Haddad
diz que alta do PIB é resultado de diálogo entre poderes da República
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na noite desta sexta-feira (7) que o crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) do Brasil é resultado do diálogo entre as forças políticas
e os poderes da República.
"Penso que os resultados que nós estamos tendo
— em 2023, crescimento de 3,2%, e em 2024, de 3,4% —, em certa medida, já é o
resultado de um começo de conversa em que as forças políticas e os poderes da
República começam a perceber que tem muita coisa em risco", afirmou.
Segundo Haddad, há agora um entendimento político
de que o país "não pode mais se manter nesse tipo de controvérsia
[polarização], que gera muito calor e não traz resultado para a
sociedade".
Para o ministro, o Brasil passou por uma década
"ruim" e "desarrumada" de 2013 a 2022 — anos dos governos
de Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL). Período em
que, na visão dele, foram adotadas "medidas equivocadas".
"Mas [os resultados] também [ocorreram] por
causa da política. O Brasil ficou polarizado, começou a ter uma sabotagem de
parte a parte. As pessoas não conseguiam distinguir uma disputa de governo para
temas que são do Estado brasileiro", disse.
As declarações do ministro foram feitas em
entrevista ao podcast Flow, no mesmo dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou
a alta de 3,4% do PIB em 2024. O crescimento
da economia foi puxado pelos setores de serviços, que subiu 3,7%, e indústria, com
alta de 3,3%. A agropecuária,
porém, teve um recuo de 3,2% no ano.
Outro destaque do crescimento foi o forte nível
de consumo das famílias,
que registrou uma alta de 4,8% em relação a 2023 —
impulsionado, principalmente, pelos programas de transferência de renda do
governo e por um mercado de trabalho aquecido.
O problema, apontam especialistas, é que um
crescimento sustentado pela ampliação dos gastos do governo gera uma série de
problemas fiscais, pressionando a inflação e, consequentemente, levando os
juros a patamares mais elevados.
“Sempre que o governo gasta, é como se ele
estivesse aquecendo a economia, o que gera a inflação. Fazendo isso, ele está
jogando contra o lado monetário, o Banco Central, que está tentando conter a
inflação”, afirmou ao g1 André Braz, coordenador
dos Índices de Preços do FGV Ibre.
“A eficiência política vem quando os dois andam no
mesmo sentido. O governo tem que gastar menos, enquanto a política monetária
sobe o juros”, acrescentou.
Para Braz, já ajudaria se o governo tivesse um
discurso mais assertivo sobre as contas públicas, para aumentar a confiança dos
investidores em colocar recursos no Brasil, reduzindo a cotação do dólar.
·
Crescimento com 'moderação'
O ministro da Fazenda afirmou que o Brasil vai
seguir crescendo em 2025, mas com "mais moderação". A previsão da
pasta é que o PIB do país avance 2,5% neste ano, acima do que prevê o mercado
financeiro (2,01%), conforme o último boletim Focus.
"Acredito que nós vamos continuar crescendo,
mas com um pouquinho mais de moderação por causa da inflação. Então, temos que
dar uma moderada para que a oferta de produtos acompanhe a demanda, que cresceu
muito", declarou.
Haddad afirmou que a renda das famílias cresceu, o
que aumentou a procura — e passou a pressionar a inflação.
"Se a oferta não acompanha o crescimento da
demanda, você tem um ajuste no preço, que é o que está acontecendo em alguns
produtos agora. Então, essa calibragem é fundamental para continuar crescendo,
mas mantendo a inflação minimamente controlada", acrescentou.
Para o ministro, uma série de produtos que estão
mais caros nos últimos meses deverão ter quedas nos preços com a entrada da
nova safra brasileira, que será "muito expressiva" este ano.
"Tudo indica que vai ser uma supersafra, ao
contrário do ano passado, que não foi boa", disse. "A redução do
preço do dólar, que bateu um pico no ano passado — e está começando a reverter
— também vai ajudar", concluiu o ministro.
O dólar disparou no fim do ano passado, em meio
à frustração do mercado com o pacote de corte de gastos apresentado
pelo governo federal. Na máxima histórica, a moeda chegou aos R$ 6,26, em 18 de dezembro. A previsão do mercado financeiro é que encerre 2025 cotada a R$ 5,99.
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Lula baixa impostos sobre alimentos; economistas veem
impacto limitado
A decisão do governo federal de zerar a tarifa de importação de nove produtos da cesta básica repete uma estratégia usada em
gestões anteriores, tanto de esquerda quanto de direita, para tentar conter a
inflação dos alimentos.
