segunda-feira, 10 de março de 2025

Gene envolvido no câncer de pulmão é descoberto por novo estudo

Um estudo recente, envolvendo pesquisadores brasileiros, identificou um gene que pode estar envolvido no surgimento, progressão e prognóstico do adenocarcinoma pulmonar, o tipo mais comum de câncer de pulmão. A descoberta pode contribuir para a detecção precoce da doença, além de auxiliar no desenvolvimento de novos tratamentos.

trabalho, publicado em janeiro na revista científica Translational Lung Cancer Research, utilizou dados de expressão gênica e informações clínicas de pacientes com adenocarcinoma pulmonar obtidos de bancos de dados. Esses indivíduos foram divididos em dois grupos de acordo com a expressão do gene GNGT-1 e, em seguida, foram realizadas análises sobre a sobrevivência geral dos pacientes e a expressão e os mecanismos de ação desse gene.

Além disso, a expressão e a função do GNGT-1 no adenocarcinoma pulmonar foram verificadas por meio de testes com tecidos de pacientes e camundongos transgênicos capazes de superexpressar GNGT-1.

“A partir dessas análises, descobrimos que o gene GNGT-1 remodela o ambiente tumoral, gerando condições que promovem a progressão acelerada do adenocarcinoma pulmonar”, explica Ramon Andrade de Mello, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia e um dos autores do estudo, à CNN.

Segundo o especialista, o estudo introduz um novo biomarcador para a detecção precoce desse tipo de câncer de pulmão. “O GNGT-1 está significantemente relacionado à progressão e ao prognóstico desse tipo de câncer de pulmão, implicando que a hiperexpressão desse gene constitui um evento direcionador precoce da patogênese da doença. Então, o GNGT-1 é um marcador estratégico para o diagnóstico precoce do câncer, o que aumenta as chances de sucesso do tratamento”, pontua o oncologista.

Além disso, a descoberta do mecanismo de ação do gene GNGT-1 no desenvolvimento do adenocarcinoma pulmonar possibilita a investigação do tumor em modelos animais.

“E, tendo em vista que esse gene está envolvido na formação do adenocarcinoma pulmonar, o estudo também oferece uma fundamentação teórica para o desenvolvimento de agentes farmacológicos que bloqueiam o gene e suas vias celulares, assim contribuindo para o tratamento da doença e para o aumento da sobrevida dos pacientes”, afirma Mello.

“O mecanismo específico direto desse oncogene sobre as células tumorais ainda precisa ser mais estudado, mas esse é um grande passo no entendimento de um potencial elemento-chave para bloquear o crescimento de células cancerígenas pulmonares”, finaliza o oncologista.

<><> O que é adenocarcinoma pulmonar?

De acordo com Mello, o adenocarcinoma pulmonar é um câncer que se origina nos alvéolos e tem alta chance de metástase, além de ser uma das principais causas de mortalidade relacionadas ao câncer. Esse é o tipo mais comum de câncer de pulmão, tendo forte associação com o tabagismo, apesar de ser o subtipo mais diagnosticado em pessoas que nunca fumaram.

Outros fatores de risco associados ao tumor incluem histórico familiar de câncer de pulmão ou exposição ocupacional a agentes químicos, como sílica, amianto, radônio, metais pesados ​​e fumaça de diesel. Além disso, mutações genéticas estão relacionadas a 52% dos casos desse tipo de câncer.

“Hoje, mesmo com os avanços nos tratamentos, o diagnóstico precoce e o tratamento da doença ainda são desafios. Para se ter uma ideia, a sobrevida de pacientes com esse tipo de câncer é de cinco anos, o que é insatisfatório”, detalha Mello.

O tratamento do adenocarcinoma pode incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e hormonioterapia.

¨      Nova tecnologia robótica pode acelerar diagnóstico de câncer de pulmão

Uma nova tecnologia chamada broncoscopia assistida por robô pode acelerar o diagnóstico de câncer de pulmão, aumentando as chances de o tumor ser detectado em estágios iniciais. O robô atua como um GPS capaz de acessar áreas de difícil acesso do órgão de forma menos invasiva.

A broncoscopia tradicional consiste na visualização do aparelho respiratório por meio de um tubo com uma câmera na ponta. O procedimento serve para detectar tumores, obstruções, doenças infecciosas, coletar material líquido e biópsias, além de remover corpos e objetos estranhos das vias aéreas.

