terça-feira, 11 de março de 2025

Calor extremo pode acelerar envelhecimento em adultos com mais de 56 anos

Pessoas que vivenciam mais dias de calor intenso apresentam maior envelhecimento biológico do que aqueles que vivem em regiões frias. É o que indica um novo estudo publicado na quarta-feira (26) na revista científica Science Advances.

Envelhecimento biológico é o termo usado para o processo de declínio das funções dos tecidos e órgãos do corpo e pode ocorrer de forma independente do envelhecimento cronológico, aquele relacionado à passagem dos anos.

De acordo com o estudo, realizado pela Escola de Gerontologia Leonard Davis da Universidade do Sul da Califórnia (USC), sugere que a maior exposição ao calor extremo acelera esse processo em adultos mais velhos, levantando preocupações sobre os impactos das ondas de calor e das mudanças climáticas.

Para realizar o estudo, os pesquisadores examinaram como a idade biológica (como o corpo funciona nos níveis molecular, celular e sistêmico), mudou em mais de 3.600 participantes do Estudo de Saúde e Aposentadoria com 56 anos ou mais de todos os Estados Unidos.

Amostras de sangue foram coletadas em vários momentos durante um período de seis anos do estudo e foram analisadas para observar alterações epigenéticas, ou alterações na forma como os genes são “desligados” ou “ligados” por um processo chamado metilação do DNA.

Os pesquisadores usaram ferramentas matemáticas chamadas relógios epigenéticos para analisar padrões de metilação e estimar idades biológicas em diferentes pontos de tempo. Com isso, eles compararam as mudanças na idade biológica dos participantes com o histórico de índice de calor de sua localização e o número de dias de calor relatados pelo National Weather Service de 2010 a 2016.

A análise revelou uma correlação significativa entre bairros com mais dias de calor extremo e indivíduos experimentando maiores aumentos na idade biológica. Essa correlação persistiu mesmo após o controle de diferenças socioeconômicas e outras diferenças demográficas, bem como fatores de estilo de vida, como atividade física, consumo de álcool e tabagismo, segundo os pesquisadores.

Para Jennifer Ailshire, autora sênior do estudo e professora de gerontologia e sociologia na Escola Leonard Davis da USC, adultos mais velhos são particularmente vulneráveis aos efeitos do calor extremo.

“É realmente sobre a combinação de calor e umidade, particularmente para adultos mais velhos, porque adultos mais velhos não suam da mesma forma. Começamos a perder nossa capacidade de ter o efeito de resfriamento da pele que vem dessa evaporação do suor”, explica a professora. “Se você estiver em um lugar com alta umidade, você não obtém tanto desse efeito de resfriamento. Você tem que olhar para a temperatura da sua área e sua umidade para realmente entender qual pode ser seu risco.”

Agora, os pesquisadores desejam determinar quais outros fatores podem tornar uma pessoa mais vulnerável ao envelhecimento biológico que possam estar relacionados ao calor. Do ponto de vista dos autores, os resultados do estudo podem levar os formuladores de políticas, arquitetos e outros a manter a mitigação do calor e os recursos amigáveis ​​ao envelhecimento em mente ao atualizar a infraestrutura das cidades, desde a colocação de calçadas e a construção de pontos de ônibus com sombra em mente até o plantio de mais árvores e o aumento do espaço verde urbano.

“Se todos os lugares estão ficando mais quentes e a população está envelhecendo, e essas pessoas estão vulneráveis, então precisamos nos tornar muito mais inteligentes sobre essas estratégias de mitigação”, afirma Ailshire.

¨      Onda de calor: quem tem doença crônica precisa redobrar os cuidados

Reflexo das mudanças climáticas que afetam diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, as ondas de calor têm se tornado cada vez mais frequentes e intensas. Com temperaturas que chegam a ultrapassar os 40°C em algumas regiões, o fenômeno não só representa desconforto, mas também traz sérios riscos à saúde da população – especialmente para crianças e idosos, que são mais vulneráveis às mudanças bruscas de temperatura, e para quem já tem doenças como cardiopatias ou problemas renais.

Isso acontece porque, quando é exposto a altas temperaturas, como acontece em dias de ondas de calor, o corpo humano recorre a alguns mecanismos fisiológicos para tentar reequilibrar a hipertermia e voltar à temperatura regular, que deve ficar entre 35,5°C e 37°C.

O primeiro mecanismo é a transpiração, processo fundamental em que o corpo tenta diminuir a temperatura por meio do suor. O segundo mecanismo é a vasodilatação, quando os vasos sanguíneos se dilatam numa tentativa de aumentar a troca de calor entre a pele e o ambiente externo, resfriando o corpo.

“Juntamente com isso, existe um aumento da frequência cardíaca e a queda da pressão arterial provocada pela vasodilatação. Também há perda de líquido e de eletrólitos por meio do suor. Isso pode gerar um desequilíbrio, como desidratação”, explica o cardiologista Marcelo Franken, gerente de Cardiologia do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

Diante do calor intenso e das dificuldades para regular a própria temperatura, outras possíveis consequências são quadros de estresse térmico, exaustão térmica e insolação. Na fase de estresse térmico, o corpo reage com dor de cabeça, tontura, náusea e até cãibras pelas alterações nos eletrólitos. Na exaustão térmica, a situação fica um pouco mais preocupante, pois a dor de cabeça piora, começa um pouco de confusão mental, as cãibras se agravam e a pessoa pode ter vômitos. “Nessa fase ainda existe uma sudorese excessiva, numa tentativa de resolver o problema, e a temperatura do corpo pode começar a subir”, descreve o cardiologista.

Quando chega a fase da insolação, significa que o organismo perdeu a capacidade de regular sua própria temperatura. A pele fica seca (porque o corpo deixa de transpirar), a temperatura sobe (pode ultrapassar os 40°C) e pode haver uma redução do nível de consciência e desmaios, que podem evoluir para uma crise convulsiva. “Todos os sintomas pioram. Essa é uma emergência médica que, se não for tratada rapidamente, pode evoluir para óbito”, alerta Franken.

Crianças, idosos e mulheres grávidas são mais vulneráveis. Os idosos têm mais dificuldade de fazer esses mecanismos adaptativos funcionarem adequadamente e, muitas vezes, não sentem sede, reduzindo a hidratação.

“Quando sentem sede já estão confusos ou não têm condições de ir buscar água”, observa o médico do Einstein.

Bebês menores de 2 anos têm mais dificuldade de comunicação e podem não conseguir pedir água. Já as grávidas são mais propensas a queda de pressão e desidratação porque estão com o organismo sobrecarregado, e fica mais difícil para o corpo fazer funcionar seus mecanismos adaptativos.

<><> O risco das doenças crônicas

Pacientes cardiopatas, que sofrem com hipertensão ou insuficiência cardíaca, por exemplo, podem ter sua condição de saúde agravada pelo estresse térmico. De acordo com Franken, essas pessoas vivem num “equilíbrio fino” entre os medicamentos para controle da pressão, diuréticos e a quantidade de água no organismo.

Quando a pessoa perde muito líquido pela transpiração, sofre vasodilatação e a pressão arterial cai. Com isso, pode ser necessário ajustar as doses dos medicamentos ao contexto do calor. “Isso significa que as pessoas não devem tomar remédio de pressão em dias de calor? Não, de jeito nenhum. Mas pode ser necessário consultar o médico para ajustes pontuais”, sugere Franken. Nesses casos, é importante ficar atento à pressão arterial, ao nível de hidratação (observando a quantidade e a coloração da urina, por exemplo) e a sintomas como moleza e tontura.

Muitos cardiopatas convivem com arritmias, que podem piorar nessa situação de estresse – seja porque o próprio calor aumenta a frequência cardíaca, seja porque as alterações dos níveis de sais minerais no sangue podem piorar quadros preexistentes. “Mesmo quem está com a arritmia controlada, se os níveis de potássio aumentarem ou diminuírem muito, o quadro pode ser agravado”, alerta o médico.

Pessoas com insuficiência cardíaca, por outro lado, podem sentir um aumento na carga sobre o coração durante os dias quentes. É que o estresse térmico faz com que o órgão bombeie mais rápido para dissipar o calor do corpo, e isso pode agravar a condição.