Medidas semelhantes foram adotadas pela
ex-presidente Dilma
Rousseff (PT) em 2013, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022 e, agora,
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu terceiro mandato.
O governo anunciou que carnes,
açúcar, café, azeite, milho, biscoitos, massas e outros itens terão as
alíquotas de importação zeradas nos próximos dias. O objetivo é reduzir os
preços e aliviar a pressão inflacionária sobre a população, especialmente a de
baixa renda.
No entanto, especialistas alertam que a estratégia
pode ter pouco impacto prático. O professor de Economia da FGV Joelson Sampaio
avalia que esse tipo de ação ocorre geralmente em momentos de choque de
produção, mas traz benefícios limitados.
“São, em geral, decisões de isenção ou redução de
alíquotas de imposto. Elas geram certos impactos, mas sempre muito reduzidos”,
explica.
Além disso, há o risco de que a redução dos
impostos não chegue ao consumidor final.
“Quando você isenta ou reduz uma alíquota, há um
benefício. Mas ele pode não ser totalmente repassado aos consumidores. Isso
porque uma parte vira margem para os comerciantes”, acrescenta Sampaio.
O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de
Economia da FGV, é ainda mais cético.
“Se tivesse dado certo no passado, a alimentação
não teria acumulado a alta que acumulou nos últimos anos. Apesar de todos os esforços,
essas medidas não mexem com a estrutura produtiva do país”, avalia.
Ele aponta que soluções estruturais, como melhorias
no transporte e na logística, incentivos ao pequeno produtor e o
desenvolvimento de sementes mais resistentes a variações climáticas, seriam
mais eficazes no longo prazo.
“Essas medidas mostraram que são coisas que a gente
não deve fazer. Mas entendo que o governo precisa dar uma resposta. Fizeram um
movimento. É o movimento do ‘melhor que nada’. Mas a gente não pode esperar
muito desse movimento”, conclui.
<><> Medidas parecidas em outros governos
A estratégia de zerar impostos sobre alimentos já
foi usada pelos últimos governos. Veja como foi:
<><> Governo Bolsonaro (2022)
▶️Em março de
2022, o governo Bolsonaro zerou o imposto de importação sobre seis alimentos da
cesta básica (café torrado, margarina, queijo, macarrão, açúcar e óleo de soja)
e sobre o etanol.
▶️Em maio, ampliou
a isenção para feijão, carne, massas, biscoitos, arroz e materiais de
construção.
A medida foi adotada para tentar conter a inflação,
que passava de 10% ao ano.
O então ministro Paulo Guedes defendia cortes de
tarifas como forma de reduzir preços.
<><> Governo Dilma (2013-2016)
▶️Em 2013, Dilma
anunciou a desoneração integral dos tributos federais sobre a cesta básica. O
custo estimado era de R$ 8 bilhões por ano.
▶️Em 2016, o
governo reduziu a zero o imposto de importação do milho para reequilibrar o
mercado nacional e evitar aumento dos custos da carne.
▶️No mesmo ano, o
imposto de importação do feijão também foi zerado por três meses, após elevação
nos preços.
<><> Governo Lula (2023-2025)
▶️Em junho de
2023, Lula realizou um leilão de compra de arroz para conter a alta no preço,
mas o processo foi anulado por irregularidades.
▶️Nesta semana, o
governo anunciou a isenção de impostos para carne, café, milho, açúcar, azeite
e outros alimentos.
O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que as
medidas devem entrar em vigor nos próximos dias e que o governo está
"abrindo mão de imposto em favor da redução de preços".
<><> O que esperar agora?
O governo aposta que a redução de impostos ajudará
a baixar os preços. Mas, para especialistas, o impacto será pequeno, já que
muitos produtos seguem a cotação internacional e estão sujeitos a fatores
externos, como quebras de safra em outros países.
“O que precisamos é avançar na produtividade e na
capacidade de produção para aumentar a concorrência e reduzir os preços dos
alimentos”, aponta Joelson Sampaio.
Já André Braz destaca que as medidas passadas não
trouxeram alívio duradouro.
“A verdade é que o preço do alimento é determinado
principalmente pela oferta e demanda no mercado. Sem mexer na estrutura
produtiva do país, os preços continuam subindo”, conclui.
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Especialistas afirmam que atual política de gasto
público do governo pode comprometer resultado sustentável da economia
Especialistas afirmam que a atual política de gasto
público do governo pode comprometer um resultado sustentável da economia e que
a política fiscal é o maior desafio.
Na fábrica de papinhas de bebê, a antiga cozinha
não suportou o calor da economia em 2024.
