Obesidade: um problema para o hoje e o
amanhã
Um futuro alarmante. O
Atlas Mundial da Obesidade 2024 concluiu que, se nada for feito, o Brasil terá
20 milhões de crianças e adolescentes obesos até 2044. O que significa que praticamente
metade da população sofrerá com isso no país. Mesmo entre os adultos,
atualmente, as notícias também não são animadoras, já que um estudo de 2024
encomendado pelo DataFolha concluiu que seis em cada 10 brasileiros estão acima
do peso saudável, seja com sobrepeso ou até com o grau mais grave de obesidade
mórbida. Para enfrentarmos esse dilema, primeiro é preciso desmistificar
diversas crenças erradas sobre o peso ideal e saúde.
• Obesidade é doença!
Ainda persiste entre
muitos a ideia de que a obesidade é fruto de 'falta de esforço', ou mesmo que
basta comer menos para contornar o problema. Acontece que, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é uma doença. E está atrelada a
fatores complexos, envolvendo metabolismo, psicológico e mesmo a situação
socioeconômica de cada um. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) em 2022
confirmou, por exemplo, que quanto mais pobre uma pessoa for, normalmente menor
será o consumo de alimentos naturais, como frutas e verduras. Em compensação,
essas pessoas acabam consumindo mais ultraprocessados, como refrigerantes e
salgadinhos, verdadeiros 'vilões' quando o assunto é obesidade e outras
doenças. "É essencial salientar que a obesidade é uma doença crônica e
evolutiva. Os pacientes obesos precisam de tratamento e acompanhamento para
perder o peso necessário.
Cuidar da alimentação
e praticar atividade física são métodos preventivos para a obesidade. Mas, para
tratamento, quando já se tornou a doença, é essencial que haja acompanhamento
multidisciplinar, com nutricionista, médico, psicólogo, endocrinologista e até
outros profissionais", reforça André Augusto Pinto, médico, cirurgião
geral e bariátrico da Clínica Gastro ABC.
• Então, basta operar, certo?
Quando o excesso de
peso se torna prejudicial, uma saída que muitos já imaginam é apelar logo para
a famosa cirurgia bariátrica. De fato, esse procedimento salva centenas de
vidas todos os anos. Mas, como toda operação, ela envolve riscos, ainda que
baixos, e jamais deve ser vista como uma 'solução milagrosa' para a perda de
peso. O doutor André explica que antes de pensar na cirurgia, o acompanhamento
multidisciplinar é de suma importância. "Pacientes com doenças associadas,
como problemas vasculares, devem consultar antes um cirurgião vascular. E
aqueles com problemas como asma precisam passar por um pneumologista, por
exemplo. Este preparo é essencial para uma cirurgia que, embora tenha moderada
complexidade, geralmente apresenta excelente evolução", adiciona.
O especialista explica
também que a melhor forma de aumentar as chances de sucesso da operação é
perder um pouco de peso durante o pré-operatório. Além de tratar bem as doenças
pré-existentes. Outra mudança muito importante é o preparo mental para a cirurgia,
com mudanças nos hábitos alimentares e de vida já acontecendo antes da
bariátrica. "A decisão pela cirurgia deve ser tomada pela equipe
multidisciplinar, composta por médicos, incluindo o endocrinologista, e o
procedimento deve sempre ser realizado por um cirurgião bariátrico capacitado,
membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica",
complementa.
• Só a bariátrica não é suficiente
André explica que o
mais importante, aliado à cirurgia, é estabelecer uma nova rotina. "Após a
cirurgia, tanto os pacientes que atingiram o peso ideal, quanto aqueles que
ainda estão em processo de perda de peso, devem evitar comportamentos antigos.
Aqueles que retornam aos antigos hábitos de alimentação, que não praticam
atividade física e que reintroduzem alimentos ultraprocessados, ricos em
gordura e carboidratos, correm o risco de reganhar peso, mesmo que comam em
menores quantidades várias vezes ao dia", alerta ele.
• Nem todo mundo precisa operar!
Tudo vai depender,
segundo o médico, do grau de obesidade e dos riscos existentes, como quando o
sobrepeso está ocasionando outras doenças. "Pacientes com obesidade grau
3, que corresponde à obesidade grave, e pacientes com obesidade grau 2, moderada,
têm indicação para cirurgia bariátrica. Esse cálculo é realizado pelo médico a
partir do Índice de Massa Corpórea, o IMC", explica André.
