terça-feira, 11 de março de 2025

'Trump pensa como Putin': estamos testemunhando o fim da 'ordem mundial liberal'?

Nos três anos desde a invasão em larga escala à Ucrânia, os Estados Unidos e seus aliados trataram a Rússia como um pária, acusada de violar o direito internacional.

Mas o presidente Donald Trump virou as coisas de cabeça para baixo: ele está restabelecendo relações com Moscou, recusando-se a culpar a Rússia ou declarar a Ucrânia a vítima na guerra.

Para alguns, parece que a "ordem mundial liberal", com suas raízes na década de 1990, está dando seus últimos suspiros.

A BBC Rússia busca um diagnóstico com especialistas em relações internacionais.

<><> A era da hegemonia liberal

Falando no Castelo Real de Varsóvia em fevereiro de 2023, o então presidente dos EUA, Joe Biden, descreveu a guerra na Ucrânia como uma "grande batalha pela liberdade" travada entre a ordem baseada em regras e uma ordem baseada no poder bruto.

Ao invadir a Ucrânia em 2022, a Rússia não apenas violou o direito internacional aos olhos da maioria das nações, mas também lançou o desafio a uma forma de conduzir os assuntos globais ancorada pelos Estados Unidos.

O termo "ordem mundial liberal" encapsula um sistema de relações internacionais construído com base em compromissos, princípios e normas. Em seu cerne estão o direito internacional e instituições como as Nações Unidas (ONU), sua Assembleia Geral e o Conselho de Segurança.

A Carta das Nações Unidas estabelece princípios fundamentais que regem as relações entre os países, incluindo o respeito à soberania e à integridade territorial, a resolução pacífica de disputas e a rejeição do uso da força.

Ela também consagra os direitos humanos. Cada Estado-membro da ONU — há 193 no total — está vinculado a esses princípios.

A ordem mundial liberal também é pautada por um conjunto específico de valores, como o livre comércio, defendido por instituições como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Por trás de tudo isso, há a crença ideológica de que a democracia liberal ocidental representa o melhor modelo de governo.

A década de 1990 testemunhou o florescimento desses ideais, à medida que dezenas de nações adotaram reformas de mercado e, pelo menos em teoria, governança democrática.

Enquanto muitos apenas prestavam homenagem aos valores liberais, muitas nações em desenvolvimento se beneficiaram economicamente do acesso aos mercados globais — o produto interno bruto (PIB) da China, por exemplo, cresceu em média 9% ao ano por uma década, enquanto Irlanda, Índia, Coreia do Sul, Argentina, Chile e outros também prosperaram.

Nesse período, também houve a resolução de vários conflitos violentos e de longa data, incluindo a luta de décadas entre os separatistas bascos e o Estado espanhol; conflitos na Irlanda do Norte; a guerra da Eritreia pela independência; e a guerra civil no Líbano.

Muitas dessas disputas estavam direta ou indiretamente ligadas à rivalidade da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética.

À medida que a Guerra Fria chegava ao fim, os EUA emergiram como a única superpotência do mundo, frequentemente atuando como mediador em conflitos internacionais.

Entre 1990 e 2015, mais de 1.100 acordos de paz foram concluídos.

Violações do direito internacional podem ser oficialmente designadas por meio de resoluções da Assembleia Geral da ONU ou decisões do Tribunal Internacional de Justiça.

O Conselho de Segurança da ONU pode então impor sanções econômicas ou, em casos extremos, autorizar ações militares.

Na prática, sanções e intervenções militares são frequentemente realizadas sem a aprovação da ONU — algo que a Rússia critica há muito tempo.

No entanto, desde a guerra russo-georgiana de 2008, a Rússia também empregou força militar sem autorização da ONU.

Da perspectiva ocidental, a ofensiva de Putin contra a Ucrânia representa a violação mais flagrante desde a Guerra Fria desta ordem mundial baseada em regras.

"Nós realmente vimos três tipos de princípios radicais de ordem que foram violados", disse G. John Ikenberry, professor de política e relações internacionais na Universidade de Princeton, ao jornal Financial Times.

"Um é que você não usa a força para mudar fronteiras territoriais. Dois, você não usa violência contra civis como um instrumento de guerra. E três, você não ameaça usar armas nucleares. E Putin fez os dois primeiros e ameaçou o terceiro. Então, esta é uma verdadeira crise para a ordem baseada em regras."

Em resposta às acusações ocidentais, a diplomacia russa fez da crítica à ordem liberal um dos seus temas favoritos.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, argumenta que a abordagem ocidental não tem consideração pelo direito internacional e pelas instituições da ONU, oferecendo no lugar meras regras arbitrárias que não têm qualquer base em tratados.

Moscou frequentemente aponta para o bombardeio da Iugoslávia pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em 1999; a invasão do Iraque liderada pelos EUA em 2003; e o reconhecimento da independência do Kosovo em 2008 como exemplos de ações ocidentais tomadas sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU — violações, argumenta a Rússia, dos próprios princípios consagrados na Carta da ONU.

Um dos maiores testes contemporâneos da ordem mundial liberal foi a posição de Washington sobre o conflito Israel-Hamas.

Muitos países criticaram duramente o governo Biden por seu apoio militar a Israel, acusando Washington de indiferença às mortes de dezenas de milhares de palestinos.

"É claramente hipocrisia, um padrão duplo", disse Numan Kurtulmus, o presidente do parlamento da Turquia, em uma entrevista ao Washington Post.

"É um tipo de racismo, porque se você não aceita as vítimas palestinas como iguais às vítimas ucranianas, significa que você quer criar um tipo de hierarquia dentro da humanidade. Isso é inaceitável."

Ikenberry reconhece que a ordem mundial liberal "estava muito ligada aos Estados Unidos, ao dólar americano, à economia dos EUA".

"Era a Otan e as alianças, mais do que o Conselho de Segurança da ONU", disse o professor.

Em suma, ele diz, pode-se pensar nisso como a "hegemonia liberal" dos Estados Unidos da América.

<><> EUA: de detentor da ordem a disruptor

Os países que buscam desafiar a ordem internacional vigente são tradicionalmente rotulados como potências revisionistas.

Políticos e analistas dos EUA há muito tempo aplicam esse termo à China e à Rússia, argumentando que ambas as nações buscam diminuir a influência americana no cenário global.

A competição com tais potências revisionistas foi identificada como uma das maiores ameaças à prosperidade americana em um importante documento de segurança nacional adotado no primeiro mandato de Trump.

"A China e a Rússia querem moldar um mundo consistente com seu modelo autoritário — ganhando poder de veto sobre as decisões econômicas, diplomáticas e de segurança de outras nações", declarou a Estratégia de Defesa Nacional.

Mas, nos últimos meses, diz o professor Ikenberry, são os próprios Estados Unidos que se tornaram a principal potência revisionista do mundo.

Segundo ele, o governo Trump está trabalhando para desmantelar "quase todos os elementos da ordem mundial liberal — comércio, alianças, migração, multilateralismo, solidariedade entre democracias, direitos humanos".

"Meu governo está rompendo decisivamente com as falhas de política externa do governo anterior e, francamente, do passado", já afirmou Trump.

Ao contrário de outras mudanças radicais introduzidas por sua equipe, a mudança será especialmente difícil para o Congresso e o judiciário bloquearem, já que a política externa está diretamente sob a autoridade do presidente.

Em janeiro, o secretário de Estado, Marco Rubio, atacou aqueles que pensam que a ordem mundial liberal poderia substituir uma política externa centrada em interesses nacionais.

"Isso não era apenas uma fantasia; era uma ilusão perigosa", disse Rubio em um discurso ao Senado.

É precisamente destacando o interesse dos EUA que o governo Trump justificou a reaproximação com a Rússia.

"Acreditamos que o conflito contínuo é ruim para a Rússia, ruim para a Ucrânia e ruim para a Europa. Mas o mais importante, é ruim para os Estados Unidos", escreveu o vice-presidente, J.D. Vance, na rede social X.

Em seu discurso de posse em janeiro, Trump prometeu restaurar o status dos EUA como a nação mais poderosa do mundo, recuperar o controle sobre o Canal do Panamá e até mesmo expandir o território dos Estados Unidos.

A revolução diplomática de Trump continua sendo sua política menos popular, no entanto.

Uma pesquisa recente mostrou que os americanos gostam de suas políticas de imigração acima de tudo, enquanto sua posição sobre a guerra na Ucrânia e o conflito Israel-Hamas recebe o menor apoio.

Enquanto isso, mais de dois terços consideram a Ucrânia um Estado aliado ou amigável, com quase metade mostrando uma avaliação favorável ao presidente Volodymyr Zelensky.

