Gene envolvido no câncer de pulmão é
descoberto por novo estudo
Um estudo recente, envolvendo pesquisadores
brasileiros, identificou um gene que pode estar envolvido no surgimento,
progressão e prognóstico do adenocarcinoma pulmonar, o tipo mais comum de
câncer de pulmão. A descoberta pode contribuir para a detecção precoce da
doença, além de auxiliar no desenvolvimento de novos tratamentos.
O trabalho, publicado em
janeiro na revista científica Translational Lung Cancer Research, utilizou
dados de expressão gênica e informações clínicas de pacientes com
adenocarcinoma pulmonar obtidos de bancos de dados. Esses indivíduos foram
divididos em dois grupos de acordo com a expressão do gene GNGT-1 e, em
seguida, foram realizadas análises sobre a sobrevivência geral dos pacientes e
a expressão e os mecanismos de ação desse gene.
Além disso, a expressão e a função do GNGT-1 no
adenocarcinoma pulmonar foram verificadas por meio de testes com tecidos de
pacientes e camundongos transgênicos capazes de superexpressar GNGT-1.
“A partir dessas análises, descobrimos que o gene
GNGT-1 remodela o ambiente tumoral, gerando condições que promovem a progressão
acelerada do adenocarcinoma pulmonar”, explica Ramon Andrade de Mello,
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia e um dos autores do
estudo, à CNN.
Segundo o especialista, o estudo introduz um novo
biomarcador para a detecção precoce desse tipo de câncer de pulmão. “O GNGT-1 está
significantemente relacionado à progressão e ao prognóstico desse tipo de
câncer de pulmão, implicando que a hiperexpressão desse gene constitui um
evento direcionador precoce da patogênese da doença. Então, o GNGT-1 é um
marcador estratégico para o diagnóstico precoce do câncer, o que aumenta as
chances de sucesso do tratamento”, pontua o oncologista.
Além disso, a descoberta do mecanismo de ação do gene
GNGT-1 no desenvolvimento do adenocarcinoma pulmonar possibilita a investigação
do tumor em modelos animais.
“E, tendo em vista que esse gene está envolvido na
formação do adenocarcinoma pulmonar, o estudo também oferece uma fundamentação
teórica para o desenvolvimento de agentes farmacológicos que bloqueiam o gene e
suas vias celulares, assim contribuindo para o tratamento da doença e para o
aumento da sobrevida dos pacientes”, afirma Mello.
“O mecanismo específico direto desse oncogene sobre as
células tumorais ainda precisa ser mais estudado, mas esse é um grande passo no
entendimento de um potencial elemento-chave para bloquear o crescimento de
células cancerígenas pulmonares”, finaliza o oncologista.
<><> O que é adenocarcinoma pulmonar?
De acordo com Mello, o adenocarcinoma pulmonar é
um câncer que se
origina nos alvéolos e tem alta chance de metástase, além de ser uma das principais
causas de mortalidade relacionadas ao câncer. Esse é o tipo mais comum de
câncer de pulmão, tendo forte associação com o tabagismo, apesar de ser o
subtipo mais diagnosticado em pessoas que nunca fumaram.
Outros fatores de risco associados ao tumor incluem
histórico familiar de câncer de pulmão ou exposição ocupacional a agentes
químicos, como sílica, amianto, radônio, metais pesados e
fumaça de diesel. Além disso, mutações genéticas estão relacionadas a 52% dos
casos desse tipo de câncer.
“Hoje, mesmo com os avanços nos tratamentos, o
diagnóstico precoce e o tratamento da doença ainda são desafios. Para se ter
uma ideia, a sobrevida de pacientes com esse tipo de câncer é de cinco anos, o
que é insatisfatório”, detalha Mello.
O tratamento do adenocarcinoma pode incluir cirurgia,
radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e
hormonioterapia.
¨ Nova tecnologia robótica pode acelerar
diagnóstico de câncer de pulmão
Uma nova tecnologia chamada broncoscopia
assistida por robô pode acelerar o diagnóstico de câncer
de pulmão,
aumentando as chances de o tumor ser detectado em estágios iniciais. O robô
atua como um GPS capaz de acessar áreas de difícil acesso do órgão de forma
menos invasiva.
A broncoscopia tradicional consiste na visualização do
aparelho respiratório por meio de um tubo com uma câmera na ponta. O
procedimento serve para detectar tumores, obstruções, doenças infecciosas,
coletar material líquido e biópsias, além de remover corpos e objetos estranhos
das vias aéreas.
