O time de futebol
britânico que ajudou a fundar a Seleção Brasileira
Faltavam 10 minutos
para o início do jogo entre Exeter City e Bolton Wanderers válido pela League
One, o equivalente à terceira divisão do campeonato inglês.
Enquanto os
jogadores se aqueciam no gramado do estádio St. James Park, localizado na
cidade de Exeter, os alto-falantes do estádio tocavam Mas Que Nada, na
versão de Sérgio Mendes, e Ai, Se Eu
Te Pego, na voz de Michel Teló.
O locutor da
partida, realizada num sábado, 4 de janeiro de 2025, começou a anunciar a
escalação do time da casa — e disse todos os números das camisas dos jogadores
titulares do Exeter City em português.
Nos alambrados que
separam campo e arquibancada, era possível ver algumas bandeiras do Brasil e outras do
Fluminense.
O mascote do time,
um leão, vestia uma camisa verde e amarela, que também estampava a bandeira
brasileira nas costas.
Muitos torcedores
usavam uma camiseta verde, branca e grená — as cores do Fluminense.
Outros se protegiam
do frio de 3 °C com um cachecol que misturava as cores vermelho e preto do
Exeter com o verde e amarelo brasileiros.
Na beira do
gramado, uma pequena banda fazia batuques e emulava os ritmos do samba.
Todos esses
elementos podem até parecer fora de lugar nesta cidade de 120 mil habitantes,
que fica no sudoeste da Inglaterra e é a capital do condado de Devon.
Mas eles são frutos
de um relacionamento que perdura 111 anos, do qual o clube britânico tem grande
orgulho — e reconhece como uma das maiores conquistas de sua história
centenária.
O Exeter City foi o
primeiro time a enfrentar uma seleção brasileira.
O jogo, que
aconteceu em 1914 no Estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, marcou o
início de uma trajetória que culminou em cinco Copas do Mundo e incontáveis
craques para nosso país.
Mas essa história
não se limitou às primeiras décadas do século 20.
O episódio
inusitado e pouco conhecido foi um pontapé para uma relação de amizade, que
ganhou outros capítulos em anos recentes — e promete novos frutos relacionados
ao enfrentamento das mudanças climáticas num futuro próximo.
A BBC News Brasil
acompanhou a partida, que celebrou esse vínculo e conversou com alguns
personagens que ajudam a entender como esse relacionamento começou, se manteve
ao longo dos anos e é cultivado até os dias de hoje.
<><> Os
primeiros passos dessa história
A relação entre
Exeter e Brasil surgiu a partir de um acaso.
Inicialmente, a
Associação de Futebol da Inglaterra havia convidado outros clubes, como o
Tottenham Hotspur, de Londres, para fazer uma excursão pela América do Sul, com
o objetivo de promover o esporte nesse canto do mundo.
Mas, por algum
motivo que não ficou registrado na História, esses times rejeitaram a proposta.
O convite então
caiu no colo do Exeter City F.C., um clube que havia sido fundado em 1901,
participava de uma liga do sul da Inglaterra e havia ganhado notoriedade
nacional ao dificultar um jogo contra o poderoso Aston Villa no início de 1914.
O clube topou a empreitada
e zarpou com o navio Andes, que pertencia ao serviço de correio britânico, rumo
ao Hemisfério Sul.
Os primeiros
registros da passagem do Exeter City pela região aparecem na edição de 9 de
junho de 1914 do jornal carioca Correio da Manhã, que noticiou a breve parada
da delegação inglesa no porto do Rio de Janeiro.
"Os jogadores
tiveram palavras de admiração pela beleza do Rio de Janeiro, elogiando também o
cuidado e a fina conservação dos grounds [gramados] que visitaram",
informa a reportagem.
A princípio, o time
vinha fazer uma série de jogos na Argentina — mas já havia uma negociação para
que também acontecessem algumas partidas no Brasil, quando a comitiva estivesse
no caminho de volta para o Reino Unido.
"Agora,
cabe-nos dar aos sportsmen [indivíduos interessados por esportes] cariocas uma
bela notícia. Tudo nos leva a crer que, finalmente, teremos a cobiçada aventura
de assistir um jogo de profissionais", adiantou o Correio da Manhã.
Vale lembrar que, à
época, o futebol era totalmente amador no Brasil — os atletas tinham outras
profissões e não dependiam do esporte como fonte de renda principal.
Em terras
portenhas, o Exeter City jogou oito partidas — foram seis vitórias, um empate e
uma derrota, para um combinado de jogadores do norte do país.
