segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Chico Teixeira: Trump não é um "tigre de papel"

Como de costume, os intelectuais e políticos latino-americanos não levam com a devida seriedade as ameaças fascistas e imperialistas, tal qual 1933 e o "Apaziguamento". A maioria sorri com condescendência para as ameaças proferidas por Trump e profetiza, como foi no caso de outros líderes perigosos, que o "poder vai moderar seus ímpetos". Não levam a sério que estamos perante ameaças reais de uso da força contra cinco países americanos: Panamá, México, Canadá, Venezuela e o território da Groenlândia e, ainda, de extorsão econômica contra outro, o Brasil. Como respondemos a isso? Como se fossem bravatas ou factóides.

Não há um claro raciocínio geopolítico das dimensões do "Risco Trump" para a soberania dos Estados americanos. Por exemplo, se a Groenlândia é uma questão de segurança nacional e mundial, sendo a Dinamarca membro ativo da Otan, por que não só ampliar as bases militares que os Estados Unidos lá possuem? Não se trata disso. Porque, em verdade, se trata de planejar o futuro da mudança climática, da abertura da "Rota Polar do Norte" e das riquezas minerais e energéticas que afloram na nova Era do Aquecimento Global.

No Panamá, não são as taxas que incomodam, o objetivo é afastar a China das grandes vias do comércio global. O México deve ser punido por aceitar, no âmbito do Nafta, a instalação de indústrias chinesas que passam a ter acesso direto ao mercado americano, salvas das tarifas impostas contra a China, pela maquiagem "Made in México". 

O Canadá sempre foi alvo da ambição imperialista americana, agora com o aquecimento global e a política de "drill, baby, drill", a oferta de minérios e petróleo - para empresas petrolíferas americanas hoje com horizonte de dez anos de exploração - se amplia em cem anos. Neste contexto, cabe dar uma boa pancada no Brasil.

Liderando os BRICs, por fim Washington entendeu que a política brasileira, como desenhada pelo Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que o debate sobre o dólar, e seu papel como moeda de reserva, é uma ameaça real à capacidade americana de financiar seu impagável déficit, retirando os dólares do sistema financeiro norte-americano. 

O caso da Venezuela é didático: Trump não tem problemas de conviver com governos "fortes", é amigo pessoal do príncipe esquartejador saudita. Nem os Estados Unidos precisam de petróleo.

Na verdade, inundaram a Europa de petróleo e gás, a excelente preço de salvação dos produtores via "fracturing" de xisto. O medo em Washington é sobre o destino dos dólares auferidos na venda do petróleo venezuelano. 

Com Caracas nos BRICs, a moeda americana perde, além de sua função de troca, sua fundamental função de reserva e, assim, os recursos derivados do petróleo, fora do sistema financeiro americano - bancos, bolsa e sistema Swift - deixam de servir de garantia dos bônus da dívida americana.

Ou seja, estamos falando de uma questão maior de geopolítica: o futuro do financiamento do governo norte-americano. Trump entendeu muito bem isso. E nós, na América Latina, entendemos?

¨      Trump pode usar corrupção nos envios de ajuda à Ucrânia como cartada para encerrar o conflito?

Desde que entrou em campanha eleitoral, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, critica a ajuda militar e financeira dada a Kiev em seu conflito com a Rússia. Ascendendo à Casa Branca no dia 20 e com poder para nomear o alto escalão da Justiça, como o novo líder norte-americano lidará com esses gastos?

Mesmo antes de tomar posse como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump já pode se gabar de uma grande conquista de sua presidência: um acordo de cessar-fogo entre Israel e o movimento palestino de resistência Hamas.

Durante a corrida eleitoral, o então candidato ao segundo mandato afirmava que continuaria apoiando Israel. Oficiais e diplomatas envolvidos na mediação do cessar-fogo, no entanto, destacam o papel instrumental que Trump teve em exercer pressão para que Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, cessasse sua incursão militar em Gaza.

Em 11 de janeiro, Steve Witkoff, enviado de Trump para assuntos relacionados ao Oriente Médio, chegou a Israel. Quatro dias depois, o bilionário anunciou que as partes haviam chegado a um acordo.

