Como lidar com suas
emoções em vez de deixar que elas te controlem
Para o psicólogo americano
Ethan Kross, a maneira como a maioria das pessoas lida com sentimentos difíceis é,
na maioria das vezes, contraproducente.
"Parece que
estamos todos caminhando com dificuldade, ocasionalmente encontrando uma
solução acidental ou paliativa para nos ajudar a administrar nossas vidas
emocionais", afirma Kross, que é pesquisador na Universidade de Michigan e
diretor do Laboratório de Emoção e Autocontrole.
"Às vezes,
nossas ferramentas improvisadas ajudam. Às vezes, pioram as coisas. Parece tão
aleatório, isolador e ineficiente", diz ele.
Em seu novo
livro Shift: How to Manage Your Emotions So They Don't Manage
You ("Mudança: Como Controlar seus Sentimentos para que eles não te
Controlem", em tradução livre), ele pretende equipar os leitores com
um conjunto de
ferramentas para
navegar os altos e baixos emocionais de forma mais construtiva.
Em entrevista à BBC,
Kross falou sobre os benefícios dos sentimentos "negativos", a
criação de espaços seguros e oásis emocionais — e as vantagens surpreendentes
do entretenimento.
<><> Leia
abaixo trechos selecionados da entrevista.
·
Quais
os principais mitos sobre as emoções?
Ethan Kross
- Um grande engano é a ideia de que existem sentimentos bons e sentimentos
ruins e que devemos nos esforçar para viver nossas vidas livres de todas
"as emoções ruins".
Isso é um erro: nós
desenvolvemos a capacidade de experimentar todas as emoções por uma razão.
A raiva pode nos
motivar a corrigir uma injustiça se ainda houver uma oportunidade de consertar
as coisas.
A tristeza pode nos
levar à introspecção e a dar um novo significado a situações que foram
fundamentalmente alteradas.
A inveja pode nos
motivar a lutar por coisas que queremos alcançar.
Nas proporções
certas — essa é uma frase-chave — todos os sentimentos são úteis.
Pense na dor
física, que é um estado emocional tão negativo quanto podemos imaginar. Muitos
de nós anseiam viver vidas livres de qualquer tipo de dor física.
Mas algumas pessoas
nascem sem a capacidade de sentir dor, devido a uma anomalia genética, e essas
crianças acabam morrendo mais jovens do que as pessoas que podem sentir dor.
Isso porque, se
elas colocarem a mão no fogo, não há sinal que lhes diga para puxarem a mão. O
mesmo princípio é verdadeiro para todas as nossas emoções negativas.
As pessoas
geralmente acham libertador saber que não precisam se esforçar para viver uma
vida sem negatividade.
O que você quer se
esforçar para alcançar é apenas manter essas experiências emocionais sob
controle, e acho que essa é uma meta muito mais sustentável.
·
Muitas
pessoas acreditam que suas emoções estão fora do seu controle. De onde vem essa
atitude? E quais são as consequências?
Kross - Acho
que depende da faceta das nossas experiências emocionais sobre as quais estamos
falando.
Muitas vezes não
temos controle sobre os pensamentos e sentimentos que são acionados
automaticamente conforme vivemos nossas vidas ao longo do dia.
Mas podemos
controlar como respondemos a esses pensamentos e sentimentos uma vez que eles
são ativados, temos controle sobre nossas ações subsequentes. É aí que reside a
promessa da educação sentimental.
·
Como
podemos mudar nossas respostas a sentimentos difíceis?
Kross - Ouvir
música é um exemplo de uma ferramenta subutilizada.
Se você perguntar
às pessoas por que elas ouvem música, quase todas vão dizer que gostam da forma
como se sentem ao ouvir música.
Mas se você
observar o que as pessoas fazem quando estão lidando com suas emoções — como a
última vez que ficaram com raiva, ansiosas ou tristes — apenas uma pequena
minoria relata ouvir música.
Música é apenas uma
categoria do que eu chamo de "shifters", ferramentas que podem ajudar
a lidar com as emoções.
E a partir do
momento em que você entende o funcionamento desses mecanismos, você pode ser
muito mais estratégico em como usá-los em sua vida.
·
Você
também descreve em seu livro como uma mudança no ambiente pode ampliar nosso
bem estar. Como aplicar esse princípio no dia a dia?
Kross - Como
você disse, muitas pessoas se sentem restauradas quando vão para um lugar
totalmente diferente, livre de associações com trabalho.
Mas nem sempre
podemos tirar férias, e o que eu gosto de lembrar às pessoas é que muitas vezes
há ambientes próximos que podem mudar nosso humor.
