"Avanço
transnacional da extrema direita é desafio maior do que foi o
nazifascismo", diz historiador
O
historiador, professor e escritor João Cezar de Castro Rocha afirmou que o
avanço transnacional da extrema direita representa um desafio ainda maior do
que o nazifascismo do século passado. A declaração foi feita durante entrevista
ao programa Conversas Com Hildegard Angel, da TV 247.
"O
que nós enfrentamos hoje, com o avanço transnacional da extrema direita, é um
desafio maior do que foi o nazifascismo do século passado. Porque o
nazifascismo surge, sobretudo, como oposição violenta. Mas hoje, a extrema
direita de Donald Trump, Elon Musk e Jair Bolsonaro avança conquistando
corações e mentes, sobretudo das gerações mais jovens. Por quê? O que está em
jogo? A gente precisa compreender esse dilema do desafio contemporâneo, é o que
tenho tentado", afirmou.
Para
Castro Rocha, o que está em jogo é a disputa pela narrativa que molda as
sociedades contemporâneas. Ele alertou para o uso estratégico de fake news e
teorias conspiratórias por líderes políticos da extrema direita, como Trump,
Bolsonaro e o presidente argentino Javier Milei.
"Não
existem mais projetos para a cidadania, como por exemplo a 'Pátria Educadora'
de Dilma Rousseff, ou o '50 anos em 5', de JK, ou as 'Reformas de Base', do
João Goulart", afirmou o professor. "Uma vez que você tem o ódio como
mecanismo de interação social, nós vivemos o caos que vivemos hoje",
completou.
¨ "Se nós
não falarmos de segurança pública, a extrema-direita irá pautar o tema da pior
maneira possível”, diz Contarato
Em entrevista
ao programa Reconversa, de Reinaldo Azevedo e Walfrido Warde, no
Youtube, o senador Fabiano Contarato (PT-ES) revelou os ataques que sofreu
durante sua campanha eleitoral devido à sua orientação sexual e estrutura
familiar. O parlamentar denunciou a divulgação de fotos suas com o marido e o
filho adotivo, Gabriel, em uma tentativa de desqualificá-lo como representante
do Espírito Santo. "Meus adversários espalhavam essas imagens e
perguntavam para a população: 'Esse é o tipo de família que você quer que
represente o estado?'. Isso é muito duro", desabafou Contarato.
O senador
também relatou as dificuldades enfrentadas durante o processo de adoção de
Gabriel. "O promotor se posicionou contra, alegando que uma criança
precisa de pai e mãe, e jamais de dois pais", revelou. Apesar das
resistências, Contarato conseguiu reverter a decisão na Justiça, e o Estado do Espírito
Santo foi condenado a indenizá-lo pelo comportamento homofóbico do Ministério
Público. "Foi uma luta que registrei em um livro, para que meus filhos
saibam o quanto batalhamos para construir nossa família."
<><> A omissão da
esquerda na segurança pública
Durante a
entrevista, Contarato também criticou a postura da esquerda em relação ao
debate sobre segurança pública. Ele defendeu a necessidade de endurecimento de
penas para crimes graves e criticou o abandono do tema por parte dos
progressistas. "Se nós, da esquerda, não falarmos de segurança pública, a
extrema-direita irá pautar o tema da pior maneira possível", alertou.
O senador
mencionou seu projeto de lei que propõe o aumento do período de internação para
adolescentes que cometem atos infracionais com violência. Ele citou o caso de
um jovem de 17 anos que invadiu uma escola no Espírito Santo e matou sete
pessoas. "Atualmente, ele pode ficar internado no máximo por três anos.
Isso não é razoável", afirmou.
<><> Polêmicas e embates
com a direita
Contarato
também criticou a direita por distorcer conceitos jurídicos e promover pautas
"odientas". Ele questionou o projeto aprovado pela Comissão de
Segurança Pública do Senado que previa a castração química para estupradores.
"Essa medida sequer passou pelo plenário do Senado. Enquanto isso,
tentaram aumentar a pena para crimes contra o patrimônio, como estelionato,
para até 19 anos. Isso é uma aberração jurídica", criticou.
O senador
também rebateu os discursos sobre anistia para os golpistas do 8 de Janeiro.
"No Brasil, um crime não é cometido apenas por ação, mas também por
omissão. As pessoas que estavam nos acampamentos e as forças de segurança que
nada fizeram são igualmente culpadas", argumentou. Para ele, defender
anistia aos participantes dos atos golpistas é um equívoco grave. "Eles
estavam ali para desestabilizar o regime democrático. Não eram 'senhorinhas
inocentes'."
<><> Falta de abertura na
esquerda
Contarato
revelou sua frustração com a falta de espaço para discutir segurança pública
dentro da própria esquerda. "Quando o presidente Lula foi eleito e formou
a equipe de transição, eu, que fui delegado por 27 anos e sou professor de
Direito Penal desde 1999, não fui chamado para contribuir", lamentou.
O senador
defendeu que a esquerda precisa ampliar seu discurso para dialogar com a
população sobre temas como combate à corrupção, segurança pública e direitos
humanos. "Direitos humanos também envolvem proteger famílias de policiais
mortos em serviço, combater a violência doméstica e punir crimes sexuais.
Precisamos ressignificar esse debate e tirar o monopólio da direita sobre o
tema."
A entrevista
de Contarato repercutiu fortemente nas redes sociais, reacendendo o debate
sobre os desafios da esquerda em lidar com a segurança pública e os direitos
das famílias LGBTQIA+ no Brasil.
¨ “O império
sem máscaras: o trumpismo é a verdade dos Estados Unidos”, diz Boaventura
O
renomado sociólogo Boaventura de Sousa Santos descreveu, em entrevista ao
jornalista Gustavo Conde no Podcast do Conde, a chegada de Donald
Trump à Casa Branca como o marco de um "império sem máscaras".
Segundo o acadêmico, o trumpismo é a face mais crua do capitalismo e do
imperialismo estadunidense, despida de qualquer disfarce democrático.
Boaventura
começou destacando um aspecto peculiar da liderança de Trump: "Há uma
coisa que eu admiro no Trump: é o imperialismo sem máscaras. Acabou a
hipocrisia. Não há mais a máscara da democracia ou da paz. Ele governa de forma
direta, em prol das elites bilionárias.”
Na
análise do sociólogo, a posse do republicano foi uma "performance
midiática cuidadosamente orquestrada", que reuniu os grandes bilionários
do planeta para legitimar um governo voltado exclusivamente para os interesses
do capital financeiro, da indústria armamentista e do petróleo.
A
política de revogações executivas, marca dos primeiros dias do novo mandato de
Trump, também foi alvo da reflexão do intelectual. Entre as decisões mais
polêmicas, Boaventura destacou a saída dos Estados Unidos da Organização
Mundial da Saúde (OMS), a revogação do direito ao jus soli (nacionalidade
pelo local de nascimento) e a soltura de condenados pelo ataque ao Capitólio em
6 de janeiro de 2021. "São ações que consolidam uma era de expansionismo
econômico, militarização e nacionalismo extremo. O que Trump faz é oficializar
o que sempre esteve no subtexto da política norte-americana", afirmou.
Sobre
a política externa, Boaventura criticou a postura beligerante e protecionista
do novo governo. "Trump anunciou tarifas de até 200% sobre produtos vindos
da China e de outros países considerados 'hostis'. Trata-se de uma estratégia
para reindustrializar os Estados Unidos à custa da economia global. É a velha
lógica colonial aplicada ao século XXI."
Ao
abordar a reação internacional às medidas de Trump, o sociólogo destacou a
ausência de resistência organizada. "A Europa está perdida, dividida e sem
lideranças capazes de enfrentar esse cenário. Os BRICS, por sua vez, têm
potencial, mas enfrentam desafios internos e falta de coesão política para
fazer frente ao dólar ou ao protecionismo norte-americano."
O
acadêmico também apontou a desconexão entre os movimentos progressistas e as
demandas populares como uma das razões da fragilidade da esquerda global.
"A esquerda está se suicidando ao abandonar a luta anticapitalista e
priorizar divisões internas baseadas em identitarismos. Enquanto isso, a
extrema direita avança com força, legitimada por lideranças como Trump e
Bolsonaro", avaliou.
Boaventura
ainda destacou a importância das resistências locais, como os povos indígenas
da América Latina e os movimentos africanos, que têm emergido com propostas
baseadas em harmonia com a natureza. "A verdadeira mudança virá dos povos
que vivem na prática a ideia de que pertencemos à natureza, e não o contrário.
Eles trazem uma alternativa concreta ao modelo destrutivo do capitalismo."
Ao
final, o sociólogo reforçou a necessidade de uma renovação nas formas de
resistência global. "Precisamos de uma articulação internacional que vá
além das redes sociais e da retórica. É hora de repensar as estruturas de luta
para que possamos fazer frente a essa nova era de plutocracia
global."
¨ “Cultura do
cancelamento é uma cultura de linchamento, que tem atingido figuras de
esquerda”, diz Boaventura de Sousa Santos
O
sociólogo português Boaventura de Sousa Santos afirmou, em entrevista à TV 247,
que foi vítima da chamada cultura do cancelamento, que o levou a se desligar do
Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, em Portugal,
instituição da qual é sócio-fundador. Ele pediu demissão após alegar
irregularidades no processo de inquérito sobre acusações de assédio sexual e
moral feitas por um grupo de pesquisadoras.
“Eu me
desliguei do CES porque a cultura do cancelamento entrou no meu centro”,
declarou. Boaventura negou veementemente as acusações e criticou o que chamou
de “indústria do cancelamento”. Segundo ele, as denúncias nunca foram
apresentadas formalmente a nenhuma instituição oficial. “Nunca fui alvo de
denúncias formais”, afirmou.
Durante
a entrevista, o sociólogo acusou ONGs internacionais de financiar campanhas de
difamação contra ele e destacou que a investigação no CES não seguiu os
princípios do Estado de Direito. “Fui vítima de mentiras de uma agência que se
diz pública, mas que é financiada por ONGs internacionais, que fomentam a
cultura do cancelamento”, disse.
Boaventura
classificou a cultura do cancelamento como uma forma de linchamento e um
instrumento de disputa política. “A cultura do cancelamento não permite o
contraditório. O objetivo era eliminar-me”, afirmou. Ele comparou sua situação
à do jurista brasileiro Alysson Mascaro, argumentando que ambos enfrentaram
acusações sem respaldo jurídico.
Para o
sociólogo, o cancelamento é uma ferramenta seletiva e está sendo usada para
descredibilizar intelectuais de esquerda. “Cultura do cancelamento é uma
cultura de linchamento, que tem atingido figuras de esquerda. Estamos numa luta
política”, afirmou. Ele também classificou o fenômeno como uma espécie de “novo
macartismo a serviço da extrema-direita internacional”.
Boaventura
também criticou mudanças sociais e acadêmicas que, segundo ele, têm tornado o
ambiente mais hostil ao diálogo. “No passado, eu podia dizer que uma mulher
estava bonita. Hoje, não posso mais”, comentou, atribuindo o endurecimento das
regras sociais à competição no meio acadêmico. “Estamos numa sociedade em que
há muita competição na área acadêmica e científica.”
O
sociólogo encerrou sua participação afirmando que continuará a atuar como
intelectual independente, mesmo sem vínculo institucional. Ele anunciou que já
acionou a Justiça para contestar as acusações e defender sua honra. “As ações
judiciais estão em curso”, finalizou.
<><> "O Brasil está concluindo sua
longa transição democrática"
O
sociólogo português Boaventura de Sousa Santos afirmou que o Brasil está concluindo uma transição
democrática que se estende desde o fim da ditadura militar, em 1985. Para ele,
as recentes investigações sobre a tentativa de golpe de Estado e a tentativa de
impedir o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcam um
ponto de inflexão na história política do país. "O Brasil tem uma longa
transição democrática que é praticamente entre 1985 e 2025", afirmou.
Boaventura
ressaltou que pela primeira vez "pessoas e lógicas políticas golpistas
estão sendo questionadas e responsabilizadas no Supremo Tribunal Federal
(STF)”, o que representa um avanço na consolidação democrática. No entanto, ele
alerta para um cenário político preocupante nas próximas eleições presidenciais
no Brasil, destacando o papel da extrema-direita global e a influência de
figuras como Elon Musk. "O horizonte para as próximas eleições é muito
perturbador", avaliou. Ele citou o caso da Alemanha, onde Musk interferiu
no processo político ao defender a extrema-direita, e questionou: "Se ele
fez isso na Alemanha, por que não faria no Brasil?".
O
sociólogo demonstrou preocupação com a vitalidade da esquerda brasileira diante
deste cenário. "Não estou a ver a vitalidade da esquerda para enfrentar
este grande desafio", disse, acrescentando que observa a construção de uma
narrativa para enfraquecer Lula, similar à que foi utilizada contra o
presidente norte-americano Joe Biden, associando-o à falta de capacidade
mental. Segundo Boaventura, essa estratégia foi evidenciada em um artigo
recente da jornalista Mônica Bergamo, que teria sugerido que Lula estaria
"desconectado da realidade" diante de sua queda de popularidade.
"Podemos estar a criar uma ideia de que Lula não tem condições para se
recandidatar", alertou.
A
relação dos Estados Unidos com a esquerda latino-americana também foi um ponto
abordado na entrevista. Para Boaventura, um dos principais equívocos da
esquerda brasileira foi acreditar que poderia contar com os Estados Unidos como
um aliado. "A esquerda brasileira depois da ditadura foi muito irrealista
em relação aos Estados Unidos", afirmou, lembrando o caso da espionagem da
ex-presidente Dilma Rousseff pelo governo de Barack Obama. Ele ainda criticou a
posição do Brasil em relação à Venezuela dentro do BRICS, considerando que o veto
de Lula à entrada do país no bloco não trará benefícios ao Brasil. "Os
Estados Unidos só têm um aliado: os seus próprios interesses", pontuou.
A
crise política nos Estados Unidos também foi um tema abordado por Boaventura,
que considera o país "à beira de uma guerra civil". Ele afirmou que
"uma percentagem significativa da população acredita que os problemas do
país só se resolvem através de uma guerra civil interna" e que o sistema
político norte-americano é, na realidade, controlado pelo chamado "Deep
State", uma estrutura subterrânea de poder. Segundo ele, o ex-presidente
Donald Trump "pode ser eliminado" caso ameace os interesses desse
sistema. "No momento em que seja visto pelo Deep State que Trump está a
pôr em causa o sistema, matam-no", afirmou, citando o assassinato de John
F. Kennedy como um exemplo histórico da violência política norte-americana.
Na
Europa, Boaventura de Sousa Santos destacou o crescimento da extrema-direita
como um fenômeno impulsionado pela crise econômica e pela falta de alternativas
para a população. "A extrema-direita cresce na Europa porque as pessoas
estão em um profundo mal-estar social e econômico", disse. Para ele, os
países europeus estão enfrentando um processo de declínio irreversível,
agravado pelas sanções contra a Rússia e a dependência econômica dos Estados
Unidos. "O dinheiro que vai para as armas não vai para a educação, não vai
para o serviço nacional de saúde, não vai para as classes médias
europeias", enfatizou.
Sobre
a crise da esquerda global, Boaventura criticou a falta de um projeto
alternativo ao capitalismo e a forma como as esquerdas foram cooptadas por
ideias do próprio sistema. Ele defendeu que a esquerda precisa se reconectar
com conceitos de "bem viver" e romper com a lógica do desenvolvimento
baseado no consumo exacerbado. "O grande problema da esquerda é que é
contra nós agora, contra a nossa maneira de pensar. O inimigo está cá dentro,
nas subjetividades", afirmou.
Ao
finalizar sua participação, Boaventura defendeu a necessidade de reinvenção da
esquerda para enfrentar os desafios do século XXI e sugeriu um maior
protagonismo dos movimentos sociais e das comunidades tradicionais. "A
esquerda tem que buscar outros pensamentos. Os povos indígenas, os quilombolas,
os movimentos sociais têm muito a nos ensinar. A crise ecológica, a crise
social e a crise política só serão superadas com um novo paradigma de
sociedade".
Fonte: Brasil 247
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