Com a assistência robótica, o exame melhora a
navegação local e alcança nódulos pulmonares com maior precisão do que feito
tradicionalmente, de acordo com o pneumologista Abubakr Bajwa, da Mayo Clinic,
que esteve no Brasil no final de janeiro.
“Comparada à broncoscopia convencional, biópsias com
agulha ou biópsias cirúrgicas do pulmão, a broncoscopia assistida por robô
oferece diversas vantagens, como maior precisão, ser minimamente invasiva,
melhor rendimento diagnóstico e maior controle e estabilidade”, explica Bajwa
à CNN.
<><> Como funciona a broncoscopia assistida
por robô?
De acordo com Bajwa, a broncoscopia assistida por robô
é feita em diferentes etapas:
- Planejamento pré-procedimento: por meio de
tomografia computadorizada, o médico cria um mapa em 3D dos pulmões do
paciente, identificando nódulos suspeitos;
- Navegação robótica: o robô ajuda
na condução do broncoscópio profundamente nos pulmões, permitindo alcançar
nódulos que, de outra forma, seriam de difícil acesso;
- Coleta de tecido: uma
ferramenta de biópsia é inserida pelo broncoscópio para extrair amostras
de tecido para análise;
- Imagem em tempo real: a
fluoroscopia ou tomografia computadorizada garantem o posicionamento
preciso do broncoscópio e das ferramentas de biópsia.
Tecnologia economiza tempo para o diagnóstico de câncer
de pulmão
Um dos benefícios da broncoscopia robótica, segundo
Bajwa, é a redução do tempo até o diagnóstico do câncer de pulmão, o que acelera,
também, o tratamento e aumenta as chances de cura da doença.
“O câncer de pulmão em estágio inicial responde melhor
à cirurgia, terapia-alvo e imunoterapia. Além disso, permite cirurgias
minimamente invasivas e abordagens de medicina de precisão”, afirma o
pneumologista. “Pacientes diagnosticados em estágios iniciais têm taxas de
sobrevivência significativamente maiores do que aqueles diagnosticados em
estágios avançados”, acrescenta.
Com a assistência robótica, a broncoscopia reduz o
tempo até a detecção precoce ao evitar
múltiplos procedimentos, ao coletar tecido para biópsia de forma mais rápida e
ao possuir menor tempo de espera pelos resultados.
“Uma amostragem mais precisa diminui a necessidade de
biópsias repetidas, permitindo uma avaliação patológica mais precoce e um
diagnóstico mais rápido—potencialmente semanas antes do que pelos métodos
convencionais”, explica Bajwa.
<><> Pesquisadores estudam o uso da
broncoscopia assistida por robô para tratamento de câncer
Cientistas da Mayo Clinic estão explorando novas
maneiras de usar a broncoscopia assistida por robô para tratar nódulos e
eliminar o câncer de pulmão. Bajwa explica que entre as potenciais aplicações
da tecnologia no tratamento do tumor se destacam a entrega localizada de
medicamentos.
“Pesquisadores estão investigando o uso de
broncoscópios robóticos para administrar quimioterapia ou terapias direcionadas
aos tumores pulmonares”, afirma o pneumologista.
Além disso, também está sendo analisada a colocação de
marcadores para radioterapia com ajuda da tecnologia, tornando o tratamento
mais direcionado.
“Atualmente, a maioria das estratégias de tratamento
ainda depende de cirurgia, radioterapia e terapias sistêmicas, mas intervenções
assistidas por robô podem se tornar uma opção viável no futuro”, finaliza.
¨ Com alta de casos, câncer anal pode
ser evitado com vacina
Considerado raro e ainda pouco discutido, o câncer anal
tem se tornado um desafio crescente para a saúde pública. Na última década,
houve mais de 38 mil internações em decorrência da doença em hospitais públicos
no Brasil. No mesmo período, foram registradas 6.814 mortes por causa desse
tipo de tumor. É o que revela um levantamento da Sociedade Brasileira de
Coloproctologia (SBCP), realizado com dados do Ministério da Saúde e divulgado
no início de fevereiro.
Estima-se que o câncer anal represente
cerca de 1% a 2% de todos os tumores colorretais na população geral. Embora
considerada rara, a doença tem apresentado aumento de incidência nas últimas
décadas, especialmente em grupos de alto risco. A boa notícia é que ela
prevenível e pode ser curada, mas para isso é preciso detectar e tratar
precocemente.
