Kamala x Trump: a aposta do historiador que
(quase) sempre acerta vencedor das eleições nos EUA
O historiador Allan
Lichtman tornou-se o grande guru das eleições presidenciais americanas.
Desde 1984, Lichtman
prevê quem será o vencedor da votação e, consequentemente, o presidente dos
Estados Unidos. Ele só errou em 2000, quando o republicano George W. Bush, mesmo tendo obtido menos votos totais, derrotou o democrata Al Gore.
Desde então Lichtman
pode se orgulhar de ter sido um dos poucos que anteciparam a surpreendente
vitória de Donald Trump em 2016, quando a grande maioria das pesquisas apontava
a sua rival naquela eleição, Hillary Clinton, como vencedora.
Sua capacidade de
prever o resultado até mesmo das eleições mais acirradas através de seu
"método das 13 chaves" fez dele um dos analistas de referência e a
cada quatro anos a mídia busca sua previsão.
A menos de um mês das
eleições de 2024, uma das mais emocionantes de que há memória e nas quais Trump
voltará a enfrentar uma mulher, Kamala Harris, a BBC News Mundo, serviço em
espanhol da BBC, conversou com ele para saber seu prognóstico.
O que ele diz desta
vez?
Primeiro você precisa
entender seu modelo preditivo, que ele chamou de "método das 13
chaves".
Em 1981, Lichtman
conheceu, no Instituto de Tecnologia da Califórnia, um especialista russo em
terremotos que lhe fez uma proposta inesperada.
Vladimir Keilis-Borok
dedicou a sua carreira, na União Soviética, ao desenvolvimento de um método que
lhe permitisse antecipar quando iria ocorrer um abalo sísmico e queria testar a
sua validade para também prever com sucesso o resultado dos processos eleitorais.
"Na URSS não
houve eleições e como eu era um especialista na história da presidência dos
Estados Unidos, ele propôs que trabalhássemos juntos", lembra Lichtman em
conversa com a BBC.
A reeleição de Ronald
Reagan em 1984 seria a primeira vez que o modelo seria testado com sucesso.
O historiador e o
sismólogo tornaram-se um "estranho casal" de pesquisadores e
começaram a procurar uma maneira de aplicar as técnicas de reconhecimento de
padrões que Keilis-Borok vinha desenvolvendo para terremotos à corrida pela
Casa Branca.
Começaram a analisar
retrospectivamente os resultados das eleições presidenciais desde 1860.
"O segredo do
nosso modelo foi reconceitualizar as eleições em termos geofísicos,
estabelecendo dois cenários possíveis."
"Identificamos a
primeira como uma situação de estabilidade, em que o partido que está na Casa
Branca permanece; na segunda, ocorre um terremoto e o partido no poder acaba
perdendo", explica Lichtman.
Seguindo o raciocínio
algorítmico com o qual Keilis-Borok estava familiarizado e o conhecimento de
Lichtman sobre o passado dos Estados Unidos, identificaram uma série de
determinantes-chave no resultado da corrida presidencial.
Eles reduziram suas 30
"chaves" iniciais para 13, todas em busca de um padrão que lhes
permitisse fazer uma previsão confiável.
E acabaram
apresentando 13 condições, uma para cada chave.
Quando seis ou mais
delas não acontecem, nas palavras de Lichtman, "temos um terremoto
político". Ou sejam, o partido no poder perde a Casa Branca.
E, agora, é hora de responder
à pergunta.
Kamala ou Trump? Quem
será o próximo presidente dos Estados Unidos?
Isto é o que dirão as
13 chaves.
<><>
1. O partido que está na Casa Branca conquistou assentos nas eleições
legislativas do ano anterior
Os democratas, na
verdade, perderam assentos no Congresso nas eleições legislativas de 2022. Esta
chave, portanto, é falsa.
Kamala: 0
Trump: 1
<><>
2. Nas primárias, nenhum rival desafia o candidato do partido que está no poder
A retirada da
candidatura do presidente Joe Biden foi um choque para a campanha, mas Kamala
Harris acabou conseguindo unificar os democratas em torno de sua liderança e
ser indicada como candidata sem que qualquer outra candidatura alternativa
fosse apresentada. Portanto, esta chave é verdadeira. Ponto para Harris.
Kamala: 1
Trump: 1
<><>
3. O presidente busca a reeleição
Kamala Harris não é o
presidente, é vice-presidente. Portanto, mesmo que ela busque a Presidência do
partido no poder, a chave é falsa. Ponto para Trump.
Kamala: 1
Trump: 2
<><>
4. Não há um candidato de um terceiro partido
Embora Robert F.
Kennedy tenha tentado manter viva sua candidatura, ele nunca alcançou 10% de
intenção de voto nas pesquisas, desistiu e declarou apoio a Donald Trump.
