sábado, 8 de março de 2025

China diz estar pronta para 'qualquer tipo de guerra' com os EUA

A China alertou os Estados Unidos que está pronta para lutar em "qualquer tipo" de guerra após responder às crescentes tarifas comerciais impostas pelo governo do presidente americano, Donald Trump.

As duas maiores economias do mundo ficaram à beira de uma guerra comercial depois que Trump impôs mais tarifas sobre todos os produtos chineses que desembarcarem em território americano. A China rapidamente retaliou, impondo tarifas de 10% a 15% sobre produtos agrícolas dos EUA.

"Se é guerra o que os EUA querem, seja uma guerra tarifária, uma guerra comercial ou qualquer outro tipo de guerra, estamos prontos para lutar até o fim", disse a Embaixada da China em Washington no X (antigo Twitter), republicando uma declaração do governo feita na terça-feira (4/3).

Esta é uma das manifestações mais contundentes da China até o momento desde que Trump se tornou presidente - e ocorre enquanto líderes se reúnem em Pequim para o encontro anual do Congresso Nacional do Povo.

Na terça-feira, o primeiro-ministro da China, Li Qiang, anunciou que o país elevaria novamente seus gastos com defesa em 7,2% neste ano e alertou que "mudanças nunca vistas em um século estavam se desenrolando pelo mundo a um ritmo mais rápido".

Esse aumento era esperado e corresponde ao valor anunciado no ano passado.

Os líderes chineses estão tentando sinalizar à população que estão confiantes de que a economia do país pode crescer, mesmo com a ameaça de uma guerra comercial.

A China tem se esforçado para retratar uma imagem de país estável e pacífico, em contraste com os EUA, que Pequim acusa de estarem envolvidos em guerras no Oriente Médio e na Ucrânia.

A China também pode esperar tirar proveito das ações de Trump em relação aos aliados dos EUA, como o Canadá e o México, que também foram atingidos por tarifas.

O país também não quer endurecer a retórica de forma excessiva a ponto de afastar possíveis novos parceiros globais.

A postagem da Embaixada da China em Washington citou uma declaração do Ministério das Relações Exteriores em inglês do dia anterior, que acusava os EUA de culparem a China pela entrada da droga fentanil no país.

"A questão do fentanil é uma desculpa frágil para aumentar as tarifas dos EUA sobre as importações chinesas", disse no post o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.

"A intimidação não nos assusta. O bullying não funciona conosco. Pressionar, coagir ou fazer ameaças não são a maneira correta de lidar com a China", acrescentou.

A relação entre os EUA e a China é há algum tempo uma das mais contenciosas do mundo.

A postagem no X foi amplamente compartilhada e pode ser usada pelos membros do gabinete de Trump que defendem o uso de uma retórica mais agressiva contra o país asiático como evidência de que Pequim é a maior ameaça econômica e de política externa de Washington.

Líderes em Pequim estavam esperançosos de que as relações entre os EUA e a China sob Trump pudessem se dar de maneira mais cordial depois que ele convidou Xi para sua posse.

Trump também disse que os dois líderes tiveram "uma ótima ligação telefônica" poucos dias antes de ele entrar na Casa Branca.

Havia relatos de que os dois líderes deveriam participar de outra ligação em fevereiro. Isso não aconteceu.

Xi já estava enfrentando uma persistente baixa no consumo, uma crise imobiliária e desemprego.

A China prometeu injetar bilhões de dólares em sua economia em dificuldades, e seus líderes apresentaram o plano enquanto milhares de delegados participam do Congresso Nacional do Povo, um parlamento que basicamente endossa decisões já tomadas nos bastidores.

A China tem o segundo maior orçamento militar do mundo, com US$ 245 bilhões, mas é muito menor do que o dos EUA. Pequim gasta 1,6% do PIB com seu exército, muito menos do que os EUA ou a Rússia, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, na Suécia.

Analistas acreditam, no entanto, que a China minimiza o quanto gasta com defesa.

 

¨      Guerra comercial: que tarifas Trump impôs até agora — e quais os países afetados?

O presidente dos EUA, Donald Trump, redobrou a aposta na defesa das tarifas sobre produtos importados por seu país em discurso ao Congresso americano na noite de terça-feira (04/03).

Trump citou nominalmente o Brasil como possível alvo de novas tarifas ao dizer que o país "sempre usou tarifas contra os EUA".

