A
‘nova’ tática eleitoral do governo Lula duela com o cansaço em relação a ele
A
“fórmula mágica” adotada pelo Planalto para manter esperanças de vitória em
2026 é basicamente retornar ao Lula do “rico contra os pobres” de uns 30 anos
atrás. É quando ele perdia eleições.
Implícita
nessa postura está a constatação, também dentro do Planalto, de que o “simples”
assistencialismo não funciona mais como fábrica de votos. Daí a “pegada” mais
agressiva, abraçada também pelo ministro da Fazenda – que está devolvendo ao
“mercado” o aberto desprezo com que vem sendo tratado nos bastidores.
Assim,
em vez de “luta de classes”, fala-se em “justiça fiscal” para explicar aumento
de impostos para empresas e classe média” – de onde se pretende extrair os tapa
buracos no orçamento público causados pela política fiscal irresponsável
(aliás, não só do Executivo). Afinal, são “ricos”, então paguem. E, se estão
reclamando, é porque nós (o governo) estamos fazendo a coisa certa.
Uma
medida de caráter descaradamente populista, como baixar a conta de luz para uma
faixa encarecendo para outra, sai envernizado de “faremos os ricos pagarem as
contas dos pobres”. Esse tom transparece nas falas de Lula na recente reunião
do G-7, descrito como uma espécie de “clube dos ricos” em contraste com o G-20,
que tem ali um certo número de países “pobres”.
O
público-alvo são as faixas de renda de até dois salários mínimos, nas quais
Lula costumava manter sólida vantagem eleitoral sobretudo no Nordeste. É nesse
segmento que políticas de assistência social têm funcionado menos, mas é onde
se espera que a tática do “ricos contra pobres” produza algum tipo de
galvanização.
Ocorre
que o grande problema é exatamente o eixo central em torno do qual tudo gira:
Lula. É impossível para os estrategistas no Planalto admitirem que na erosão
estrutural da imagem do presidente reside seu maior obstáculo. O que se
cristaliza em largas parcelas do eleitorado é a percepção de um governo
inoperante, sem liderança efetiva, sem uma mensagem clara.
E empenhado
agora em ampliar a exposição de Lula, o que equivale a insistir numa tática que
as pesquisas demonstram não estar funcionando – Lula aumentou o tempo de
palanque, mas os números a favor não subiram. É insistir no enredo e formato da
época em que uma novela parava o País, quando agora o “streaming” está
substituindo a novela – também nas faixas mais pobres.
É
difuso porém extraordinariamente poderoso o tipo de sentimento que está se
sedimentando em relação a Lula e seu governo. Chama-se cansaço. Para combate-lo
estão vestindo o velho personagem com as roupas empoeiradas de antigamente. Até
isso cansa.
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Centrão articula ruptura com Lula e mira 2026
Partidos
de centro-direita que ocupam ministérios e outros cargos de destaque no
primeiro escalão articulam uma estratégia para deixar o governo Lula
“sangrando” até as eleições. Empenhados em construir uma candidatura única ao
Palácio do Planalto, dirigentes do Centrão flertam com o governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e se movimentam para montar um bloco
de atuação no Congresso que sinalize para a disputa de 2026.
A
iniciativa é liderada pelos presidentes do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e do
União Brasil, Antônio Rueda. No fim de abril, os dois partidos se uniram numa
federação e, com o casamento, formaram uma bancada de 109 deputados – a maior
da Câmara – e 14 senadores.
Nesta
segunda-feira, 16, mesmo dia em que o presidente Lula sofreu uma derrota na
Câmara ao ver aprovado o requerimento de urgência contra decreto que aumenta o
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), Ciro procurou os presidentes do
Republicanos, Marcos Pereira, e do MDB, Baleia Rossi, para uma conversa
reservada.
Ex-ministro
da Casa Civil na gestão de Jair Bolsonaro (PL), Ciro está costurando um acordo
para que partidos da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) combinem
os próximos passos como se estivessem na oposição.
O
movimento político capitaneado pelo Centrão é para mostrar ao Planalto que o
processo de divórcio litigioso está em curso e deve ser assinado ainda no
primeiro semestre do ano que vem.
Na
prática, o sinal de insatisfação dado pela Câmara ao decidir acelerar a votação
destinada a barrar o decreto de Lula que aumenta alíquotas do IOF não foi
apenas por causa do atraso na liberação das emendas parlamentares.
Desde
que pesquisas começaram a indicar a queda da popularidade do presidente,
deputados e senadores dizem que o café de Lula já esfriou. Em outras palavras:
para eles, o PT não representa mais uma expectativa de poder.
A
portas fechadas, Ciro Nogueira avalia que o PP, o União Brasil, o Republicanos
e o MDB também precisam se unir para formar uma rede de proteção em torno do
presidente da Câmara, Hugo Motta (PI). O deputado é muito ligado ao senador.
