Oliveiros
Marques: Xô, império trumpista
O caminho insinuado por um comitê do
Congresso norte-americano ao aprovar uma medida que busca interferir em
decisões judiciais tomadas por cortes de outros países, mais especificamente o
Brasil, beira o delírio e flerta com a desordem mundial. Alguém precisa, mais
do que falar, mostrar para o bilionário Trump e para o seu gado que ele não foi
eleito imperador mundial.
Mais uma vez, essa gente usa do
farisaico discurso da “liberdade de expressão” para defender ações extremistas
e recorrer à força e ao poder do Estado norte-americano para impor sua visão de
mundo e proteger interesses econômicos espúrios, disfarçados por trás das ações
de empresas sediadas nos Estados Unidos. Tocqueville, se vivesse hoje,
ampliaria significativamente os aspectos negativos da democracia na América.
Penso que o governo brasileiro, assim
como todas as democracias mundiais, deve se levantar agora contra essas medidas
e discursos extremistas mundo afora. Não dá para tratar Trump e sua horda como
loucos ou excêntricos. Eles têm um projeto de poder muito claro, e nele não há
espaço para continuarem existindo pobres, pretos, indígenas, palestinos,
homossexuais e tantas outras parcelas da população. Sim, exterminá-las é o
objetivo.
Por exemplo, é justo que, no mesmo
contexto em que o governo norte-americano ataca diretamente o Brasil, empresas
como General Motors, GE Celma (unidade de aviação da General Electric), Ford e
outras corporações daquele país sigam recebendo incentivos fiscais aqui, alguns
ultrapassando a cifra de R$ 1 bilhão? A GM, por exemplo, já foi beneficiada com
bilhões em incentivos estaduais e federais, enquanto a GE Celma tem isenções
robustas no setor aeroespacial. A Ford, que fechou fábricas no Brasil alegando
dificuldades, ainda teve acesso a incentivos fiscais milionários antes de sair.
Acredito que não. Trump precisa saber que sua arrogância traz consequências.
“Ah, isso é um delírio, a economia
americana é muito maior do que a nossa, seríamos tragados para o desastre”,
diriam alguns. Não acredito nisso. Claro que a articulação com outros países se
faz necessária. Mas alguém precisa dar o primeiro chute na bola para o jogo
começar.
Latinos foram chutados como
cachorros. Palestinos, considerados descartáveis. Ucranianos, humilhados em
troca de alguns minerais. Na Alemanha, representantes de Trump fazem campanha
para nazistas. O que mais esperar para uma grande coalizão mundial anti-Trump e
em defesa da humanidade e dos valores democráticos? O aperto do botão de uma
bomba atômica? Já passou da hora de alguém – ou alguns – enfrentar essa gente.
¨ X, Rumble e a
chantagem contra o Brasil. Por Florestan Fernandes Jr
A arrogância e a agressividade de Elon Musk com o governo e a Justiça
brasileira são para lá de preocupantes. Em novembro do ano passado, o
bilionário afirmou, do alto de sua plataforma, o X, que Lula não seria reeleito
em 2026. Naquele momento, o instituto de pesquisa Quaest apontava que a
aprovação de Lula estava em 51% e a desaprovação atingia 45%.
Ainda em novembro, nas redes sociais, foi deflagrada uma onda de fake
news pela extrema direita, visando desacreditar o governo federal. A mais viral
delas dizia que o Pix seria taxado. Somado a isso, houve a inflação dos
alimentos. A resposta foi imediata: no fim de janeiro, a desaprovação do
presidente já era superior à aprovação: 49% a 47%. Agora, em fevereiro, a
desaprovação subiu ainda mais, ultrapassando os 60% nos estados de São Paulo,
Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Essa queda vertiginosa em menos de três meses tem todas as digitais
das big techs. São elas que controlam os algoritmos de maneira
política para favorecer os interesses da extrema direita. No Brasil, isso
significa favorecer a vertente bolsonarista.