Falamos muito sobre
como a presença de certas pessoas pode ser uma fonte de conforto quando não
estamos bem.
Mas podemos nos
apegar a certos lugares também.
Os meus incluem o
bosque perto da minha casa, a casa de chá onde escrevi meu primeiro livro e um
dos meus escritórios no campus da universidade.
A partir do momento
em que estou naquele espaço, tenho associações positivas que me ajudam a
controlar minhas emoções.
É como aqueles
esconderijos que você vê em filmes ou livros de espionagem, as chamadas
"safe houses" ("casas seguras", em inglês). Todos nós temos
esses cantinhos seguros em nossas vidas e precisamos ser estratégicos sobre ir
até eles quando estamos com dificuldades.
É uma forma de nos
administrar de fora para dentro.
Você também pode
fazer a curadoria do seu ambiente. Sabemos que plantas e imagens de espaços
verdes podem ser restaurativas. Assim como fotos de pessoas amadas.
·
BBC
- O objetivo é estar mais consciente do que podemos fazer para mudar como
estamos nos sentindo — em vez de apenas deixar isso ao acaso?
Kross - Uma
das minhas esperanças para este livro é que possamos fazer com que as pessoas
sejam muito mais deliberadas sobre a incorporação dessas ferramentas em suas
vidas.
·
A
distração e o entretenimento podem ser uma forma produtiva de lidar com as
emoções?
Kross - Evitar
os sentimentos — tentar ativamente não pensar em algo distraindo-se ou se
envolvendo em outros comportamentos — é um comportamento normalmente tratado
como prejudicial à saúde.
E não há dúvida de
que evitar cronicamente as coisas é um comportamento associado a resultados
negativos; não é uma abordagem que eu defenderia que alguém adotasse.
Mas não temos que
escolher entre lidar com as emoções ou evitá-las o tempo todo. Podemos ser
flexíveis e fazer as duas coisas.
Há pesquisas
mostrando que pessoas bem sucedidas em lidar com os sentimentos no longo prazo
também evitam suas emoções às vezes, em situações críticas.
Como isso se aplica
ao dia-a-dia? Digamos que você fiquei alterado por causa de uma discussão que
teve com alguém. Você pode tentar resolver ali mesmo, mas uma abordagem
positiva pode ser tirar um tempo para pensar sobre esse problema e confrontá-lo
depois.
Digo isso como o
tipo de pessoa que, em geral, gosta de confrontar as coisas no momento, apenas
chegar ao fundo da questão e seguir em frente.
Mas eu já decidi me
dedicar a algo totalmente não relacionado por um dia e então voltar ao problema
— e isso foi benéfico.
Eu posso voltar e
perceber que aquilo, na verdade, não é um problema, ou descobrir que o problema
era menor do que parecia, ou que eu posso lidar com ele de uma perspectiva mais
ampla.
·
Como
lidar com nossa tendência a nos compararmos com os outros o tempo todo?
Kross - Muitas
vezes ouvimos que não devemos nos comparar com os outros. Mas não é tão
simples: somos uma espécie social; parte da maneira como damos sentido a nós
mesmos e ao nosso lugar neste mundo é nos comparando com os outros.
É verdade que
muitas vezes nos envolvemos em comparações que nos levam a nos sentir mal sobre
nós mesmos. Mas você pode reformular isso de maneiras que façam a comparação
funcionar a seu favor, e não contra você.
Se eu descobrir que
alguém está me superando, posso dizer a mim mesmo: "bem, se ele conseguiu,
então por que eu não posso?". E isso é quase como ter um novo objetivo.
Quando estou com
dificuldades, minha primeira linha de defesa é usar o chamado diálogo interno
distanciado.
Isso significa
falar consigo mesmo em segunda pessoa, ou seja, como se estivesse se dirigindo
a um amigo.
Outra estratégia é
pensar no futuro: como vou me sentir sobre isso em um dia, 10 dias, 10 meses?
E também pensar no
passado: como isso se compara a outras coisas difíceis pelas quais passei?
Muitas vezes essas
ferramentas me levam aonde eu quero estar emocionalmente.
Mas se elas não
forem suficientes, vou aos meus conselheiros emocionais, pessoas na minha rede
de apoio que são muito habilidosas em ter empatia comigo e me aconselhar.
E também vou dar
uma volta, passar um tempo em um parque ou área verde, ou visitar um dos meus
cantinhos seguros, meus oásis emocionais.
Fonte: BBC Future
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