Se Trump conquistou com essa rapidez uma trégua em um dos conflitos mais longevos da atualidade sem nem mesmo tornar isso uma promessa de campanha, o que ele estará planejando para encerrar o conflito ucraniano, um dos principais temas de sua campanha?

Anteriormente, o novo ocupante da Casa Branca já expressou sua vontade de se reunir pessoalmente com Vladimir Putin, presidente da Rússia, para discutir esse e outros assuntos de importância global. O Kremlin, contudo, ressaltou que acredita que o conflito seja complexo demais para uma solução fácil.

O mesmo foi declarado pelo enviado especial de Trump para Ucrânia e Rússia, Keith Kellogg, que estimou um prazo de 100 dias para a criação de um plano de paz.

Conversando com a Sputnik Brasil, o doutorando em relações internacionais na Universidade Estatal de São Petersburgo Pérsio Glória de Paula afirma que o contingenciamento da ajuda militar e financeira pode ser uma das estratégias usadas por Trump para exercer pressão sobre a liderança ucraniana para estabelecer negociações de paz com Moscou.

"Isso advém de uma questão muito clara, que é a dependência ucraniana do apoio ocidental para manter sua máquina de guerra. Sem esse apoio, as capacidades de Kiev de manter o esforço de guerra seriam substancialmente reduzidas."

O especialista, que também é pesquisador no Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), da Escola de Guerra Naval (EGN), classifica ainda que o auxílio permanente "é o principal fator de continuidade do conflito e que tem, digamos assim, atrasado possíveis negociações de paz".

"Até pelo desejo dos Estados Unidos e do bloco ocidental de infligir essa derrota estratégica à Rússia a qualquer custo", diz o especialista.

Rússia e Ucrânia se reuniram para alcançar uma solução diplomática para o conflito ainda em fevereiro de 2022, um dia após o início da operação especial, em Istambul, Turquia, após um mês de negociações. Contudo, Kiev sofreu pressões de seus patrocinadores ocidentais para abandonar as conversas.

Em outubro do mesmo ano, Vladimir Zelensky proibiu, através de um decreto, qualquer tipo de comunicação com a Rússia, impedindo assim aproximações diplomáticas para alcançar a paz.

Esse arrocho de gastos não traria vantagens só para a resolução do conflito, destaca a internacionalista Maria Eduarda Carvalho de Araújo, membro fundadora do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), à reportagem.

"Trump tem demonstrado insatisfação com os custos elevados do apoio à Ucrânia, defendendo que os Estados Unidos não deveriam arcar com a maior parte desse ônus."

Dentro dos Estados Unidos e da Europa, a imagem de rios de dinheiro se direcionando ao Tesouro de Kiev é extremamente impopular. Esse fato é evidenciado pelo fortalecimento de partidos que têm como lema de campanha o fim desse auxílio, sendo o caso de maior destaque o da Alemanha.

A reputação de Kiev, marcada pelo desvio de dinheiro, só piorou quando Zelensky admitiu, em entrevista ao podcast do cientista da computação russo-estadunidense Lex Fridman, que metade dos US$ 177 bilhões anunciados jamais chegou aos cofres ucranianos.

"Essa declaração levanta uma preocupação", afirma a pesquisadora do CIRE. "Em vez de atender exclusivamente às necessidades do país, os recursos internacionais podem estar gerando lucros para empresas estrangeiras."

"Esse cenário reforça debates sobre os reais interesses por trás da ajuda internacional."

No final do ano passado, a premiada jornalista ucraniana Diana Pahenko denunciou em suas contas nas redes sociais que enquanto o país eslavo sofre uma grande crise econômica, em 2024 foram comprados 13 carros de luxo Rolls-Royce, no valor de US$ 650 mil, por membros do parlamento e autoridades do governo.

Pérsio Glória de Paula lembra que não só o conflito é extremamente lucrativo para as empresas do complexo militar-industrial dos Estados Unidos, da Ucrânia, e seus executivos, mas que o orçamento do Pentágono, órgão de Defesa dos EUA, é uma "caixa-preta" que não consegue explicar onde seus recursos foram alocados.