Os primeiros alvos brasileiros serão o etanol, taxado em 18% a partir do dia 2 de abril, e o aço e o alumínio, com tarifas de 25% a partir de 12 de março.

Os EUA já impuseram tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México e implementaram uma taxa de 10% extra sobre importações chinesas, elevando a taxa tarifária total para 20%. As tarifas entraram em vigor na terça-feira.

Na quinta-feira, porém, Trump recuou parcialmente, oferecendo isenção, até o início do abril, a produtos mexicanos.

"Após conversar com a presidente Claudia Sheinbaum do México, concordei que o México não será obrigado a pagar tarifas sobre qualquer item abarcado pelo tratado USMCA", escreveu Trump na rede social Truth.

O tratado USMCA - acrônimo com as iniciais em inglês de Estados Unidos, México e Canadá - é uma atualização do Nafta (acordo de livre comércio da América do Norte), que vigorou entre 1994 e 2018.

Nesta quarta-feira (5/3), Trump já havia recuado parcialmente e oferecido isenção, por um mês, para empresas automotivas que importem ou exportem do Canadá e do México. O recuo é uma resposta ao pedido feito diretamente ao presidente por três montadoras: General Motors, Stelantis e Ford.

Canadá e a China também retaliaram com suas próprias tarifas — ou impostos sobre importações — sobre muitos produtos dos EUA.

Trump disse ter como alvo o Canadá e o México porque ambos os países estão permitindo a entrada de um grande número de imigrantes ilegais nos EUA.

Também afirmou que as duas nações e a China permitem que grandes quantidades de fentanil produzido ilegalmente sejam enviadas para os EUA.

Economistas alertam que essas tarifas podem prejudicar empresas e consumidores nos EUA e no resto do mundo.

Durante o discurso no Congresso, Trump admitiu que tarifas sobre bens de Canadá, México e China podem provocar "perturbações" e que os produtores agrícolas americanos podem sentir "um período de indigestão".

Mas nada em seu discurso sugere que ele esteja repensando a política de guerra comercial que vem abalando os mercados financeiros nos últimos dias. Na verdade, ele prometeu impor mais tarifas recíprocas sobre todos os parceiros comerciais dos EUA a partir do próximo mês.

                    <><> O que são tarifas?

Tarifas são impostos sobre bens importados.

A taxa representa uma proporção do preço de um determinado item e é cobrada da empresa que o importa, em vez do exportador.

Então, se uma empresa está importando carros por, por exemplo, a R$ 50 mil cada e há uma tarifa de 25%, ela pagará uma taxa de R$ 12.500 em cada carro.

Se os importadores dos EUA repassassem o custo das tarifas aumentando os preços de varejo, os consumidores dos EUA arcariam com o fardo econômico.

<><> Por que Trump é a favor de tarifas?

Donald Trump disse muitas vezes que as tarifas protegem e criam empregos nos EUA. Ele as vê como uma forma de fazer a economia dos EUA crescer e aumentar as receitas fiscais.

"Sob meu plano, os trabalhadores americanos não ficarão mais preocupados em perder seus empregos para nações estrangeiras", disse ele. "Em vez disso, as nações estrangeiras ficarão preocupadas em perder seus empregos para a América."

Trump também disse que as tarifas sobre o aço são importantes para a segurança nacional dos EUA porque incentivam os produtores de aço nacionais a aumentar sua capacidade de produção. Ele quer que os EUA sejam capazes de produzir o suficiente para produzir armas em tempos de guerra sem depender de importações.

Ele chamou as tarifas de "a sustentação da nossa base industrial de Defesa".

Trump também defende as tarifas como uma forma de suprimir as vendas de produtos importados e promover as vendas de produtos nacionais. Esse foi seu motivo para impor tarifas no passado à UE, por exemplo.

"Eles não pegam nossos carros, não pegam nossos produtos agrícolas, não pegam quase nada e nós pegamos tudo deles", disse Trump. "Milhões de carros, quantidades tremendas de alimentos e produtos agrícolas."

Ele sugeriu que outras tarifas poderiam se concentrar em produtos farmacêuticos e chips de computador, dizendo: "É hora de nossas grandes indústrias voltarem para a América... esta é a primeira de muitas", acrescentou.