Um desses
confrontos, contra o Racing Club, ficou marcado por um acontecimento um tanto
bizarro: um dirigente do clube argentino entrou em campo e ameaçou o juiz com
um revólver, pois queria que ele expulsasse um dos jogadores do time inglês.
Ao longo das semanas
de junho e julho de 1914, começaram a ecoar na imprensa as negociações sobre os
jogos que aconteceriam no Rio de Janeiro.
Inicialmente, a
ideia era que o Exeter fizesse três aparições em campo. A primeira seria contra
um time formado por representantes da colônia inglesa que moravam na então
capital brasileira.
A segunda seria uma
disputa contra um selecionado de atletas cariocas.
E a terceira
envolveria um misto de jogadores do Rio de Janeiro e de São Paulo — à época, os
dois maiores centros do futebol no país —, num dos primeiros rascunhos do que
viria a ser a seleção brasileira.
Os jornais
começaram a especular quem seriam os onze escolhidos para representar o Brasil
e publicaram um perfil de todos aqueles que formavam a comitiva inglesa.
Sobre Dick Pym, de
23 anos, por exemplo, o Correio da Manhã informou que ele era "reconhecido
como um dos melhores keepers [goleiros] da Liga do Sul da Inglaterra".
"É muito jovem
e tem no football um grande futuro diante de si", anteviu a publicação.
Mas um conflito de
datas quase postergou por mais algum tempo a ideia de ver uma seleção
brasileira em campo.
Isso porque os
times dos possíveis representantes de São Paulo tinham alguns jogos agendados
previamente e os dirigentes Associação Paulista de Sports Athleticos não viam
possibilidades de mexer no calendário de competições disputadas entre os clubes
do Estado.
"Um fato que
muito contristou os sportsmen desta capital foi a não participação dos
jogadores da Associação Paulista na formação dos scratches [times] de ingleses
e de brasileiros que vão enfrentar os profissionais, conforme telegrama que
ontem recebeu a Liga [federação carioca responsável pela organização dos
amistosos]", lamentou a edição do Correio da Manhã de 18 de julho de 1914
— três dias antes da partida.
Mas a chegada de um
cartola paulista de última hora no Rio de Janeiro deu uma reviravolta nessa
decisão.
Na edição de 19 de
julho, o Correio da Manhã divulgou que Aymoré Pereira Lima, tesoureiro da
associação paulista, se reuniu com os dirigentes cariocas e confirmou a vinda
dos atletas de São Paulo.
"Imensamente
satisfeito ficará o público do Rio ao saber da nova que, de certo, se espalhará
hoje célere, para alegria de ver jogar pela primeira vez em campos brasileiros
contra o estrangeiro uma equipe de paulistas e cariocas", comemorou a
publicação.
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Bola em campo
Como mencionado
anteriormente, o primeiro jogo do Exeter City foi contra um combinado de
ingleses que moravam no Rio de Janeiro — o time britânico venceu por 3 a 0.
Nos jornais, o futebol
mais violento praticado pelos visitantes no Estádio das Laranjeiras (sede do
Fluminense) começou a chamar atenção dos brasileiros.
"Os
profissionais eram para nós mistério, como para as crianças é o uso de calças
compridas. Esperávamos o jogo do Exeter City ansiosos, impacientes mesmo",
relatou o Correio da Manhã de 19 de julho.
"Eles têm, de
fato, no conjunto, dois ou três elementos que destoam do resto do núcleo em
praticar o association [termo da época que exprimia um jogo mais leal e dentro
das regras]. Lagan, por exemplo, o meio de campo, não é dos que mais
corretamente jogam, tendo a especial predileção de pisar constantemente nos pés
dos adversários para inutilizar-lhes a ação", diz a reportagem.
Na segunda partida,
contra o selecionado carioca, em que o Exeter venceu por 5 a 3, os protestos
contra o jogo brusco dos britânicos ficaram mais intensos.
"O Exeter City
deixou-se de histórias e, não querendo que ficasse sem razão o que sobre ele
disseram os jornais argentinos, lançou mão (podemos usar do aforismo, pois que
a mão foi a base dessa anormalidade) de todos os recursos brutais e puníveis de
que possa ser dado usar a um grupo em tal emergência", publicou o Correio
da Manhã em 20 de julho.
No dia seguinte, às
15h45, ocorreu o jogo mais esperado: o confronto entre o clube inglês e o
primeiro protótipo da seleção brasileira da história.
Pelo Exeter,
entraram em campo Loram, Fort, Strettle, Rigby, Lagan, Harding, Holt,
Whittaker, Hunter, Lovett e Goodwin.