<><> A convulsão diplomática de Trump

"A partir de fevereiro de 2025, são os Estados Unidos que ameaçam derrubar essa ordem baseada em regras", afirma Julie Newton, pesquisadora do Centro de Estudos Russos e Eurasianos da Universidade de Oxford.

Como evidência, ela aponta as demandas de Trump por controle sobre recursos minerais da Ucrânia; a aparente normalização das relações com a Rússia; o apoio de seus aliados a partidos da direita radical na Europa; e os ataques públicos do presidente americano a Zelensky.

Na sexta-feira (28/02), a tensão entre Trump e Zelensky se revelou em bate-boca durante encontro na Casa Branca, no qual o americano afirmou que o presidente ucraniano estava "jogando" com a terceira guerra mundial.

Em 24 de fevereiro, data que marcou o terceiro ano da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, os Estados Unidos votaram contra uma resolução na Assembleia Geral da ONU condenando a ofensiva russa e sua ocupação do território ucraniano.

No lugar disso, diplomatas americanos propuseram uma declaração mais branda, "lamentando a trágica perda de vidas durante o conflito entre Federação Russa-Ucrânia".

Enquanto isso, Trump anunciou que estava negociando com Putin a restauração dos laços econômicos entre Washington e Moscou.

"Seja este momento semelhante a um novo Acordo de Munique ou, talvez, a um novo Pacto Molotov-Ribbentrop", acrescentou Newton, "a revolução diplomática de Trump está destruindo os princípios da Carta de Helsinque e posicionando os EUA como um adversário aos olhos de seus próprios aliados".

Os Acordos de Helsinque de 1975 foram tratados entre os Estados Unidos, a União Soviética e as nações da Europa com o objetivo de reforçar os princípios de integridade territorial, a inviolabilidade das fronteiras e a não interferência nos assuntos internos uns dos outros.

"Trump pensa como Putin — como um imperialista do século 19", diz Sergey Radchenko, especialista em Rússia na Universidade Johns Hopkins.

Ele compara a situação atual à Conferência de Yalta de 1945, quando os EUA, a Uniião Soviética e o Reino Unido dividiram a Europa em esferas de influência após a Segunda Guerra Mundial.

Mas, enquanto grande parte da Europa estava em ruínas naquele momento, hoje se trata do conjunto de algumas das nações mais ricas do mundo, incluindo duas potências nucleares.

"A Europa tem força econômica significativa e as ferramentas financeiras para pressionar a Rússia", observa Radchenko.

"Não importa quão longe Trump levar seu diálogo com Putin, é difícil imaginar países europeus normalizando relações com a Rússia em paralelo."

É muito cedo para declarar o fim da ordem mundial liberal, de acordo com Shelby Magid, da organização Atlantic Council.

As sanções dos EUA à Rússia ainda estão em vigor e o governo Trump sugeriu que elas só serão suspensas se a Rússia encerrar a guerra na Ucrânia.

"Concordo que há um risco de normalização prematura e perigosa, mas ainda não chegamos lá", afirma Magid.

"No final das contas, o impacto duradouro na ordem mundial será determinado mais por como a guerra terminar e a paz for imposta, do que pelo caminho para esse resultado."

¨      Europa consegue deter a Rússia sem os EUA?

Donald Trump parece ter mais confiança na capacidade das forças armadas britânicas do que alguns dos próprios generais do país — ou, para ser mais preciso, muitos dos altos escalões militares aposentados.

Quando questionado durante recente entrevista coletiva ao lado primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, sobre as garantias de segurança dos EUA para a Ucrânia, Trump disse: "Os britânicos têm soldados incríveis, militares incríveis, e eles podem cuidar de si mesmos."

Na segunda-feira (03/03), a Casa Branca confirmou que os EUA vão pausar a ajuda militar à Ucrânia, que há três anos está em guerra após invasão da Rússia. Com isso, o papel dos britânicos e europeus terá de ser aumentado no esforço de apoio à Ucrânia.

Na entrevista coletiva com Starmer, o presidente dos Estados Unidos deixou no ar a questão sobre se os militares do Reino Unido poderiam de fato enfrentar a Rússia.

Em público, altos oficiais militares dos EUA são rápidos em elogiar o profissionalismo das forças armadas britânicas.