<><> Quais tarifas Trump impôs em seu primeiro mandato como presidente?

Em 2018, Trump impôs tarifas de até 50% sobre máquinas de lavar e painéis solares importados. O governo dos EUA disse que os fabricantes americanos em ambos os setores estavam enfrentando concorrência desleal do exterior.

No mesmo ano, ele também colocou tarifas de 25% sobre aço importado e 10% sobre alumínio importado, incluindo para o México e Canadá, que eram parceiros dos EUA no Acordo de Livre Comércio da América do Norte, ou Nafta.

Mais tarde, ele retirou as tarifas quando as nações assinaram o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), que substituiu o Nafta em 2020 — um acordo comercial mais favorável aos EUA.

As tarifas sobre a União Europeia prejudicaram particularmente a Alemanha e a Holanda, porque os dois países exportam muito aço para os EUA. A UE como um grupo retaliou com tarifas sobre exportações dos EUA, como jeans, uísque bourbon e motocicletas.

Trump também colocou tarifas sobre mais de US$ 360 bilhões em produtos chineses, variando de carne a instrumentos musicais. A China retaliou impondo tarifas sobre mais de US$ 110 bilhões em produtos dos EUA.

Sob o presidente Joe Biden, as tarifas sobre a China foram mantidas em sua maioria e novas foram impostas a produtos como veículos elétricos.

<><> Qual foi o impacto das tarifas do primeiro mandato de Trump em outros países?

As tarifas de Trump diminuíram a quantidade que os EUA importavam de alguns países, mas aumentaram a quantidade que importam de outros.

Antes de 2018, os produtos chineses representavam 22% do total das importações dos EUA. Em 2024, eles representavam apenas 13,5%, de acordo com o Departamento do Censo dos Estados Unidos.

O México ultrapassou a China para se tornar o exportador número um para os EUA até 2023. Agora, exporta US$ 476 bilhões em produtos para os EUA, em comparação com US$ 427 bilhões em produtos exportados da China.

Isso ocorre em parte porque muitas empresas — especialmente fabricantes de automóveis — mudaram a produção para o México para aproveitar seu acordo de livre comércio com os EUA e os baixos custos de produção lá.

Agora, o governo Trump afirmou, após recuar por um mês nas tarifas para o setor, que as montadoras foram alertadas de que, se não querem pagar tarifas, devem mudar sua produção inteiramente para os EUA quanto antes.

Os países do leste da Ásia também viram um aumento nas exportações para os EUA, graças às tarifas altas de Trump sobre a China.

Isso ocorreu em parte porque seus produtos se tornaram mais baratos do que os produtos chineses para os consumidores dos EUA e em parte porque muitas empresas chinesas se mudaram para esses países para evitar as tarifas dos EUA.

De acordo com dados do Representante Comercial dos EUA, os países pertencentes ao bloco comercial da ASEAN — como Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietnã — exportaram US$ 158 bilhões em produtos para os EUA em 2016, mas exportaram quase US$ 336 bilhões em produtos para os EUA em 2022.

"O país mais atingido pelas tarifas de 2018 foi a China", diz Nicolo Tamberi, economista da Universidade de Sussex, no Reino Unido.

"Acho que o Vietnã foi provavelmente um dos maiores vencedores dessa rodada de tarifas", disse ele.

Para os EUA, as tarifas impulsionaram a produção de aço e alumínio, de acordo com o Peterson Institute for International Economics, mas também aumentaram os preços dos metais. Segundo os dados do centro de pesquisas, isso resultou na perda de milhares de empregos em outras indústrias de manufatura.

O Peterson Institute afirma ainda que as medidas tarifárias de Trump aumentaram os preços em todos os setores, deixando os consumidores dos EUA em pior situação.

<><> Quais tarifas os EUA impuseram e quais tarifas podem impor?

Em 4 de março, os EUA impuseram tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México. As importações do setor de energia do Canadá, como petróleo, receberam uma tarifa de 10%.

Todas essas tarifas deveriam entrar em vigor inicialmente em 4 de fevereiro, mas foram adiadas por um mês para dar tempo ao Canadá e ao México de proteger ainda mais suas fronteiras.

Os EUA impuseram uma tarifa de 10% sobre as importações chinesas, além de uma tarifa de 10% já em vigor desde o início de fevereiro.

