segunda-feira, 10 de março de 2025

Haddad diz que alta do PIB é resultado de diálogo entre poderes da República

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na noite desta sexta-feira (7) que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil é resultado do diálogo entre as forças políticas e os poderes da República.

"Penso que os resultados que nós estamos tendo — em 2023, crescimento de 3,2%, e em 2024, de 3,4% —, em certa medida, já é o resultado de um começo de conversa em que as forças políticas e os poderes da República começam a perceber que tem muita coisa em risco", afirmou.

Segundo Haddad, há agora um entendimento político de que o país "não pode mais se manter nesse tipo de controvérsia [polarização], que gera muito calor e não traz resultado para a sociedade".

Para o ministro, o Brasil passou por uma década "ruim" e "desarrumada" de 2013 a 2022 — anos dos governos de Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL). Período em que, na visão dele, foram adotadas "medidas equivocadas".

"Mas [os resultados] também [ocorreram] por causa da política. O Brasil ficou polarizado, começou a ter uma sabotagem de parte a parte. As pessoas não conseguiam distinguir uma disputa de governo para temas que são do Estado brasileiro", disse.

As declarações do ministro foram feitas em entrevista ao podcast Flow, no mesmo dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a alta de 3,4% do PIB em 2024. O crescimento da economia foi puxado pelos setores de serviços, que subiu 3,7%, e indústria, com alta de 3,3%. A agropecuária, porém, teve um recuo de 3,2% no ano.

Outro destaque do crescimento foi o forte nível de consumo das famílias, que registrou uma alta de 4,8% em relação a 2023 — impulsionado, principalmente, pelos programas de transferência de renda do governo e por um mercado de trabalho aquecido.

O problema, apontam especialistas, é que um crescimento sustentado pela ampliação dos gastos do governo gera uma série de problemas fiscais, pressionando a inflação e, consequentemente, levando os juros a patamares mais elevados.

“Sempre que o governo gasta, é como se ele estivesse aquecendo a economia, o que gera a inflação. Fazendo isso, ele está jogando contra o lado monetário, o Banco Central, que está tentando conter a inflação”, afirmou ao g1 André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre.

“A eficiência política vem quando os dois andam no mesmo sentido. O governo tem que gastar menos, enquanto a política monetária sobe o juros”, acrescentou.

Para Braz, já ajudaria se o governo tivesse um discurso mais assertivo sobre as contas públicas, para aumentar a confiança dos investidores em colocar recursos no Brasil, reduzindo a cotação do dólar.

·        Crescimento com 'moderação'

O ministro da Fazenda afirmou que o Brasil vai seguir crescendo em 2025, mas com "mais moderação". A previsão da pasta é que o PIB do país avance 2,5% neste ano, acima do que prevê o mercado financeiro (2,01%), conforme o último boletim Focus.

"Acredito que nós vamos continuar crescendo, mas com um pouquinho mais de moderação por causa da inflação. Então, temos que dar uma moderada para que a oferta de produtos acompanhe a demanda, que cresceu muito", declarou.

Haddad afirmou que a renda das famílias cresceu, o que aumentou a procura — e passou a pressionar a inflação.

"Se a oferta não acompanha o crescimento da demanda, você tem um ajuste no preço, que é o que está acontecendo em alguns produtos agora. Então, essa calibragem é fundamental para continuar crescendo, mas mantendo a inflação minimamente controlada", acrescentou.

Para o ministro, uma série de produtos que estão mais caros nos últimos meses deverão ter quedas nos preços com a entrada da nova safra brasileira, que será "muito expressiva" este ano.

"Tudo indica que vai ser uma supersafra, ao contrário do ano passado, que não foi boa", disse. "A redução do preço do dólar, que bateu um pico no ano passado — e está começando a reverter — também vai ajudar", concluiu o ministro.

O dólar disparou no fim do ano passado, em meio à frustração do mercado com o pacote de corte de gastos apresentado pelo governo federal. Na máxima histórica, a moeda chegou aos R$ 6,26, em 18 de dezembro. A previsão do mercado financeiro é que encerre 2025 cotada a R$ 5,99.

¨      Lula baixa impostos sobre alimentos; economistas veem impacto limitado

A decisão do governo federal de zerar a tarifa de importação de nove produtos da cesta básica repete uma estratégia usada em gestões anteriores, tanto de esquerda quanto de direita, para tentar conter a inflação dos alimentos.

