92% das agressões contra
mulheres foram presenciadas por testemunhas, diz pesquisa
A
ampla maioria das agressões contra mulheres nos últimos 12 meses ocorreu na
presença de terceiros, 91,8%, de acordo
com pesquisa do Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública divulgada nesta segunda-feira (10).
Nos
últimos meses, mais
de 21 milhões de brasileiras, 37,5% do total de mulheres, sofreram algum tipo
de agressão.
Em
47,3% desses casos testemunhados, quem presenciou foram amigos ou conhecidos;
em 27%, os filhos; e em 12,4%, outros parentes.
Confesso
que me surpreendeu que nove em cada dez mulheres que sofreram violência
sofreram na frente de alguém, que quase sempre era conhecido. Só 7% foram na
frente de desconhecido, mas quase tudo na frente de alguém, de um amigo, de um
familiar, de filho. Isso nos chocou.
—
Samira Bueno, diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Na
semana passada, um jovem de 22 anos morreu baleado no ônibus em São Paulo após
tentar defender
uma mulher que era agredida pelo companheiro. Ele ouviu o casal
discutindo e pediu para o homem parar com a agressão.
“Meu
sobrinho não discutiu com ninguém. O próprio motorista disse que ele só pediu
para o cara parar de brigar com a mulher, foi a única coisa. Foi o suficiente
para esse cara tirar a vida dele com três tiros. Ramon era menino amoroso, de
família, respeitoso. Morreu tentando defender uma
mulher", lamentou.
·
Reação
às agressões
Para
a diretora-executiva do Fórum, quem presencia uma agressão
física reage mais do que diante de uma agressão verbal.
"Somos
menos coniventes com a agressão física. Muitas mulheres sofrem formas de
violência que passam por ameaça, intimidação, violência psicológica, e o entorno
ainda não reconhece isso como violências graves e acaba sendo conivente com
essas práticas", diz.
Ela
ressalta que isso é problemático porque o entorno da mulher que sofre esse tipo
de violência precisa se conscientizar e agir.
·
Impacto
nos filhos
O
elevado percentual de agressões na frente dos filhos também levanta a questão
sobre os impactos da violência doméstica e familiar na vida de crianças.
"A
convivência com conflitos intensos dentro de casa está associada a distúrbios
emocionais, cognitivos e comportamentais, além de contribuir para uma percepção
da família como um ambiente inseguro e caótico", diz a pesquisa.
O
levantamento ressalta ainda que "as evidências científicas também sugerem
que crianças que testemunham violência doméstica têm maior probabilidade de
serem afetadas pela violência na vida adulta, seja como vítimas ou como
agressoras. A violência doméstica pode se perpetuar entre gerações".
Samira
Bueno afirma que os traumas e efeitos psicológicos seguem pela vida toda.
"A literatura fala da violência intergeracional. Então, como isso afeta
mulheres que são vítimas de violência doméstica, que um dia viram suas mães
sofrendo violência?", pondera.
De
acordo com ela, "naturalizar essas práticas de algum modo, influencia, na
forma como elas vão lidar com isso na vida adulta, muitas vezes naturalizando e
entendendo que isso é legítimo. E para meninos que, eventualmente, vão
reproduzir esse comportamento, porque também naturalizam e entendem que é assim
que em uma relação afetiva, os conflitos são solucionados".
👉 A pesquisa teve
apoio da Uber e ouviu 2.007 pessoas com mais de 16 anos, entre homens e
mulheres, em 126 municípios brasileiros, no período de 10 a 14 de fevereiro de
2025. A margem de erro para o total da amostra nacional é de dois pontos para
mais ou para menos.
·
Violências
contra a mulher
No
Brasil, o percentual de mulheres que
sofreram alguma violência ao longo da vida por parceiro ou ex-parceiro é
superior à média global: 32,4% contra 27%, de acordo com
relatório recente da Organização
Mundial de Saúde (OMS).
Para
Samira, os números reforçam a sensação de que o Brasil
é cada vez um país menos seguro para as mulheres.
Estudos
apontam que as consequências do testemunho da violência entre os pais podem
ser tão ou até mais prejudiciais do que a violência direta contra a criança.
