Metas de Inflação:
Impactos, Desafios e Possíveis Reformulações
O regime de metas
de inflação tem sido adotado por diversos países para garantir estabilidade
econômica, protegendo o poder de compra da população e incentivando
investimentos. No Brasil, essa política trouxe avanços, mas enfrenta desafios
estruturais, como o spread bancário elevado, que dificulta o controle da
inflação sem prejudicar o crescimento econômico. Além disso, a influência da
inflação americana exige uma abordagem diferenciada para evitar crises como a
enfrentada pelo Japão. Neste artigo, discutimos os impactos do atual modelo de
metas de inflação no Brasil, analisamos a relação entre a inflação importada e
a inflação local e propomos reformulações para aprimorar essa política,
equilibrando estabilidade e crescimento econômico.
<><> O
Papel da Inflação na Economia e Seus Desafios
A inflação impacta
diretamente o dia a dia das pessoas. Quando muito alta e instável, corrói
salários, gera incerteza para consumidores e empresas e desorganiza os
mercados. No entanto, inflação muito baixa também pode ser prejudicial, pois
desacelera a economia e pode levar a crises, como ocorreu no Japão, onde uma
tentativa de manter a inflação apenas 0,3% acima da
americana resultou em estagnação econômica. No Brasil, combater a inflação
apenas com aumento da taxa básica de juros pode trazer consequências negativas,
como recessão e explosão da dívida pública. Um fator determinante para
isso é o spread bancário elevado, que reduz a eficácia da política
monetária baseada em juros.
<><> O
que é spread bancário?
É a diferença entre
a taxa de juros que os bancos pagam para captar dinheiro e a taxa cobrada dos
clientes. Em outubro de 2022, por exemplo, o spread sobre capital de giro das
empresas no Brasil foi de 2,21% ao mês (30% ao ano). O spread médio
brasileiro foi de 31,1% em 2015 (FIESP), enquanto no Japão, um dos mais
baixos do mundo, foi de 0,23% em 2023.
Isso significa que
qualquer aumento da taxa Selic no Brasil tem um impacto fortemente atenuado na
economia real, tornando difícil alinhar nossa inflação com a dos EUA sem gerar
efeitos colaterais graves.
<><> A
Influência dos EUA na Inflação Mundial
Desde o fim da
paridade do dólar com o ouro em 1971, no governo Nixon, os EUA passaram a
financiar seus déficits internacionais emitindo moeda, aumentando a base
monetária global e gerando
inflação mundial.
Como o dólar é a principal moeda de comércio global, qualquer aumento na oferta
de dólares impacta os preços internacionais.
<><> Como
isso afeta o Brasil?
A inflação
americana se espalha globalmente porque o comércio e os preços das commodities
são atrelados ao dólar.
Países
emergentes, como o Brasil, importam inflação, pois precisam pagar mais caro por
produtos e matérias-primas cotados na moeda americana.
Além disso, cada
país tem problemas internos, como gargalos logísticos e custos financeiros, que
fazem com que a inflação local seja ainda maior que a inflação importada.
Dessa forma, a
inflação americana não apenas influencia os preços globais, mas
também se soma às dificuldades estruturais de cada economia, agravando o
problema inflacionário local.
<><> O
Regime de Metas de Inflação e Seus Limites
O regime de metas
de inflação foi adotado no Brasil em 1999 e trouxe benefícios, mas não funciona
da mesma forma em todos os países. Alguns exemplos:
Sucesso:
Em economias desenvolvidas,
como Reino Unido e Canadá, a política ajudou a manter a inflação sob controle
sem prejudicar o crescimento.
Problemas:
No Japão, tentar
manter a inflação artificialmente baixa contribuiu para uma década de
estagnação econômica.
Quanto mais baseada
na taxa básica de juros for a política de combate à inflação, maior será a
diferença necessária entre a inflação local e a média global para manter um
nível aceitável de crescimento econômico. No Brasil, essa estratégia é limitada
pelo alto spread bancário e pela inflação importada.
Bancos centrais
podem adotar outras medidas para ajustar os níveis
de inflação além da
Selic, como:
<><> Alternativas
para Controlar a Inflação
✔ Controle da oferta
de crédito
Aumentar o
redesconto bancário pode reduzir a inflação sem elevar a dívida pública, mas
enfrenta resistência do setor financeiro.
✔ Investimento em
infraestrutura produtiva
Melhorar a
capacidade produtiva reduz a inflação estrutural e garante um mercado de
consumo futuro para investidores.
✔ Uso de estoques
reguladores e preços mínimos para o agricultor
Essa
política, aplicada no passado no Brasil, estabilizava os preços dos alimentos,
mas foi extinta pelo governo Temer.
