'O fim da ONU': o que 1 ano da guerra em
Gaza tem a nos dizer sobre a ordem mundial?
Nesta segunda-feira
(7) completou um ano da escalada do conflito em Gaza, quando forças do Hamas
conseguiram superar os muros do enclave e atacar assentamentos israelenses
próximos. No dia seguinte, Israel iniciou o contra-ataque que segue até hoje.
Qual o balanço da guerra até agora? Quais foram as consequências geopolíticas?
Essas questões foram
exploradas hoje no episódio do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado
pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.
Para começar, Ali
Abdul Hakam, cientista político especializado em Ásia e roteirista do canal
História Islâmica, destacou o peso das vidas perdidas no conflito. Além dos
41.900 mil palestinos mortos em Gaza, ele mencionou que o Lancet, um período
acadêmico de medicina, estima que ainda há cerca de 200 mil a 300 mil pessoas
mortas soterradas embaixo dos escombros.
"Obviamente nós
só vamos ter uma ideia quando a guerra acabar porque as autoridades israelenses
e os colonos não estão permitindo que a Organização das Nações Unidas e a Cruz
Vermelha atuem e levantem esses dados."
Do lado israelense, o
único número oficial divulgado é de mortos no ataque de 7 de Outubro: 1.139,
segundo o governo. Não oficialmente, as coisas também não estão bem para
Israel. De acordo com Hakam, as Forças de Defesa de Israel (FDI) atualmente têm
70 mil combatentes internados, sem contar os mortos.
O grande número de
baixas do lado israelense, acusa o cientista político, se deve ao combate
assimétrico enfrentado pelas FDI.
Ainda que seja uma
força mais treinada, organizada e tecnológica, é muito difícil uma força
militar regular lutar contra uma insurgência, ainda mais agora quando o gap
tecnológico diminuiu graças à evolução dos drones e dos mísseis. "Não
existe base na literatura da guerra moderna."
Como exemplo, Hakam
lembrou da invasão do Vietnã pelos Estados Unidos que atolou o Exército
norte-americano, desgastou a opinião pública e "praticamente quebrou a
economia dos EUA".
"A qualidade de
vida do americano médio foi achatada depois da guerra do Vietnã e desencadeou
todos os problemas posteriores. Alguns nós estamos vendo se desenrolar no
cenário geopolítico até a atualidade."
Nesse sentido,
sublinha o especialista, o risco da economia israelense colapsar é ainda maior
do que a estadunidense, uma vez que não só é inúmeras vezes menor e não tem a
capacidade industrial norte-americana, como também as FDI são dependentes de
reservistas, retirando mão de obra da força de trabalho a cada convocação e a
cada perda.
"A situação fica
periclitante e o Netanyahu não aceita nenhuma solução política, diplomática.
Ele quer uma solução militar, mas não tem jeito."
·
Expansionismo colonial
Para Ramez Philipe
Mansour, doutor em geografia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor
da rede estadual de ensino, o motivo pelo qual o primeiro-ministro israelense,
Benjamin Netanyahu, não cessa as hostilidades é porque está em prática um antigo
plano de "expansionismo territorial colonial de Israel".
"O movimento
sionista reivindica como seu espaço vital toda a área, todos os territórios
entre os rios Nilo e Eufrates […]. É um projeto antigo do qual Netanyahu é a
expressão mais cristalina."
Desse modo, afirma o
geógrafo, o "contra-ataque" do movimento palestino Hamas em 7 de
Outubro foi aproveitado pelo estado israelense como pretexto para ocupar de vez
a Faixa de Gaza.
"Isso foi
planejado, incluindo o extermínio do povo palestino na Faixa de Gaza e os
pogroms contra a população palestina autóctone na Cisjordânia."
Para se sustentar na
região, os fundadores de Israel já sabiam que o país necessitaria do apoio de
uma potência imperialista, afirma Mansour. No caso, os Estados Unidos surgiram
como o principal fiador israelense após a queda das principais potências após a
Primeira e Segunda Guerra Mundiais.
Por outro lado, para
os EUA, a presença de Israel na região é fundamental para "manter a frente
estratégica de contenção da Rússia".
Mansour explica que
desde antes da Guerra Fria se desenharam três frentes de combate à Rússia, hoje
sucessora da União Soviética no espaço euroasiático.
Há a frente do leste
europeu, onde hoje ocorre o conflito ucraniano; existe a frente do
extremo-leste asiático, mantida pela tensão entre Taiwan e a República Popular
da China; e, também, o Oriente Médio, onde os Estados Unidos não têm controle
direto e precisam de Israel para defender seus interesses.
"Uma derrota de
Israel nesse contexto é uma derrota dos Estados Unidos, e seria visto como um
fracasso nesse projeto dos EUA de dominar todo o espaço euro-asiático."
·
Guerra em Gaza 'sepulta a ordem mundial'
Em sua fala ao
Mundioka, Ali Abdul Hakam avaliou as consequências geopolíticas da guerra em
Gaza, como a desmoralização da Organização das Nações Unidas (ONU), que se viu
incapaz de desenvolver uma solução para o conflito.
"Os Estados
Unidos sequestraram a ONU junto de Israel, que já está em um nível de Estado
pária nos mesmos moldes que era a África do Sul durante o apartheid e, mesmo
assim, não se permite que soluções diplomáticas sejam buscadas."
Hakam lembrou que a
Liga das Nações, organização intergovernamental criada após a Primeira Guerra
Mundial para impedir mais um conflito de escalas globais, "acabou de forma
tremendamente semelhante no século passado".
Para o especialista,
uma reforma da ONU não será capaz de reestruturar a ordem internacional.
"Só o fim da ONU.
E a construção de alguma outra organização."
Essa nova ordem, por
sua vez, dificilmente será liderada pelos Estados Unidos, que mantêm uma visão
de realidade como se ainda fosse 1991, destacou Ali Hakan, "quando a União
Soviética colapsou e eles eram o único poder."
No mundo atual,
multipolar, outras potências crescem cada vez mais seu poder diplomático. Um
exemplo é a China, que "está participando ativamente da reconstrução do
Afeganistão".
"E lembro a vocês
que a China recentemente conquistou, a nível geopolítico, algumas vitórias
diplomáticas muito importantes, como fazer o Irã e a Arábia Saudita sentarem
para conversar."
¨ Israel afirma que Irã pode terminar como a Faixa de Gaza e o
Líbano
O ministro da Defesa
de Israel, Yoav Gallant, advertiu neste domingo (6) que qualquer um que atacar
seu país receberá uma resposta semelhante à que o Estado hebreu tem perpetrado
na Faixa de Gaza e no Líbano nos últimos meses.
Gallant visitou a base
militar de Navatim que nesta semana foi atacada com mísseis das Forças Armadas
do Irã.
"Foi uma conversa
com as equipes aéreas e terrestres da base Navatim da Força Aérea, que têm
operado ao longo do último ano em defesa e ataque em todos os setores do
combate, e são um elemento-chave no sucesso das Forças de Defesa de Israel
[FDI] e no sistema de segurança em diversas áreas", escreveu Gallant em
sua conta na rede social X.
"Na minha
conversa, deixei claro que é melhor para aqueles que pensam que um intento de
nos prejudicar nos dissuadirá observarem o que está acontecendo em Gaza e
Beirute e tirarem conclusões", disse Gallant.
As forças israelenses
bombardearam nesta semana várias posições em Beirute, capital do Líbano, que
supostamente são usadas pelo grupo chiita libanês Hezbollah.
O Irã lançou mísseis
contra Israel em 1º de outubro, em retaliação à morte de líderes do Hamas e do
Hezbollah, em um ataque ao qual Tel Aviv prometeu responder.
¨ 'Jogo' da OTAN pode sair do controle e levar a uma catástrofe,
diz diplomata russa
O "jogo" da
OTAN pode sair do controle e levar ao desastre, disse em entrevista à Sputnik
Yulia Zhdanova, chefe interina da delegação russa nas negociações em Viena
sobre segurança militar e controle de armas.
"Na realidade, a
OTAN tem se preparado há muito tempo para um potencial confronto armado com a
Rússia", disse Zhdanova.
Segundo ela, "os
planos regionais de 'defesa' foram aprovados pela OTAN, foram formuladas
tarefas específicas para todos os comandos militares do bloco", além disso
estão sendo verificadas as rotas logísticas de transferência de tropas e armas através
do Atlântico para o "flanco oriental".