O
Brasil é um dos países mais violentos do mundo e isso se reflete no dia a dia
das mulheres. A pesquisa mais uma vez nos mostra que as mulheres estão
desprotegidas dentro de suas próprias casas, convivendo com os agressores que,
na maioria das vezes, compõem seu círculo íntimo, sejam parceiros,
ex-parceiros, parentes ou conhecidos.
—
Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança
Segundo
elas, "as iniciativas para frear essa epidemia de violência têm sido
insuficientes, independentemente dos esforços de alguns governos e da exposição
dos casos de repercussão nacional ao longo dos últimos anos”.
A
pesquisa também mostra que 5,3 milhões de mulheres,
10,7% do total da população feminina do país, relataram
ter sofrido abuso sexual e/ou foi forçada a manter relação
sexual contra a própria vontade nos últimos 12 meses, ou seja, uma em cada 10.
·
Principais
tipos de violência
·
Ofensas
verbais: 31,4%
das mulheres relataram insultos, humilhações ou xingamentos, um aumento de 8
pontos percentuais em relação a 2023. Isso representa cerca de 17,7 milhões de
brasileiras
·
Agressão
física: 16,9%
das mulheres sofreram batidas, tapas, empurrões ou chutes, a maior prevalência
registrada desde 2017. Aproximadamente 8,9 milhões de mulheres foram vítimas
desse tipo de violência
·
Ameaças
de agressão: 16,1%
das mulheres foram ameaçadas de sofrer algum tipo de agressão física,
totalizando cerca de 8,5 milhões de vítimas
·
Stalking: 16,1% das
mulheres foram vítimas de perseguição, também representando cerca de 8,5
milhões de brasileiras
·
Abuso
sexual: 10,7%
das mulheres sofreram abuso sexual ou foram forçadas a manter relações sexuais
contra sua vontade, afetando aproximadamente 5,3 milhões de mulheres
➡️
Pela primeira vez, a pesquisa questionou as brasileiras sobre terem tido fotos
ou vídeos íntimos divulgados na internet sem seu consentimento:
3,9% das respondentes relataram terem sofrido esta violência, 1,5 milhão de
mulheres.
·
Outros
tipos de violência
·
Lesão
por objeto atirado: 8,9% das mulheres sofreram lesão em decorrência
de um objeto que lhes foi atirado, representando cerca de 4,4 milhões de
vítimas
·
Espancamento
ou tentativa de estrangulamento: 7,8% das mulheres foram espancadas
ou sofreram tentativa de estrangulamento, totalizando 3,7 milhões de vítimas
·
Ameaça
com faca ou arma de fogo: 6,4% das mulheres foram ameaçadas com
faca ou arma de fogo, afetando cerca de 3 milhões de brasileiras
·
Divulgação
de fotos ou vídeos íntimos: 3,9% das mulheres tiveram fotos ou vídeos
íntimos divulgados na internet sem seu consentimento, impactando 1,5 milhão de
mulheres
·
Agressores
Os
principais agressores são parceiros íntimos ou ex-parceiros:
·
Cônjuges,
companheiros ou namorados: 40%
·
Ex-cônjuges,
ex-companheiros e ex-namorados: 26,8%
·
Local
·
57%
das mulheres entrevistadas indicaram que a violência mais grave ocorreu em sua
residência,
·
11,6%
disseram que foi na rua
·
Perfil
das Vítimas
·
Faixa
etária: Mulheres
entre 25 e 34 anos concentram um percentual maior de vitimização, mas a
violência é prevalente em todas as faixas etárias, especialmente entre 16 e 59
anos
·
Grau
de instrução: 32,9%
das mulheres com ensino superior relataram insultos, humilhações e xingamentos,
enquanto mulheres com ensino fundamental apresentaram maiores índices de
vitimização por espancamento, tentativa de estrangulamento e ameaças com faca
ou arma de fogo
·
Perfil
racial: 37,2%
das mulheres negras relataram ter sofrido violência no último ano, com 41,5%
das pretas e 35,2% das pardas tendo alguma experiência com a violência no
período. Entre as mulheres brancas, o índice foi de 35,4%
·
Quando
consideramos a religião declarada
pelas respondentes, 49,7% das mulheres evangélicas relatou ter vivenciado uma
das situações citadas. A prevalência entre católicas foi de 44,3%.
