terça-feira, 11 de março de 2025

Estudo aponta que semaglutida pode trazer benefícios em casos avançados de gordura no fígado

Resultados preliminares do estudo ESSENCE apontam que a semaglutida 2,4 mg, medicamento já conhecido por seu uso no tratamento da obesidade e diabetes tipo 2, pode melhorar significativamente a saúde do fígado, trazendo benefícios para os pacientes com esteatohepatite associada à disfunção metabólica (MASH, na sigla em inglês).

É normal haver presença de gordura no fígado, no entanto quando este índice chega a 5% ou mais o quadro deve ser tratado o mais brevemente possível. Se não tratada corretamente, a gordura no fígado pode provocar, a médio e longo prazo, uma inflamação capaz de evoluir para quadros mais graves de hepatite gordurosa, cirrose hepática e até câncer no fígado. Segundo especialistas, o excesso de peso é uma das principais causas de gordura no fígado, responsável por 60% dos casos.

Nesta parte do estudo, os pesquisadores acompanharam 800 pacientes com gordura no fígado durante 72 semanas. Metade dos participantes recebeu o placebo e a outra parte recebeu injeções semanais de semaglutida. Os grupos também receberam orientações sobre hábitos de vida mais saudáveis.

Ao final das 72 semanas, 63% dos que usaram a semaglutida apresentaram redução da inflamação do fígado e 37% tiveram uma melhora na fibrose, um problema que compromete o funcionamento do fígado devido ao acúmulo de tecido de cicatrização.

 “Com a semaglutida, além de melhorias nos parâmetros do fígado, também observamos controle da pressão arterial, melhor gestão do diabetes, redução da hemoglobina glicada e perda de peso. Estamos finalmente vendo uma terapia sistêmica para uma condição que impacta diversas partes do corpo”, afirmou Cristiane Vilela, hepatologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e uma das investigadoras principais do estudo.

O estudo também mostrou uma redução de 40% nos níveis da enzima ALT, que reflete danos ao fígado, e de 30% nos níveis de AST e GGT, enzimas utilizadas para monitorar doenças hepáticas como hepatites e cirrose. Além disso, houve uma diminuição de 40% na rigidez do fígado, indicador associado ao acúmulo de tecido cicatricial.

Cláudia Oliveira, líder do estudo ESSENCE, explica que não existe nenhum medicamento aprovado no Brasil para a condição. Os especialistas recomendam um estilo de vida mais saudável, com alimentação equilibrada e prática regular de exercícios. Além disso, pode combinar o tratamento com medicamentos para outras condições, como diabetes, e vitamina E.

A Novo Nordisk, fabricante do Wegovy e Ozempic, planeja solicitar a aprovação da semaglutida para tratar gordura no fígado junto à Anvisa e outras agências regulatórias ainda este ano.

O ESSENCE é um estudo de fase 3 realizado em 39 países (incluindo o Brasil) e avalia o efeito da semaglutida 2,4 mg semanal em adultos com esteato-hepatite associada à disfunção metabólica e fibrose hepática moderada a avançada (estágio 2 ou 3). Os resultados da parte 1 estão sendo apresentados agora. Já a parte 2 deve durar até 2029.

¨      Náusea, vômito e problemas gastrointestinais: os efeitos adversos mais comuns do Ozempic

Os medicamentos análogos ao hormônio GLP-1 ganharam destaque nos últimos anos, especialmente no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade. Entre eles, estão o Ozempic e o Wegovy, que têm como princípio ativo a semaglutida. Com a crescente popularidade desses medicamentos, novos estudos continuam a investigar seus efeitos na saúde.

Em janeiro, pesquisadores dos Estados Unidos analisaram dados de cerca de 2,4 milhões de pessoas com diabetes tipo 2, sendo que aproximadamente 216 mil usaram um medicamento GLP-1 entre 2017 e 2023. O estudo trouxe achados importantes, apontando tanto benefícios quanto riscos associados a esses remédios.

Possíveis efeitos adversos

Os pesquisadores identificaram alguns benefícios para a saúde cognitiva e comportamental, mas também observaram possíveis efeitos adversos associados ao uso de GLP-1, como:

·        Efeitos gastrointestinais: maior risco de náuseas, vômitos, refluxo gastroesofágico, gastrite e gastroparesia (retardo no esvaziamento do estômago).

·        Hipotensão e síncope: possibilidade de quedas na pressão arterial, aumentando o risco de desmaios.

·        Complicações renais: maior risco de nefrolitíase (pedras nos rins) e nefrite intersticial (inflamação dos rins).

·        Pancreatite induzida por medicamentos: risco aumentado de pancreatite aguda, uma inflamação do pâncreas que pode ser grave.

Diante desses achados, os pesquisadores reforçam que esses medicamentos precisam de um acompanhamento profissional para minimizar riscos e identificar complicações precocemente. Além disso, são necessários mais estudos para entender os impactos a longo prazo dos remédios na saúde.

 

Fonte: g1

 

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