Com a assistência robótica, o exame melhora a navegação local e alcança nódulos pulmonares com maior precisão do que feito tradicionalmente, de acordo com o pneumologista Abubakr Bajwa, da Mayo Clinic, que esteve no Brasil no final de janeiro.

“Comparada à broncoscopia convencional, biópsias com agulha ou biópsias cirúrgicas do pulmão, a broncoscopia assistida por robô oferece diversas vantagens, como maior precisão, ser minimamente invasiva, melhor rendimento diagnóstico e maior controle e estabilidade”, explica Bajwa à CNN.

<><> Como funciona a broncoscopia assistida por robô?

De acordo com Bajwa, a broncoscopia assistida por robô é feita em diferentes etapas:

  • Planejamento pré-procedimento: por meio de tomografia computadorizada, o médico cria um mapa em 3D dos pulmões do paciente, identificando nódulos suspeitos;
  • Navegação robótica: o robô ajuda na condução do broncoscópio profundamente nos pulmões, permitindo alcançar nódulos que, de outra forma, seriam de difícil acesso;
  • Coleta de tecido: uma ferramenta de biópsia é inserida pelo broncoscópio para extrair amostras de tecido para análise;
  • Imagem em tempo real: a fluoroscopia ou tomografia computadorizada garantem o posicionamento preciso do broncoscópio e das ferramentas de biópsia.

Tecnologia economiza tempo para o diagnóstico de câncer de pulmão

Um dos benefícios da broncoscopia robótica, segundo Bajwa, é a redução do tempo até o diagnóstico do câncer de pulmão, o que acelera, também, o tratamento e aumenta as chances de cura da doença.

“O câncer de pulmão em estágio inicial responde melhor à cirurgia, terapia-alvo e imunoterapia. Além disso, permite cirurgias minimamente invasivas e abordagens de medicina de precisão”, afirma o pneumologista. “Pacientes diagnosticados em estágios iniciais têm taxas de sobrevivência significativamente maiores do que aqueles diagnosticados em estágios avançados”, acrescenta.

Com a assistência robótica, a broncoscopia reduz o tempo até a detecção precoce ao evitar múltiplos procedimentos, ao coletar tecido para biópsia de forma mais rápida e ao possuir menor tempo de espera pelos resultados.

“Uma amostragem mais precisa diminui a necessidade de biópsias repetidas, permitindo uma avaliação patológica mais precoce e um diagnóstico mais rápido—potencialmente semanas antes do que pelos métodos convencionais”, explica Bajwa.

<><> Pesquisadores estudam o uso da broncoscopia assistida por robô para tratamento de câncer

Cientistas da Mayo Clinic estão explorando novas maneiras de usar a broncoscopia assistida por robô para tratar nódulos e eliminar o câncer de pulmão. Bajwa explica que entre as potenciais aplicações da tecnologia no tratamento do tumor se destacam a entrega localizada de medicamentos.

“Pesquisadores estão investigando o uso de broncoscópios robóticos para administrar quimioterapia ou terapias direcionadas aos tumores pulmonares”, afirma o pneumologista.

Além disso, também está sendo analisada a colocação de marcadores para radioterapia com ajuda da tecnologia, tornando o tratamento mais direcionado.

“Atualmente, a maioria das estratégias de tratamento ainda depende de cirurgia, radioterapia e terapias sistêmicas, mas intervenções assistidas por robô podem se tornar uma opção viável no futuro”, finaliza.

¨      Com alta de casos, câncer anal pode ser evitado com vacina

Considerado raro e ainda pouco discutido, o câncer anal tem se tornado um desafio crescente para a saúde pública. Na última década, houve mais de 38 mil internações em decorrência da doença em hospitais públicos no Brasil. No mesmo período, foram registradas 6.814 mortes por causa desse tipo de tumor. É o que revela um levantamento da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), realizado com dados do Ministério da Saúde e divulgado no início de fevereiro.

Estima-se que o câncer anal represente cerca de 1% a 2% de todos os tumores colorretais na população geral. Embora considerada rara, a doença tem apresentado aumento de incidência nas últimas décadas, especialmente em grupos de alto risco. A boa notícia é que ela prevenível e pode ser curada, mas para isso é preciso detectar e tratar precocemente.