"Eu tive que triplicar o meu quadro de
funcionários porque a gente não estava conseguindo suprir a demanda de produção
com as vendas. Foi um ano muito bom”, conta Platiní Vieira, chefe de produção.
Na indústria, investimento é ingrediente básico.
Sem ele, nada cresce.
"A gente investiu em infraestrutura, em
maquinário e em equipe. E logística, marketing, a gente investiu geral. A gente
investiu em tudo o que precisava para expandir”, diz o empresário Ricardo
Figaro.
Em 2024, 44% dos investimentos foram na construção,
38% em máquinas e equipamentos, e 17% no grupo "outros" - categoria
em que o IBGE inclui
o desenvolvimento de softwares e atividades de florestamento, por exemplo.
A Confederação Nacional da Indústria reconhece que
os resultados alcançados no acumulado de 2024 se deve muito a políticas
voltadas para a reindustrialização e de financiamento; e pede que o governo
adote medidas que contribuam para "a racionalidade dos gastos públicos,
bem como que haja mais rigor nas ações de todos os poderes públicos com relação
a novos gastos e custos, principalmente aqueles que possam ir na contramão do
controle fiscal".
É que assim como na receita do chef, existe o ponto
certo da economia. Descuidar dos gastos públicos é como esquecer a panela no
fogo. A inflação acima da meta e o aumento das importações vistos em 2024 são
sinais de atividade aquecida. Com a alta dos juros a partir do fim de
2024, o Banco Central busca o equilíbrio. E vem mais água nessa fervura. O
economista Sergio Vale explica:
"Os melhores momentos da economia brasileira,
quando a gente olha a nossa história pós hiperinflação, do Plano Real para cá,
foram os momentos que a política monetária e a política fiscal trabalharam em
conjunto. Foram relativamente poucos momentos que a gente teve isso na economia
brasileira. Em geral, o que muitas vezes acontecia? O Banco Central trabalhava
para tentar ajustar a economia, tentar manter ela em um crescimento razoável
que não gerasse inflação, e a politica fiscal executiva do outro lado colocando
mais dinheiro na economia, aumentando gasto público, aumentando a demanda e
atrapalhando a vida do Banco Central. A gente está um pouco nessa situação nos
últimos dois anos. O Banco Central está ali fazendo um trabalho para tentar
conter a inflação, mas a política fiscal não está conseguindo ajudar. Pelo
contrário, está fazendo papel de aumentar mais o gasto e isso está atrapalhando
o trabalho do Banco Central", afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB
Associados.
No último trimestre de 2024, a atividade esfriou. E
com ela, o ritmo da indústria e o nível dos investimentos. Mas o que 2024
entrega é bem mais do que se esperava há um ano: alta de 7,3% nos investimentos
e 3,3% na indústria – o melhor
resultado em três anos.
Em 2025, economistas dizem que as condições de
temperatura e pressão são outras, com o clima propício para o agronegócio.
"Nós estamos com uma realidade diferente
econômica nos Estados Unidos, temos tensões geopolíticas crescentes. Então,
isso também faz com que o investimento para frente seja mais cauteloso. Mas,
sem dúvida, o agro vai ser um amortecedor para que a queda não seja muito
pronunciada", afirma Caio Megale, economista-chefe da XP.
Os economistas ressaltam a importância do
equilíbrio entre a política fiscal e a monetária.
"Certos sinais de que a demanda começou a
correr muito além da capacidade de oferta da economia, a inflação subiu, o
déficit externo aumentou por conta do aumento das importações. Isso são sinais
de que talvez seja a hora de dar uma pisada no freio e dar uma reacomodação. Um
novo equilíbrio entre oferta e demanda da economia para que a inflação volte a
cair, volte a se estabilizar, e a gente entre mais equilibrado lá em
2026", diz Caio Megale.
"A gente precisa tirar a lenha dessa fogueira
para ajudar a desacelerar a economia. O Banco Central está fazendo isso, está
colocando água nessa fogueira, que é a taxa de juros. Só que o governo, do
outro lado, está colocando mais lenha. Porque se a gente não desacelera agora,
vai ser pior lá na frente. Era melhor que o governo tentasse fazer esse ajuste
nesse momento para conseguir chegar em 2026 em melhores condições. Na hora que
você tenta acelerar no momento em que a inflação está elevada, você pressiona o
Banco Central a subir mais juros ainda e ai você pode prejudicar não é só o
crescimento desse ano, é o crescimento também de 2026", diz Sérgio Vale.
Fonte: g1
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