✔ Diferenciar a
Inflação Importada da Interna
A política de metas
deveria considerar separadamente a inflação causada por fatores internos e a
inflação importada dos EUA e de outros países. Essas estratégias permitiriam um
controle mais eficaz da inflação sem comprometer o crescimento econômico.
<><> O
Impacto da Inflação Importada no Crescimento
A equação de
Black-Scholes, que rendeu o Nobel de Economia em 1997, demonstra que empresas
tendem a adiar investimentos em momentos de incerteza, aguardando mais
informações sobre o mercado. Isso explica por que a inflação importada nem sempre
resulta em crescimento imediato.
>>>> O
que isso significa?
Quando um país
sofre um choque inflacionário vindo do exterior, as empresas podem adiar a
produção local e focar na exportação, o que pode prejudicar o mercado interno.
Além disso,
políticas protecionistas podem surgir em resposta ao aumento da inflação
importada, impactando ainda mais o crescimento.
Segundo cálculos, a
capacidade da inflação importada de gerar crescimento não chega a 1/3 da
inflação doméstica planejada para expandir a economia.
<><> Propostas
para Reformular a Política de Metas de Inflação
Diante dos desafios
apresentados, o Brasil precisa de uma abordagem mais flexível para sua política
de metas de inflação. Algumas soluções possíveis incluem:
1. Metas de
inflação ajustadas mensalmente
A inflação
brasileira deve seguir uma margem baseada na média ponderada da inflação
americana nos últimos três meses, permitindo maior flexibilidade.
2. Modelo econômico
transparente e aberto
O Banco
Central deve disponibilizar publicamente os modelos de desempenho da economia,
permitindo maior controle social sobre as decisões.
3. Margem de
segurança para evitar recessões
Conforme
Guido Tabellini, países que importam inflação precisam ter uma inflação cerca
de 2% acima da americana para manter um crescimento sustentável.
<><> Conclusão:
O Brasil Precisa de um Modelo Próprio
Diante desse
cenário, é essencial que o Brasil adote um modelo de metas de inflação mais
flexível e realista, que leve em consideração:
✔ O impacto da
inflação importada.
✔ O alto spread
bancário.
✔ A necessidade de
crescimento sustentável.
A rigidez das metas
atuais pode levar a uma desaceleração econômica desnecessária, aumentando o
risco de crises como a enfrentada pelo Japão. Para evitar esse cenário, o Banco
Central precisa adotar uma abordagem mais dinâmica, garantindo transparência e
ajustes que promovam estabilidade sem comprometer o desenvolvimento econômico.
Com essa reformulação, o Brasil pode manter a inflação sob controle sem sacrificar
empregos, investimentos e crescimento econômico.
¨ Governo federal zera alíquota de importação de nove
alimentos na tentativa de conter a alta nos preços
O vice-presidente e
ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin
(PSB), anunciou, no final desta quinta-feira (6), um pacote de medidas para
tentar conter a alta nos preços dos alimentos. As iniciativas devem entrar em
vigor nos próximos dias.
Como uma das
principais medidas, o governo decidiu zerar a alíquota de importação de
nove alimentos, entre eles estão:
Carne: com tarifa
atual de 10,8%;
Café: 9%;
Açúcar: 14%;
Milho: 7,2%;
Oleo de girassol:
9%;
Azeite de oliva:
9%;
Sardinha: 32%;
Biscoitos: 16,2%;
Massas
alimentícias: 14,4%.
No caso do fim
dessas taxas, no entanto, a medida ainda precisa ser aprovada pela Câmara de
Comércio Exterior (Camex). Alckmin, no entanto, garantiu que essa e as outras
regras devem ser aprovadas em “questão de dias”, após o envio da nota técnica.
Entre as outras
propostas do governo também estão a ampliação do Sistema Brasileiro de Inspeção
de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA); o foco sobre o novo Plano Safra para
o financiamento de produtos da cesta básica; o reforço do estoque regulador da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab); além da publicidade dos melhores
preços.
Segundo o
vice-presidente, o Palácio do Planalto ainda irá articular para que os governos
estaduais deixem de cobrar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) de produtos da cesta básica.
“São todas medidas
para reduzir preço, para que o cidadão possa manter o poder de compra. Isso
acaba estimulando o comércio e a economia. O governo está abrindo mão de
imposto para favorecer a redução de preço”, disse Alckmin, após uma reunião com
o presidente Lula (PT), em Brasília, da qual também participaram os ministros
Rui Costa, da Casa Civil, e Carlos Fávaro, da Agricultura.
Para o governo
Lula, as ações para conter as altas nos preços são urgentes, uma vez que o tema
tem grande apelo popular e pode estar relacionado a queda na popularidade do
presidente.
Fonte: Por Luís
Antônio W. Bambace e José Luiz M. de Almeida, no Jornal GGN
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