Medidas semelhantes foram adotadas pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2013, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022 e, agora, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu terceiro mandato.

O governo anunciou que carnes, açúcar, café, azeite, milho, biscoitos, massas e outros itens terão as alíquotas de importação zeradas nos próximos dias. O objetivo é reduzir os preços e aliviar a pressão inflacionária sobre a população, especialmente a de baixa renda.

No entanto, especialistas alertam que a estratégia pode ter pouco impacto prático. O professor de Economia da FGV Joelson Sampaio avalia que esse tipo de ação ocorre geralmente em momentos de choque de produção, mas traz benefícios limitados.

“São, em geral, decisões de isenção ou redução de alíquotas de imposto. Elas geram certos impactos, mas sempre muito reduzidos”, explica.

Além disso, há o risco de que a redução dos impostos não chegue ao consumidor final.

“Quando você isenta ou reduz uma alíquota, há um benefício. Mas ele pode não ser totalmente repassado aos consumidores. Isso porque uma parte vira margem para os comerciantes”, acrescenta Sampaio.

O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, é ainda mais cético.

“Se tivesse dado certo no passado, a alimentação não teria acumulado a alta que acumulou nos últimos anos. Apesar de todos os esforços, essas medidas não mexem com a estrutura produtiva do país”, avalia.

Ele aponta que soluções estruturais, como melhorias no transporte e na logística, incentivos ao pequeno produtor e o desenvolvimento de sementes mais resistentes a variações climáticas, seriam mais eficazes no longo prazo.

“Essas medidas mostraram que são coisas que a gente não deve fazer. Mas entendo que o governo precisa dar uma resposta. Fizeram um movimento. É o movimento do ‘melhor que nada’. Mas a gente não pode esperar muito desse movimento”, conclui.

<><> Medidas parecidas em outros governos

A estratégia de zerar impostos sobre alimentos já foi usada pelos últimos governos. Veja como foi:

<><> Governo Bolsonaro (2022)

Em março de 2022, o governo Bolsonaro zerou o imposto de importação sobre seis alimentos da cesta básica (café torrado, margarina, queijo, macarrão, açúcar e óleo de soja) e sobre o etanol.

Em maio, ampliou a isenção para feijão, carne, massas, biscoitos, arroz e materiais de construção.

A medida foi adotada para tentar conter a inflação, que passava de 10% ao ano.

O então ministro Paulo Guedes defendia cortes de tarifas como forma de reduzir preços.

<><> Governo Dilma (2013-2016)

Em 2013, Dilma anunciou a desoneração integral dos tributos federais sobre a cesta básica. O custo estimado era de R$ 8 bilhões por ano.

Em 2016, o governo reduziu a zero o imposto de importação do milho para reequilibrar o mercado nacional e evitar aumento dos custos da carne.

No mesmo ano, o imposto de importação do feijão também foi zerado por três meses, após elevação nos preços.

<><> Governo Lula (2023-2025)

Em junho de 2023, Lula realizou um leilão de compra de arroz para conter a alta no preço, mas o processo foi anulado por irregularidades.

Nesta semana, o governo anunciou a isenção de impostos para carne, café, milho, açúcar, azeite e outros alimentos.

O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que as medidas devem entrar em vigor nos próximos dias e que o governo está "abrindo mão de imposto em favor da redução de preços".

<><> O que esperar agora?

O governo aposta que a redução de impostos ajudará a baixar os preços. Mas, para especialistas, o impacto será pequeno, já que muitos produtos seguem a cotação internacional e estão sujeitos a fatores externos, como quebras de safra em outros países.

“O que precisamos é avançar na produtividade e na capacidade de produção para aumentar a concorrência e reduzir os preços dos alimentos”, aponta Joelson Sampaio.

Já André Braz destaca que as medidas passadas não trouxeram alívio duradouro.

“A verdade é que o preço do alimento é determinado principalmente pela oferta e demanda no mercado. Sem mexer na estrutura produtiva do país, os preços continuam subindo”, conclui.

 

¨      Especialistas afirmam que atual política de gasto público do governo pode comprometer resultado sustentável da economia

Especialistas afirmam que a atual política de gasto público do governo pode comprometer um resultado sustentável da economia e que a política fiscal é o maior desafio.

Na fábrica de papinhas de bebê, a antiga cozinha não suportou o calor da economia em 2024.