·
Considerando
a situação conjugal, as divorciadas (60,9%)
apresentaram prevalência superior à de solteiras (53%), casadas (44,4%) e
viúvas (51,8%). Isto é, o rompimento pode ser mais um fator de vulnerabilidade
➡️
O dado sobre situação conjugal "torna evidente como é
fundamental que as políticas públicas sejam capazes de estimular que a mulher
rompa o ciclo de violência, ao mesmo tempo em que forneçam
redes de apoio estruturadas que possibilitem à mulher estar segura para tomar
essa decisão quando decide sair da relação".
➡️
Segundo o levantamento, o recorte de grau de instrução indica que os tipos de
violência mudam em contextos educacionais distintos: 32,9% das mulheres com
ensino superior relatam ter sido alvo de "insultos, humilhações e
xingamentos”, mas sua experiência com formas de violência mais aguda como
“ameaça com faca ou arma de fogo” ou “esfaqueamento ou tiro” é quase nula.
➡️
Já as mulheres com apenas ensino fundamental apresentam menores índices de vitimização
em relação às ofensas verbais, mas elevados níveis de
vitimização por espancamento, tentativa de estrangulamento, ameaças com faca ou
arma de fogo e até ferimentos por faca e arma de fogo.
·
Assédio
Mais
de 29 milhões de brasileiras foram vítimas de assédio no último ano,
representando 49,6% das mulheres com 16 anos ou mais entrevistadas. Os tipos
mais comuns de assédio incluem:
·
Cantadas
e comentários desrespeitosos na rua: 40,8% das mulheres
·
Assédio
no ambiente de trabalho: 20,5% das mulheres
·
Assédio
em transporte público: 15,3% das mulheres
·
Agarradas
ou beijadas sem consentimento: 9% das mulheres.
·
Atitudes
das Vítimas
A reação
mais comum diante da agressão mais grave sofrida foi a inação, relatada
por 47,4% das vítimas.
Outras
respostas incluíram procurar apoio de um familiar (19,2%), recorrer a amigos
(15,2%) e buscar ajuda na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher
(14,2%) ou em uma delegacia comum (10,3%).
No
último ano, apenas 25,7% das mulheres que
sofreram violência recorreram a órgãos oficiais, enquanto 33,8%
buscaram apoio entre familiares e amigos.
·
Ciclo
da violência
A
pesquisa reforça que os episódios mais graves de violência não são fatos
isolados, mas fazem parte de um amplo contexto de abusos físicos e emocionais.
As
mulheres ouvidas pelo estudo relatam que, nesse ciclo de violência, a conduta
do agressor inclui desrespeito e perda de autoestima (31,6%), intimidação (30,6%), privação
de autonomia (29,5%) e invasão
de privacidade (29,1%), entre outras práticas de controle
coercitivo da vítima.
🚨🚨🚨 Como pedir ajuda
Em
caso de emergência, quando há necessidade de intervenção
imediata, ligue 190.
Em
caso de violência contra meninas e
mulheres que não requerem intervenção imediata, disque 180. (Veja vídeo ao final.)
Há
organizações da sociedade civil que oferecem acolhimento, acesso à justiça,
acesso à profissionais da saúde especializados em violência de gênero e acesso
à terapeutas que trabalham pro bono. Procure os grupos a seguir
para obter ajuda:
🚨 O Mapa
do Acolhimento oferece suporte direto a sobreviventes por
meio de uma solução tecnológica que as conecta a uma rede nacional de
psicólogas e advogadas voluntarias. Há voluntárias em todos os estados do
Brasil.
🚨 A ONG
Justiceiras oferece orientação para que mulheres em
situação de violência realizem boletim de ocorrência on-line ou presencial,
façam pedidos de medidas protetivas e apoia e encoraja meninas e mulheres que
estão em situação de violência e precisam de ajuda junto ao sistema de justiça.
O grupo atua nacionalmente.