O goleiro Pym, um
dos destaques do grupo, se lesionou na Argentina, precisou ser substituído por
Loram (que era amador) e apenas assistiu os três confrontos realizados no Rio
de Janeiro.
Pelo Brasil, a
primeira seleção foi formada por Marcos (Fluminense), Píndaro (Flamengo), Nery
(Flamengo), Lagreca (Sao Bento), Rubens (Paulistano), Rolando (Botafogo),
Oswaldo (Fluminense), Abelardo (Botafogo), Friedenreich (Ypiranga), Osman
(América) e Xavier (Ypiranga).
Arthur
Friedenreich, conhecido como El Tigre, era a grande estrela daquele período — e
até hoje é reconhecido como um dos maiores da fase amadora do futebol
brasileiro.
No final do jogo, o
placar das Laranjeiras mostrava o resultado de 2 a 0 para o Brasil, com gols de
Oswaldo e Osman.
No dia seguinte, o
Correio da Manhã estampou que "os brasileiros derrotaram brilhantemente os
afamados profissionais do Exeter City" e que "a equipe nacional
desenvolveu um jogo extraordinário, acima de todas as expectativas".
"Impossível é
darmos uma pálida ideia aos nossos bondosos leitores do que foi a enorme multidão,
calculada em seis mil pessoas, a vibrar de emoção ante a estupenda vitória
colhida pelo time brasileiro contra os profissionais do Exeter City, carregando
em triunfo os jogadores patrícios e gritando ensurdecedoramente, gesticulando,
dançando, levada momentaneamente a um verdadeiro acesso de loucura",
detalhou o jornal.
Diz o Correio da
Manhã que Friedenreich saiu com a camisa branca — o Brasil só adotaria o
amarelo canarinho décadas depois — totalmente manchada de sangue. Ele teria
perdido dois dentes ao levar pancadas nas disputas de bola contra os ingleses.
A publicação também
aproveitou para dar algumas indiretas sobre o futebol praticado pelos nossos
vizinhos do continente.
"Na verdade, o
score [placar] obtido por nós foi em tudo superior ao colhido pelos argentinos
[...] Aqui no Brasil, eles [jogadores do Exeter] jogaram somente três partidas.
Perderam justamente a última, depois de estarem familiarizados com o campo.
Fizeram 8 gols a favor e tiveram 5 contra. Como se vê, uma diferença mínima",
contabiliza o jornal.
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Entre bombas e papagaios
No jogo realizado
em 4 de janeiro deste ano contra o Bolton Wanderers, um dos torcedores que
estava nas arquibancadas do St. James Park era Richard Pym, neto do goleiro
Dick Pym.
Apesar de não ter
conseguido jogar no Rio de Janeiro por causa de uma contusão sofrida na
Argentina, o atleta trouxe duas das bolas usadas nas partidas da excursão.
Hoje em dia, uma
delas está num lugar de destaque no museu do clube, que tem uma área dedicada
ao Brasil.
Dick Pym jogou no
Exeter por mais dois anos. Em 1921, ele foi comprado pelo Bolton Wanderers,
time pelo qual disputou três finais da tradicional FA Cup — e ganhou todas, sem
tomar nenhum gol.
Em entrevista à BBC
News Brasil após a partida, Richard relata que o avô sempre contava histórias
sobre a aventura pela América do Sul.
"Essa
experiência foi muito significativa na vida dele, e ele guardava essas memórias
com carinho", lembra Richard.
"Assim como
todo futebolista, meu avô era muito supersticioso. Nunca entendi o motivo, mas
ele sempre colocava um pedaço de carvão nas redes do gol que defendia."
Além das bolas,
Dick Pym trouxe um souvenir peculiar do Brasil: um papagaio, que não resistiu à
viagem ou ao clima da Inglaterra.
"Meu avô então
resolveu enterrar a ave debaixo de uma das traves aqui do estádio. Mas, logo na
sequência, ele tomou alguns gols. Então decidiu desenterrar o papagaio por
achar que ele dava azar", conta Richard.
O neto do lendário
goleiro lembra que o Exeter zarpou de uma Europa em paz — no entanto, quando
voltava da América do Sul, viu eclodir a Primeira Guerra Mundial.
No meio do
Atlântico, havia uma apreensão entre os tripulantes do navio SS Alcântara sobre
as chances de encontrar alguma unidade inimiga e o risco de sofrer bombardeios
ou capturas.
A embarcação até
foi alvo de bombas — felizmente, elas eram só de alarme e vinham de barcos
aliados que estavam próximos da França.
Os jogadores
desembarcaram em Liverpool com segurança no dia 9 de agosto de 1914.