"Eu tive que triplicar o meu quadro de funcionários porque a gente não estava conseguindo suprir a demanda de produção com as vendas. Foi um ano muito bom”, conta Platiní Vieira, chefe de produção.

Na indústria, investimento é ingrediente básico. Sem ele, nada cresce.

"A gente investiu em infraestrutura, em maquinário e em equipe. E logística, marketing, a gente investiu geral. A gente investiu em tudo o que precisava para expandir”, diz o empresário Ricardo Figaro.

Em 2024, 44% dos investimentos foram na construção, 38% em máquinas e equipamentos, e 17% no grupo "outros" - categoria em que o IBGE inclui o desenvolvimento de softwares e atividades de florestamento, por exemplo.

A Confederação Nacional da Indústria reconhece que os resultados alcançados no acumulado de 2024 se deve muito a políticas voltadas para a reindustrialização e de financiamento; e pede que o governo adote medidas que contribuam para "a racionalidade dos gastos públicos, bem como que haja mais rigor nas ações de todos os poderes públicos com relação a novos gastos e custos, principalmente aqueles que possam ir na contramão do controle fiscal".

É que assim como na receita do chef, existe o ponto certo da economia. Descuidar dos gastos públicos é como esquecer a panela no fogo. A inflação acima da meta e o aumento das importações vistos em 2024 são sinais de atividade aquecida. Com a alta dos juros a partir do fim de 2024, o Banco Central busca o equilíbrio. E vem mais água nessa fervura. O economista Sergio Vale explica:

"Os melhores momentos da economia brasileira, quando a gente olha a nossa história pós hiperinflação, do Plano Real para cá, foram os momentos que a política monetária e a política fiscal trabalharam em conjunto. Foram relativamente poucos momentos que a gente teve isso na economia brasileira. Em geral, o que muitas vezes acontecia? O Banco Central trabalhava para tentar ajustar a economia, tentar manter ela em um crescimento razoável que não gerasse inflação, e a politica fiscal executiva do outro lado colocando mais dinheiro na economia, aumentando gasto público, aumentando a demanda e atrapalhando a vida do Banco Central. A gente está um pouco nessa situação nos últimos dois anos. O Banco Central está ali fazendo um trabalho para tentar conter a inflação, mas a política fiscal não está conseguindo ajudar. Pelo contrário, está fazendo papel de aumentar mais o gasto e isso está atrapalhando o trabalho do Banco Central", afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

No último trimestre de 2024, a atividade esfriou. E com ela, o ritmo da indústria e o nível dos investimentos. Mas o que 2024 entrega é bem mais do que se esperava há um ano: alta de 7,3% nos investimentos e 3,3% na indústria – o melhor resultado em três anos.

Em 2025, economistas dizem que as condições de temperatura e pressão são outras, com o clima propício para o agronegócio.

"Nós estamos com uma realidade diferente econômica nos Estados Unidos, temos tensões geopolíticas crescentes. Então, isso também faz com que o investimento para frente seja mais cauteloso. Mas, sem dúvida, o agro vai ser um amortecedor para que a queda não seja muito pronunciada", afirma Caio Megale, economista-chefe da XP.

Os economistas ressaltam a importância do equilíbrio entre a política fiscal e a monetária.

"Certos sinais de que a demanda começou a correr muito além da capacidade de oferta da economia, a inflação subiu, o déficit externo aumentou por conta do aumento das importações. Isso são sinais de que talvez seja a hora de dar uma pisada no freio e dar uma reacomodação. Um novo equilíbrio entre oferta e demanda da economia para que a inflação volte a cair, volte a se estabilizar, e a gente entre mais equilibrado lá em 2026", diz Caio Megale.

"A gente precisa tirar a lenha dessa fogueira para ajudar a desacelerar a economia. O Banco Central está fazendo isso, está colocando água nessa fogueira, que é a taxa de juros. Só que o governo, do outro lado, está colocando mais lenha. Porque se a gente não desacelera agora, vai ser pior lá na frente. Era melhor que o governo tentasse fazer esse ajuste nesse momento para conseguir chegar em 2026 em melhores condições. Na hora que você tenta acelerar no momento em que a inflação está elevada, você pressiona o Banco Central a subir mais juros ainda e ai você pode prejudicar não é só o crescimento desse ano, é o crescimento também de 2026", diz Sérgio Vale.

 

Fonte: g1

 

Nenhum comentário: