segunda-feira, 10 de março de 2025

Trump dá início a uma nova era de imperialismo?

Apenas no primeiro mês após voltar para a Casa Branca, Donald Trump prometeu comprar a Groenlândia, anexar o Canal do Panamá, tornar o Canadá o 51º estado americano e tomar o controle de Gaza para transformar a região na "Riviera do Oriente Médio". Ainda não está claro se ele pretende mesmo seguir em frente com todos esses planos. Mas a presença cada vez mais comum dessa retórica nos discursos do presidente americano tem levado analistas a especularem sobre o início de uma nova era de imperialismo no mundo. Essa visão foi apenas reforçada pelo primeiro discurso de Trump no Congresso nesta terça-feira (5/3). Além de falar sobre suas ambições territoriais, o republicano deixou mais uma vez claro que o maior objetivo de seu governo é "tornar a América grande novamente".

Trump também voltou a falar da implementação de tarifas comerciais para proteger a economia e os trabalhadores americanos e das negociações de paz entre Rússia e Ucrânia — tudo isso após protagonizar um bate-boca público com Volodymyr Zelensky durante uma reunião na Casa Branca. "O sonho americano é imparável", disse Trump no mais longo discurso presidencial já registrado no Capitólio, com uma hora e 40 minutos.

Para Jennifer Mittelstadt, professora da Universidade Rutgers, as ameaças e o estilo colérico da política externa de Trump podem abrir caminhos para que outros países cujos líderes também apresentam tendências imperialistas — como China e Rússia — tomem o controle de territórios disputados ou que estão em sua mira há tempos.

"O momento que estamos vivendo me lembra outra época instável: aquela após 1919", diz a historiadora sobre o período marcado pelo fim da 1ª Guerra Mundial e a assinatura do Tratado de Versalhes. Esses eventos são apontados como de impacto direto no colapso dos grandes impérios, como o Austro-Húngaro e o Otomano, na redistribuição colonial e na consolidação dos Estados-Nação como conhecemos hoje. "A maioria das pessoas presumia que com o fim dos impérios viveríamos em um futuro formado por Estados-nação parcialmente igualitários que criariam uma ordem internacional baseada em regras. Mas o que estamos vendo não é bem isso", avalia Eric Storm, professor da Universidade de Leiden e autor do livro Nationalism: A World History (Nacionalismo: Uma História Mundial, em tradução livre). Segundo o especialista, diversas lideranças americanas desde então colocaram em cheque a ideia de que a era dos impérios havia chegado ao fim, seja conduzindo intervenções militares no exterior ou mantendo uma forte esfera de influência em torno de seus aliados. "Mas Trump levou isso a outro nível", diz.

<>< > McKinley do século 21?

A ideia de que os impérios nunca deixaram de existir por completo é defendida por muitos historiadores, que apontam o modelo de relação política e econômica desigual entre países como um dos principais sintomas do 'neoimperialismo' dos séculos 20 e 21. Segundo essa corrente, as colônias podem ter deixado de existir, mas as esferas de influência e poder das antigas potências permanecem, em muitos casos, quase inalteradas. No caso dos Estados Unidos, explica Jennifer Mittelstadt, a expansão territorial pode ter sido deixada para trás no século 19, mas a instalação de bases militares ao redor do mundo, o envio de tropas e a assinatura de acordos econômicos com diversas nações continua servindo como uma espécie de "controle informal". E apesar desse modelo ter sido seguido pelos antecessores de Donald Trump, o atual presidente americano adota uma postura muito distinta em relação ao tema, afirma a especialista. "Há algo de novo no comportamento dele que me parece motivado pela psicologia e pelo ego", diz. "Pesquisadores que observam Trump de perto concordam que ele se vê como uma espécie de figura de rei ou imperador."

O último presidente americano a defender da mesma forma que Trump a expansão do território americano foi William McKinley, no final do século 19. Durante a presidência de McKinley, os EUA anexaram Porto Rico, as Filipinas, o Havaí e a ilha de Guam. Em seu discurso na posse, Trump inclusive citou o ex-presidente como um exemplo a ser seguido: "McKinley tornou nosso país muito rico por meio de tarifas e por talento". E segundo o historiador Eric Storm, o atual presidente parece "acreditar que seu país deveria ser um império".

As ameaças de Trump começaram antes mesmo da posse, quando ele mencionou a intenção de tomar o controle sobre o Canal do Panamá. Segundo ele, o Panamá estaria cobrando tarifas exorbitantes de embarcações americanas e deixando a China expandir sua influência na região. Trump também diz que a decisão dos Estados Unidos de ceder o controle do canal ao Panamá em 1977 foi um erro. "Vamos recuperá-lo, ou algo muito poderoso vai acontecer", afirmou no início de fevereiro. O republicano também falou em anexar a Groenlândia, por motivos comerciais e de segurança nacional. Trump ainda chegou a dizer que não descarta usar a força militar para tomar esses territórios.

Sobre o Canadá, disse no mês passado que o país "é um concorrente muito forte para ser nosso 51º Estado." No início de seu mandato, o presidente assinou um decreto para renomear o Golfo do México como Golfo da América e, mais recentemente, divulgou um plano para a reconstrução da Faixa de Gaza que inclui assumir o controle da região e realocar palestinos para o Egito, Jordânia e possivelmente outros países. "Trump trata os Estados menores como uma espécie de Estados vassalos — ele não leva a opinião da Ucrânia em consideração quando discute o processo de paz com Vladimir Putin, também não negocia com países latino-americanos quando manda imigrantes ilegais de volta", avalia Eric Storm. "A maneira de agir dele é muito unilateral, focada na política de poder duro. Se ele realmente ocupar territórios contra a vontade da população e contra o direito internacional, realmente entraríamos em uma era de imperialismo em grande escala", completa o historiador.

A política tarifária implementada por Trump desde que chegou à Casa Branca também pode ser vista como mais um alargamento do chamado "neoimperialismo" americano, dizem os especialistas. O republicano impôs tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México e implementaram uma taxa de 10% extra sobre importações chinesas, elevando a taxa tarifária total para 20%. A historiadora Naoko Shibusawa, professora da Universidade Brown, acredita que países como os Estados Unidos usam sua superioridade no campo econômico para manter o controle sobre países mais pobres. "Mesmo que um país tenha independência política, não tem necessariamente soberania econômica", diz. "Muitos países mais pobres ou descolonizados ainda têm suas economias amarradas, ou sujeitas aos desejos do Norte Global."

<><> Ameaça ou estratégia de negociação?

Mas os especialistas consultados pela BBC News Brasil também admitem que as posições, assim como a retórica classificada como "agressiva" adotada por Trump, podem estar mais ligadas a uma estratégia de negociação do que a um desejo de fato de se engajar em uma aventura expansionista. "Trump é muito imprevisível e costuma usar suas declarações como forma de abrir uma negociação", diz Eric Storm, "No caso do Panamá, por exemplo, ele pode estar apenas tentando diminuir a influência chinesa e negociar tarifas mais baratas para os navios americanos."

"Trump vê seus aliados como um incômodo e gosta de trazer suas supostas habilidades de negociação para o cenário internacional", avalia Andrew Mumford, professor de Estudos de Guerra na Escola de Política e Relações Internacionais da Universidade de Nottingham. O presidente americano usou, por exemplo, a ameaça da implementação de tarifas emergenciais de 25% sobre todos os produtos colombianos importados pelos EUA como forma de convencer Gustavo Petro a receber voos com imigrantes ilegais deportados.

Analistas que acompanham as decisões de Trump e sua equipe de perto veem na política externa do atual presidente o emprego de um modelo de negociação conhecido como o da cenoura e do porrete — ou seja, de incentivos e punições para cooptar aliados e chegar a acordos. De um lado, ele usa o porrete, ou seja, ameaças de uso da força militar ou de sanções econômicas para coagir outras nações. De outro, estaria a cenoura, ou um incentivo positivo para convencer aliados — por exemplo, negociando investimentos, ajuda humanitária, acordos bilaterais ou assentos em organismos multilaterais. E há quem acredite que as posições recentes de Trump em relação à Ucrânia e a Volodymyr Zelensky, por exemplo, sejam apenas mais um exercício em busca dos interesses americanos. E, de fato, Zelensky aceitou os termos americanos um dia depois de Trump suspender toda a ajuda militar ao sitiado aliado dos EUA.