“No Brasil, a escassez de dados específicos dificulta o
monitoramento preciso dessa evolução. Esse levantamento [da SBCP] é importante
porque possibilita um melhor acompanhamento dos dados brasileiros, melhor
entendimento e controle dos fatores de risco e, consequentemente, melhor
prevenção e detecção precoce”, comenta a oncologista clínica Ana Paula Garcia
Cardoso, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Entre as manifestações dessa doença estão dor,
sangramento, coceira ou uma pequena verruga (nódulo) na região do canal anal.
Por isso, muitas vezes é confundida com hemorroida – o que faz a pessoa não
procurar um médico.
“A doença hemorroidária clássica é caracterizada por
nódulos macios e amolecidos, mas eles podem ficar mais endurecidos num quadro
trombótico agudo, por exemplo. As hemorroidas possuem um aspecto muito típico e
característico e isso a gente consegue diferenciar por meio de um exame
simples, chamado anuscopia, feito no próprio consultório”, explica o
coloproctologista Victor Seid, membro titular da SBCP.
Se a lesão for considerada suspeita, é realizada uma
biópsia para a confirmação do diagnóstico. O tratamento depende do estágio de
detecção da doença, mas pode incluir quimioterapia, radioterapia e, em alguns
casos, cirurgia.
<><> HPV é o principal vilão
O que pouca gente sabe é que, na maioria das vezes, o
câncer anal está relacionado à infecção pelo papilomavírus humano (HPV), especialmente
pelos tipos 16 e 18, os mesmos associados ao desenvolvimento do câncer de colo
de útero. Embora esse vírus seja transmitido, principalmente, por meio de
relações sexuais, ele pode afetar qualquer pessoa que tenha contato com as
mucosas da região genital ou anal.
O aumento da prática de sexo anal desprotegido está
relacionado ao crescimento da incidência desse tipo de câncer, já que o uso de
preservativo é uma das medidas mais eficazes para evitar a transmissão do HPV.
Mas a principal ferramenta preventiva é a vacinação, disponível na rede pública
para meninos e meninas entre 9 e 14 anos. A imunização nessa faixa etária,
antes do início da vida sexual, oferece maior proteção.
“A prevenção primária por meio da vacinação contra o
HPV é uma estratégia crucial para reduzir a incidência desse tipo de câncer. No
entanto, a cobertura vacinal no Brasil ainda é considerada baixa, o que reforça
a necessidade de políticas públicas eficazes para ampliar a imunização,
especialmente entre os grupos mais vulneráveis”, observa a oncologista.
Outro fator de risco é a imunossupressão,
característica de pessoas com o sistema imunológico enfraquecido, como aquelas
que vivem com HIV ou fazem uso
de medicamentos imunossupressores (como transplantados e portadores de doenças
autoimunes). O enfraquecimento do sistema imunológico dificulta o combate à
infecção persistente por HPV, o que eleva o risco de câncer associado ao vírus.
A idade também influencia a probabilidade de
desenvolver a doença, com maior incidência entre pessoas acima de 50 anos. No
entanto, esse câncer não se limita aos mais velhos, sendo cada vez mais
diagnosticado em adultos jovens.
<><> Prevenção é essencial
Apesar de ser uma doença grave, o câncer anal é
prevenível — e as medidas não são as mesmas do câncer colorretal. “Muitos
pacientes fazem colonoscopia pensando que o exame também vai avaliar o canal
anal, mas isso não acontece. Quando o colonoscópio é introduzido no reto para examinar
o intestino, ele já passou do canal anal”, explica Seid.
Para aqueles em grupos de risco, como pessoas com HIV
ou histórico de infecção persistente por HPV, é importante realizar exames
regulares, como a anuscopia, que permite detectar alterações precoces nas
células da região. O uso regular de preservativos durante o sexo vaginal, anal
e oral continua sendo uma recomendação fundamental para prevenir a transmissão
do HPV e outros agentes patogênicos que podem causar câncer.
Também é importante que a população conheça os sinais
da doença. “A prevenção é sempre o melhor caminho”, afirma Ana Paula Cardoso.
“Mas é imperativo aprimorar os sistemas de informação em saúde para obter dados
mais precisos sobre a incidência, prevalência e mortalidade associadas a essa
neoplasia, permitindo, assim, a implementação de estratégias de prevenção,
diagnóstico precoce e tratamento mais eficazes.”
Fonte: CNN Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário