Mulheres
jovens têm dobro de risco de câncer do que homens, diz estudo
Charmella
Roark lembra do choque que a paralisou quando soube do diagnóstico de câncer de
sua irmã mais nova. Em 2018, Kiki Roark escreveu no grupo familiar de mensagens
que havia sido diagnosticada com câncer de mama em estágio I – a mesma doença
que tinha tirado a vida de sua tia apenas alguns anos antes.
“Eu não acreditei”, conta Charmella sobre o
diagnóstico de sua irmã. “Ela é minha primeira melhor amiga”. As irmãs de Nova
Jersey nunca teriam imaginado que quatro anos depois, Charmella receberia o
mesmo diagnóstico.
As irmãs
Roark representam uma tendência crescente nos Estados Unidos: cada vez mais
mulheres jovens estão sendo diagnosticadas com câncer. As taxas de câncer
geralmente diminuíram entre os homens nos EUA no início deste século antes de
se estabilizarem, mas parecem estar aumentando entre as mulheres –
especialmente as jovens.
Os
diagnósticos de câncer estão mudando de adultos mais velhos para mais jovens e
de homens para mulheres, segundo um relatório divulgado na quinta-feira (16)
pela Sociedade Americana do Câncer.
Mulheres
de meia-idade agora têm um risco ligeiramente maior de câncer do que os homens
da mesma faixa etária, e mulheres jovens têm quase duas vezes mais
probabilidade de serem diagnosticadas com a doença do que homens jovens, de acordo com o relatório, publicado no CA: A Cancer Journal for Clinicians.
Parece que os cânceres
de mama e de tireoide em mulheres estão impulsionando essa tendência crescente.
“O câncer de mama e de tireoide representam quase metade de todos os
diagnósticos de câncer em mulheres com menos de 50 anos”, afirma Rebecca Siegel,
autora principal do relatório e diretora científica sênior de pesquisa de
vigilância da Sociedade Americana do Câncer.
·
“Estamos vendo algumas mudanças”
Kiki tinha 37 anos
quando foi diagnosticada com câncer de mama em agosto de 2018.
Uma dor aguda na axila
havia irradiado para sua mama, e ela havia pedido a três de seus médicos para
solicitar uma mamografia para verificar se havia câncer. Mas cada um disse que
uma mamografia era desnecessária na sua idade, segundo seu relato.
“Só porque eu era mais
jovem, sinto que eles não me levaram a sério”, conta Kiki. “Mas continuei
insistindo, dizendo: ‘Não, algo não está certo'”.
Levou meses, segundo
Kiki, mas ela finalmente conseguiu uma mamografia. O exame mostrou sinais de
câncer, e uma biópsia confirmou o diagnóstico. “Eu estava em um estágio
inicial”, relembra Kiki, mãe de três filhos que trabalha em casa.
Para o tratamento, ela
teve ambas as mamas removidas em uma mastectomia dupla e recebeu o medicamento
hormonal tamoxifeno.
Charmella permaneceu ao
lado de sua irmã durante toda a doença. E nos anos seguintes, Charmella conta
que foi inspirada a manter seus exames de rotina de câncer de mama fazendo
mamografias.
No verão de 2022, uma
dessas mamografias revelou que Charmella, professora do ensino médio e mãe de dois
filhos, tinha câncer de mama em estágio I. Ela tinha 44 anos na época.
Depois de receber seu
próprio diagnóstico, Charmella ligou imediatamente para Kiki. “Fiquei
devastada”, diz Kiki. “A primeira coisa que pensei: de novo não.”
Charmella iniciou rapidamente
o tratamento: seis sessões de quimioterapia e um mês de radiação.
Charmella e Kiki se
encontraram entre as estimadas 1 em cada 3 mulheres nos EUA que serão
diagnosticadas com câncer em algum momento de suas vidas.
Historicamente, os
homens têm apresentado uma incidência geral de câncer maior do que as mulheres,
mas em 2021, mulheres com menos de 50 anos nos Estados Unidos tiveram uma taxa
de incidência de câncer 82% maior do que seus pares masculinos, segundo o novo
relatório da Sociedade Americana do Câncer, que utilizou dados do Instituto
Nacional do Câncer, dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA e da
Associação Norte-Americana de Registros Centrais de Câncer.
“Vemos pela primeira vez
que, se você é uma mulher com menos de 65 anos, agora é mais provável que
desenvolva câncer do que homens na mesma faixa etária”, afirma William Dahut,
diretor científico da Sociedade Americana do Câncer.
“A outra coisa é que
estamos vendo uma mudança na idade do diagnóstico de câncer”, afirma Dahut. “A idade
continua sendo o principal fator de risco para o câncer em geral, e isso não
mudou. Mas estamos vendo algumas mudanças”, acrescenta. “O único grupo etário
onde estamos realmente vendo um aumento no risco de câncer, na incidência
crescente, é em menores de 50 anos.”
·
Um apelo para “defender a si mesmo”
Charmella, agora com 47
anos, e Kiki, 44, estão livres do câncer e passam bem, mas sabem que, como
mulheres negras nos Estados Unidos, fazem parte de uma comunidade que enfrenta
disparidades significativas nos resultados do câncer.
Embora as mulheres
negras nos EUA tenham uma taxa de incidência de câncer de mama cerca de 4%
menor que as mulheres brancas, elas têm 41% mais probabilidade de morrer da
doença, segundo dados anteriores da Sociedade Americana do Câncer.
O novo relatório mostra
que essas grandes disparidades persistem.
“Você tem mais
probabilidade de desenvolver câncer de mama como mulher branca. Você tem mais
probabilidade de morrer dele como mulher negra, particularmente quando se
observa as populações mais jovens, onde os números de disparidade são maiores”,
afirma Dahut.
Pessoas negras têm uma
taxa de mortalidade duas vezes maior que pessoas brancas para cânceres de
próstata, estômago e corpo uterino, segundo o relatório. Da mesma forma, as taxas
de mortalidade para cânceres de rim, fígado, estômago e colo do útero entre
nativos americanos são duas a três vezes maiores que as observadas em pessoas
brancas.
Também há diferenças
geográficas na ocorrência e nos resultados do câncer. Em todo o país, as taxas
de pessoas morrendo de câncer variam de menos de 150 mortes por 100.000 pessoas
em Utah, Havaí e Nova York para mais de 210 por 100.000 em Virgínia Ocidental,
Kentucky e Mississippi.
As taxas gerais de
sobrevivência ao câncer estão aumentando, e a taxa de mortalidade por câncer
nos Estados Unidos continua caindo, evitando quase 4,5 milhões de mortes de
1991 a 2022 – resultando em uma queda geral de 34%, de acordo com o novo
relatório.
“Ano após ano,
observamos um declínio contínuo na mortalidade relacionada ao câncer, e isso é
muito importante”, afirma Mariana Chavez-MacGregor, professora da Universidade
do Texas MD Anderson Cancer Center em Houston, que não participou do novo
relatório.
Este declínio nas mortes
por câncer tem sido em grande parte devido à redução no número de pessoas
fumando cigarros, à detecção mais precoce de alguns casos de câncer e aos
avanços nas opções de tratamento, incluindo o desenvolvimento de novos
medicamentos imunoterápicos e terapias direcionadas.
As irmãs Roark querem
que outras mulheres saibam que é importante defender o acesso a esses avanços
médicos quando se trata de triagem e tratamento. Mamografias de rastreamento
são recomendadas para mulheres a cada dois anos a partir dos 40 anos, a menos
que a paciente atenda a certos outros critérios.
“Eu sempre digo,
defenda-se”, afirma Kiki. “Eu tive um especialista em mama, um
ginecologista e um médico de família me dizendo que não era nada”, relembra.
“Se eu tivesse escutado eles, não sabemos onde eu estaria agora.”
O relatório da Sociedade
Americana do Câncer projeta que este ano haverá mais de 2 milhões de
diagnósticos de câncer – ou cerca de 5.600 novos casos por dia – e mais de
618.000 mortes por câncer nos EUA, correspondendo a cerca de 1.700 vidas
perdidas por dia.
·
O que está por trás dessa tendência?
À medida que a
incidência de câncer entre adultos mais jovens continua a aumentar, os médicos
estão refletindo sobre o que poderia estar por trás dessa tendência. É apenas
porque melhoramos no rastreamento e detecção de cânceres, ou existem fatores do
mundo real colocando as pessoas em risco?
“Na minha opinião
profissional, esse fenômeno é multifatorial. Não podemos apontar para um fator
específico, mas é possível que mudanças nos padrões de fertilidade desempenhem
um papel”, afirma Chavez-MacGregor, referindo-se a como a gravidez e a
amamentação têm sido associadas a um risco reduzido de câncer de mama mais
tarde na vida.
“Obesidade e consumo de
álcool são provavelmente fatores contribuintes, assim como uma possível falta
de atividade física”, acrecenta. “Outras variáveis desconhecidas também podem
estar em jogo”, como fatores de risco ambientais.
Uma melhor compreensão
dos fatores que impulsionam esse aumento pode ajudar a informar maneiras de
reduzir o risco entre adultos mais jovens, segundo Neil Iyengar, oncologista
médico do Memorial Sloan Kettering Cancer Center em Nova York, que não
participou do novo relatório.
“Existe, e precisa
haver, uma maior mudança na pesquisa científica e nos recursos disponíveis para
a comunidade científica entender melhor como podemos ser mais eficazes na
prevenção do câncer, ou pelo menos na redução do risco de câncer”, afirma
Iyengar.
“Certamente precisamos
entender a biologia individual e como podemos prevenir o câncer com base na
biologia individual. Mas precisamos expandir isso para compreender o estilo de
vida de uma pessoa, seus riscos ambientais”, acrescenta. “As exposições e os
riscos de uma pessoa mais jovem são provavelmente muito diferentes dos de uma
pessoa mais velha tradicionalmente em risco de câncer.”
O aumento na incidência
de câncer entre as faixas etárias mais jovens também pode ter grandes
implicações para o futuro do tratamento do câncer, já que alguns tipos de
câncer em pessoas mais jovens podem necessitar de terapias mais agressivas,
segundo Iyengar.
“Precisamos estar
preparados para apoiar nossos homens e mulheres mais jovens que estão passando
por tratamentos de câncer possivelmente mais agressivos enquanto ainda lidam
com famílias jovens e carreiras profissionais”, afirma. “Isso vai desde
considerações práticas – como programar tratamentos de quimioterapia, por
exemplo, de forma menos disruptiva para a vida, carreira e família das pessoas
– até os tipos de tratamentos que estamos utilizando.”
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Exercício regular pode reduzir
evolução do câncer e risco de morte, diz estudo
Manter uma rotina de
atividade física é importante para diferentes aspectos da saúde, como
manutenção do peso, redução dos riscos de doenças cardiovasculares e melhora do
bem-estar mental. Agora, um novo estudo mostrou que fazer exercícios
regularmente pode reduzir a progressão de câncer e o risco de morte.
O trabalho, realizado
por pesquisadores da Universidade de Witwatersrand, em Johannesburg, na África
do Sul, foi publicado no último dia 8 no British Journal of Sports Medicine.
Nele, os cientistas buscaram explorar com maior profundidade o papel da
atividade física no tratamento do câncer.
Para isso, a equipe
analisou dados anônimos do Discovery Health Medical Scheme (DHMS), vinculado ao
programa de promoção de saúde Vitality. Esse é o maior plano médico aberto da
África do Sul, cobrindo, aproximadamente, 2,8 milhões de beneficiários.
No total, 28.248 membros
do programa Vitality com câncer em estágio 1 e dados abrangentes de atividade física do ano
anterior ao diagnóstico foram incluídos no estudo, que abrangeu o período de
2007 a 2022. O câncer de mama e o de
próstata foram os tumores mais comuns, representando 44% do total do estudo.
Nesses participantes, o
câncer não progrediu em quase dois terços da amostra total (65,5%), mas em
pouco mais de um terço (34,5%) progrediu. E enquanto 81% sobreviveram, 19%
morreram antes do fim do estudo.
<><> Risco
de morte foi 47% menor
De acordo com o estudo,
as taxas de progressão do câncer e de morte por qualquer causa foram menores
entre aqueles que eram fisicamente ativos no ano anterior ao diagnóstico. As
descobertas foram feitas após levar em conta fatores que poderiam influenciar
nos resultados, como idade no diagnóstico, sexo, posição econômica e social e
condições coexistentes.
O trabalho mostrou que
as chances de progressão do câncer foram 16% menores para aqueles que
praticaram atividade física de intensidade baixa no ano anterior ao diagnóstico
da doença, em comparação com quem não praticou nenhum exercício. Já para aqueles
que fizeram níveis moderados a altos de atividade física, as chances foram 27%
menores.
Da mesma forma, as
chances de morte por qualquer causa foram 33% menores entre aqueles que
praticaram níveis baixos de atividade física, em comparação com aqueles que não
praticaram nenhuma. Já entre aqueles que realizaram exercícios moderados a
intensos, os riscos foram 47% menores.
Dois anos após o
diagnóstico, a probabilidade de não haver progressão da doença entre aqueles
sem atividade física registrada no ano anterior ao diagnóstico foi de 74%, em
comparação com 78% e 80%, respectivamente, para aqueles que atingiram níveis
baixos e moderados a altos de atividade física.
Embora a probabilidade
de progressão da doença tenha aumentado com o passar do tempo, ela ainda era
menor para aqueles que tinham registrado algum nível de atividade física no ano
anterior ao diagnóstico.
Após 3 anos, a
probabilidade de nenhuma progressão da doença era de 71%, 75% e 78%,
respectivamente, para nenhum, baixo e moderado a alto nível de atividade
física. E após 5 anos, era de 66%, 70% e 73%, respectivamente.
O estudo encontrou
padrões semelhantes para morte por qualquer causa. Dois anos após o
diagnóstico, a chance de sobrevivência entre aqueles sem atividade física
documentada no ano anterior à detecção do câncer foi de 91%, em comparação com
94% e 95%, respectivamente, entre aqueles que registraram níveis baixos e
moderados a altos de exercício físico.
“Saber que apenas 60
minutos de exercícios semanais regulares podem reduzir a probabilidade de
progressão do câncer em 27% e de morte em 47% deve encorajar todos os médicos a
usar exercícios como remédio”, diz o autor principal do estudo, Jon Patricios,
professor de Medicina Esportiva e de Exercícios na WiSH, Universidade Wits, em
comunicado.
“A atividade física
regular é a prescrição mais poderosa e acessível que podemos dar aos nossos
pacientes. Este estudo confirma os benefícios de quantidades relativamente
pequenas de atividade física, mas devemos encorajar a adesão às diretrizes da
OMS de 300 minutos por semana de exercícios de intensidade moderada para todos
os seus benefícios bem descritos”, completa.
No entanto, os
pesquisadores ressaltam que o estudo é observacional, ou seja, não estabelece
causa e efeito. Além disso, os autores reconhecem que não foram capazes de
levar em consideração outros fatores potencialmente influentes, como tabagismo
e consumo de álcool, enquanto dados sobre índice de massa corporal (IMC)
estavam incompletos.
Por outro lado, eles
reforçam que a atividade física fortalece a imunidade, aumentando o número de
células que combatem doenças diversas. Além disso, a atividade física também
pode reduzir o risco de progressão de tumores sensíveis a hormônios, como o
câncer de mama e de próstata, ao regular os níveis de estrogênio e
testosterona.
“A atividade física pode
ser considerada como conferindo benefícios substanciais em termos de progressão
e mortalidade geral para aqueles diagnosticados com câncer”, observam os
pesquisadores.
“Em um mundo onde o
câncer continua a ser um fardo significativo para a saúde pública, a promoção
da atividade física pode gerar benefícios importantes em relação à progressão
do câncer, bem como sua prevenção e gerenciamento”, concluem.
Fonte: CNN Brasil
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