quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Kamala x Trump: a aposta do historiador que (quase) sempre acerta vencedor das eleições nos EUA

O historiador Allan Lichtman tornou-se o grande guru das eleições presidenciais americanas.

Desde 1984, Lichtman prevê quem será o vencedor da votação e, consequentemente, o presidente dos Estados Unidos. Ele só errou em 2000, quando o republicano George W. Bush, mesmo tendo obtido menos votos totais, derrotou o democrata Al Gore.

Desde então Lichtman pode se orgulhar de ter sido um dos poucos que anteciparam a surpreendente vitória de Donald Trump em 2016, quando a grande maioria das pesquisas apontava a sua rival naquela eleição, Hillary Clinton, como vencedora.

Sua capacidade de prever o resultado até mesmo das eleições mais acirradas através de seu "método das 13 chaves" fez dele um dos analistas de referência e a cada quatro anos a mídia busca sua previsão.

A menos de um mês das eleições de 2024, uma das mais emocionantes de que há memória e nas quais Trump voltará a enfrentar uma mulher, Kamala Harris, a BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, conversou com ele para saber seu prognóstico.

O que ele diz desta vez?

Primeiro você precisa entender seu modelo preditivo, que ele chamou de "método das 13 chaves".

Em 1981, Lichtman conheceu, no Instituto de Tecnologia da Califórnia, um especialista russo em terremotos que lhe fez uma proposta inesperada.

Vladimir Keilis-Borok dedicou a sua carreira, na União Soviética, ao desenvolvimento de um método que lhe permitisse antecipar quando iria ocorrer um abalo sísmico e queria testar a sua validade para também prever com sucesso o resultado dos processos eleitorais.

"Na URSS não houve eleições e como eu era um especialista na história da presidência dos Estados Unidos, ele propôs que trabalhássemos juntos", lembra Lichtman em conversa com a BBC.

A reeleição de Ronald Reagan em 1984 seria a primeira vez que o modelo seria testado com sucesso.

O historiador e o sismólogo tornaram-se um "estranho casal" de pesquisadores e começaram a procurar uma maneira de aplicar as técnicas de reconhecimento de padrões que Keilis-Borok vinha desenvolvendo para terremotos à corrida pela Casa Branca.

Começaram a analisar retrospectivamente os resultados das eleições presidenciais desde 1860.

"O segredo do nosso modelo foi reconceitualizar as eleições em termos geofísicos, estabelecendo dois cenários possíveis."

"Identificamos a primeira como uma situação de estabilidade, em que o partido que está na Casa Branca permanece; na segunda, ocorre um terremoto e o partido no poder acaba perdendo", explica Lichtman.

Seguindo o raciocínio algorítmico com o qual Keilis-Borok estava familiarizado e o conhecimento de Lichtman sobre o passado dos Estados Unidos, identificaram uma série de determinantes-chave no resultado da corrida presidencial.

Eles reduziram suas 30 "chaves" iniciais para 13, todas em busca de um padrão que lhes permitisse fazer uma previsão confiável.

E acabaram apresentando 13 condições, uma para cada chave.

Quando seis ou mais delas não acontecem, nas palavras de Lichtman, "temos um terremoto político". Ou sejam, o partido no poder perde a Casa Branca.

E, agora, é hora de responder à pergunta.

Kamala ou Trump? Quem será o próximo presidente dos Estados Unidos?

Isto é o que dirão as 13 chaves.

<><> 1. O partido que está na Casa Branca conquistou assentos nas eleições legislativas do ano anterior

Os democratas, na verdade, perderam assentos no Congresso nas eleições legislativas de 2022. Esta chave, portanto, é falsa.

Kamala: 0

Trump: 1

<><> 2. Nas primárias, nenhum rival desafia o candidato do partido que está no poder

A retirada da candidatura do presidente Joe Biden foi um choque para a campanha, mas Kamala Harris acabou conseguindo unificar os democratas em torno de sua liderança e ser indicada como candidata sem que qualquer outra candidatura alternativa fosse apresentada. Portanto, esta chave é verdadeira. Ponto para Harris.

Kamala: 1

Trump: 1

<><> 3. O presidente busca a reeleição

Kamala Harris não é o presidente, é vice-presidente. Portanto, mesmo que ela busque a Presidência do partido no poder, a chave é falsa. Ponto para Trump.

Kamala: 1

Trump: 2

<><> 4. Não há um candidato de um terceiro partido

Embora Robert F. Kennedy tenha tentado manter viva sua candidatura, ele nunca alcançou 10% de intenção de voto nas pesquisas, desistiu e declarou apoio a Donald Trump.