Filiado
ao Republicanos, a exemplo de Tarcísio, Motta tem sido pressionado pelo
Planalto a ajudar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nas articulações para
aprovar medidas que aumentam a arrecadação federal. Na outra ponta, seus pares
do Centrão querem ver o governo nas cordas para derrotar Lula, em 2026.
Após o
recesso parlamentar de julho, a ordem é também investir na Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. A abertura da CPMI, que teve o requerimento
de criação lido nesta terça-feira, 17, pelo presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (União Brasil), significa mais um revés para Lula.
• Lula diz que será "candidato para
ganhar" se disputar eleições em 2026
Na
segunda participação no podcast Mano a Mano, do rapper Mano Brown e com a
jornalista Semayat Oliveira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou
durante duas horas sobre política, economia, redes sociais e os rumos do país.
O episódio foi gravado no último dia 15 e publicado nesta quinta-feira (19/6).
Ao longo da entrevista, Lula reconheceu falhas na comunicação do governo,
criticou a atuação das polícias nas periferias e não descartou disputar um novo
mandato em 2026.
Durante
a conversa , Lula disse que se estiver com a saúde e a disposição que está
hoje, vai entrar na disputa para ganhar. “Eu vejo a extrema direita falando em
Tarcísio, em Ratinho e em Caiado. Eles podem falar em quem quiserem, mas
qualquer um terá que fazer mais do que eu.”
Lula
disse ainda que sua gestão tem enfrentado obstáculos herdados do governo
anterior, como o “orçamento secreto”, que segundo ele ainda não foi possível
extinguir por falta de maioria no Congresso Nacional. “Já as emendas
parlamentares, nós conseguimos um acordo para que elas sejam direcionadas aos
projetos do governo.”
O
presidente comentou os indicadores econômicos positivos do governo, como a
queda no desemprego e o crescimento da indústria, mas admitiu que os efeitos
ainda não chegaram à população. “O PIB da indústria cresceu, o emprego cresceu,
mas isso não está chegando à população. Por isso que eu troquei a nossa
comunicação. Agora a gente tem que baixar o preço do ovo, do café, para que os
resultados do governo cheguem à mesa da população.”
Ele
ainda abordou o escândalo dos descontos indevidos em benefícios do Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS), reconhecendo o impacto negativo na imagem do
governo. Ele, no entanto, creditou à própria gestão o avanço das investigações
que levaram à Operação Sem Desconto, da Polícia Federal. Segundo as
investigações do Ministério Público, os descontos indevidos começaram em 2018 e
se intensificaram na gestão de Lula em 2023.
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Regulamentação das redes
Sobre o
ambiente digital, Lula disse acreditar que a regulamentação das redes sociais
deve partir do Supremo Tribunal Federal. “O Congresso é mais vulnerável à
pressão das empresas do setor”, avaliou. Ele também expressou receio quanto ao
uso de novas tecnologias nas eleições. Dizendo estar “ muito preocupado” com o
uso da inteligência artificial nas eleições de 2026, ressaltando que combater
as distorções causadas pelo mau uso da IA deve ser prioridade da sociedade.
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Combustíveis fósseis
Em
outro momento da conversa, Lula comentou sobre a dependência mundial do
petróleo. “Sou muito realista, o mundo não está preparado para viver sem
petróleo”, disse, embora tenha reforçado seu apoio à transição energética.
Questionado
sobre os desafios do início do mandato, Lula comparou a situação do Brasil ao
cenário de destruição no Oriente Médio. “De vez em quando eu olho para a
destruição na Faixa de Gaza e fico imaginando o Brasil que nós encontramos”,
afirmou. Para ele, o governo anterior promoveu uma “destruição”.
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Lula defende aumento do IOF como forma de financiar gastos públicos
O
presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu, nesta
quinta-feira (19), a proposta do governo federal de promover mudanças nas
regras do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), incluindo o aumento das
alíquotas cobradas atualmente.
“O IOF
do Haddad [ministro da Fazenda], não tem nada demais”, disse Lula ao participar
do podcast Mano a Mano, apresentado pelo músico e compositor Mano Brown e pela
jornalista Semayat Oliveira, e disponibilizado nesta quinta-feira (19).
“O
Haddad quer que as bets paguem [mais] imposto de renda; que as fintechs paguem;
que os bancos paguem. Só um pouquinho, para a gente poder fazer a compensação,
porque toda vez que a gente vai ultrapassar o arcabouço fiscal, temos que
cortar no Orçamento”, acrescentou o presidente, admitindo que o aumento do IOF
“é um pouco para fazer esta compensação” e evitar cortes orçamentários.