<><> Apenas 'bravatas'

Para a historiadora Naoko Shibusawa, da Universidade Brown, um acordo econômico de Trump para explorar a Groenlândia pode até ser factível. Mas, segundo ela, as demais ameaças de Trump não passam de bravatas. "Não consigo imaginar os Estados Unidos invadindo o Canadá. Isso não vai acontecer, é muito mais uma bravata. Os Estados Unidos vão invadir e tomar Gaza? Eu também acho isso muito improvável", afirma. "Vemos o homem mais poderoso da Terra fazendo declarações que parecem realmente fora de sintonia com o mundo contemporâneo."

Jennifer Mittelstadt, da Universidade Rutgers, afirma ainda que não vê espaço para uma expansão territorial baseada em força militar. "Não há nada que me sugira que os EUA estejam em uma posição militar que permita invadir e lutar uma guerra para tomar o Canadá e a Groenlândia", avalia a historiadora, autora do livro The Rise of the Military Welfare State (A ascensão do estado de bem-estar militar, em tradução livre para o português). "Até teríamos condições se essa fosse a única ameaça no mundo. Mas há um milhão de outras ameaças com as quais os EUA tem que lidar em termos de defesa, então não têm capacidade para conduzir uma guerra terrestre massiva no hemisfério ocidental."

Já Andrew Mumford acredita que atitudes de Trump devem ser analisadas com as lentes da política interna, não externa. "Não definiria como uma nova era de imperialismo, mas sim uma recalibração da política externa americana ao longo das linhas políticas domésticas em um nível que não víamos há muito tempo", diz o especialista. Para Mumford, o objetivo do presidente é ativar sua base política e promover sua agenda "America First" (Estados Unidos em primeiro lugar, em tradução para o português). O slogan foi adotado por Trump desde sua primeira campanha, em 2016. Ao concorrer desta vez, o republicano voltou a falar em "rejeitar o globalismo" e acabar com guerras e em um recuo em intervenções no exterior, gerando expectativa de uma política externa mais isolacionista. "Toda política externa começa em casa — e uma quantidade significativa das declarações sobre política externa de Donald Trump tem o público doméstico e sua base política como alvo", diz Mumford.

<><> Trump não está sozinho

E segundo estudiosos do dito 'neoimperialismo', esse modelo não é exclusivo dos Estados Unidos. O caso mais claro fora os EUA é o de Vladimir Putin na Rússia, diz Eric Storm. "A ocupação da Crimeia [2014] e a invasão total da Ucrânia em 2022 são exemplos mais recentes desse imperialismo", afirma. "Mas antes mesmo disso, Putin já havia travado uma guerra contra a Geórgia em 2008." O especialista também aponta o apoio a regiões secessionistas, como a Transnístria e a Abkházia, e a participação russa na guerra da Síria e a presença de forças ligadas ao Kremlin em diversos países na África como outros sintomas da posição de Putin.

Quando o tema é a China, Andrew Mumford afirma que Pequim se utiliza mais do soft power para expandir sua esfera de influência, atrair países e empresas para parcerias e atingir seus objetivos políticos e militares. "A China se utiliza de outras formas de influência não militar, não das tradicionais conquistas territoriais", diz o especialista. "É por isso que o debate sobre o que significa o imperialismo atualmente é tão complexo." Ainda assim, Mumford afirma que o país deve ser observado de perto, já que a instabilidade em torno de Taiwan é um dos potenciais pontos crítico para atividade militar na Ásia. A China vê Taiwan como uma província separatista que um dia voltará a estar sob o controle de Pequim. No entanto, a ilha se vê como um país independente, com sua própria Constituição e líderes democraticamente eleitos. Pequim envia rotineiramente navios e aviões para as águas e o espaço aéreo de Taiwan, no que os analistas chamam de tática de "guerra na zona cinzenta", com a intenção de normalizar tais incursões. Em setembro passado, o governo de Xi Jinping lançou com sucesso um míssil balístico intercontinental (ICBM) carregando uma ogiva fictícia, que caiu no Oceano Pacífico. Tratou-se da primeira vez desde 1980 que um ICBM foi lançado em águas internacionais. Por tudo isso, Mumford considera a questão ainda mais crítica do que o atual confronto entre Rússia e Ucrânia.