Embora em um primeiro momento se possa pensar que isso daria votos ao candidato republicano, para Lichtman e o seu modelo isso significa que a quarta chave é verdadeira. Más notícias para Trump. Ponto para Kamala.

Kamala: 2

Trump: 2

<><> 5. A economia não está em recessão e nem estará no ano eleitoral

A economia dos EUA está longe de cair numa recessão e as previsões excluem que isso aconteça nas poucas semanas que faltam para as eleições. A chave é verdadeira; ponto para Kamala.

Kamala: 3

Trump: 2

<><> 6. A economia cresceu tanto no mandato presidencial como nos dois anteriores

De acordo com os cálculos de Lichtman, o Produto Interno Bruto per capita dos Estados Unidos cresceu tanto durante a presidência de Joe Biden como durante o mandato de Trump e o segundo mandato de Barack Obama. Chave verdadeira, ponto para Kamala.

Kamala: 4

Trump: 2

<><> 7. O presidente tem feito grandes mudanças na política nacional

Lichtman considera que Biden fez grandes mudanças na política nacional, como as medidas incluídas na Lei de Redução da Inflação ou a decisão de voltar ao acordo climático de Paris, do qual Trump retirou os Estados Unidos. Esta chave, portanto, está cumprida. Outro ponto para Kamala.

Kamala: 5

Trump: 2

<><> 8. Não houve conflitos que ponham em perigo a estabilidade social durante a Presidência

Não houve nada como os conflitos sociais e raciais da década de 1960, e Lichtman acredita que nos últimos quatro anos a estabilidade prevaleceu. A chave é verdadeira, e o ponto é de Kamala.

Kamala: 6

Trump: 2

<><> 9. Não houve escândalos que atingiram a Casa Branca

Embora Hunter Biden, filho de Joe Biden, tenha sido condenado e enfrente outras acusações e escândalos, Lichtman enfatiza que os escândalos deveriam ter afetado diretamente o presidente. Portanto, esta chave é verdadeira e outro ponto para Kamala.

Kamala: 7

Trump: 2

<><> 10. A Casa Branca não sofreu um grande fracasso diplomático ou militar no exterior

Os Estados Unidos não conseguiram parar a guerra em Gaza, que ameaça escalar para um grande conflito regional e já causou um desastre humanitário.

Dado que os Estados Unidos estão fortemente empenhados na região e no seu apoio a Israel, isto é para Lichtman um fracasso da política externa. Chave falsa. Ponto para Trump.

Kamala: 7

Trump: 3

<><> 11. A Casa Branca alcançou grande sucesso militar ou diplomático no exterior

Lichtman considera um sucesso para Biden ter conseguido fazer a Ucrânia resistir à invasão russa graças ao apoio da Otan.

Apesar da relutância dos republicanos, Biden promoveu a entrega de grandes quantias de dinheiro, armas e equipamentos que ajudaram a garantir que a Ucrânia não sucumbiu ao ataque de um vizinho muito maior e mais poderoso, e cujo exemplo foi seguido por outros Estados da Otan. A chave, diz Lichtman, é verdadeira. Ponto para Kamala.

Kamala: 8

Trump: 3

<><> 12. O candidato do partido no poder tem carisma

Lichtman explica que esta é uma chave muito exigente. Apenas alguns presidentes, como Franklin D. Roosevelt ou Barack Obama, foram verdadeiramente carismáticos para ele. A chave é falsa. Ponto para Trump.

Kamala: 8

Trump: 4

<><> 13. O candidato que desafia o presidente não tem carisma

Muitos dos seus seguidores adoram Trump, mas Lichtman enfatiza que o verdadeiro carisma exige ser um líder atraente não apenas para os apoiadores, mas também para eleitores de diferentes matizes. A chave é verdadeira; ponto para Kamala.

Kamala: 9

Trump: 4

As 13 chaves de Licthman levam a uma previsão clara: segundo o seu modelo, Kamala Harris será a próxima presidente dos Estados Unidos.

O resultado das urnas de 5 de novembro determinará se Lichtman e as suas chaves estão novamente certos.

 

¨      Para maioria dos eleitores dos EUA, corrupção e política energética são decisórias, aponta pesquisa

A grande maioria dos prováveis ​​eleitores nos Estados Unidos considera a corrupção e a política energética essenciais nas eleições de 2024.

É o que revelou uma nova pesquisa da Rasmussen Reports nesta terça-feira (8). 91% dos entrevistados consideram que a questão da ética governamental e da corrupção é relevante nesta eleição, segundo o relatório da pesquisa.

