segunda-feira, 10 de março de 2025

'2025 pode ser como 1968 e 1989: um ano em que a história do mundo muda e nada mais é como antes'

Há anos em que o mundo passa por alguma mudança fundamental e convulsiva.

Um deles foi 1968, marcado pela invasão da União Soviética à Tchecoslováquia, a revolta estudantil em Paris, e protestos contra a Guerra do Vietnã nos Estados Unidos.

Outro foi 1989, ano do massacre da Praça da Paz Celestial, da queda do Muro de Berlim e da implosão do império soviético.

Eu vivenciei cada um destes acontecimentos e, a partir desta perspectiva, me parece que, após apenas algumas semanas, 2025 pode ser um ano deste tipo: um momento em que os pressupostos básicos sobre a maneira como nosso mundo funciona são colocados no triturador.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, cada um dos 13 presidentes americanos anteriores a este segundo mandato de Trump defendeu, pelo menos da boca para fora, um conjunto de princípios geopolíticos fundamentais. Entre eles, que a própria segurança dos Estados Unidos dependia de proteger a Europa da Rússia, e os países não comunistas da Ásia, da China.

Trump mudou essa abordagem. Ele diz que está colocando os interesses dos Estados Unidos em primeiro lugar, antes de qualquer outra coisa. Na maioria das vezes, isso se resume à questão de quanto custa para os Estados Unidos proteger a Europa e a Ásia da Rússia e da China, respectivamente.

Isso, por si só, é muito difícil para os países aliados dos EUA, especialmente na Europa. Mas se torna muito mais difícil devido à própria personalidade de Trump. Nenhum presidente dos EUA nos tempos modernos, nem sequer Richard Nixon, deixou suas características pessoais influenciarem suas políticas como Trump faz.

"Ele é como Luís 14", me disse um diplomata americano aposentado, referindo-se ao pretensioso rei Sol da França.

Críticos como este acreditam que Trump é incrivelmente vaidoso e, ao mesmo tempo, incrivelmente sensível. Como resultado, os indicados para cargos que o cercam, pessoas como Elon Musk e J.D. Vance, talvez pensem que sua posição depende inteiramente do quanto eles o elogiam e apoiam suas opiniões.

Quando o presidente Trump afirma, sem nenhuma evidência, que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, é corrupto e tem um baixo índice de aprovação, Musk vai mais além: ele acrescenta que Zelensky é desprezado pelo povo ucraniano, e está se alimentando dos cadáveres dos soldados ucranianos.

Ninguém no círculo de Trump hoje, ao que parece, vai tossir discretamente e dizer: "Presidente, talvez o senhor devesse considerar voltar atrás nessa declaração".

A julgar por seu mandato anterior, podemos ter certeza de que cada uma das pessoas ao seu redor sabe como ele detesta que discordem dele. Elas também sabem que muitos eleitores apoiam incondicionalmente a abordagem de Trump, e sentem que estão financiando a segurança em um continente distante.

Ele se comprometeu a acabar com a guerra na Ucrânia até a Páscoa. E tem toda razão quando diz que o presidente russo, Vladimir Putin, está interessado nisso.

Embora as tropas russas estejam avançando lentamente no leste da Ucrânia, graças ao seu enorme número, suas perdas humanas são imensas.

Se a guerra continuar, a Rússia pode ter que recorrer ao recrutamento obrigatório, o que seria perigosamente impopular, e poderia até desestabilizar o regime de Putin. Tudo o que Trump diz sobre alcançar a paz é música para seus ouvidos.

John Bolton, o nada subserviente conselheiro de segurança nacional de Trump durante seu primeiro mandato, disse outro dia que o Kremlin deve ter estourado um champanhe quando ouviu sobre o plano de paz do governo Trump. Sem dúvida, pareceu um momento histórico — não apenas em Moscou, mas em todo o mundo.

Putin apoiou claramente a ideia de que Trump realmente venceu a eleição de 2020. Pode não ser verdade, mas Putin sabe que Trump favorece qualquer um que apoie sua visão das coisas.

Por que, em contrapartida, Trump e as pessoas que o cercam pegaram tão pesado com Zelensky? Em parte, deve ser porque Zelensky não faz obedientemente o que pedem a ele, como voltar à mesa de negociações e fechar um acordo para que os Estados Unidos possam ter acesso a minerais essenciais da Ucrânia.