Quem sofre com insuficiência renal também precisa redobrar os cuidados: a desidratação e a pressão extra sobre os órgãos devido ao calor podem prejudicar os rins, especialmente em quem já tem doenças renais crônicas.

“A perda excessiva de líquidos pode piorar a função renal e desencadear alterações inflamatórias que podem levar a lesões musculares. Essas lesões podem soltar na circulação substâncias da degradação muscular, que podem ser tóxicas ao rim. É o que chamamos de rabdomiólise”, detalha Marcelo Franken.

A desidratação é uma das causas do rebaixamento do nível de consciência. Por isso, pessoas com doenças neurológicas, como demência e Alzheimer, também precisam de mais cuidados em dias muito quentes. Há risco de evoluírem para quadros de confusão mental, sonolência, comportamentos não usuais, entre outras complicações.

<><> Risco de infarto e AVC

As temperaturas muito altas também aumentam o risco de infarto e acidade vascular cerebral (AVC). Isso porque o calor desencadeia alterações inflamatórias na corrente sanguínea que, associadas à desidratação e à sobrecarga do sistema cardiovascular, elevam o risco de coagulação e eventos trombóticos.

“Muitas vezes, as pessoas adotam hábitos pouco saudáveis nos dias de calor, entre eles, a ingestão excessiva de álcool. A exposição prolongada ao sol, o aumento do consumo de álcool e a desidratação são uma combinação perigosa”, adverte o cardiologista.

Franken reforça a importância de medidas preventivas, como hidratação constante, uso de roupas leves e proteção solar, bem como evitar atividades físicas ao ar livre durante os períodos mais quentes do dia.

Outra recomendação é, sempre que possível, procurar um lugar à sombra, de preferência com ar-condicionado, e se refrescar com uma ducha, toalha molhada ou lavando o rosto. Prefira alimentos leves e pouco calóricos e, quando necessário, converse com seu médico para checar se é necessário fazer ajustes nas medicações.

¨      8 sinais do corpo ao passar mal de calor

A temporada de ondas de calor acende o alerta para os efeitos das altas temperaturas no corpo.

De acordo com Cristiane Zambolim, cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a intensa onda de calor pode causar sintomas associados à desidratação e queda de pressão arterial.

Entre os principais sintomas e sinais de alerta relacionados às altas temperaturas estão:

  1. Aumento da frequência cardíaca;
  2. Indisposição;
  3. Sensação de moleza;
  4. Boca seca;
  5. Sonolência;
  6. Queda da pressão arterial;
  7. Desmaios;
  8. Em casos graves, crises convulsivas e perda de consciência.

<><> Quando o calor pode matar?

Globalmente, em 2023, as mortes relacionadas ao calor extremo entre pessoas com mais de 65 anos aumentaram 167% em comparação aos óbitos de 1990. O dado foi divulgado em relatório publicado em outubro na revista científica The Lancet.

Apesar disso, outro estudo publicado em dezembro sugeriu que as altas temperaturas são mais prejudiciais para jovens do que para os idosos. A pesquisa, publicada na Science Advances, indica que 75% das mortes relacionadas ao calor registradas no México estão ocorrendo entre pessoas com menos de 35 anos — e boa parte delas nas possuem entre 18 e 35 anos.

De acordo com Zambolim, o calor pode levar ao óbito dependendo das características da pessoa. “Os extremos de idade são mais suscetíveis [aos riscos do calor]. Então, quando a temperatura corporal atinge 40 ºC, pode matar”, afirma.

O aumento da temperatura corporal acima dos limites saudáveis é chamada de hipertermia. A condição está relacionada a fatores como altas temperaturas e umidade do ar. “Quando a temperatura está quente e úmida, é mais difícil ocorrer a troca de calor entre o corpo e o meio ambiente. Então, a pessoa não consegue, por exemplo, ter o reflexo do suor, que faz com que o corpo resfrie a temperatura interna”, explica a cardiologista.

“O calor pode matar quando uma pessoa está em temperatura externa muito alta e fazendo, por exemplo, atividades físicas; quando não há a hidratação correta; quando exige mais do corpo do que ele vai conseguir para manter a homeostase, que é essa troca de calor [entre o externo e o interno] para manter a temperatura interna dele em até 37,5 ºC”, completa.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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