Mais de dois terços dos entrevistados, 68%, disseram que a questão é muito importante, segundo o relatório da pesquisa.

Além disso, 82% dos entrevistados acreditam que a política energética é uma questão importante nas eleições de 2024, incluindo quase metade, 45%, que acreditam que se trata de um tema muito importante, acrescentou o documento.

A pesquisa entrevistou 1.044 prováveis ​​eleitores dos EUA de 26 a 30 de setembro. A pesquisa tem margem de erro de mais ou menos 3 pontos percentuais com nível de confiança de 95%.

<><> Trump promete aliança com Israel

O ex-presidente dos EUA Donald Trump disse que se ele se tornasse presidente novamente, o relacionamento entre Israel e os Estados Unidos seria ainda mais forte do que nunca.

Em 7 de outubro de 2023, Israel foi submetido a um ataque de foguetes sem precedentes da Faixa de Gaza. Além disso, combatentes do movimento palestino Hamas se infiltraram nas áreas de fronteira, abriram fogo contra militares e civis e fizeram reféns.

As autoridades israelenses dizem que cerca de 1.200 pessoas foram mortas durante o ataque. As Forças de Defesa de Israel (FDI) lançaram a operação Espadas de Ferro na Faixa de Gaza e anunciaram um bloqueio completo do enclave. O número de mortos pelos ataques israelenses na Faixa de Gaza desde 7 de outubro ultrapassa 41.900, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.

 

¨      EUA: a movimentação das inverdades na campanha presidencial. Por Virgílio Arraes

Brasil e Estados Unidos vivem períodos eleitorais importantes, conquanto em graus distintos de ocupação: na parte sul do continente, decide-se em outubro a escolha da titularidade do primeiro cargo do Executivo, a prefeitura, ao passo que na norte o último, ou seja, a presidência da República.

Em comum nas competições, a divulgação deturpada ou falsa de informações sobre candidaturas, ao até abranger de maneira indevida questões particulares e por conseguinte envolvê-las em lamaçal de difícil filtro aos olhos do eleitorado em função da quantidade de circulação de dados nos meios de comunicação.

Em solo norte-americano, como as propostas entre os dois postulantes se diferenciam de forma geral na intensidade da aplicação do ideário político-econômico, não no conteúdo, a corrida, com o propósito de granjear a maior atenção da sociedade, se estende sem hesitação ao perfil privado e mesmo familiar.

Isso não é sinal recente da estrutura estadunidense, mas sim costume advindo do pleito de 1800, quando houve tensa disputa entre Jefferson e Adams. Naquela época, os concorrentes representariam de modo explícito a primeira grande divergência de visão de mundo entre a elite do recém-nascido país.

De um lado, a concepção federalista em torno da qual se inscreviam personalidades como John Adams, Alexander Hamilton e George Washington em prol, apesar do nome, de governo central ou concentrado;

Do outro, a republicana-democrática ao redor da qual orbitavam Thomas Jefferson, James Monroe e James Madison em favor de administração descentralizada, com ênfase assim nos estados (províncias) e nos municípios.

Dissensão na agremiação também ocorria como no exemplo no qual Hamilton rejeitava Adams, a ponto de publicar o libelo O caráter e a conduta pública de John Adams, no qual realçaria qualidades negativas do candidato de seu próprio grupo. Com isso, os adversários engrossariam o caldo de acusações ou de inverdades, ao lançar sobre o aspirante suspeitas relacionadas com a conduta pessoal.

 Malgrado vencedor ao fim e ao cabo, Jefferson também seria objeto de denúncias durante a campanha. Atribuir-se-ia a ele enriquecimento por emprego em demasia de ardis, ao enganar até uma viúva na aquisição de propriedade! Na esfera moral, divulgar-se-ia ser ele antirreligioso.

Dois séculos mais tarde, a maledicência, em especial nas fileiras republicanas, continua, ao evocar de modo deturpado tópicos relevantes à população como os da imigração, dos direitos civis e da assistência previdenciária.

Os burburinhos circulam com velocidade entre a população através das variadas redes sociais com dezenas de milhões de inscrições e desencadeiam muita confusão e só depois indignação, embora não na medida correspondente ao dano de início provocado.

Nem sempre há o tempo adequado para desvendar rumores inverídicos. Destarte, parcela do eleitorado, ao invés de votar com a perspectiva de esperança, comporta-se de maneira contrária, ao se manifestar com medo nas urnas e ratificar, ainda que de forma involuntária, a reação a ilusões, ou melhor, a mentiras.

 

Fonte: BBC News/Sputnik Brasil/Correio da Cidadania

 

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