais
integrantes", afirmou.
"A
maior contribuição que a Itália pode dar ao Brasil é demonstração de que, de
maneira coordenada e integrada, é possível que nós possamos criar as agências,
as equipes de investigação subordinadas a essas agências, para que todos nós
possamos combater esse fenômeno, que já foi neglicenciado há mais de três
décadas nesse país, como aconteceu na Itália", ressaltou.
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Quem é Pasquino
Pasquino
tinha posição de liderança na máfia da Calábria, a 'Ndrangheta, uma das mais
poderosas da Itália.
Nas
investigações, ele foi visto como o maior intermediário do tráfico de cocaína
da América do Sul para os clãs mafiosos da ‘Ndrangheta. Nessa atuação, além do
PCC, ele teria contato também com a facção Comando Vermelho (CV).
No
jargão do Judiciário italiano, Pasquino agora se tornou um "pentito",
um arrependido. É o equivalente, no Brasil, ao delator que fecha acordo de
delação premiada. O mafioso chegou ao Brasil em 2017, quando começou a
trabalhar com o envio de drogas para a Itália.
Primeiro
ele morou no Paraná, por cuja fronteira com países vizinhos entram grandes
carregamentos de cocaína. Depois, mudou-se para São Paulo, ponto de saída das
drogas para a Europa.
Em maio
de 2021, uma operação conjunta entre Polícia Federal, Interpol e polícia
italiana prendeu, em um flat em João Pessoa, Vincenzo e Rocco Morabito, um dos
traficantes italianos mais procurados na época.
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Vida em São Paulo
A
polícia paulista já vinha investigando o criminoso, que usava imóveis no
litoral e na capital de São Paulo.
"O
Vicenzo morou no bairro do Tatuapé. Ele tinha um apartamento e também se
utilizava de um apartamento no bairro do Morumbi e dois apartamentos no
Guarujá. Eram bases que eram utilizadas para encontros com outros
narcotraficantes, dentre eles traficantes italianos e até mesmo
albaneses", disse o delegado Fernando Santiago, do Departamento de
Investigações sobre Narcóticos (Denarc).
Vicenzo
andava acompanhado de dois seguranças albaneses. São eles que, segundo a
polícia, aparecem em imagens entrando no elevador de um dos prédios em que o
criminoso morava.
Brasil
como rota
Um
estudo feito por uma ONG dedicada ao combate do crime organizado internacional
mostra que a facção brasileira desempenha um papel logístico no tráfico
internacional ao distribuir a cocaína que é produzida na América do Sul.
Segundo
a pesquisa, o envio da droga para a Europa tem a participação da Máfia dos
Bálcãs. O estudo aponta que o estado de São Paulo, onde nasceu o PCC, está em
uma posição considerada estratégica para o tráfico, especialmente por conta do
maior porto da América do Sul.
“Mais
da metade da cocaína apreendida no país acontece no porto de Santos. Olhando só
pro porto de Santos são várias formas de embarcar a droga para que ela chegue
no continente europeu”, diz Isabela Vianna, socióloga e pesquisadora.
• Prisão, delação, portos e rotas: os
bastidores da conexão entre o PCC e a máfia italiana
A
colaboração premida do traficante italiano Vincenzo Pasquino trouxe em detalhes
as conexões entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e a máfia da Calábria
'Ndranheta, uma das mais poderosas da Europa. Aos promotores italianos, ele
revelou detalhes das relações entre a facção e os narcotraficantes italianos, a
busca por novas rotas e os interesses no Brasil após uma antiga atuação da
máfia calabresa na América do Sul.
A
partir desse caso, foi negociado um acordo entre a Procuradoria-Geral da
República (PGR) brasileira com as autoridades italianas para a criação de
equipes conjuntas de investigação permanente que têm como alvo a atuação de
máfias e organizações criminosas nos dois países. O procurador nacional
antimáfia e antiterrorismo da Itália, Giovanni Melillo, virá a São Paulo nos
dias 24 e 25 de junho para assinar o acordo, considerado inédito.
Em
entrevista à GloboNews e ao g1, o procurador distrital antimáfia de Turim
Giovanni Bombardieri, que também chefe da divisão antimáfia contra a
'Ndranheta, trouxe detalhes da delação de Pasquino e os objetivos da máfia da
Calábria na parceria com o PCC).
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Enviado 'especial'
Vincenzo
Pasquino tinha posição de liderança entre os mafiosos e foi visto, nas
investigações, como o maior intermediário do tráfico de cocaína da América do
Sul para os clãs da ‘Ndrangheta. Durante pelo menos quatro anos, ele viveu no
Paraná e em São Paulo e, nessa período, também teria contato também com a
facção Comando Vermelho (CV).
No
jargão do Judiciário italiano, Pasquino agora se tornou um "pentito",
um arrependido. É o equivalente, no Brasil, ao delator que fecha acordo de
delação premiada. O mafioso chegou ao Brasil em 2017, quando começou a
trabalhar com o envio de drogas para a Itália. Primeiro ele morou no Paraná,
por cuja fronteira com países vizinhos entram grandes carregamentos de cocaína.
Depois, mudou-se para São Paulo, ponto de saída das drogas para a Europa.
Em maio
de 2021, uma operação conjunta entre Polícia Federal, Interpol e polícia
italiana prendeu, em um flat em João Pessoa, Vincenzo e Rocco Morabito, um dos
traficantes italianos mais procurados na época.
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Vida em São Paulo
A
polícia paulista já vinha investigando o criminoso, que usava imóveis no
litoral e na capital de São Paulo.