Ao mesmo tempo, Trump entende que Zelensky é o elo mais fraco do trio formado por Estados Unidos, Rússia e Ucrânia — e pode ser pressionado de uma forma que Putin não pode. Quanto mais pressão for exercida sobre Zelensky, mais rápido será o acordo de paz.

Trump nunca parece, pelo menos em público, demonstrar muito interesse nos detalhes de qualquer acordo. O que importa para ele é o acordo em si, mesmo que a Ucrânia e seus aliados acreditem que seja claramente injusto, e permita que a Rússia volte em uma data futura e recomece a guerra.

Diplomatas britânicos e alemães que eu conheço ficaram furiosos com a forma como Trump agiu para levar a Rússia à mesa de negociações. "Ele tinha duas cartas importantes na mão", afirmou um deles. "A primeira era o isolamento da Rússia. Putin teria feito muitas concessões para poder participar das negociações com os Estados Unidos — só que Trump não insistiu em nenhuma concessão. Ele simplesmente o deixou sentar (na mesa de negociações) e começar a falar."

A outra carta, segundo o diplomata, era insistir que a Ucrânia deveria ter permissão para aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "Trump poderia ter discutido sobre isso, e extorquido todos os tipos de acordos de Putin, antes de finalmente dizer: OK, a Ucrânia não vai entrar para a Otan neste caso." Nas capitais europeias, há a sensação de que ele jogou fora estas duas cartas essenciais antes mesmo de as negociações começarem, sem nenhuma condição prévia.

No entanto, alguns diplomatas europeus com experiência em política americana já estão advertindo seus governos de que esse período monárquico na presidência de Trump, em que seus assessores acatam suas opiniões (ele literalmente se referiu a si mesmo como um "rei" na semana passada), não vai durar muito.

Atualmente, Trump tem o controle de um Congresso maleável e de uma Suprema Corte conservadora — mas daqui a apenas 20 meses, em novembro de 2026, haverá eleições de meio de mandato nos Estados Unidos.

Há sinais de que a inflação está começando a subir no país, e é bem possível que haja gente suficiente afetada para querer punir o partido Republicano de Trump nas urnas.

Se ele perder o controle de uma ou de ambas as casas do Congresso, o poder que ele tem no momento de fazer aprovar todos os planos e políticas, por mais controversos que sejam, vai diminuir.

Mas muita coisa pode acontecer nos próximos 20 meses. O expansionismo de Trump pode encorajar a China. Uma grande guerra comercial internacional, desencadeada pelas tarifas de Trump, pode começar. E parece provável que a União Europeia se torne política e economicamente mais fraca do que nunca.

Fechar um acordo de paz na Ucrânia nos termos da Rússia será algo totalmente novo para os Estados Unidos. Na grande maioria das negociações desde 1945, a Rússia teve dificuldades para conseguir o que queria devido à força econômica e militar americana.

Agora, Putin, que tomou a decisão onerosa de invadir a Ucrânia há três anos, parece que vai se safar, e prosperar.

Se isso acontecer, então 2025 será de fato lembrado como um ano chave: um momento em que a história do mundo mudou, e nada mais foi como antes.

 

¨      Trump planeja transformar a Ucrânia em uma colônia econômica dos EUA, explorando os seus minerais críticos

A briga que eclodiu na Casa Branca entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em 28 de fevereiro, foi um símbolo marcante da relação colonial entre os dois países.

"Você não está em posição de dar ordens", Trump gritou para Zelensky no Salão Oval. "Você não tem cartas na mão agora. Com a gente, você começa a ter cartas".

O governo Trump tem tentado impor um acordo explorador que "transformará a Ucrânia em uma colônia econômica dos EUA", segundo as palavras do jornal britânico conservador The Telegraph.

Trump está exigindo controle sobre os minerais da Ucrânia e planeja usar a receita da venda de seus recursos naturais para pagar aos Estados Unidos centenas de bilhões de dólares — o equivalente a aproximadamente o dobro do PIB da Ucrânia.

O governo dos EUA acredita que a Ucrânia pode ter trilhões de dólares em reservas de terras raras e outros minerais críticos, que são essenciais para as tecnologias avançadas.

Trump quer reindustrializar os Estados Unidos e está oferecendo às corporações acesso aos recursos da Ucrânia para fabricar os seus produtos.