As novas taxas entraram em vigor na terça-feira (4/3), mas o governo Trump adiou por mais um mês as tarifas específicas para o setor automotivo do México e Canadá.

Trump disse que imporia as tarifas em resposta ao que ele alega ser o fluxo inaceitável de ingredientes para fazer a droga ilegal fentanil e imigrantes ilegais para os EUA.

O Canadá retaliou declarando tarifas de 25% sobre US$ 150 bilhões em produtos dos EUA. O México diz que anunciará suas contramedidas mais tarde.

A China declarou tarifas de 10% a 15% sobre as importações de alimentos dos EUA, como trigo, milho, carne bovina e soja.

Anteriormente, Trump impôs impostos sobre importações de carvão, petróleo, gás, máquinas agrícolas e carros de grande porte dos EUA, e proibiu exportações para os EUA de muitos elementos de terras raras necessários para a fabricação de equipamentos eletrônicos e militares.

Em 12 de março, os EUA devem começar a impor uma tarifa de 25% sobre importações de aço e alumínio de qualquer lugar do mundo.

Isso afetará os principais países produtores de aço, como Brasil, Canadá, China, Alemanha, México, Holanda, Coreia do Sul e Vietnã, e grandes produtores de alumínio, como Emirados Árabes Unidos e Bahrein.

Trump negou sugestões de que as tarifas aumentarão o preço do aço nos EUA. "No final das contas, será mais barato", disse ele.

Ele disse que os EUA imporão tarifas sobre produtos agrícolas estrangeiros e importações de carros estrangeiros em 2 de abril "na vizinhança de 25%",

<><> Como as tarifas recentes podem prejudicar o Canadá e o México?

De acordo com o professor Stephen Millard, do think tank britânico National Institute of Economic and Social Research, o Canadá e o México sofreriam muito com tarifas gerais.

Ambos os países são altamente dependentes dos EUA. O México envia 83% de todos os seus produtos para os EUA e o Canadá envia 76% de todas as suas exportações.

"O Canadá vende grandes quantidades de petróleo e maquinário para os EUA", disse Millard, "e uma tarifa de 25% poderia encolher seu PIB em 7,5% ao longo de cinco anos."

"As tarifas poderiam cortar o PIB do México em 12,5% ao longo de um período de cinco anos. Isso seria um grande golpe."

Lila Abed do Instituto do México no think tank americano Wilson Centre diz que as tarifas dos EUA seriam "devastadoras" para os trabalhadores mexicanos.

"Aproximadamente cinco milhões de empregos nos EUA dependem do comércio EUA-México... e um estudo recente sugere que cerca de 14,6 milhões de empregos no México dependem do comércio com seus parceiros norte-americanos", disse ela.

Os índices das bolsas de valores nos EUA e no resto do mundo caíram com a notícia de que as novas tarifas foram introduzidas, refletindo os temores dos investidores de que elas prejudicariam o comércio global e a economia global.

Andrew Wilson, da Câmara de Comércio Internacional, disse: "O que estamos vendo é o maior aumento efetivo nas tarifas dos EUA desde a década de 1940 — com graves riscos econômicos associados a isso."

Ella Hoxha da empresa financeira Newton Investment Management, sediada no Reino Unido, alertou sobre "aumentos nos preços, pois as empresas repassam alguns desses preços ao consumidor."

<><> Como o Brasil pode ser afetado?

O Brasil será um dos países mais atingidos pelas tarifas sobre as importações de aço e alumínio anunciadas por Trump — que começam a valer em 12 de março.

Os EUA são, de longe, o maior mercado para produtos siderúrgicos do Brasil. O Brasil exporta para os EUA 12 vezes mais do que para a Europa e 6 vezes mais do que para a América Latina.

Já em relação ao alumínio, outro produto alvo de tarifas anunciadas por Trump, o Brasil é o 14º maior fornecedor para os EUA, segundo dados do departamento de Comércio dos EUA.

O próprio Brasil também pratica protecionismo no setor do aço. Em outubro, após mais de um ano de análise, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) elevou para 25% o imposto de importação para 11 tipos de produtos de ferro e de aço. Antes disso, esses produtos pagavam de 10,8% a 14% para entrarem no país.

O pedido foi feito pelo Sindicato Nacional da Indústria de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos (Sicetel) que acusava "concorrência desleal dos produtos importados".

 

Fonte: BBC News

 

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