Embora em um primeiro
momento se possa pensar que isso daria votos ao candidato republicano, para
Lichtman e o seu modelo isso significa que a quarta chave é verdadeira. Más
notícias para Trump. Ponto para Kamala.
Kamala: 2
Trump: 2
<><>
5. A economia não está em recessão e nem estará no ano eleitoral
A economia dos EUA
está longe de cair numa recessão e as previsões excluem que isso aconteça nas
poucas semanas que faltam para as eleições. A chave é verdadeira; ponto para
Kamala.
Kamala: 3
Trump: 2
<><>
6. A economia cresceu tanto no mandato presidencial como nos dois anteriores
De acordo com os
cálculos de Lichtman, o Produto Interno Bruto per capita dos Estados Unidos
cresceu tanto durante a presidência de Joe Biden como durante o mandato de
Trump e o segundo mandato de Barack Obama. Chave verdadeira, ponto para Kamala.
Kamala: 4
Trump: 2
<><>
7. O presidente tem feito grandes mudanças na política nacional
Lichtman considera que
Biden fez grandes mudanças na política nacional, como as medidas incluídas na
Lei de Redução da Inflação ou a decisão de voltar ao acordo climático de Paris,
do qual Trump retirou os Estados Unidos. Esta chave, portanto, está cumprida.
Outro ponto para Kamala.
Kamala: 5
Trump: 2
<><>
8. Não houve conflitos que ponham em perigo a estabilidade social durante a
Presidência
Não houve nada como os
conflitos sociais e raciais da década de 1960, e Lichtman acredita que nos
últimos quatro anos a estabilidade prevaleceu. A chave é verdadeira, e o ponto
é de Kamala.
Kamala: 6
Trump: 2
<><>
9. Não houve escândalos que atingiram a Casa Branca
Embora Hunter Biden,
filho de Joe Biden, tenha sido condenado e
enfrente outras acusações e escândalos, Lichtman enfatiza que os escândalos
deveriam ter afetado diretamente o presidente. Portanto, esta chave é
verdadeira e outro ponto para Kamala.
Kamala: 7
Trump: 2
<><>
10. A Casa Branca não sofreu um grande fracasso diplomático ou militar no
exterior
Os Estados Unidos não
conseguiram parar a guerra em Gaza, que ameaça escalar para um grande conflito
regional e já causou um desastre humanitário.
Dado que os Estados
Unidos estão fortemente empenhados na região e no seu apoio a Israel, isto é
para Lichtman um fracasso da política externa. Chave falsa. Ponto para Trump.
Kamala: 7
Trump: 3
<><>
11. A Casa Branca alcançou grande sucesso militar ou diplomático no exterior
Lichtman considera um
sucesso para Biden ter conseguido fazer a Ucrânia resistir à invasão russa
graças ao apoio da Otan.
Apesar da relutância
dos republicanos, Biden promoveu a entrega de grandes quantias de dinheiro,
armas e equipamentos que ajudaram a garantir que a Ucrânia não sucumbiu ao
ataque de um vizinho muito maior e mais poderoso, e cujo exemplo foi seguido
por outros Estados da Otan. A chave, diz Lichtman, é verdadeira. Ponto para
Kamala.
Kamala: 8
Trump: 3
<><>
12. O candidato do partido no poder tem carisma
Lichtman explica que
esta é uma chave muito exigente. Apenas alguns presidentes, como Franklin D.
Roosevelt ou Barack Obama, foram verdadeiramente carismáticos para ele. A chave
é falsa. Ponto para Trump.
Kamala: 8
Trump: 4
<><>
13. O candidato que desafia o presidente não tem carisma
Muitos dos seus
seguidores adoram Trump, mas Lichtman enfatiza que o verdadeiro carisma exige
ser um líder atraente não apenas para os apoiadores, mas também para eleitores
de diferentes matizes. A chave é verdadeira; ponto para Kamala.
Kamala: 9
Trump: 4
As 13 chaves de
Licthman levam a uma previsão clara: segundo o seu modelo, Kamala Harris será a
próxima presidente dos Estados Unidos.
O resultado das urnas
de 5 de novembro determinará se Lichtman e as suas chaves estão novamente
certos.
¨ Para maioria dos eleitores dos EUA, corrupção e política
energética são decisórias, aponta pesquisa
A grande maioria dos
prováveis eleitores nos Estados Unidos considera a corrupção e a política energética essenciais nas
eleições de
2024.
É o que revelou uma
nova pesquisa da Rasmussen Reports nesta terça-feira (8). 91% dos entrevistados
consideram que a questão da ética governamental e da corrupção é relevante
nesta eleição, segundo o relatório da pesquisa.