Isso faz parte da tentativa de Washington para retirar a China da cadeia de suprimentos de minerais críticos, algo que tem sido uma das principais prioridades do Pentágono e do Comitê Seleto da Câmara dos EUA sobre o Partido Comunista da China.O jornal britânico The Telegraph informou que os recursos da Ucrânia poderiam valer 15 trilhões de dólares, escrevendo que os seus "minerais oferecem uma promessa tentadora: a capacidade dos EUA de romper a sua dependência do fornecimento chinês de minerais críticos, que são usados em tudo, desde turbinas eólicas até iPhones e caças furtivos".

Trump afirmou que quer "desunir" Rússia e China, e seus esforços para encerrar a guerra na Ucrânia também visam separar Moscou de Pequim.

Trump exige que a Ucrânia pague aos EUA o dobro de seu PIB - O governo dos EUA empurrou a Ucrânia para a guerra com a Rússia após expandir a OTAN até as fronteiras russas e apoiar um golpe de Estado que derrubou o governo democraticamente eleito e geopoliticamente neutro da Ucrânia em 2014. Isso desencadeou um conflito violento que escalou para uma grande guerra por procuração entre a OTAN e a Rússia em 2022.

O ex-secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, afirmou claramente que Washington estava usando a Ucrânia para "enfraquecer" a Rússia.

Em diferentes momentos, Trump afirmou falsamente que os Estados Unidos deram à Ucrânia 350 bilhões ou 500 bilhões de dólares em ajuda. Isso não é verdade.

Analistas independentes calcularam que os EUA gastaram 119,7 bilhões de dólares em "ajuda" relacionada à Ucrânia desde 2022.

De acordo com o Departamento de Defesa dos EUA, 182,8 bilhões de dólares foram alocados para operações militares relacionadas à Ucrânia entre o final de 2021 e o final de 2024. A BBC observou que esse valor inclui treinamentos militares na Europa e fornecimento de armas dos EUA.

Grande parte dessa "ajuda" consistiu em contratos do governo dos EUA com corporações privadas e lucrativas da indústria de armamentos, que produziram as armas e munições enviadas à Ucrânia.

Em outras palavras, o complexo militar-industrial dos EUA lucrou enormemente com a "ajuda" à Ucrânia.

Mesmo assim, Trump exige que a Ucrânia pague aos Estados Unidos pelo menos 350 bilhões de dólares — quase o dobro do tamanho de toda a economia do país.

O PIB da Ucrânia em 2024 foi estimado pelo FMI em 184,1 bilhões de dólares — embora esse número seja questionável devido à guerra.

Os EUA querem os minerais críticos da Ucrânia - O senador republicano Lindsey Graham, um aliado próximo de Trump, declarou repetidamente que os Estados Unidos querem explorar os minerais críticos da Ucrânia.

Em uma entrevista à CBS em junho de 2024, Graham afirmou:

"O que Trump fez para liberar armas para a Ucrânia [durante seu primeiro mandato]? Ele criou um sistema de empréstimos.Eles estão sentados sobre 10 a 12 trilhões de dólares em minerais críticos na Ucrânia. Eles poderiam ser o país mais rico da Europa. Eu não quero dar esse dinheiro e esses recursos para Putin, para ele compartilhar com a China".

Graham também disse em uma entrevista à Fox News, logo após Trump vencer as eleições presidenciais de novembro de 2024, que "a guerra é sobre dinheiro" e prometeu que Trump imporia um acordo para "nos enriquecer com minerais raros":

"Estamos há 1000 dias nessa guerra. A Ucrânia ainda está de pé. Esta guerra é sobre dinheiro. O país mais rico da Europa em termos de minerais raros é a Ucrânia: entre 2 e 7 trilhões de dólares em minerais raros, muito relevantes para o século XXI".

Não se sabe se a Ucrânia realmente possui essas grandes reservas de terras raras. Essa afirmação já foi questionada.

Mesmo assim, o governo Trump acredita que pode haver trilhões de dólares em minerais inexplorados e quer realizar operações de extração.

Na desastrosa coletiva de imprensa na Casa Branca com Zelensky em 28 de fevereiro, Trump foi questionado se o seu plano proporcionaria segurança à Ucrânia. Ele respondeu:

"Teremos segurança de uma forma diferente. Teremos trabalhadores lá, cavando, cavando, cavando, retirando a terra bruta, para que possamos criar muitos produtos excelentes neste país".

Trump também revelou que os Estados Unidos planejam usar os minerais críticos da Ucrânia para fabricar "armamentos que usaremos em muitos locais".

Ao longo da coletiva, Trump se referiu repetidamente aos elementos de terras raras como "terra bruta".