Não à toa, na semana passada, o Partido Liberal (PL) promoveu um evento
em conjunto com as principais plataformas estadunidenses: Meta, Google e X. Nos
banners espalhados no espaço do congresso, frases como “As maiores Big Techs do
mundo com o maior partido do Brasil” e “Em defesa da democracia e da liberdade
de expressão dos brasileiros” e ainda “Não vamos desistir do Brasil”. Maior
clareza dessa comunhão de ideias e propósitos, impossível.
Colaborador ativo do governo Trump, Elon Musk tem assumido a coordenação
dos ataques ao governo Lula e ao STF, a Corte maior do país.
Em resposta às sanções movidas pelo STF contra a Rumble no Brasil, Elon
Musk defendeu abertamente sanções econômicas ao ministro Alexandre de Moraes,
com bloqueio de possíveis bens e investimentos do magistrado nos EUA.
Sobre Moraes, Elon Musk disse, em tom irônico, na sua plataforma: “parece
que ele (Moraes) está tentando esconder seus bens”. Diga-se de passagem, que
essa possibilidade é bem remota.
Nesta quarta-feira (26/02), o Comitê Judiciário da Câmara dos
Representantes dos Estados Unidos aprovou uma medida que poderá impedir Alexandre
de Moraes de ingressar nos Estados Unidos. O projeto segue agora para o
plenário da Câmara dos Deputados e, se aprovado, segue para o Senado.
O Departamento de Estado estadunidense alega que "bloquear o acesso
à informação e impor multas a empresas sediadas nos EUA por se recusarem a
censurar indivíduos que lá vivem é incompatível com valores democráticos,
incluindo a liberdade de expressão”. A questão, porém, não é essa. As decisões
de Moraes se restringem às publicações feitas pelo foragido da justiça
brasileira, Allan dos Santos, na plataforma de vídeos Rumble no Brasil.
Em nota, o Itamaraty afirmou ter recebido "com surpresa" as
críticas dos EUA e que "rejeita, com firmeza, qualquer tentativa de
politizar decisões judiciais". Está claro, como é dito na nota, que
"a manifestação do Departamento de Estado distorce o sentido das decisões
do Supremo Tribunal Federal, cujos efeitos destinam-se a assegurar a aplicação,
no território nacional, da legislação brasileira pertinente".
Este ataque oportunista contra o Ministro Moraes ocorre justamente
quando o procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou Bolsonaro por
liderar uma tentativa de golpe de Estado.
Estamos, mais uma vez, sob ataque à democracia. Desta vez, a soberania
nacional é vilipendiada pelos “patriotas”. Pouco se pode esperar dos que
prestam continência à bandeira estrangeira e que, comemorando a vitória de
Trump, ostentam desavergonhadamente bonés “MAGA” (make america great again)
e que clamam por intervenção estrangeira nas instituições brasileiras. Como diz
o ditado, “de onde menos se espera, é que não sai nada” (que preste).
Nesse contexto, penso aqui no quanto é temerária a inércia do governo,
do Congresso e da própria sociedade civil. É necessária e urgente a firme
defesa das instituições, que são os alicerces da nossa república. E isto deve
partir de todos nós.
É indispensável que seja reavivada a indignação nacional, a repulsa ao
golpismo, que tanto nos inflamou logo após os atos golpistas do 8 de janeiro.
Espero que não tenhamos ardido em “fogo de palha”. Espero que estejamos
conscientes da gravidade desse tempo, em que a manipulação da opinião pública
que as redes produzem, instrumentalizadas pelo que há de mais perverso, poderá
lançar o mundo numa reprodução piorada das ditaduras nazifascistas dos anos 30
do século passado.
¨ Moraes rebate
críticas dos EUA e defende soberania do Brasil no STF: "deixamos de ser
colônia em 7 de setembro de 1822"
O ministro
Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu a soberania do
Brasil e afirmou que o país deixou de ser colônia em 1822. Sem citar
diretamente os Estados Unidos, o magistrado citou a independência do Brasil e a
construção da ONU contra o nazismo. Moraes deu as declarações durante a sessão
plenária da corte nesta quinta-feira (27), antes de iniciar o relatório de
casos sobre a Lei de Abuso de Autoridade que relata. Ele participa por
videoconferência.