"O
Vicenzo morou no bairro do Tatuapé. Ele tinha um apartamento e também se
utilizava de um apartamento no bairro do Morumbi e dois apartamentos no
Guarujá. Eram bases que eram utilizadas para encontros com outros
narcotraficantes, dentre eles traficantes italianos e até mesmo
albaneses", disse o delegado Fernando Santiago, do Departamento de
Investigações sobre Narcóticos (Denarc).
Vicenzo
andava acompanhado de dois seguranças albaneses. São eles que, segundo a
polícia, aparecem em imagens entrando no elevador de um dos prédios em que o
criminoso morava.
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Negócios com PCC
Bombardieri
afirmou que as conexões da 'Ndranheta com outras organizações criminosas
estrangeiras são antigas. Em 2017, Pasquino viajou ao Brasil para estreitar os
laços entre a máfia e o PCC e mudou o perfil de relacionamento para o
transporte e envio de armas e drogas para a Europa.
"O
relacionamento da ‘Ndrangheta com organizações criminosas sul-americanas vem de
longa data. O que está emergindo hoje nessas investigações e ainda está em
andamento em outras é a relação da ‘Ndrangheta com organizações criminosas
brasileiras, em especial com a PCC", diz o procurador.
"Essas
conexões emergiram das declarações de Pasquino, mas também de outros elementos
da investigação, portanto, dos contatos entre o Brasil. E a ‘Ndrangheta
italiana, que diziam respeito ao transporte, ao embarque dessa substância
narcótica da América do Sul, mas também a tentativas de embarque de armas em
favor, armas pesadas, em favor de organizações paramilitares brasileiras.
Portanto, essas conexões certamente existiram e ainda existem e são uma herança
da ‘Ndrangheta."
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Novos portos e rotas
Nesta
aproximação, a 'Ndrangheta manifestou o interesse em rotas e portos seguros
para o envio de drogas e armas.
"Pasquino
diz que a 'Ndrangheta procurou o PCC justamente para encontrar novos portos de
saída para as drogas da América do Sul. E isso preocupa, porque significam
novas rotas do tráfico internacional que dizem respeito diretamente à Itália e
que também dizem respeito às organizações criminosas italianas que operam no
Norte da Europa. O PCC garantiu essa possibilidade e iniciou uma espécie de
parceria com a 'Ndrangheta, realizando diversos carregamentos de drogas que
eram administrados em conjunto pela 'Ndrangheta e pelo PCC", reforçou o
procurador italiano.
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Delação histórica
Em
2024, Pasquino decidiu colaborar com as autoridades italianas e firmou uma
espécie de delação premiada com a Justiça. Desde então, a Procuradoria-Geral da
República (PGR) no Brasil auxilia as autoridades italianas no processo.
Giovanni
Bombardieri, que investigou Pasquino e acompanha a delação do mafioso, afirma
que é a primeira vez que um traficante ligado à 'Ndrangheta decide compartilhar
informações e dados sobre as conexões com organizações criminosas no Brasil.
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Acordo
A
Procuradoria-Geral da República (PGR) deve assinar em junho o acordo de
cooperação com autoridades italianas para a criação de equipes conjuntas de
investigação permanente que têm como alvo a atuação de máfias e organizações
criminosas nos dois países.
A
iniciativa é inédita. Nunca promotorias firmaram um acordo para
compartilhamento de informações permanente e sem prazo para acabar. Antes,
havia apenas investigações colaborativas pontuais entre as polícias dos países.
As
tratativas para a criação desse acordo começaram no ano passado, quando
autoridades italianas convidaram procuradores brasileiros a participar das
investigações sobre o tráfico internacional de drogas da facção criminosa
Primeiro Comando da Capital (PCC) para a Europa. As informações sobre o esquema
foram reveladas pelo traficante italiano Vincenzo Pasquino preso no Brasil e
extraditado, que fez acordo de delação com a Justiça da Itália e está preso em
Roma.
Uma
comitiva de investigadores italianos participaram de um seminário sobre
segurança pública, direitos humanos e democracia promovido pelo IREE em São
Paulo (SP) nesta quinta-feira (29). Tanto os procuradores estrangeiros quanto
os brasileiros reforçaram que o combate às máfias e ao tráfico internacional de
drogas não pode funcionar sem a cooperação entre autoridades estrangeiras.
"Na
Itália, antigamente, a cooperação se limitava na fase final (da investigação).
Hoje felizmente temos instrumentos de investigação para que possamos fazer a
intervenção ainda durante o processo. Temos resultados nas investigações com a
ajuda de brasileiros que são importantíssimos. É muito importante termos essa
cooperação”, disse Giovanni Bombardieri.
"Chegar
tarde significa não atacar esse grupo criminoso", completou.
Segundo
o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que investiga o crime organizado há 21
anos, as equipes de investigação serão como forças-tarefas que envolvem
promotores, procuradores e policiais, mas a diferença é que serão permanentes.
"Interessante
que tenham equipes permanentes, com investigações aqui e lá. A princípio, o
acordo será só com a Itália, mas pode avançar para países com mais
integrantes", afirmou.
"A
maior contribuição que a Itália pode dar ao Brasil é demonstração de que, de
maneira coordenada e integrada, é possível que nós possamos criar as agências,
as equipes de investigação subordinadas a essas agências, para que todos nós
possamos combater esse fenômeno, que já foi neglicenciado há mais de três
décadas nesse país, como aconteceu na Itália", ressaltou.
Fonte:
g1

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