Já aqueles que estão
com sobrepeso e obesidade leve devem ter o tratamento baseado em acompanhamento
nutricional com endocrinologista, clínico geral e nutrólogo, com enfoque em
atividades físicas para promover a mudança de hábitos alimentares e de vida, contando
também com uma dieta restrita em calorias. Além disso, o nutrólogo e o
nutricionista devem realizar uma avaliação clínica completa para identificar
possíveis patologias, como alterações endocrinológicas, que possam estar
causando a obesidade e precisem de tratamento. Dessa forma, é possível perder
peso.
• Carboidratos e gorduras podem ajudar a
emagrecer; saiba como
Os carboidratos e as
gorduras são frequentemente vistos como vilões do emagrecimento. Entretanto,
não é preciso demonizá-los. Ambos, em conjunto com as proteínas, formam a
tríade de macronutrientes essenciais para a manutenção da vida e, quando
consumidos de forma adequada, podem contribuir para a perda de peso.
Os carboidratos
complexos são importantes aliados para a perda de peso. Eles incluem alimentos
ricos em fibras, como cereais integrais (arroz integral, quinoa e aveia, por
exemplo), legumes e vegetais.
“Eles são digeridos
mais lentamente, mantendo os níveis de açúcar no sangue estáveis e prolongando
a saciedade — o que ajuda a evitar excessos alimentares”, explica a
nutricionista Mayana Oliveira.
Um estudo publicado na
revista Obesity Science and Practice exemplificou a contribuição desse grupo
alimentar para o emagrecimento. Realizado nos Estados Unidos, com 22
participantes entre 30 e 64 anos, a pesquisa teve como objetivo identificar
quais fatores influenciam a perda de peso.
Para isso, foram
realizadas intervenções na dieta dos participantes ao longo de 12 meses, com
outros 12 meses para acompanhamento dos efeitos em cada pessoa, totalizando 24
meses de estudo.
Nessas intervenções,
consideraram-se a flexibilidade, a personalização da dieta, o aumento da
ingestão de fibras e proteínas e o consumo de 1.500 calorias por dia.
Entre os resultados
observados, houve um aumento considerável no consumo combinado de proteínas e
fibras (especialmente carboidratos complexos) durante o período do estudo, e os
participantes que aumentaram a ingestão desses macronutrientes apresentaram maior
emagrecimento.
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Gorduras também contribuem para a perda de peso
Dietas ricas em
gorduras insaturadas também favorecem o emagrecimento.
Isso acontece, segundo
a nutricionista Angélica Grecco, porque esse tipo de gordura saudável contribui
para a redução de inflamações no corpo e, quando combinada com proteínas,
carboidratos e fibras, ela melhora o controle do apetite e da glicemia, além de
manter a sensação de saciedade.
“Gorduras saudáveis,
como as monoinsaturadas e poli-insaturadas, são encontradas no abacate, azeite
e peixes ricos em ômega-3, por exemplo”, indica Angélica.
As gorduras
insaturadas também contribuem para a redução das gorduras saturadas
(prejudiciais ao corpo), a produção de hormônios sexuais, o armazenamento de
vitamina D e a manutenção do sistema nervoso
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Cuidados para evitar o ganho de peso
Ainda que alguns tipos
de carboidratos e gorduras favoreçam o emagrecimento, existem aqueles que, de
fato, contribuem para o ganho de peso.
Nesse sentido, é
fundamental a atenção ao consumo dos carboidratos de alto índice glicêmico —
considerados todos que são rapidamente digeridos e absorvidos pelo corpo, como
o açúcar refinado, a farinha branca, arroz branco, entre outros.
“Os carboidratos
simples, são rapidamente convertidos em glicose, sendo fornecedores de energia
imediata. No entanto, quando ingeridos em excesso, a glicose não utilizada pode
ser armazenada como gordura”, explica Angélica Grecco.
Já as gorduras ganham
sinal de alerta quando falamos do tipo saturada, que engloba as encontradas em
carnes vermelhas, frituras, laticínios, ultraprocessados e outros alimentos do
dia a dia.
Esse grupo de gorduras
acende o sinal vermelho não só por favorecer o ganho de peso, mas também por
contribuir para o desenvolvimento de doenças crônicas, como problemas
cardiovasculares, e obesidade.
Outro ponto
fundamental para quem busca o emagrecimento é não esquecer da importância da
hidratação para o processo.
A endocrinologista
Dandara Reis ensina a calcular a quantidade ideal de água ingerida por dia:
“Uma pessoa deve consumir uma quantidade que pode ser calculada a partir da
fórmula: peso multiplicado por um fator de 0,035 a 0,04 (variando de acordo com
a idade e condições de saúde). Ou seja, uma pessoa de 100 kg deve beber, no
mínimo, 3,5 litros de água por dia”.
Fonte: Revista
Malu/CNN Brasil
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