As
declarações do presidente ocorrem em meio à forte resistência do Congresso
Nacional a alterações no IOF. Na última segunda-feira (16), a Câmara dos
Deputados aprovou, por 346 votos a 97, a urgência para a tramitação do projeto legislativo
(PDL 314/25) que trata da possível suspensão dos efeitos do recente decreto do
governo federal sobre mudanças nas regras do IOF.
“A
gente quer fazer justiça tributária. Queremos que as pessoas que ganham mais,
paguem mais [impostos]. Que quem ganha menos, pague menos. E que as pessoas
vulneráveis não paguem impostos”, declarou o presidente.
A
aprovação da urgência permite que o Plenário da Câmara dos Deputados vote o
decreto do governo sem que este seja discutido nas comissões parlamentares. O
decreto do governo foi apresentado no último dia 11, junto com uma Medida
Provisória também relacionada ao IOF.
Com uma
proposta de corte de gastos, as duas recentes medidas foram anunciadas como uma
forma do governo recalibrar proposta anterior, de 22 de maio – quando a equipe
econômica anunciou o contingenciamento de R$ 31,3 bilhões do Orçamento Geral da
União a fim de assegurar o cumprimento da meta fiscal estabelecida na Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO). Na ocasião, o governo propôs elevar a alíquota
de várias operações financeiras, incluindo o IOF, mas recuou no mesmo dia,
diante das críticas de empresários e parlamentares, incluindo alguns da própria
base governista.
• Datafolha: Petistas recuam,
bolsonaristas crescem, e grupos têm empate inédito
Uma
pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (19) apontou um empate inédito
entre apoiadores do petista Luiz Inácio Lula da Silva e seu antecessor na
Presidência da República, Jair Bolsonaro (PL). O levantamento identificou, pela
primeira vez na série histórica, iniciada em dezembro de 2022, que 35% dos
brasileiros dizem se identificar com o atual presidente e os outros 35%, com o
adversário político.
O grupo
que se considera mais próximo de Lula recuou de 39% para 35% desde o
levantamento anterior, realizado em abril. O Datafolha apontou que, no mesmo
período, os entrevistados que dizem apoiar Bolsonaro foram de 31% a 35%. Foi a
primeira vez que os dados variaram no limite máximo da margem de erro, de dois
pontos percentuais, o que indica um crescimento real, diz o instituto.
Nos
últimos dois anos e meio, desde que Lula venceu o pleito contra Bolsonaro e
chegou ao terceiro mandato na Presidência, o Datafolha passou a estimar a
porção de brasileiros que apoia um ou o outro. A vantagem máxima de petistas
sobre bolsonaristas foi de dez pontos percentuais, em março de 2023 e março de
2024. Nas demais sondagens, a diferença ficou entre seis e oito pontos até
chegar ao empate inédito na última semana.
Até os
resultados de ontem, foram realizadas nove sondagens com a pergunta:
"Considerando uma escala de um (bolsonarista) a cinco (petista), em qual
número você se encaixa?".
De
acordo com o Datafolha, os entrevistados que responderam "um" ou
"dois" foram classificados como bolsonaristas; e aqueles que disseram
"quatro" ou "cinco", como petistas. Os grupos polarizados
somam, ao todo, 70% da população, aponta o instituto.
Os 30%
restantes se dividem entre o grupo que respondeu "três", considerados
neutros; 7% que afirmaram não se identificar com nenhum dos lados; e outros 2%
que não souberam responder. Tais percentuais se mantiveram estáveis ao longo da
série histórica.
A
pesquisa foi realizada presencialmente entre 10 e 11 de junho — durante e
depois dos interrogatórios conduzidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal
Alexandre de Moraes no bojo das investigações sobre uma tentativa de golpe
contra Lula em 2022. Foram ouvidas 2.004 pessoas em 136 municípios de todas as
regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
O recuo
na porção de entrevistados que se dizem petistas acompanha a queda de
popularidade de Lula. O cenário adverso que o presidente enfrenta nas pesquisas
é praticamente idêntico ao que Jair Bolsonaro encarava no mesmo momento do
mandato, em 2021. A pouco menos de um ano e meio das respectivas tentativas de
reeleição, ambos tinham 57% de desaprovação nos levantamentos da Quaest, além
de números parecidos no Ipsos-Ipec e no Datafolha (o instituto apontou na
semana passada que 40% avaliam o atual governo como ruim ou péssimo e 28%, bom
ou ótimo).
Naquele
ano, Bolsonaro lidava com a pandemia de Covid-19. Em abril, havia sido
instaurada a CPI para investigar as supostas omissões do governo na gestão da
crise sanitária. Agora, Lula vê o episódio do INSS, que também pode virar CPI,
minar os indicativos de melhora no desempenho que pesquisas internas começavam
a indicar, baseadas no arrefecimento do pessimismo econômico.
Fonte:
Agencia Estado/Agencia Brasil/Agencia O Globo

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