Alguns dos atletas
amadores que defendiam as cores do Exeter (mas não estavam na viagem) foram
logo convocados para lutar na guerra. Foi o caso de George White e Fred Bailey,
que morreram nas trincheiras.
Entre os 15
representantes do Exeter que compunham a delegação no tour pela América do Sul,
alguns também foram parar na linha de frente do conflito armado.
O atacante Fred
Goodwin virou instrutor de lançamento de bombas. Durante uma batalha, sofreu um
grave ferimento e nunca mais foi capaz de entrar em campo de novo.
O mesmo aconteceu
com o meio-campo Billy Smith, que levou um tiro e precisou amputar uma perna.
"Foi uma
grande mudança para todos os jogadores", constata Richard, cujo avô também
serviu em um dos regimentos britânicos como instrutor físico.
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Resgate do elo perdido
A relação entre
Exeter City e Brasil permaneceu em banho-maria por muitas décadas após a
partida de 1914.
Mas ela ganhou um
novo fôlego no início dos anos 2000, a partir da iniciativa de Ricardo Calçado,
um brasileiro que se mudou para Exeter quando tinha 16 anos, em 1996.
"Eu sou do Rio
de Janeiro, morei perto do estádio das Laranjeiras e minha família toda
frequentava o clube do Fluminense", diz ele.
"Já na minha
juventude aqui em Exeter, comecei a visitar o estádio e torcia para o time da
cidade", continua Calçado.
Em meados de 2003,
o brasileiro passou a trabalhar para fortalecer os vínculos com o Brasil. No
ano seguinte, ele virou dirigente do clube.
Em fevereiro de
2004, surgiu uma oportunidade: aconteceu em Dublin um amistoso entre a seleção
brasileira e a Irlanda. Na ocasião, Calçado conseguiu marcar uma reunião com
representantes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
"O Exeter
havia completado seu centenário e seria uma honra para nós receber no St. James
Park alguma delegação do Brasil nessas comemorações", sugeriu o
brasileiro.
O pedido foi aceito
e a CBF enviou uma seleção brasileira de masters (jogadores importantes que já
estavam aposentados) para fazer um amistoso na cidade do sudoeste inglês.
O jogo, realizado
em 30 de maio de 2004, contou com a participação de grandes ídolos do país,
como Dunga, Ricardo Rocha, Jorginho, Paulo Sérgio, Silas, Mazinho e Careca.
O confronto
terminou com uma nova vitória verde-amarela pelo placar de 1 a 0, com gol de
Careca.
"Naquele
momento, o clube disputava a quinta divisão inglesa e passava por uma crise
financeira absurda, à beira da falência", lembra Calçado.
"E o jogo com
o Brasil foi emblemático, pois lotou o estádio, chamou a atenção da imprensa e,
de certa maneira, mudou a nossa sorte. A partir dali, demos uma subida
maravilhosa, tivemos um melhor equilíbrio financeiro e um aumento de
renda."
Essa história
ganhou um novo capítulo importante dez anos depois, em 2014, quando se
comemorou o centenário daquela primeira partida.
O Exeter City
voltou a fazer uma excursão para o Brasil e jogou no Estádio das Laranjeiras.
A partida aconteceu
em 20 de julho, mas os adversários desta vez foram os atletas sub-23 do
Fluminense e o placar terminou num empate de 0 a 0.
Um dos atletas que
vestiu a camisa do Exeter naquele dia foi o jovem Ollie Watkins — atacante que
depois representaria a Inglaterra num amistoso contra o Brasil disputado no
estádio Wembley em março de 2024.
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Amigáveis e receptivos
Cerca de 300
torcedores do clube inglês viajaram para o Rio de Janeiro e participaram das
comemorações do centenário, em 2014.
Um deles foi Dan
Wiseman, que além de torcer pelo clube do coração também foi convidado a
registrar o episódio e fez um documentário com as imagens que captou.
"Fiquei muito
orgulhoso de poder fazer parte dessa história e criar um filme que registra
esse legado", confessa ele.
Apesar de todas as
aparentes diferenças culturais, Wiseman vê algumas similaridades importantes
entre Exeter e Rio de Janeiro (ou o Brasil).
"Há, claro, o
amor pelo futebol e o carinho por essa história conjunta. Mas os brasileiros
também são muito receptivos, amigáveis e têm um perfil parecido ao que se
encontra nas pessoas que vivem aqui, nessa região oeste da Inglaterra",
compara ele.
Em 2015, foi a vez
do time de base do Fluminense sub-19 cruzar o Atlântico e visitar a cidade de
Exeter para um amistoso, que terminou com uma vitória de 2 a 0 para o time
carioca.