"Putin já pagou um preço alto pelo que fez na Ucrânia e, portanto, a capacidade russa de ampliar sua ofensiva é limitada", afirma. "A minha maior preocupação é mesmo com a China, que diminuiu significativamente suas relações com Taiwan nos últimos anos." E segundo o analista, Trump pode estar estabelecendo um precedente perigoso ao defender de forma tão explícita a conquista de novos territórios. "Trump não é avesso a estabelecer precedentes e agir de forma não convencional", diz. "Mas ele pode estar estabelecendo um precedente para que outras grandes potências reivindiquem territórios, mesmo aqueles fora da sua esfera de influência hemisférica natural." Para Jennifer Mittelstadt, as ações americanas são muitas vezes vistas como criadoras de limites e marcos importantes em torno de questões como soberania e direito internacional. "Os EUA sempre defenderam que existe uma ordem internacional baseada em regras que nem mesmo eles, como nação militar mais poderosa e maior economia do mundo, desrespeitaria", diz. "Mas se os EUA estão desrespeitando, há uma abertura para outros fazerem o mesmo."

 

¨      A questão da desigualdade americana. Por Wagner Souza

Uma das características das mudanças engendradas na economia política dos países ricos, desde o início da década de 1980, tem sido a concentração de renda. Do “consenso keynesiano”, que vigorou do pós-guerra ao fim dos anos 1970, (o republicano Richard Nixon disse, certo momento, “somos todos keynesianos”), que tinha no investimento público e adição dos ganhos de produtividade aos salários duas de suas principais “âncoras”, a economia passou a ser gerida tendo como premissas de sua eficiência a redução do papel do Estado, e portanto do investimento público, e a “financeirização” da gestão da riqueza, na qual os lucros de curto prazo passaram a ditar a estratégia empresarial. Assim, a contenção de gastos das empresas, com demissões e redução de custos salariais, está, desde então, no cerne destes planos.

Na virada dos anos 1970 para a década de 1980, viu-se o aumento brutal da taxa de juros pelo Federal Reserve, então dirigido por Paul Volcker, no intuito de domar a inflação e reafirmar o papel do dólar como moeda reserva mundial e do lugar central do sistema financeiro dos EUA no mundo. A “revolução conservadora” de Ronald Reagan, no entanto, tirou a economia norte-americana da recessão com um “keynesianismo militar”, resultado de forte expansão dos gastos de defesa. Este investimento na capacidade bélica cumpriu a função de dar sustentação necessária para a recuperação da economia e debilitar a economia da URSS, provocando o colapso de seu regime político, um objetivo geopolítico, portanto. Reafirmação da supremacia da moeda e das armas dos EUA em nível global compunham o processo muito bem descrito no artigo “A retomada da hegemonia norte-americana”, obra da saudosa professora Maria da Conceição Tavares.

A vitória norte-americana na Guerra Fria, com o fim da URSS e do bloco socialista e a reunificação da Alemanha, fez com que a “hegemonia unipolar” dos EUA se estabelecesse a partir dos anos 1990 e com esta a consolidação do chamado “neoliberalismo” tendo como seus principais objetivos as liberalizaçôes comercial e financeira, as privatizações e desregulamentações das normas vistas como “empecilhos” ao investimento privado. A economia das “bolhas de ativos” com inflação dos valores de ações (a “bolhapontocom” dos anos 1990) e imóveis (“bolha imobiliária” dos anos 2000) substituiu a dinâmica anterior da economia com crescimento contínuo dos salários reais e “aburguesamento” da classe trabalhadora e sua integração à classe média. O proletariado norte-americano viu seus empregos industriais escassearem ao se deslocarem para o exterior, pela busca da indústria por mão de obra mais barata. Novos empregos surgiram na “economia de serviços”, porém, na maioria das vezes, com remuneração pior, condições de trabalho precarizadas, em situações que variam das jornadas extenuantes aos part time jobs, que fazem com que muitos trabalhadores trabalhem menos horas do que gostariam e ganhem, em consequência, salários menores. O trabalho nos Estados Unidos se tornou, em grande medida, mais precário, instável e com remuneração menor.