Mais de dois terços
dos entrevistados, 68%, disseram que a questão é muito importante, segundo o
relatório da pesquisa.
Além disso, 82% dos
entrevistados acreditam que a política energética é uma questão importante nas
eleições de 2024, incluindo quase metade, 45%, que acreditam que se trata de um
tema muito importante, acrescentou o documento.
A pesquisa entrevistou
1.044 prováveis eleitores dos EUA de 26 a 30 de setembro. A pesquisa tem margem
de erro de mais ou menos 3 pontos percentuais com nível de confiança de 95%.
<><> Trump
promete aliança com Israel
O ex-presidente dos
EUA Donald Trump disse que se ele se tornasse presidente novamente, o
relacionamento entre Israel e os Estados Unidos seria ainda mais forte do que
nunca.
Em 7 de outubro de
2023, Israel foi submetido a um ataque de foguetes sem precedentes da Faixa de
Gaza. Além disso, combatentes do movimento palestino Hamas se infiltraram nas
áreas de fronteira, abriram fogo contra militares e civis e fizeram reféns.
As autoridades
israelenses dizem que cerca de 1.200 pessoas foram mortas durante o ataque. As
Forças de Defesa de Israel (FDI) lançaram a operação Espadas de Ferro na Faixa
de Gaza e anunciaram um bloqueio completo do enclave. O número de mortos pelos
ataques israelenses na Faixa de Gaza desde 7 de outubro ultrapassa 41.900, de
acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
¨
EUA: a movimentação
das inverdades na campanha presidencial. Por Virgílio Arraes
Brasil e Estados
Unidos vivem períodos eleitorais importantes, conquanto em graus distintos de
ocupação: na parte sul do continente, decide-se em outubro a escolha da
titularidade do primeiro cargo do Executivo, a prefeitura, ao passo que na
norte o último, ou seja, a presidência da República.
Em comum nas
competições, a divulgação deturpada ou falsa de informações sobre candidaturas,
ao até abranger de maneira indevida questões particulares e por conseguinte
envolvê-las em lamaçal de difícil filtro aos olhos do eleitorado em função da
quantidade de circulação de dados nos meios de comunicação.
Em solo
norte-americano, como as propostas entre os dois postulantes se diferenciam de
forma geral na intensidade da aplicação do ideário político-econômico, não no
conteúdo, a corrida, com o propósito de granjear a maior atenção da sociedade,
se estende sem hesitação ao perfil privado e mesmo familiar.
Isso não é sinal
recente da estrutura estadunidense, mas sim costume advindo do pleito de 1800,
quando houve tensa disputa entre Jefferson e Adams. Naquela época, os
concorrentes representariam de modo explícito a primeira grande divergência de
visão de mundo entre a elite do recém-nascido país.
De um lado, a
concepção federalista em torno da qual se inscreviam personalidades como John
Adams, Alexander Hamilton e George Washington em prol, apesar do nome, de
governo central ou concentrado;
Do outro, a
republicana-democrática ao redor da qual orbitavam Thomas Jefferson, James
Monroe e James Madison em favor de administração descentralizada, com ênfase
assim nos estados (províncias) e nos municípios.
Dissensão na
agremiação também ocorria como no exemplo no qual Hamilton rejeitava Adams, a
ponto de publicar o libelo O caráter e a conduta pública de John Adams, no qual
realçaria qualidades negativas do candidato de seu próprio grupo. Com isso, os
adversários engrossariam o caldo de acusações ou de inverdades, ao lançar sobre
o aspirante suspeitas relacionadas com a conduta pessoal.
Malgrado vencedor ao fim e ao cabo, Jefferson
também seria objeto de denúncias durante a campanha. Atribuir-se-ia a ele
enriquecimento por emprego em demasia de ardis, ao enganar até uma viúva na
aquisição de propriedade! Na esfera moral, divulgar-se-ia ser ele
antirreligioso.
Dois séculos mais
tarde, a maledicência, em especial nas fileiras republicanas, continua, ao
evocar de modo deturpado tópicos relevantes à população como os da imigração,
dos direitos civis e da assistência previdenciária.
Os burburinhos
circulam com velocidade entre a população através das variadas redes sociais
com dezenas de milhões de inscrições e desencadeiam muita confusão e só depois
indignação, embora não na medida correspondente ao dano de início provocado.
Nem sempre há o tempo
adequado para desvendar rumores inverídicos. Destarte, parcela do eleitorado,
ao invés de votar com a perspectiva de esperança, comporta-se de maneira
contrária, ao se manifestar com medo nas urnas e ratificar, ainda que de forma
involuntária, a reação a ilusões, ou melhor, a mentiras.
Fonte: BBC News/Sputnik
Brasil/Correio da Cidadania
Nenhum comentário:
Postar um comentário