Nesse mesmo ano, o
clube inglês lançou uma camisa que emula o verde, branco e grená da camisa
principal do Fluminense.
Martin Weiler, um
torcedor do Exeter que vestia uma camisa verde e amarela e recebia visitantes
no museu do clube antes da partida contra o Bolton Wanderers, destaca a
"posição singular" do time na história do futebol.
"O fato de
sermos os primeiros oponentes do Brasil criou uma relação única e representa
uma história fabulosa, da qual temos muito orgulho", diz ele.
"E é incrível
ver que esse relacionamento se mantém ao longo do tempo, com as partidas
realizadas em 2004, 2014 e 2015."
"Precisamos
continuar a contar essa história para as futuras gerações, sobre como esses
futebolistas da classe trabalhadora foram ao Brasil tantos anos atrás",
complementa ele.
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'Nós somos os donos'
Como mencionado no
início da reportagem, a memória do jogo contra o Brasil aparece em cada detalhe
do St. James Park.
Bandeiras
brasileiras de todos os tamanhos estão espalhadas por vários setores do
estádio.
A torcida tem um
grito de guerra que questiona: Have you ever played
Brazil? ("Você já jogou contra o Brasil?", em tradução livre).
Alguns dos
envolvidos com o clube lançaram até um musical sobre a partida de 1914, que foi
encenado nos teatros de Exeter.
Mas há um segundo
aspecto que enche de orgulho todos aqueles que apoiam esse time.
Entre os torcedores
que pararam para conversar com a reportagem da BBC News Brasil antes, durante e
após o jogo no dia 4 de janeiro, uma frase foi repetida à exaustão: "nós
somos os donos do clube" ou "o Exeter é controlado pela
comunidade".
Uma senhora, que
optou por não ser identificada na reportagem, apontou para um conjunto de casas
que podiam ser vistas do estádio, na rua de trás da arquibancada que abrigava a
torcida adversária.
"Eu moro ali,
sou vizinha do estádio. O Exeter City não pertence a nenhum bilionário. Somos
nós que cuidamos do nosso clube", afirmou ela.
De fato, o time
está organizado de uma forma que os próprios torcedores contribuem para a
gestão e decidem os rumos, por meio de uma diretoria e um grupo de
gerenciamento das atividades.
Calçado avalia que
essa espécie de "atitude de dono" pode ser observada nos mínimos
detalhes do dia a dia do clube.
"Lembro de uma
partida aqui no St. James Park em que perdemos de 3 a 0 e, assim que acabou o
jogo, vi um senhor junto com o neto varrendo o estádio, com um sorriso no
rosto. Todos aqui têm a sensação de que o clube é nosso e precisamos cuidar
dele", diz.
"A questão vai
muito além do resultado. O importante é a comunidade", complementa ele.
Entre fãs do time
inglês, não há dúvidas sobre a necessidade de continuar a celebrar essa
"relação única" com nosso país.
"Esperamos por
novas oportunidades para visitar o Brasil e queremos que mais brasileiros
venham até Exeter", convida Weiler.
Calçado, que hoje
atua como embaixador do clube inglês, detalha algumas iniciativas em andamento
e projeta ações que podem render novos frutos no futuro.
O Exeter, por
exemplo, dá apoio a alguns projetos filantrópicos no Brasil e os fundos
arrecadados com os torcedores ajudaram a construir uma escola na cidade de
Santana do Deserto, em Minas Gerais.
O brasileiro também
lidera um projeto chamado Terra F.C., que pretende criar uma aliança entre
clubes de futebol do mundo inteiro para conscientizar torcedores sobre mudanças
climáticas e sustentabilidade.
"Nós começamos
a campanha no Rio de Janeiro durante o G20. Nosso projeto piloto envolveu
Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo, e teve a visita do primeiro-ministro do
Reino Unido, Keir Starmer, no Estádio das Laranjeiras", informa ele.
"Nós
pretendemos ampliar esses contatos e conexões para outros clubes nacionais e internacionais.
O Exeter, claro, faz parte desta coalizão, até pelo vínculo que existe com o
Brasil."
Ainda em 2025,
Calçado pretende realizar a primeira conferência do futebol pelo clima e
continuar essa discussão durante a COP 30, a conferência das Nações Unidas
sobre mudanças climáticas que vai acontecer em Belém do Pará no final do ano.
"O futebol
pode ser uma grande ferramenta de transformação socioambiental. E o Exeter está
aberto para cooperar cada vez mais com os brasileiros", conclui ele.
Fonte: BBC News
Brasil
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