Também têm sido
constantemente treinadas as possíveis opções para o conflito com a Rússia – do
Ártico ao mar Negro.
"Enquanto isso,
estão sendo dados passos muito provocatórios na direção ucraniana – a retórica
sobre um possível envio de tropas da OTAN para a Ucrânia continua (aqui, a
propósito, a França está mostrando zelo novamente). Este 'jogo' pode sair fora
do controle e levar a um conflito com consequências desastrosas. Nós alertamos
claramente sobre isso nas plataformas diplomáticas internacionais",
acrescentou a diplomata.
Zhdanova acrescentou
que os representantes em Viena dos países do Sul Global demonstram um profundo
interesse pela posição russa sobre a situação na zona da operação especial.
Segundo ela, a
delegação russa em Viena não tem nenhuma ilusão de que as estruturas
internacionais, incluindo a OSCE, possam ter alguma reação adequada aos crimes
do Exército ucraniano com o apoio de uma série de países ocidentais, mas para a
diplomacia russa isso não é um obstáculo para cobrir a situação real, tanto na
área da operação especial como na região de Kursk.
"Especialmente
desde que os Estados do Sul Global, representados em outras plataformas de
Viena, mostram um profundo interesse na posição russa", disse Zhdanova.
Anteriormente, a
diplomata havia afirmado que a liderança da OSCE nunca condenou o ataque do
Exército da Ucrânia na região de Kursk.
¨
Sem a expansão da
OTAN, a situação de segurança no mundo seria diferente, diz diplomata russo
A situação da
segurança global seria diferente se a Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN) não desejasse atrair o maior número possível de países a qualquer custo,
disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Aleksandr Grushko, à
Sputnik.
Grushko afirma que a
ameaça mítica do Leste é usada pelos Estados Unidos para integrar a Europa a
sua ordem mundial e preservar a hegemonia norte-americana no mundo.
Se a OTAN tivesse
cumprido sua promessa de não expandir para o Leste Europeu, que ela deu à União
Soviética pouco antes de seu colapso, a única fronteira entre a Rússia e a OTAN
teria sido uma linha de pouco mais de 100 km com a Noruega no Extremo Norte da
Rússia.
"Mas então seria
impossível enganar as pessoas com a ameaça mítica do Leste, que até hoje é
usada por Washington para controlar os europeus e encaixá-los em uma ordem
mundial e europeia favorável aos EUA, e para manter a hegemonia americana no
mundo", disse Grushko.
Ele enfatizou que não
foi a Rússia, mas a OTAN que entrou no caminho do confronto, recusando-se a
negociar as ameaças e desafios reais, e não imaginários, à segurança regional e
global.
O alto diplomata
lembrou que a Rússia estava oferecendo várias propostas para redução da
escalada desde 2016, mas a Aliança Atlântica recusou todas.
Um projeto de tratado
de garantias de segurança entregue a Bruxelas, onde a sede da OTAN fica, em
dezembro de 2021, pouco antes do início da operação militar especial, também
foi rejeitado.
Ele também disse que a
adesão da Ucrânia à OTAN é um projeto geopolítico dos Estados Unidos imposto a
seus aliados, enquanto muitos europeus levantaram preocupações sobre esses
planos.
Agora, nos sentidos
conceitual, político e técnico-militar, "os países da OTAN com armas
nucleares e o próprio bloco, que se declarou nuclear, estão a caminho de
aumentar o papel das armas nucleares na estratégia da aliança".
Assim, a Rússia está
atualizando sua doutrina nuclear para que seus adversários não tenham ilusões
sobre a disposição de Moscou de garantir sua segurança por todos os meios
disponíveis.
Moscou observou
repetidamente que a OTAN tem como objetivo o confronto e sua expansão não vai
trazer maior segurança para a Europa.
Ao mesmo tempo, o
Kremlin enfatizou que a Rússia não representa uma ameaça para nenhum país da
OTAN, mas não vai ignorar ações potencialmente perigosas para seus interesses.
No entanto, a Rússia
continua aberta ao diálogo, mas em pé de igualdade, e o Ocidente deve abandonar
seu curso de militarização do continente.
¨
Casa Branca diz que o
principal assunto de Biden na Alemanha será 'a situação na Ucrânia'
As necessidades
militares da Ucrânia serão uma "grande parte" da agenda da próxima
viagem do presidente dos EUA, Joe Biden, à Alemanha.