"E aí não me surpreenderiam casos de corrupção no lado americano, e muito menos no lado ucraniano."

Nesse sentido, o especialista sublinha que Donald Trump pode utilizar desses escândalos de corrupção tanto para afastar os EUA do conflito quanto para associar esses casos a seu principal opositor político, o Partido Democrata.

Suspeitas de relações impróprias entre membros do Partido Democrata e oficiais ucranianos aumentaram após o atual presidente norte-americano, Joe Biden, dar um perdão presidencial a seu filho, Hunter Biden, para qualquer crime cometido a partir de 2014, data em que começou a trabalhar com a Burisma, empresa de gás ucraniana.

A chegada de Trump à Casa Branca também marca a chegada de seus indicados para o alto escalão da Justiça nos EUA, como o novo chefe do FBI, Kash Patel, e a nova procuradora-geral, Pam Bondi.

Com tantos instrumentos a seu favor, Glória de Paula afirma que há uma grande probabilidade de Trump usar o sistema judiciário para investigar a atuação dos democratas no conflito ucraniano. "Mas aí e uma questão mais da política interna dos EUA. Uma forma de garantir mais ganhos políticos para o partido que está no poder."

¨      Nova implantação de armas nucleares dos EUA na Europa põe em causa natureza da OTAN

Os Estados Unidos iniciaram a implantação de uma nova geração de suas bombas nucleares em bases na Europa. Qual é o sinal que a implantação envia a Moscou? Que impacto terá sobre a segurança estratégica na Europa? A Sputnik questionou um ex-analista sênior do Pentágono sobre a questão.

Nos últimos anos, surgiram relatos sobre os planos dos EUA de reimplantar armas nucleares táticas no Reino Unido, na base da Força Aérea Real em Lakenheath, embora nenhum anúncio oficial tenha sido feito até o momento.

Já nesta semana, Jill Hruby, chefe da Administração Nacional de Segurança Nuclear dos EUA, revelou, em uma palestra no Instituto Hudson, que o Exército norte-americano já está implantando novas bombas B61-12 no quadro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

"Nossa parceria estratégica com o Reino Unido é muito forte, assim como seu compromisso com a dissuasão nuclear. E, juntos, avançamos em nossa visão sobre a resiliência da cadeia de suprimentos crítica. A OTAN é forte", acrescentou Hruby.

A B61-12, também conhecida como B61 Mod 12, é a mais recente atualização do projeto da bomba de gravidade nuclear de potência variável dos EUA, lançada pela primeira vez no final da década de 1960. A Mod 12 está preparada para substituir as variantes Mod 3, 4 e 7 mais antigas da arma e apresenta uma potência de 0,3-50 kt.

Variantes mais antigas da munição estão atualmente instaladas na Bélgica, Alemanha, Itália, Países Baixos e Turquia.

A OTAN aprovou as armas para serem usadas por membros selecionados da aliança como parte dos acordos de "compartilhamento nuclear" do bloco.

O anúncio da instalação das bombas na Europa tinha como objetivo "sinalizar a Moscou que a OTAN e particularmente o Reino Unido estão preparados para qualquer 'ataque' a qualquer país da OTAN", no entanto mostrou o quanto os países da Europa Ocidental e o Reino Unido se tornaram um protetorado dos EUA.

A instalação das armas nucleares, segundo ele, mais uma vez "ressalta como a OTAN evoluiu não para uma aliança defensiva, mas para uma aliança ofensiva", com as bases em que as bombas são armazenadas como alvos óbvios para a Rússia no caso de uma escalada mortal.

<><> O que Trump pode fazer?

Maloof espera que, em seu segundo mandato, Trump reavalie de modo completo a implantação de bases dos EUA por toda a OTAN, especialmente na Alemanha e Reino Unido.

O ex-analista do Pentágono afirma que não só a expansão do bloco para as fronteiras russas, mas a própria existência da Aliança Atlântica, criada após a Segunda Guerra Mundial para se opor à União Soviética, tem sido "um desastre para a segurança europeia".

"Acho que é o começo do fim da OTAN como a conhecemos. Esse ciclo perene tem que acabar. E como nem sequer temos uma defesa contra a tecnologia hipersônica [...] isso realmente mostra que estamos atingindo um ponto muito perigoso de escalada."