🚨 A ONG
Recomeçar acolhe meninas e mulheres vítimas da violência
de gênero em São Paulo. O trabalho da Recomeçar consiste em prestar acolhimento
provisório para mulheres, acompanhadas ou não de seus filhos, em situação de
risco de morte ou ameaças em razão da violência doméstica e familiar, causadora
de lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico ou dano moral.
🚨 Localizada em São
Paulo, a Associação Fala Mulher atua
fornecendo atendimento a mulheres, crianças, adolescentes e idosos que foram
vítimas de violência doméstica. A instituição ainda oferece auxílio jurídico,
psicológico, educacional e social, e fornece abrigos sigilosos para proteção da
vítima e seus filhos em risco de morte.
🚨 O Programa
Bem Me Quer é um núcleo de oferece gratuitamente atenção
integral à mulher em situação de violência sexual que opera dentro do Hospital
Pérola Byington, em São Paulo. Atende casos de emergência via pronto socorro do
hospital.
🚨 O Instituto
Maria da Penha realiza atendimentos, workshops,
consultorias, cursos de capacitação e palestras que visam prevenir, enfrentar
e combater a violência doméstica e familiar contra a mulher. O programa As
Penhas desenvolvido pelo IMP, oferece atendimento remoto e especializado a
mulheres em situação de violência doméstica de todo o Brasil por meio de uma
rede qualificada de profissionais de diversas áreas de atuação.
¨
21,4
milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses,
diz pesquisa
Mais de 21
milhões de brasileiras, 37,5% do total de mulheres, sofreram algum tipo de
agressão nos últimos 12 meses, de acordo com pesquisa do Datafolha
encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
É o maior
percentual da série histórica da pesquisa “Visível e Invisível: a
Vitimização de Mulheres no Brasil”, iniciada em 2017, e 8,6 pontos percentuais
acima do resultado da última pesquisa, de 2023.
A pesquisa também
mostra que 5,3 milhões de mulheres, 10,7% do total da população feminina
do país, relataram ter sofrido abuso sexual e/ou foi forçada a manter
relação sexual contra a própria vontade nos últimos 12 meses, ou seja, uma em
cada 10.
No Brasil, o
percentual de mulheres que sofreram alguma violência ao longo da vida por
parceiro ou ex-parceiro é superior à média global: 32,4% contra 27%, de acordo
com relatório recente da Organização
Mundial de Saúde (OMS).
Para Samira Bueno,
diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança, os números reforçam a
sensação de que o Brasil é cada vez um país menos seguro para as mulheres.
O Brasil é um dos
países mais violentos do mundo e isso se reflete no dia a dia das mulheres. A
pesquisa mais uma vez nos mostra que as mulheres estão desprotegidas dentro de
suas próprias casas, convivendo com os agressores que, na maioria das vezes,
compõem seu círculo íntimo, sejam parceiros, ex-parceiros, parentes ou
conhecidos.
— Samira Bueno,
diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança
Segundo elas,
"as iniciativas para frear essa epidemia de violência têm sido
insuficientes, independentemente dos esforços de alguns governos e da exposição
dos casos de repercussão nacional ao longo dos últimos anos”.
A ampla maioria
das agressões ocorreu na presença de terceiros, 91,8%. Em 47,3% desses
casos, quem presenciou foram amigos ou conhecidos; em 27%, os filhos; e em
12,4%, outros parentes.
Confesso
que me surpreendeu que nove em cada dez mulheres que sofreram violência
sofreram na frente de alguém, que quase sempre era conhecido. Só 7% foram na
frentede desconhecido, mas quase tudo na frente de alguém, de um amigo, de um
familiar, de filho. Isso nos chocou. — Samira Bueno
Na
semana passada, um jovem de 22 anos morreu baleado no ônibus em São Paulo após
tentar defender
uma mulher que era agredida pelo companheiro. Ele ouviu o casal
discutindo e pediu para o homem parar com a agressão.
“Meu
sobrinho não discutiu com ninguém. O próprio motorista disse que ele só pediu
para o cara parar de brigar com a mulher, foi a única coisa. Foi o suficiente
para esse cara tirar a vida dele com três tiros. Ramon era menino amoroso, de
família, respeitoso. Morreu tentando defender uma
mulher", lamentou.
Fonte: g1
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