Mas, em particular, eles costumam criticar muito os cortes recentes no orçamento de defesa, especialmente no Exército Britânico, que agora tem pouco mais de 70 mil soldados regulares.

"Muito pequeno." Essa foi a frase de um general americano sênior durante uma reunião privada em uma visita ao Reino Unido.

De acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, os gastos militares da Rússia agora são maiores do que os gastos totais com defesa de toda a Europa, em termos de poder de paridade de compra.

Os gastos russos aumentaram 41% e agora são equivalentes a 6,7% do PIB (Produto Interno Bruto) do país.

Em contraste, o Reino Unido gastará apenas 2,5% do PIB com defesa até 2027.

Os comentários do presidente Trump ressaltam o fato de que ele não pensa em colocar tropas americanas para operar no solo da Ucrânia para garantir um cessar-fogo.

Qualquer presença dos EUA no país será com fins econômicos, para explorar interesses de mineração.

O presidente americano sugere que isso, por si só, pode ser um impedimento para a Rússia atacar novamente.

Mas até mesmo o governo dele acha que deve haver alguma demonstração de poder duro também — fornecida por outros.

Caberá então às nações europeias fazer isso.

E a questão não é apenas se a Europa tem vontade de assumir esse papel: será que ela também tem números suficientes?

A resposta curta é não.

E dados do Instituto Kiel, um think tank alemão, detalham porque a Europa não teria condições de enfrentar a Rússia sem ajuda dos EUA.

Entre 2022 e 2024, todos os países europeus forneceram US$ 69 bilhões em ajuda militar à Ucrânia — o equivalente a quase o total fornecido pelos EUA (US$ 67 bilhões). Ou seja: cada país europeu precisaria dobrar sua contribuição para preencher o vácuo deixado pelos EUA.

Em termos de munição, os EUA forneceram 4,5 milhões cartuchos à Ucrânia, contra apenas 1 milhão da Europa. Os europeus prometeram aumentar essa contribuição para 2 milhões, mas especialistas de segurança questionam se isso é mesmo possível.

Dentro da aliança millitar Otan, os EUA custeiam 64% dos gastos, contra apenas 36% do resto da Europa.

É por isso que Keir Starmer, o primeiro-ministro do Reino Unido, tem pressionado por garantias adicionais de segurança dos EUA, que detêm as forças armadas mais poderosas do mundo.

A Grã-Bretanha não está sozinha no movimento de cortar o investimento nas forças armadas após o fim da Guerra Fria.

Mas essa tendência começa a ser lentamente revertida na Europa, com cada vez mais nações ampliando os gastos com defesa.

E parte desse processo entrou em discussão neste domingo (2/3) em Londres, quando líderes de diversas nações europeias se reuniram para discutir o que fazer na guerra da Ucrânia e como garantir um tratado de paz (entenda mais abaixo).

Mas a Europa, por si só, não seria capaz de fornecer uma força de 100 mil a 200 mil soldados internacionais, que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky sugere que seriam necessárias para impedir um novo ataque da Rússia.

Em vez disso, autoridades do continente dizem pensar em uma força de até 30 mil soldados. Jatos e navios de guerra europeus também ajudariam a monitorar o espaço aéreo e as rotas de navegação da Ucrânia.

Essa força estaria focada em fornecer "segurança" em locais-chave — cidades, portos e usinas nucleares da Ucrânia.

Ela não seria colocada em nenhum lugar perto das atuais linhas de frente no leste da Ucrânia.

Jatos de caça e navios de guerra europeus monitorariam o espaço aéreo e as rotas de navegação da Ucrânia.

Mas essas mesmas autoridades reconhecem que esse contigente não seria suficiente, daí os apelos por uma espécie de garantia dos EUA — para "ter a confiança de que quaisquer forças que sejam mobilizadas não serão desafiadas pela Rússia" e "dar ao primeiro-ministro [do Reino Unido] a confiança de que ele pode mobilizar forças britânicas com segurança".

As autoridades acreditam que, no mínimo, os EUA poderiam fornecer supervisão a quaisquer forças europeias com um "elemento de comando e controle" e caças americanos prontos para responder a partir de bases aéreas localizadas na Polônia e Romênia.

A Europa não pode igualar as capacidades de vigilância ou coleta de inteligência dos EUA.

Mas ela poderia concordar em continuar a fornecer armas à Ucrânia.

Embora a Europa tenha ultrapassado recentemente os EUA em termos da proporção de armas fornecidas à Ucrânia, uma fonte garante que os EUA forneceram "o melhor" equipamento — como mísseis de longo alcance e sistemas de defesa aérea.

As nações europeias também não têm os meios necessários para conduzir operações militares em larga escala por conta própria.

O fornecimento de armas à Ucrânia depende da logística dos EUA.

A campanha de bombardeio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) sobre a Líbia em 2011 destacou deficiências do acordo — quando nações europeias supostamente assumiram a liderança da operação, mas se mostraram dependentes do apoio dos EUA.

Na ocasião, aliados precisaram de petroleiros de reabastecimento e sistemas que pertencem aos EUA.

Mas Keir Starmer parece ter deixado Washington na semana passada sem nenhuma garantia de apoio militar dos EUA.

Numa entrevista à BBC neste domingo (2/3), o Secretário de Saúde do Reino Unido, Wes Streeting, sugeriu que o novo compromisso de Donald Trump com o Artigo 5 da Otan — pelo qual um ataque a um aliado seria interpretado como um ataque a todos — poderia ser suficiente para uma ação americana mais contundente.

Mas o Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, declarou anteriormente que quaisquer tropas internacionais enviadas à Ucrânia não representarão uma força da Otan, nem serão cobertas pelo tratado.

No momento, não há nenhuma garantia de segurança no estilo da Otan em relação ao conflito na Ucrânia.

A força de vontade da Europa é testada neste exato momento.

O primeiro-ministro, que convocou a reunião de líderes europeus neste fim de semana, logo descobrirá se as palavras calorosas de Donald Trump são suficientes para convencer outros a se juntarem ao Reino Unido em eventuais operações militares.

A França é a única outra grande potência europeia que até agora parece estar disposta a fazer o mesmo.

Algumas nações do norte da Europa — Dinamarca, Suécia e os Estados bálticos — também estão abertas a considerar um compromisso do tipo, mas novamente gostariam de garantias de segurança dos EUA.

Espanha, Itália e Alemanha por enquanto fazem oposição a uma ação dessas.

Starmer pode ainda acreditar que há espaço para negociação, que os EUA ainda podem estar dispostos a apoiar uma força europeia.

Mas e quanto à pergunta de Donald Trump? O Reino Unido seria capaz de enfrentar o exército russo?

Mesmo que as forças russas tenham sido enfraquecidas, a resposta é não.

<><> 'Estamos numa encruzilhada da História hoje'

Logo após a reunião com os líderes europeus, do Canadá e da Turquia no domingo, Starmer concedeu uma entrevista coletiva em que detalhou um plano de ajuda à Ucrânia.

O primeiro-ministro disse que cada nação deve contribuir da melhor maneira possível, e todos devem aumentar a parcela de responsabilidade que assumiram.

Starmer detalhou que os líderes concordaram com quatro passos importantes durante a cúpula:

Manter a ajuda militar para a Ucrânia enquanto a guerra estiver em andamento e aumentar a pressão econômica sobre a Rússia;

Qualquer paz duradoura deve garantir a soberania e a segurança da Ucrânia, e a Ucrânia deve estar à mesa para quaisquer negociações de paz;

No caso de um acordo de paz, os líderes europeus tentarão impedir qualquer invasão futura da Rússia na Ucrânia;

Haverá uma "coalizão dos dispostos" para defender a Ucrânia e garantir a paz no país. Starmer detalhou que esse grupo pode incluir aliados de fora da Europa.

Starmer afirmou que o planejamento das ações será intensificado agora, diante da urgência dos fatos.

Ele também reafirmou o compromisso do Reino Unido em apoiar a Ucrânia com "botas no chão e aviões no ar".

"A Europa deve fazer o trabalho pesado", ele declarou.

Mas Starmer reforçou que um acordo precisa do apoio dos EUA.

"Deixe-me esclarecer, concordamos com Trump sobre a necessidade urgente de uma paz duradoura. Agora precisamos entregar [isso] juntos."

Starmer ainda declarou que, durante a cúpula, os líderes concordaram em se reunir novamente em breve para "manter o ritmo por trás das ações" e continuar a trabalhar em direção a um plano compartilhado.

"Estamos em uma encruzilhada na História", disse Starmer.

"Este não é um momento para mais conversas. É hora de agir e nos unir em torno de um novo plano para uma paz justa e duradoura", concluiu ele.

 

Fonte: BBC News Rússia

 

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