PPPs: Como se captura o desenvolvimento do Brasil?
A polêmica atual em torno de um projeto
de revitalização urbana no município do Rio de Janeiro recolou mais uma vez no
radar da política nacional a polêmica a respeito da utilização do modelo de
Parceria Público Privada (PPP) como possível solução para a questão da retomada
de investimento e mesmo para manutenção das políticas públicas. No caso,
trata-se do destino que poderá ser dado ao icônico e simbólico espaço
urbano carioca conhecido como Jardim de Alá.
Localizado na zona sul da cidade, ele se
constitui em um parque que separa os bairros de Ipanema e Leblon, fazendo a
ligação da Lagoa Rodrigo de Freitas ao mar por meio de um canal. A alternativa
apresentada pela Prefeitura da capital fluminense para a necessária modernização
do Parque foi a concessão dos direitos de uso do espaço, por um período mínimo
de 35 anos, para a iniciativa privada. A decisão a respeito do consórcio
vencedor ocorreu em julho de 2023, porém até o momento ainda não foram
iniciados os trabalhos. O edital previa o aporte de R$ 112 milhões pelo grupo
que vencesse a licitação, mas nem mesmo esse valor os ganhadores estão
dispostos a incorporar ao projeto.
Além disso, há muitas questões
controversas envolvendo as possibilidades apresentadas até o momento. Elas vão
desde o questionamento da derrubada de árvores históricas existentes no espaço
até a possibilidade de cobrança de serviços pela população e mesmo a
arrecadação de aluguéis da parte dos interessados em montar atividades
comerciais no Parque. Enfim, o exemplo retrata de forma bastante trágica a
realidade com que União, estados e municípios estão enfrentando os problemas
derivados da austeridade fiscal e a necessidade de se manter em condições
mínimas as políticas de manutenção e investimento em serviços públicos para
população.
·
Direitos
sociais ou mercadorias?
A utilização do formato genérico de PPP
tem acompanhado a realidade social e econômica do Brasil há várias décadas. No
entanto, o mecanismo ganhou forma e maior institucionalidade jurídica a partir de
2004, quando foi aprovada a chamada Lei das PPPs, a lei nº 11.079. Aliás, a
esse respeito é importante registrar que Fernando Haddad se orgulha de ter sido
o responsável pela elaboração do projeto para tal peça legal. Além disso,
recentemente o próprio ministro
da Fazenda já anunciou que o governo está empenhado em promover mudanças na
legislação para conferir, segundo ele, “maior segurança aos
investidores”.
O processo de aprofundamento da
austeridade fiscal tem se manifestado em marcha acelerada no país desde a
aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, a LC nº101/2000. A entrada em
vigor destas novas regras para a dinâmica do gasto público foi reforçada com a
aprovação do Teto de Gastos em 2016 e permanece reduzindo a capacidade de o
Estado cumprir com suas obrigações em razão da vigência do Novo Arcabouço
Fiscal, dispositivo criado pela LC nº 200/23. Não é por mero acaso que o esse
longo período é marcado por uma sensível redução das capacidades estatais e
pela compressão das rubricas orçamentárias destinadas ao investimento público e
às políticas sociais.
·
Capital
privado chega ao presídio e ao parque nacional
Esse vácuo é ocupado por diferentes
mecanismos de se promover a privatização dos serviços públicos e das
instituições estatais encarregadas de fornecer políticas sociais. Assim, pouco
a pouco começam a crescer as experiências de concessão e de terceirização em
áreas como educação, assistência e saúde. O país assiste a uma verdadeira
explosão de organizações sociais que passam a explorar esses espaços junto a
municípios, a estados e mesmo no âmbito do governo federal. As necessidades de
investimento nos mais variados setores da infraestrutura (transporte, energia,
saneamento básico, comunicações, dentre outros) também são cumpridas por meio
de chamadas ao capital privado.
A sofisticação dos instrumentos de PPPs
tem permitido que a esfera de ação dos investidores se amplie para ramos tão
inovadores quanto inusitados. É o caso de leilões de parques urbanos, das
licitações para exploração de parques e reservas naturais, dos processos de
concessão da gestão de resíduos sólidos e até mesmo a privatização de complexos
prisionais. Exemplos icônicos como o Jardim Alá já haviam sido precedidos por
outros como a concessão
do Parque Nacional de Jericoacoara (CE) e do Presídio
de Erechim (RS). Em ambos houve a participação direta do BNDES na modelagem dos
sistemas, bem como na concessão de financiamento público em condições
vantajosas aos entes privados vencedores dos leilões.
A generalização deste tipo de articulação
entre o Estado e o capital tem ocorrido de forma descontrolada. As informações
consolidadas são de difícil acesso, em especial por conta das diferenças
institucionais existentes entre os distintos entes da federação. Porém, tendo
em vista o elevado interesse dos grupos privados em operar nestes novos modelos
de acumulação de capital, há empresas de consultoria econômico-financeira que
disponibilizam dados a esse respeito. O que se pode afirmar com segurança é que
os volumes de investimento crescem de forma assustadora.
A empresa de consultoria RadarPPP foi
fundada em 2014 e pretende “preencher a necessidade identificada pelos seus
fundadores de organizar a informação pública disponível sobre o mercado
nacional de PPPs e concessões”. Assim, a página deles na internet oferece dados
significativos a respeito do estado da arte deste tipo de alternativa de
valorização do capital em nosso país. Segundo o
boletim de dezembro de 2024, o estoque total de investimentos teria alcançado a
marca de R$ 1,7 trilhão.
·
2024 – Total de iniciativas
de PPPs e concessões
Apenas ao longo do ano passado foram
registradas 555 novas iniciativas de PPPs e concessões captadas pelo radar
organizado pela empresa. Deste total, 331 foram iniciativas que avançaram para
a fase de licitação. A distribuição de tais processos entre os entes
federativos aponta para a esperada concentração na esfera municipal: 274 para
municípios, 30 para estados, 18 para União e 9 para consórcios públicos. Os
setores atingidos vão desde “unidades administrativas e serviços públicos” até
serviços funerários, passando por saúde, educação, “cultura, lazer e comércio”,
meio ambiente e múltiplas áreas de infraestrutura.
Já a página do governo federal dedicada
ao tema de PPPs e concessões apresenta um total de 211 projetos em andamento.
Trata-se do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que está instalado no
interior da Casa Civil da Presidência da República. Ali podem ser consultados
os detalhes de cada um dos projetos em andamento. A maior concentração ocorre
nas áreas de transporte (44%) e infraestrutura urbana (19%), que concentram
juntas quase 2/3 do total. Na sequência surgem os projetos de meio ambiente
(10%) e de saneamento (6%).
·
Programa Parcerias de
Investimento (PPI) – Projetos por áreas (%)
Mas um dos projetos que mais chama a
atenção é justamente o mais recente. Trata-se de um edital que foi lançado em
27 de fevereiro e que pretende oferecer a modelagem para a privatização
do Complexo Prisional de Blumenau (SC). O leilão está previsto para
ser realizado em junho deste ano no icônico espaço do financismo: a Bolsa de
Valores em São Paulo, mais conhecida como B3. Conceder fatias da política
prisional para a exploração por parte do capital privado abre o caminho para
comprometer qualquer tipo de avanço na concepção da própria política pública.
Ora, se a lógica do investidor privado se pauta pela maximização de lucros, a
ele interessa aumentar as receitas do empreendimento – ou seja, a meta é sempre
aumentar o número de presos. Assim, medidas necessárias de desencarceramento e
de legalização das drogas, por exemplo, vão encontrar forte resistência da
parte daqueles que passam a dominar e a definir as estratégias de nosso sistema
prisional.
É preciso dar
um basta às PPPs!
O mosaico acima apresentado é bastante
grave. É fundamental reverter a atual “normalização” da aliança do Estado com o
capital privado para dar conta das necessidades no âmbito do investimento
governamental e da manutenção e ampliação das políticas públicas. A metamorfose
de direitos sociais em mercadorias (à disposição da população mediante
remuneração) compromete a essência do espírito de um Estado de Bem-Estar
Social, tal como concebido pelos constituintes no processo e elaboração da nova
Carta entre 1986 e 1988.
¨ A desconstrução de Lula e do PT. Por GastãoReis
As pesquisas mais
recentes sobre o governo Lula e sobre o próprio Lula vêm revelando a grande
desilusão do povo brasileiro com a situação em que o País se encontra sob a
batuta (torta) do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A desarticulação entre
seus ministros se tornou evidente até para os desavisados, se é que existem. O
descompasso entre Lula e o povo brasileiro reflete, com clareza cristalina, o
fato de um Lula parado no tempo, insistindo em “soluções” ultrapassadas, e os
avanços da sociedade brasileira cuja cabeça, em boa medida moldada pelas redes
sociais, quer resultados palpáveis que ele não consegue entregar.
