Calor extremo pode acelerar
envelhecimento em adultos com mais de 56 anos
Pessoas que vivenciam mais dias de calor intenso
apresentam maior envelhecimento biológico do que aqueles que vivem em regiões
frias. É o que indica um novo estudo publicado na quarta-feira (26) na revista
científica Science Advances.
Envelhecimento biológico é o termo usado para o
processo de declínio das funções dos tecidos e órgãos do corpo e pode ocorrer
de forma independente do envelhecimento cronológico, aquele relacionado à
passagem dos anos.
De acordo com o estudo, realizado pela
Escola de Gerontologia Leonard Davis da Universidade do Sul da Califórnia (USC),
sugere que a maior exposição ao calor extremo acelera esse
processo em adultos mais velhos, levantando preocupações sobre os impactos das
ondas de calor e das mudanças climáticas.
Para realizar o estudo, os pesquisadores examinaram
como a idade biológica (como o corpo funciona nos níveis molecular, celular e
sistêmico), mudou em mais de 3.600 participantes do Estudo de Saúde e
Aposentadoria com 56 anos ou mais de todos os Estados Unidos.
Amostras de sangue foram coletadas em vários momentos
durante um período de seis anos do estudo e foram analisadas para observar
alterações epigenéticas, ou alterações na forma como os genes são “desligados”
ou “ligados” por um processo chamado metilação do DNA.
Os pesquisadores usaram ferramentas matemáticas
chamadas relógios epigenéticos para analisar padrões de metilação e estimar
idades biológicas em diferentes pontos de tempo. Com isso, eles compararam as
mudanças na idade biológica dos participantes com o histórico de índice de
calor de sua localização e o número de dias de calor relatados pelo National
Weather Service de 2010 a 2016.
A análise revelou uma correlação significativa entre bairros
com mais dias de calor extremo e indivíduos experimentando maiores aumentos na
idade biológica. Essa correlação persistiu mesmo após o controle de diferenças
socioeconômicas e outras diferenças demográficas, bem como fatores de estilo de vida, como atividade
física, consumo de álcool e tabagismo, segundo os pesquisadores.
Para Jennifer Ailshire, autora sênior do estudo e
professora de gerontologia e sociologia na Escola Leonard Davis da USC,
adultos mais velhos são
particularmente vulneráveis aos efeitos do calor extremo.
“É realmente sobre a combinação de calor e umidade,
particularmente para adultos mais velhos, porque adultos mais velhos não suam
da mesma forma. Começamos a perder nossa capacidade de ter o efeito de
resfriamento da pele que vem dessa evaporação do suor”, explica a professora.
“Se você estiver em um lugar com alta umidade, você não obtém tanto desse
efeito de resfriamento. Você tem que olhar para a temperatura da sua área e sua
umidade para realmente entender qual pode ser seu risco.”
Agora, os pesquisadores desejam determinar quais outros
fatores podem tornar uma pessoa mais vulnerável ao envelhecimento biológico que
possam estar relacionados ao calor. Do ponto de vista dos autores, os
resultados do estudo podem levar os formuladores de políticas, arquitetos e
outros a manter a mitigação do calor e os recursos amigáveis ao envelhecimento
em mente ao atualizar a infraestrutura das cidades, desde a colocação de
calçadas e a construção de pontos de ônibus com sombra em mente até o plantio
de mais árvores e o aumento do espaço verde urbano.
“Se todos os lugares estão ficando mais quentes e a
população está envelhecendo, e essas pessoas estão vulneráveis, então
precisamos nos tornar muito mais inteligentes sobre essas estratégias de
mitigação”, afirma Ailshire.
¨ Onda de calor: quem tem doença crônica
precisa redobrar os cuidados
Reflexo das mudanças climáticas que afetam diversas
partes do mundo, incluindo o Brasil, as ondas de calor têm se tornado cada vez
mais frequentes e intensas. Com temperaturas que chegam a ultrapassar os 40°C
em algumas regiões, o fenômeno não só representa desconforto, mas também traz
sérios riscos à saúde da população – especialmente para crianças e idosos, que
são mais vulneráveis às mudanças bruscas de temperatura, e para quem já tem
doenças como cardiopatias ou problemas renais.
