Espiritismo:
médiuns possuem alterações genéticas, aponta estudo da USP
Dentro da doutrina
espírita, os médiuns são praticantes com ‘dons’ especiais,
que supostamente mediam a comunicação entre os espíritos dos mortos e as
pessoas vivas. E a chamada mediunidade é esse dom concedido ao homem para a
comunicação com o mundo dos espíritos.
E a ciência
foi tentar entender melhor esse tipo de mediunidade. Um estudo liderado por
pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e divulgado na revista Brazilian
Journal of Psychiatry, analisou o DNA de pessoas ditas médiuns com o
de seus parentes não médiuns, e revelou que esse “dom” pode estar
relacionado a alterações genéticas que fazem com que os médiuns tenham uma
sensibilidade maior do que a maioria das pessoas, percebendo aspectos da
realidade que os outros não percebem.
Os dados para o
estudo
A pesquisa foi
realizada entre 2020 e 2021 e analisou o exoma – a parte do genoma que
codifica proteínas – de médiuns e de seus parentes não médiuns.
No total,
foram 119 pessoas, sendo 54 médiuns com 53 indivíduos para controle - não
médiuns e parentes de primeiro grau com similaridade genética e sociocultural e
12 médiuns para amostra de validação;
Entre os médiuns,
foram consideradas pessoas com mais de 10 anos de experiência, que
realizavam o trabalho mediúnico ao menos uma vez por semana e sem benefícios
materiais, ou seja, gratuito;
Também foram
incluídos no estudo dois gêmeos idênticos médiuns - que foram
comparados com um terceiro irmão não médium;
Foi montada
uma rede de capacitação para ajudar a localizar médiuns, considerando todo
o país, que tinham um papel importante em grupos religiosos onde as atividades
mediúnicas são regularmente praticadas, principalmente considerando o
espiritismo e a umbanda.
O objetivo era
identificar diferenças genéticas que pudessem estar associadas à mediunidade. O
resultado identificou 15.669 variantes genéticas exclusivas dos médiuns, com
potencial impacto na função de 7.269 genes.
Além da USP, também
participaram do estudo profissionais da Universidade Federal de Juiz de Fora,
em Minas Gerais, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Alexander
Moreira-Almeida, coautor do estudo e diretor do Núcleo de Pesquisas em
Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora, explica que a
maioria das alterações foi identificada no sistema sensorial e imunológico.
"Os sistemas
sensorial e imunológico se relacionam a como nosso corpo lida com o ambiente
externo. Provavelmente estamos descrevendo funções desses genes que nunca foram
ditas antes porque os genes estão geralmente ligados a várias funções",
afirma.
·
O
estudo
Segundo Alexander,
o método do estudo foi o padrão para investigar genes que possam estar
religados com algumas características das pessoas.
"É um estudo
caso-controle: você pega casos de pessoas que tem variável de interesse, no
nosso caso a experiência mediúnicas, e compara com pessoas que são muito
parecidas, mas que não tem a variável de interesse - no caso não são médiuns. A
ideia é ver se o grupo [de médiuns] tem algumas variantes genéticas que não
estão presentes no grupo controle. Esse é um modo padrão de se fazer estudos de
genéticas", afirma.
Os participantes
tiveram que fornecer dados pessoais como etnia, escolaridade, idade e amostras
de saliva. As habilidades dos participantes foram analisadas de duas formas:
com base em um questionário para entender a qualidade de vida e a extração e o
sequenciamento do DNA da saliva.
No questionário:
92,7% dos participantes reconheceram falar sob a influência de espíritos, 70,9%
disseram se comunicar por escrito. Outros 52,7% disseram ter visto espíritos;
50,9%, ter entrado em incorporação; 47,3%, ter tido experiência fora do corpo.
Cerca de 34%
disseram ter habilidades de cura.
De cada voluntário
foi analisado o exoma - região do DNA que determina a produção de proteínas,
com impacto sobre a formação do corpo de cada pessoa.
·
Análises
por grupo
Inicialmente, os
pesquisadores acharam diferenças entre os genes encontrados entre 54 médiuns e
seus 53 parentes de primeiro grau que não tinham o dom.
Após a análise
desse grupo, foi feita uma comparação entre os genes dos 54 e outros 12 médiuns
independentes, ou seja, que não faziam parte do grupo de controle.
Em 11 dos 12
indivíduos foram encontrados os mesmos genes mutáveis do grupo principal,
representando 1.574 mutações de 834 genes;
A análise também
foi feita em um par composto por gêmeos idênticos médiuns. Neste caso, foram
encontradas 434 mutações identificadas em 230 genes. Um irmão deles também foi
analisado, e as mutações não foram encontradas.
·
Os
resultados: médiuns têm alterações no DNA
As análises
genéticas dos médiuns revelaram alterações em genes associados à proteção
de mucosas, apresentação de antígenos e funções imunológicas. Foram 1.574
mutações presentes em 834 genes. Esses genes foram encontrados no sistema
imune e inflamatório, em tecidos epiteliais e na glândula pineal.
"A glândula
pineal fica no centro do cérebro. Até há algumas décadas, achava-se que ela não
tinha funções significativas, mas hoje sabemos que tem relação com diversas
funções do nosso corpo, inclusive com o sono. Diversas tradições espirituais,
dizem que a pineal se relaciona a percepções espirituais", afirmou
Alexander Moreira-Almeida, coautor do estudo e diretor do Núcleo de Pesquisas
em Espiritualidade e Saúde da Universidade
Federal de Juiz de Fora, ao site G1.
O estudo destaca
que o sistema imunológico pode ser um fator importante na mediunidade,
insinuando que os médiuns podem possuir um sistema sensorial mais receptivo a
estímulos do ambiente.
Então, a presença
dessas variantes genéticas sugere uma possível influência do sistema
imunológico no processamento de informações do ambiente externo pelos médiuns.
Segundo os autores,
os médiuns analisados podem ter uma predisposição biológica que influencia
como as informações do mundo externo chegam até eles, o que os difere daqueles
que não possuem tais variações, permitindo que eles percebam aspectos da
realidade que a maioria das pessoas não percebe.
Fonte: O Tempo/g1
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