“No Brasil, a escassez de dados específicos dificulta o monitoramento preciso dessa evolução. Esse levantamento [da SBCP] é importante porque possibilita um melhor acompanhamento dos dados brasileiros, melhor entendimento e controle dos fatores de risco e, consequentemente, melhor prevenção e detecção precoce”, comenta a oncologista clínica Ana Paula Garcia Cardoso, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Entre as manifestações dessa doença estão dor, sangramento, coceira ou uma pequena verruga (nódulo) na região do canal anal. Por isso, muitas vezes é confundida com hemorroida – o que faz a pessoa não procurar um médico.

“A doença hemorroidária clássica é caracterizada por nódulos macios e amolecidos, mas eles podem ficar mais endurecidos num quadro trombótico agudo, por exemplo. As hemorroidas possuem um aspecto muito típico e característico e isso a gente consegue diferenciar por meio de um exame simples, chamado anuscopia, feito no próprio consultório”, explica o coloproctologista Victor Seid, membro titular da SBCP.

Se a lesão for considerada suspeita, é realizada uma biópsia para a confirmação do diagnóstico. O tratamento depende do estágio de detecção da doença, mas pode incluir quimioterapiaradioterapia e, em alguns casos, cirurgia.

<><> HPV é o principal vilão

O que pouca gente sabe é que, na maioria das vezes, o câncer anal está relacionado à infecção pelo papilomavírus humano (HPV), especialmente pelos tipos 16 e 18, os mesmos associados ao desenvolvimento do câncer de colo de útero. Embora esse vírus seja transmitido, principalmente, por meio de relações sexuais, ele pode afetar qualquer pessoa que tenha contato com as mucosas da região genital ou anal.

O aumento da prática de sexo anal desprotegido está relacionado ao crescimento da incidência desse tipo de câncer, já que o uso de preservativo é uma das medidas mais eficazes para evitar a transmissão do HPV. Mas a principal ferramenta preventiva é a vacinação, disponível na rede pública para meninos e meninas entre 9 e 14 anos. A imunização nessa faixa etária, antes do início da vida sexual, oferece maior proteção.

“A prevenção primária por meio da vacinação contra o HPV é uma estratégia crucial para reduzir a incidência desse tipo de câncer. No entanto, a cobertura vacinal no Brasil ainda é considerada baixa, o que reforça a necessidade de políticas públicas eficazes para ampliar a imunização, especialmente entre os grupos mais vulneráveis”, observa a oncologista.

Outro fator de risco é a imunossupressão, característica de pessoas com o sistema imunológico enfraquecido, como aquelas que vivem com HIV ou fazem uso de medicamentos imunossupressores (como transplantados e portadores de doenças autoimunes). O enfraquecimento do sistema imunológico dificulta o combate à infecção persistente por HPV, o que eleva o risco de câncer associado ao vírus.

A idade também influencia a probabilidade de desenvolver a doença, com maior incidência entre pessoas acima de 50 anos. No entanto, esse câncer não se limita aos mais velhos, sendo cada vez mais diagnosticado em adultos jovens.

<><> Prevenção é essencial

Apesar de ser uma doença grave, o câncer anal é prevenível — e as medidas não são as mesmas do câncer colorretal. “Muitos pacientes fazem colonoscopia pensando que o exame também vai avaliar o canal anal, mas isso não acontece. Quando o colonoscópio é introduzido no reto para examinar o intestino, ele já passou do canal anal”, explica Seid.

Para aqueles em grupos de risco, como pessoas com HIV ou histórico de infecção persistente por HPV, é importante realizar exames regulares, como a anuscopia, que permite detectar alterações precoces nas células da região. O uso regular de preservativos durante o sexo vaginal, anal e oral continua sendo uma recomendação fundamental para prevenir a transmissão do HPV e outros agentes patogênicos que podem causar câncer.

Também é importante que a população conheça os sinais da doença. “A prevenção é sempre o melhor caminho”, afirma Ana Paula Cardoso. “Mas é imperativo aprimorar os sistemas de informação em saúde para obter dados mais precisos sobre a incidência, prevalência e mortalidade associadas a essa neoplasia, permitindo, assim, a implementação de estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento mais eficazes.”

 

Fonte: CNN Brasil

 

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