Isso acontece porque, quando é exposto a altas
temperaturas, como acontece em dias de ondas de calor, o corpo humano
recorre a alguns mecanismos fisiológicos para tentar reequilibrar a hipertermia
e voltar à temperatura regular, que deve ficar entre 35,5°C e 37°C.
O primeiro mecanismo é a transpiração, processo
fundamental em que o corpo tenta diminuir a temperatura por meio do suor. O
segundo mecanismo é a vasodilatação, quando os vasos sanguíneos se dilatam numa
tentativa de aumentar a troca de calor entre a pele e o ambiente externo,
resfriando o corpo.
“Juntamente com isso, existe um aumento da frequência
cardíaca e a queda da pressão arterial provocada pela vasodilatação. Também há
perda de líquido e de eletrólitos por meio do suor. Isso pode gerar um
desequilíbrio, como desidratação”, explica o cardiologista Marcelo Franken,
gerente de Cardiologia do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor da
Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).
Diante do calor intenso e das dificuldades para regular
a própria temperatura, outras possíveis consequências são quadros de estresse térmico, exaustão térmica
e insolação. Na fase de estresse térmico, o corpo reage com dor de cabeça,
tontura, náusea e até cãibras pelas alterações nos eletrólitos. Na exaustão
térmica, a situação fica um pouco mais preocupante, pois a dor de cabeça piora,
começa um pouco de confusão mental, as cãibras se agravam e a pessoa pode ter
vômitos. “Nessa fase ainda existe uma sudorese excessiva, numa tentativa de
resolver o problema, e a temperatura do corpo pode começar a subir”, descreve o
cardiologista.
Quando chega a fase da insolação, significa que o
organismo perdeu a capacidade de regular sua própria temperatura. A pele fica
seca (porque o corpo deixa de transpirar), a temperatura sobe (pode ultrapassar
os 40°C) e pode haver uma redução do nível de consciência e desmaios, que podem
evoluir para uma crise convulsiva. “Todos os sintomas pioram. Essa é uma
emergência médica que, se não for tratada rapidamente, pode evoluir para
óbito”, alerta Franken.
Crianças, idosos e
mulheres grávidas são mais vulneráveis. Os idosos têm mais dificuldade de
fazer esses mecanismos adaptativos funcionarem adequadamente e, muitas vezes,
não sentem sede, reduzindo a hidratação.
“Quando sentem sede já estão confusos ou não têm
condições de ir buscar água”, observa o médico do Einstein.
Bebês menores de 2 anos têm mais dificuldade de
comunicação e podem não conseguir pedir água. Já as grávidas são mais propensas
a queda de pressão e desidratação porque estão com o organismo sobrecarregado,
e fica mais difícil para o corpo fazer funcionar seus mecanismos adaptativos.
<><> O risco das doenças crônicas
Pacientes cardiopatas, que sofrem com hipertensão ou insuficiência
cardíaca,
por exemplo, podem ter sua condição de saúde agravada pelo estresse térmico. De
acordo com Franken, essas pessoas vivem num “equilíbrio fino” entre os
medicamentos para controle da pressão, diuréticos e a quantidade de água no
organismo.
Quando a pessoa perde muito líquido pela transpiração,
sofre vasodilatação e a pressão arterial cai. Com isso, pode ser necessário
ajustar as doses dos medicamentos ao contexto do calor. “Isso significa que as
pessoas não devem tomar remédio de pressão em dias de calor? Não, de jeito
nenhum. Mas pode ser necessário consultar o médico para ajustes pontuais”,
sugere Franken. Nesses casos, é importante ficar atento à pressão arterial, ao
nível de hidratação (observando a quantidade e a coloração da urina, por
exemplo) e a sintomas como moleza e tontura.
Muitos cardiopatas convivem com arritmias, que podem piorar
nessa situação de estresse – seja porque o próprio calor aumenta a frequência
cardíaca, seja porque as alterações dos níveis de sais minerais no sangue podem
piorar quadros preexistentes. “Mesmo quem está com a arritmia controlada, se os
níveis de potássio aumentarem ou diminuírem muito, o quadro pode ser agravado”,
alerta o médico.
Pessoas com insuficiência cardíaca, por outro lado,
podem sentir um aumento na carga sobre o coração durante os dias quentes. É que
o estresse térmico faz com que o órgão bombeie mais rápido para dissipar o
calor do corpo, e isso pode agravar a condição.