"Reafirmo
nosso juramento integral de defesa da Constituição brasileira e pela soberania
do Brasil, pela independência do Poder Judiciário e pela cidadania de todos os
brasileiros e brasileiras, pois deixamos de ser colônia em 7 de setembro de
1822 e com coragem estamos construindo uma República independente e cada vez
melhor", disse Moraes, segundo a Folha de S. Paulo.
Moraes também
agradeceu ao ministro Flávio Dino que se manifestou publicamente em sua defesa
nesta quinta-feira. Em publicação nas redes sociais, nesta quinta-feira, Dino
ressaltou que os ministros da Corte, ao assumirem o cargo, juram defender a
Constituição e os princípios de autodeterminação dos povos, não intervenção e
igualdade entre os Estados, previstos no artigo 4º da Carta Magna. "São
compromissos indeclináveis, pelos quais cabe a todos os brasileiros zelar. Por
isso, manifesto a minha solidariedade pessoal ao colega Alexandre de
Moraes", escreveu Dino na postagem.
Na sequência,
o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, referiu-se às investigações sobre a
tentativa de golpe de Estado em 2022 e destacou que a "narrativa" dos
envolvidos não prevalecerá. “Nós bem sabemos o que tivemos que passar para
evitar o colapso das instituições e um golpe de Estado aqui no Brasil. A
tentativa de fazer prevalecer a narrativa dos que apoiaram o golpe fracassado
não haverá de prevalecer entre as pessoas verdadeiramente de bem e democratas”,
ressaltou Barroso, de acordo com O Globo.
Até então, os
ministros do Supremo vinham minimizando as ações tomadas em território
estadunidense, desde que a empresa de mídia de Trump, a Truth Social, e a
Rumble, plataforma de vídeos, recorreram à Justiça na Flórida para que as
ordens do ministro sejam declaradas ilegais.
Sob reserva,
magistrados e assessores próximos a eles afirmam que não há impacto
significativo sobre a rotina do Supremo e negam grandes preocupações em relação
aos movimentos do presidente americano, de aliados e de bolsonaristas no país.
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Ofensiva dos EUA
A ofensiva
contra Moraes, que conta com o apoio de parlamentares bolsonaristas e ligados à
extrema direita no Brasil, inclui uma articulação de políticos republicanos
para aprovar um projeto de lei que prevê sanções contra o ministro e a
proibição de sua entrada nos Estados Unidos.
Nesta semana,
o governo do presidente Donald Trump se pronunciou pela primeira vez sobre as
decisões do ministro Alexandre de Moraes. Em comunicado oficial, o Bureau de
Assuntos para o Hemisfério Ocidental, órgão vinculado ao Departamento de Estado
dos Estados Unidos, classificou como "censura" as multas aplicadas
pelo magistrado contra plataformas digitais que descumpriram ordens de bloqueio
de perfis em redes sociais.
Em resposta, o
Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota na qual reforçou que não
permitirá distorções sobre o cenário nacional, nem abrirá espaço para
ingerências externas.
"A
manifestação do Departamento de Estado distorce o sentido das decisões do
Supremo Tribunal Federal", diz o documento, que destaca: "O Estado
brasileiro e suas instituições republicanas foram alvo de uma orquestração
antidemocrática baseada na desinformação em massa".
Além disso, o
texto da diplomacia brasileira destaca que o governo do presidente Lula (PT)
valoriza a liberdade de expressão, ao contrário do que dizem figuras da extrema
direita dos EUA. "A liberdade de expressão, direito fundamental consagrado
no sistema jurídico brasileiro, deve ser exercida em consonância com os demais
preceitos legais vigentes, sobretudo os de natureza criminal", destaca um
trecho do texto.
¨ Ministros do
STF aprovam reação do Itamaraty em resposta a críticas do governo Trump contra
Moraes
Os ministros
do Supremo Tribunal Federal (STF) manifestaram satisfação com a nota divulgada
pelo Ministério das Relações Exteriores na quarta-feira (26), em resposta às
críticas feitas pelo governo de Donald Trump às decisões da Corte, destaca o
jornalista Fausto Macedo em sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo.
Nos
bastidores, integrantes do STF vinham solicitando uma manifestação oficial do
governo brasileiro em defesa do tribunal. Embora esperassem uma reação mais
rápida, os ministros reconheceram a complexidade do tema e consideraram
compreensível o tempo de resposta.
Na nota
divulgada na quarta-feira, o Itamaraty declarou ter recebido "com
surpresa" as críticas dos EUA e afirmou que "rejeita, com firmeza,
qualquer tentativa de politizar decisões judiciais". O comunicado brasileiro
ainda ressaltou que "a manifestação do Departamento de Estado distorce o
sentido das decisões do Supremo Tribunal Federal, cujos efeitos destinam-se a
assegurar a aplicação, no território nacional, da legislação brasileira
pertinente".
As críticas do
governo dos EUA foram direcionadas especificamente a decisões do ministro
Alexandre de Moraes, mas foram interpretadas pelo STF como um ataque à
instituição como um todo. O Departamento de Estado americano alegou que
"bloquear o acesso à informação e impor multas a empresas sediadas nos EUA
por se recusarem a censurar indivíduos que lá vivem é incompatível com valores
democráticos, incluindo a liberdade de expressão."
A tensão
diplomática intensificou-se após o ministro Alexandre de Moraes determinar a suspensão
temporária de plataformas como X (antigo Twitter), Telegram e Rumble. Este
último continua bloqueado no Brasil. As suspensões foram motivadas pelo
descumprimento de exigências previstas na legislação brasileira para operação
no país, incluindo a nomeação de representante legal em território nacional
para responder a intimações judiciais.
A situação
ganhou novos contornos quando o Rumble, juntamente com a Trump Media, empresa
ligada ao presidente estadunidense, moveu uma ação contra Moraes na Justiça dos
Estados Unidos. No STF, esta iniciativa foi interpretada como uma tentativa de
intimidação ao magistrado. As empresas argumentaram que Moraes teria violado a
soberania norte-americana ao ordenar a suspensão do perfil do blogueiro
bolsonarista Allan dos Santos, pedido que acabou sendo rejeitado pela Justiça
dos EUA.
¨ ‘Patriota’
bolsonarista quer convocar Mauro Vieira para explicar nota do Itamaraty sobre
governo Trump
A oposição,
que se intitula de ‘patriota’, protocolou um requerimento de convocação do ministro
das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para prestar esclarecimentos sobre a
nota divulgada pelo Itamaraty em resposta a uma manifestação do governo dos
Estados Unidos com críticas às decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF) Alexandre de Moraes.
Segundo a
coluna do jornalista Caio Junqueira, da CNN Brasil, o pedido, assinado pelo deputado federal
bolsonarista Marcel van Hattem (Novo-RS), argumenta que a nota oficial da
chancelaria brasileira "merece um escrutínio detalhado, tanto por seu
impacto na condução da política externa brasileira, quanto pela forma como o
processo de elaboração desta nota foi conduzido".
O texto do
requerimento aponta que, em meio a críticas internacionais à postura externa do
Brasil, é essencial que o Congresso exerça sua função de controle sobre as
decisões diplomáticas do governo. “Com evidentes abusos e desrespeitos à
liberdade de expressão, é imperativo que este Parlamento exerça sua função de
controle, buscando esclarecer se as decisões adotadas atendem aos preceitos
constitucionais e regimentais, bem como aos interesses e à soberania
nacionais”, diz um trecho do documento. .
Ainda conforme
reportagem, os parlamentares oposicionistas querem que Mauro Vieira esclareça
se “os fundamentos que levaram à afirmação de que a manifestação do
Departamento de Estado distorce o sentido das decisões do Supremo Tribunal Federal”,
bem como “os motivos e as circunstâncias que levaram à consulta prévia e não
oficial ao ministro Alexandre de Moraes e ao assessor Celso Amorim,
evidenciando possíveis desvios do procedimento regular, esperado em matéria de
comunicação e política externa.”
Fonte: Brasil 247
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