É o que disse a
porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, nesta segunda-feira (7).
"Se você pensar
na Ucrânia e na autodefesa da Ucrânia, isso vai ser uma grande parte desta
visita, e continuar esse apoio, continuar a fazer tudo o que pudermos para
parar a agressão russa. E então isso vai ser certamente uma grande parte disso,
continuar as contribuições para cumprir a promessa da OTAN [Organização do
Tratado do Atlântico Norte]", afirmou aos repórteres durante a coletiva.
<><> MRE
russo alerta EUA a 'não brincarem com fogo'
Moscou está alertando
Washington e seus aliados "a não brincarem com fogo" e não destruírem
completamente o regime da Convenção sobre Armas Químicas (CWC, na sigla em
inglês), disse a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores,
Maria Zakharova.
Nesta segunda-feira
(7), comentando informações sobre uma provocação iminente usando produtos
químicos tóxicos "com a assistência ativa dos países ocidentais", a
representante disse que a Rússia continuará a informar à comunidade mundial a
respeito das violações das disposições da CWC pela Ucrânia.
O chefe das Tropas de
Defesa Radiológica, Química e Biológica das Forças Armadas da Rússia,
tenente-general Igor Kirillov, disse mais cedo que Kiev está preparando uma
provocação para acusar a Rússia de usar substâncias tóxicas.
Zakharova também
anunciou a provocação iminente, observando que "materiais alegadamente
fabricados perto da linha de contato de combate, semelhante à Síria, serão
transferidos para especialistas internacionais que chegaram prontamente à
Ucrânia".
"O objetivo desta
ação é claro. Não existe nenhuma norma de direito internacional que detenha os
países da OTAN no seu desejo de alcançar a declarada 'derrota estratégica' da
Rússia, especialmente quando falamos do formato das provocações químicas […]
que vêm sendo elaboradas há anos na Síria […]. Alertamos que Washington e seus
satélites não deveriam brincar com fogo para não destruir completamente o
regime da CWC, construído desde 1997", disse a representante.
¨
Harris designa Irã
como maior rival dos EUA e diz que só se reunirá com Putin junto com Ucrânia
A vice-presidente e
candidata à presidência dos EUA Kamala Harris afirmou, em uma entrevista à CBS
News, que o Irã é o maior adversário dos Estados Unidos, afirmando ao mesmo
tempo que seu país deve vencer a competição com a China sem um conflito aberto.
Harris acredita que os
EUA devem evitar conflitos com a China e manter um canal militar aberto de
comunicação com o país asiático.
"Em primeiro
lugar, precisamos vencer a competição do século XXI com a China, precisamos ser
capazes de competir e vencer. Não devemos buscar o conflito", expressou.
Porém, ela observou
que os Estados Unidos precisam proteger os interesses das empresas
norte-americanas e ajudar Taiwan a se defender.
Ao mesmo tempo, quando
perguntada sobre qual considera ser o maior adversário dos EUA, Kamala Harris
referiu o Irã.
Ela diz que "o
Irã tem sangue americano em suas mãos" afirmando que sua principal
prioridade, caso vença as eleições presidenciais dos EUA em 5 de novembro, será
impedir que o Irã tenha armas nucleares.
Em relação à questão
ucraniana, Harris disse que a Ucrânia deve ter "uma palavra a dizer"
sobre o futuro de seu país, enquanto esse futuro deve ser negociado de acordo
com a Carta da ONU.
"Não
bilateralmente, sem a Ucrânia, não", disse ela quando perguntada sobre se
estaria pronta para uma reunião bilateral com Putin a fim de resolver o
conflito na Ucrânia.
Harris também afirmou
que a possível adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN) vai ser decidida "se e quando" chegar o momento.
O principal rival de
Harris, o ex-presidente dos EUA e candidato republicano Donald Trump, por sua
vez, criticou repetidamente a atual administração presidencial por se recusar a
negociar com a Rússia para resolver a crise na Ucrânia.
Trump declarou várias
vezes estar disposto a se reunir com Vladimir Putin e garantiu que conseguiria
acabar com o conflito antes mesmo de tomar posse.
Fonte: Sputnik Brasil
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