Seus comentários criticando os ambientalistas dos EUA por se oporem à mineração de terras raras foram uma admissão implícita de que o processo é tóxico.

Em um artigo revisado por pares publicado em 2024, especialistas científicos alertaram que a "extração em grande escala e a utilização de terras raras causariam sérios impactos ambientais e representam uma questão global de saúde pública".

O governo dos EUA aparentemente avaliou que seria melhor poluir a Ucrânia explorando terras raras lá, onde os estadunidenses não sofrerão com os impactos ambientais.

Trump se gaba de armar a Ucrânia - O discurso de Trump sobre a Ucrânia tem sido totalmente contraditório. Ele tem alternado entre culpar os presidentes democratas Joe Biden e Barack Obama pela guerra e, ao mesmo tempo, se gabar de fornecer armas a Kiev, armas estas que Obama inicialmente se recusou a enviar.

Trump exigiu repetidamente crédito por ter armado a Ucrânia com sistemas de mísseis antitanque Javelin durante seu primeiro mandato, os quais foram usados para combater forças apoiadas pela Rússia na região oriental do Donbass.

Em uma coletiva de imprensa na Casa Branca, em 25 de fevereiro, um jornalista perguntou a Trump sobre o acordo relacionado a minerais. A seguir, a transcrição de sua resposta:

REPÓRTER: O que a Ucrânia recebe em troca, Sr. Presidente?

DONALD TRUMP: Uhh, 350 bilhões de dólares, e muito equipamento, e equipamento militar, e o direito de continuar lutando, e, originalmente, o direito de lutar.

“Veja, a Ucrânia, eu direi, eles são muito corajosos e são bons soldados, mas sem os Estados Unidos, e o seu dinheiro, e o seu equipamento militar, esta guerra teria acabado em um período muito curto de tempo. Na verdade, fui eu quem deu os Javelins. Você se lembra dos famosos Javelins? Fui eu. Não foi Obama; não foi Biden; não foi mais ninguém; fui eu. E eles destruíram muitos tanques com esses Javelins. E a expressão era que Obama deu lençóis, e eu dei os Javelins. Isso foi um grande acontecimento na época. Isso eliminou... Esse foi o começo, quando as pessoas disseram: 'Uau, isso é algo'. Bem, esse era equipamento dos EUA. Sem equipamento estadunidense, esta guerra teria terminado muito rapidamente. E dinheiro dos EUA também. Quero dizer, muito dinheiro".

Durante seu embate com Zelensky em 28 de fevereiro, o ex-presidente dos EUA fez comentários semelhantes.

Trump culpou Biden pela guerra na Ucrânia, chamando-o de "estúpido". No entanto, ao mesmo tempo, embora negasse responsabilidade pela guerra, Trump não conseguiu evitar de se gabar de ter enviado armas para a Ucrânia durante o seu primeiro mandato, o que agravou o conflito que já estava em curso na época, antes de escalar maciçamente em 2022.

"Eu dei a vocês equipamento militar, e seus homens são corajosos, mas eles tiveram que usar o nosso equipamento militar", gritou Trump para Zelensky. "Se vocês não tivessem o nosso equipamento militar, esta guerra teria acabado em duas semanas".

Trump continuou:

“Isso não foi comigo; isso foi com um cara chamado Biden, que não é uma pessoa inteligente. Isso foi com Obama, que deu a vocês lençóis, e eu dei a vocês Javelins.“Eu dei a vocês os Javelins, para destruir todos aqueles tanques [russos]. Obama deu a vocês lençóis. Na verdade, a afirmação é: Obama deu lençóis, e Trump deu Javelins.“Vocês precisam ser mais gratos, porque, deixe-me dizer, vocês não têm as cartas na mão. Conosco, vocês têm as cartas. Mas sem nós, vocês não têm carta alguma.”

Os EUA controlarão o fundo de reconstrução da Ucrânia - O texto do acordo que Trump tentou impor à Ucrânia não foi divulgado publicamente.

O jornal conservador britânico The Telegraph obteve o rascunho inicial do acordo, que, segundo o veículo de mídia, equivaleria à "colonização econômica dos EUA sobre a Ucrânia, em perpetuidade legal".

Esse rascunho afirmava que os Estados Unidos obteriam controle sobre os "recursos minerais, recursos de petróleo e gás, portos e outras infraestruturas (conforme acordado)". A base legal do acordo não seria a lei ucraniana, mas sim a lei do estado de Nova York.