Quem sofre com insuficiência renal também precisa
redobrar os cuidados: a desidratação e a pressão extra sobre os órgãos devido
ao calor podem prejudicar os rins, especialmente em quem já tem doenças renais
crônicas.
“A perda excessiva de líquidos pode piorar a função
renal e desencadear alterações inflamatórias que podem levar a lesões
musculares. Essas lesões podem soltar na circulação substâncias da degradação
muscular, que podem ser tóxicas ao rim. É o que chamamos de rabdomiólise”,
detalha Marcelo Franken.
A desidratação é uma das causas do rebaixamento do
nível de consciência. Por isso, pessoas com doenças neurológicas, como demência
e Alzheimer, também precisam de mais cuidados em dias muito quentes. Há risco
de evoluírem para quadros de confusão mental, sonolência, comportamentos não
usuais, entre outras complicações.
<><> Risco de infarto e AVC
As temperaturas muito altas também aumentam o risco de
infarto e acidade vascular cerebral (AVC). Isso porque o
calor desencadeia alterações inflamatórias na corrente sanguínea que,
associadas à desidratação e à sobrecarga do sistema cardiovascular, elevam o
risco de coagulação e eventos trombóticos.
“Muitas vezes, as pessoas adotam hábitos pouco
saudáveis nos dias de calor, entre eles, a ingestão excessiva de álcool. A
exposição prolongada ao sol, o aumento do consumo de álcool e a desidratação
são uma combinação perigosa”, adverte o cardiologista.
Franken reforça a importância de medidas preventivas,
como hidratação constante, uso de roupas leves e proteção solar, bem como
evitar atividades físicas ao ar livre durante os períodos mais quentes do dia.
Outra recomendação é, sempre que possível, procurar um
lugar à sombra, de preferência com ar-condicionado, e se refrescar com uma
ducha, toalha molhada ou lavando o rosto. Prefira alimentos leves e pouco
calóricos e, quando necessário, converse com seu médico para checar se é
necessário fazer ajustes nas medicações.
¨ 8 sinais do corpo ao passar mal de
calor
A temporada de ondas
de calor acende o alerta para os efeitos das altas
temperaturas no corpo.
De acordo com Cristiane Zambolim, cardiologista do
Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a intensa onda de calor pode causar sintomas
associados à desidratação e queda de pressão arterial.
Entre os principais sintomas e sinais de alerta
relacionados às altas temperaturas estão:
- Aumento da frequência cardíaca;
- Indisposição;
- Sensação de moleza;
- Boca seca;
- Sonolência;
- Queda da pressão arterial;
- Desmaios;
- Em casos graves, crises convulsivas e
perda de consciência.
<><> Quando o calor pode matar?
Globalmente, em 2023, as mortes relacionadas
ao calor extremo entre pessoas com mais de 65 anos aumentaram 167% em comparação
aos óbitos de 1990. O dado foi divulgado em relatório publicado em outubro na
revista científica The Lancet.
Apesar disso, outro estudo publicado em dezembro
sugeriu que as altas temperaturas são mais prejudiciais para jovens do que para
os idosos. A pesquisa, publicada na
Science Advances, indica que 75% das mortes relacionadas ao calor registradas
no México estão ocorrendo entre pessoas com menos de 35 anos — e boa parte
delas nas possuem entre 18 e 35 anos.
De acordo com Zambolim, o calor pode levar ao óbito
dependendo das características da pessoa. “Os extremos de idade são mais
suscetíveis [aos riscos do calor]. Então, quando a temperatura corporal atinge
40 ºC, pode matar”, afirma.
O aumento da temperatura corporal acima dos limites
saudáveis é chamada de hipertermia. A condição está relacionada a fatores como
altas temperaturas e umidade do ar. “Quando a temperatura está quente e úmida,
é mais difícil ocorrer a troca de calor entre o corpo e o meio ambiente. Então,
a pessoa não consegue, por exemplo, ter o reflexo do suor, que faz com que o
corpo resfrie a temperatura interna”, explica a cardiologista.
“O calor pode matar quando uma pessoa está em
temperatura externa muito alta e fazendo, por exemplo, atividades físicas;
quando não há a hidratação correta; quando exige mais do corpo do que ele vai
conseguir para manter a homeostase, que é essa troca de calor [entre o externo
e o interno] para manter a temperatura interna dele em até 37,5 ºC”, completa.
Fonte: CNN Brasil
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