A implantação de novas armas nucleares, a retirada dos Estados Unidos do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, fechado ainda em 1987, e vários outros fatores tornaram a Europa "um lugar mais perigoso", opinou Maloof.

De acordo com ele, tais ações prejudicam ainda mais a segurança e tornam o Ocidente "mais vulnerável a ataques".

¨      Quase 60% dos norte-americanos acreditam que Trump reduzirá participação do país em guerras

Quase 60% dos americanos acreditam que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, envolverá o país em menos conflitos armados do que os antecessores, revelou uma pesquisa realizada pela empresa Ipsos neste sábado (18).

Já 38% dos entrevistados expressaram posição contrária e 4% se recusaram a responder. Em relação às preferências eleitorais em retrospectiva, 29% dos participantes informaram que votaram em Trump nas últimas eleições, e 28% na candidata democrata, Kamala Harris.

No entanto, 38% afirmou que não compareceu para votar, de acordo com o estudo. Entre outros dados, 60% dos participantes acreditam que os EUA deveriam dar menos atenção aos problemas de outros países e focar em questões internas.

A opinião contrária é compartilhada por 38% dos participantes, que apontaram que seria melhor aumentar a presença internacional para garantir o futuro do país. Além disso, a pesquisa mostrou que quase 40% dos norte-americanos desaprovam os indicados para compor o gabinete de Trump.

A pesquisa foi realizada entre os dias 2 e 10 de janeiro e abrangeu 2.128 cidadãos americanos maiores de idade. A margem de erro estatístico é de 2,6%.

¨      Professor expõe condições para resolução do conflito ucraniano que serão catastróficas para Trump

Se o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, não conseguir chegar a um acordo para pôr fim ao conflito na Ucrânia, sua reputação será irreparavelmente prejudicada aos olhos do mundo, disse o professor John Mearsheimer ao canal no YouTube Daniel Davis/Deep Dive.

"Se os ucranianos forem derrotados e o conflito for congelado, isso será um desastre para Trump porque vai parecer como se ele tivesse perdido a guerra", explicou ele.

O especialista também expressou plena confiança de que, apesar de todas as especulações em torno do fim do conflito ucraniano, o futuro chefe da Casa Branca tem apenas duas opções: aceitar todas as exigências da Rússia e firmar um acordo de paz ou continuar a guerra que os EUA e o Ocidente perderão junto com Kiev.

Além disso, o professor acredita que a própria Ucrânia não terá escolha senão aceitar as exigências de Moscou, mesmo apesar das "dificuldades políticas" associadas a isso. "Acho que eles têm de aceitar a maioria das condições [de Vladimir Putin]. Eles não têm outra escolha – estão perdendo no campo de batalha", resumiu Mearsheimer.

¨      Parceria de 100 anos entre Reino Unido e Ucrânia é uma ação publicitária de Kiev, diz MRE da Rússia

Moscou considera o acordo entre a Ucrânia e o Reino Unido sobre parceria de 100 anos como uma ação promocional do governo ucraniano, para a Rússia ele não tem significância, declarou Maria Zakharova, a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

"Quanto ao próprio acordo entre a Ucrânia e o Reino Unido, não tem significância para nós. Consideramos ele [acordo] como outra campanha promocional do regime agonizante de Kiev, que está pronto para assinar um contrato para a venda do país ou torná-lo uma nova colônia britânica", lê-se no site do MRE da Rússia.

"Cem anos é simbólico, mas um prazo pouco vinculativo. No caso da queda da ditadura de Zelensky ou da renúncia do primeiro-ministro britânico Keir Starmer, quase ninguém se lembrará deste acordo", disse Zakharova.

O primeiro-ministro britânico Keir Starmer chegou a Kiev na quinta-feira (16), onde assinou com o atual líder ucraniano Vladimir Zelensky um acordo de "parceria de 100 anos" entre os países.

A nova parceria envolverá o aprofundamento das relações nas áreas de defesa, ciência, tecnologia, saúde, agricultura, espaço e veículos aéreos não tripulados.

 

Fonte: Brasil 247/Sputnik Brasil

 

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