O estopim do
desencanto teve início com a subida dos preços dos alimentos que machuca o povo
no seu órgão mais sensível, o bolso, assim definido por Delfim Netto em tempos
idos. Exemplifica, ainda, como a média dos preços pode ser enganosa quando
contrastada com os preços do item alimentos. Para agravar a situação, sua
excelência Lula, do alto de sua sabedoria política capenga, recomendou ao povo
comprar substitutos mais baratos. A indignação popular diante de tal sugestão
foi motivada pelo fato de as pessoas de menor poder aquisitivo já comprarem o
que é mais barato. Diante da recusa de Lula em fazer o necessário corte de
gastos, o resultado só poderia vir mesmo pelo lado dos preços, que vêm
explodindo. E não é só pelo lado dos alimentos. Outros itens do orçamento
doméstico também subiram. São aqueles cuja quantidade física diminuiu a
despeito do preço ficar o mesmo. Menos 10% na quantidade é, na verdade, um
aumento de preços de 10%, fenômeno já identificado nas compras da população nos
supermercados. Agora, a despeito da menor quantidade em cada produto, os preços
também vêm subindo.
A gravidade da
desaprovação de Lula é que ela está subindo até em regiões como o Nordeste,
tradicional reduto do PT, única das cinco grandes regiões geográficas do país
em que ele conseguiu vencer seu adversário na última eleição presidencial. Para
piorar tudo, na reforma ministerial, Lula resolve chamar sua fiel escudeira,
Gleisi Hoffmann, para fazer a articulação política do governo, dando-lhe um gabinete
no Palácio do Planalto.
O roteiro seguido
por Lula tem cara de Dilma. Ele vem seguindo passo a passo o mesmo rumo que
pavimentou o impeachment da ex-presidente. Gastou além da conta, escanteou o
bom senso do ministro Haddad e, além de ter desaprovação de 60% em seis
estados, que somam mais da metade da população brasileira, ainda fez
declarações de cunho machista que bateu no fígado do eleitorado feminino. É o
ritmo tresloucado de quem cava a própria cova com doses maciças de emoção e
pouco cérebro.
As pesquisas também
revelam que a população, por ordem de prioridade, quer combate à violência para
valer; ter atendimento de qualidade na saúde e redução do desemprego. Nada
disso o governicho Lula consegue entregar a tempo e a hora. A insegurança vem
aumentando com o crime organizado dominando áreas cada vez maiores nos grandes
centros urbanos. Mais que sintomáticos foram os aplausos entusiásticos nos
presídios quando da eleição de Lula presidente.
Temos ainda as
digitais do STF ao ressuscitar Lula politicamente como denunciou o ministro
aposentado do mesmo tribunal Marco Aurélio Mello. Não satisfeito em gravar um
vídeo sobre o absurdo, ainda escreveu um livro que lançou em Paris revelando a
que ponto chegou o Judiciário no Brasil em sua mais alta corte. Os efeitos de
tal estado inaceitável de coisas no país passaram a ocupar as páginas dos
grandes jornais europeus e americanos. Ou seja, os custos astronômicos do
desgoverno Lula tiveram sua origem no STF. E a conta, como sempre, foi mandada
para o bolso do povo.
O que resta a Lula
fazer nesses menos de dois anos de governo que lhe restam?
Mesmo que se
disponha seriamente a consertar o estrago dos dois primeiros anos, o máximo que
conseguiria era voltar à situação do início de seu governo ao receber de seu
antecessor um país com as estatais dando lucro e dinheiro em caixa. Mas Lula ir
nessa direção é pura ficção. Bom relembrar que, logo após tomar posse, ele
pediu ao Congresso, e conseguiu, uma polpuda massa de recursos para gastar a
rodo. Foi o primeiro passo em direção à inflação que hoje o atormenta.
O estranho em todo
o processo é a memória fraca de Lula dos bons frutos colhidos em seu primeiro
mandato (2003-2006) quando nomeou Antonio Palocci ministro da Fazenda.
Entretanto, longe estamos da competência de Palocci, que virou inimigo figadal
de Lula ao denunciar a roubalheira de Lula e PT em sua delação premiada. O país
inteiro sabe disso, menos o STF.
Fonte: Por Paulo Kliass, em Outras Palavras/O Dia
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