O filósofo britânico John Gray em Falso Amanhecer – os equívocos do capitalismo global descreveu a realidade do capitalismo norte-americano de fins dos anos 1990:

“É interessante notar que essas ansiedades não são um efeito colateral da estagnação econômica. Ao contrário. Durante os últimos quinze anos, a economia norte-americana manteve-se em uma expansão quase contínua. A produtividade e a riqueza nacional cresceram firmemente. A reestruturação da indústria americana deu-lhe condições de recuperar mercados que se pensava estarem definitivamente perdidos para o Japão. Como na Inglaterra de meados da era vitoriana, a liberalização dos mercados na América do final do século 20 construiu um espetacular – e não reproduzível – boom econômico. Ao mesmo tempo, a renda da maioria dos americanos estagnou. Mesmo para aqueles cujas rendas aumentaram, o risco econômico pessoal cresceu visivelmente. A maioria dos americanos tem pavor de um distúrbio econômico do qual – suspeitam – nunca mais se recuperarão. Poucos pensam agora em termos de uma ocupação vitalícia. Muitos preveem, não sem razão, que suas rendas cairão no futuro. Estas, evidentemente, não são circunstâncias que alimentam uma cultura de satisfação (GRAY, 1998, p. 146)”.

Também analisando esta problemática, o economista francês Thomas Piketty, em O Capital no século XXI, obra de 2013 que teve grande impacto no debate global sobre a crescente desigualdade, menciona, sobre a concentração de riqueza no extrato do 1% mais rico da população:

“Nos anos 1970, a parcela do centésimo superior na renda nacional era muito próxima nos vários países. Ela estava entre 6 e 8% nos quatro países anglo-saxões estudados, e com os Estados Unidos não era diferente, os americanos eram até ligeiramente ultrapassados pelo Canadá, que atingia 9% (…) Trinta anos depois, no começo dos anos 2010 a situação é totalmente diferente. A parcela do centésimo superior atingiu quase 20% da renda nacional nos Estados Unidos (…).” (PIKETTY, 2013, p. 307).

Piketty explica que nos países anglo-saxões a concentração de renda foi mais pronunciada do que na Europa continental e no Japão, onde também ocorreu. No Reino Unido e no Canadá o centésimo superior passou a ter entre 14-15% da renda nacional e na Austrália entre 9-10%. Japão e França passaram de 7% para 9%, Suécia, de 4% para 7% e Alemanha de 9% para 11%. (PIKETTY, 2013, p. 308). Em todo o mundo rico houve concentração de renda no topo da pirâmide social, mas foi nos EUA onde aconteceu com mais intensidade.

Todo esse processo de polarização de renda e, como consequência, polarização social, visível na paisagem de muitas partes do interior dos EUA, com suas fábricas abandonadas e cidades outrora pujantes, decadentes, alimentou forte ressentimento social daqueles que “ficaram para trás”. A candidatura de Donald Trump, desde quando despontou nas primárias republicanas para a eleição de 2016 e o seu mote de “fazer a América grande novamente” tem relação com esta frustração das massas, especialmente nos eleitores brancos pobres, de que as oportunidades econômicas e o caminho para a ascensão social estavam disponíveis e não mais estão.

A crescente polarização social, portanto, vem alimentando a extrema direita e enfraquecendo consensos existentes na sociedade e na esfera política a respeito de políticas públicas internas e da política externa. John Gray trata, no livro aqui mencionado, do apelo nacionalista da pré-candidatura de Patrick Buchnann pelo Partido Republicano ou da candidatura independente de Ross Perot, que apareceram nos anos 1990 como sintomas desta insatisfação, mas então avaliava como inviáveis candidaturas tão críticas ao status quo bipartidário. Como sabemos, era questão de tempo.

 

Fonte: BBC News/Outras Palavras

 

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