Telegraph escreveu:“Os EUA tomarão 50% das receitas recorrentes recebidas pela Ucrânia com a extração de recursos e 50% do valor financeiro de “todas as novas licenças emitidas para terceiros” para a monetização futura dos recursos. Haverá “um ônus sobre essas receitas” em favor dos EUA. “Essa cláusula significa ‘nos pague primeiro e depois alimente os seus filhos’”, disse uma fonte próxima às negociações.

Declara ainda que “para todas as futuras licenças, os EUA terão direito de preferência na compra de minerais exportáveis”. Washington terá imunidade soberana e adquirirá controle quase total sobre a maior parte da economia de commodities e recursos da Ucrânia. O fundo “terá o direito exclusivo de estabelecer o método, os critérios de seleção, os termos e as condições” de todas as futuras licenças e projetos. E assim por diante, nesse mesmo tom. Parece ter sido escrito por advogados privados, não pelos departamentos de Estado ou do Comércio dos EUA.

Esse rascunho vazado causou indignação internacional, dado seu caráter explicitamente colonial.

Para tentar salvar as aparências, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, publicou um artigo de opinião no Financial Times em 22 de fevereiro explicando os planos da administração Trump para a Ucrânia.

Bessent é um bilionário gestor de fundos de derivativos, que anteriormente trabalhou para o oligarca bilionário George Soros, que ironicamente é um espantalho para os conservadores ocidentais.

Bessent viajou à Ucrânia em fevereiro para negociar o acordo com Zelensky.

Em seu artigo no FT, Bessent explicou que, sob o acordo, os Estados Unidos supervisionariam um fundo conjunto com o governo ucraniano. Ele escreveu:“Os termos da nossa parceria propõem que a receita recebida pelo governo da Ucrânia com recursos naturais, infraestrutura e outros ativos seja alocada a um fundo focado na reconstrução e desenvolvimento de longo prazo da Ucrânia, onde os EUA terão direitos econômicos e de governança nesses investimentos futuros.”

O secretário do Tesouro insinuou fortemente que as corporações estadunidenses se beneficiarão desses investimentos, escrevendo: "Quando estive em Kiev, encontrei muitas empresas dos EUA que estão na Ucrânia há anos".

Bessent enfatizou que os "termos desta parceria mobilizarão o talento, o capital e os altos padrões estadunidenses".

Em um artigo separado e complementar, o Financial Times observou que, em seu artigo de opinião, Bessent convenientemente omitiu quanto da receita de exportação da Ucrânia será paga aos EUA.Um rascunho do acordo obtido pelo FT afirmava que o fundo da Ucrânia seria estabelecido "com o ônus (reivindicação legal) dessas receitas em favor dos Estados Unidos". O texto deixava claro que Washington teria poder sobre os projetos de reconstrução na Ucrânia.

Esse modelo lembra o arranjo colonial que os Estados Unidos impuseram ao Iraque após invadir o país em uma guerra ilegal de agressão em 2003 e derrubar seu governo. O banco central dos EUA, o Federal Reserve, administra o dinheiro que o Iraque recebe com a venda de seu petróleo bruto.

O primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmyhal, declarou que seu país havia concordado com o acordo de minerais de Trump dois dias antes da reunião de Zelensky na Casa Branca. Não está claro se o embate alterou o status do acordo.

Outra grande revelação no artigo de Bessent no FT foi que o próprio Zelensky havia visitado a Trump Tower em setembro, poucas semanas antes da eleição presidencial. Lá, segundo Bessent, "Zelensky propôs dar aos EUA uma participação nos elementos de terras raras e minerais críticos da Ucrânia".

Essa foi a maior ironia de todas: Zelensky há muito tempo demonstrava ser um vassalo obediente dos Estados Unidos e ofereceu a Trump parte dos recursos naturais da Ucrânia como um incentivo para continuar os envios de armas.

Trump aparentemente adorou a ideia, mas queria controle total, não apenas uma parte. Agora, Trump exige ser pago com um valor equivalente ao dobro do PIB do país.

O acordo colonial que a administração Trump está impondo à Ucrânia lembra uma citação infame do falecido estrategista imperial dos EUA, Henry Kissinger, que disse, no contexto do regime fantoche de Washington no Vietnã do Sul: "Pode ser perigoso ser inimigo dos EUA, mas ser seu amigo é fatal".

O povo da Ucrânia aprendeu essa lição da pior forma.

 

Fonte: BBC News/Brasil 247

 

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