'Alicerce de inovação e segurança
aeroespacial': o que fará a Alada, nova estatal brasileira?
Na última quinta-feira
(3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs a criação da Alada, empresa
pública aeroespacial que desenvolverá atividades econômicas no setor. À Sputnik
Brasil, especialistas no uso civil e militar do espaço destacaram quais serão
as principais vantagens possibilitadas pela Alada.
Com um histórico de
altos e baixos, o setor aeroespacial brasileiro se desenvolve em meio a cortes
orçamentários. Nesse contexto, pode soar estranho então que o governo federal
tenha enviado um projeto de lei ao Congresso Nacional para a criação de uma nova
estatal para o setor: a Alada.
No entanto, em
entrevista à reportagem, Annibal Hetem Junior, professor do curso de engenharia
aeroespacial da Universidade Federal do ABC (UFABC), destaca que a iniciativa
vem justamente para melhor operar na prática o Programa Espacial Brasileiro
(PEB).
Coordenado no âmbito
civil pela Agência Espacial Brasileira (AEB) e no âmbito militar pela Força
Aérea Brasileira (FAB), o PEB tem como objetivo desenvolver toda a gama de
tecnologias necessárias para a exploração espacial do Brasil, desde a produção
de satélites aos veículos lançadores.
Contudo, diz Hetem, na
alçada da AEB não há um braço de engenharia, como tem a aeronáutica com o
Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). "Ela só tem o
braço político."
"Então, acredito
que a principal intenção da criação dessa empresa seja começar a dar forma às
criações tecnológicas ligadas à área aeroespacial."
A estatal poderia ter
sido criada como um departamento dentro da AEB, mas a decisão de fazê-la
subsidiária da NAV — estatal de serviços de navegação aérea, criada a partir de
uma cisão da Infraero — dá mais liberdade para se desenvolver e, até mesmo, se adaptar
às necessidades do mercado.
Em entrevista ao
Poder360, o senador Marcos Pontes, ex-astronauta e ex-ministro da Ciência,
Tecnologia e Inovação, afirmou que a companhia pode faturar US$ 3 bilhões (R$
16,6 bilhões) se obtiver 1% do mercado mundial de lançamento de micro e
pequenos satélites.
Além disso, diz Hetem,
será uma operação conjunta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do
Ministério da Defesa. Logo, espera-se que também pesquise aplicações militares.
"Um departamento debaixo de uma agência não teria a mesma liberdade de
ação que uma empresa, por ter que prestar contas para quem está acima dela,
né?", argumenta.
"Enquanto uma
empresa pode ter seus cantinhos mais 'secretos'."
Tatiana Garcia,
especialista em espaço exterior e defesa e pesquisadora associada ao Instituto
Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), lembra em entrevista à Sputnik
Brasil que o setor de pesquisas aeroespaciais tem enorme potencial no
desenvolvimento de tecnologias de uso dual, isto é, para fins tanto comerciais
como militares.
Desse modo, diz
Garcia, a companhia terá "liberdade de atuação maior do que a AEB e o
DCTA", podendo servir como facilitadora de pesquisas de uso dual, como o
desenvolvimento de sistemas de vigilância de satélite, telecomunicações
militares e tecnologias de defesa espacial.
"A Alada pode se
tornar um grande alicerce do Programa Espacial Brasileiro, como no
desenvolvimento de tecnologias de lançamento."
Esse último pilar
tecnológico citado, os lançamentos espaciais, pode ser a principal contribuição
que a Alada trará para o PEB, afirma o professor da UFABC Annibal Hetem.
Atualmente, o país
conta com o que talvez seja a melhor base de lançamentos do mundo, o Centro de
Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. No entanto, o Brasil pouco explora
seu potencial para fins estratégicos.
Dessa maneira, com o
cancelamento do programa de desenvolvimento do Veículo Lançador de Satélites
(VLS), "talvez essa seja a principal função da Alada", diz Hetem.
"Eles não
divulgaram exatamente todos os detalhes, mas certamente vai estar ligado ao
desenvolvimento de um foguete lançador de satélites, além do lado
militar."
<><> Além
da ciência, quais os outros benefícios?
Se o desenvolvimento
científico não fosse razão suficiente para a criação da estatal, a Alada também
poderá trazer uma série de outros benefícios para a sociedade brasileira.
As áreas aeroespacial
e aeronáutica desenvolvem tecnologias muito complexas, que envolvem um grande
número de fabricantes e fornecedores de partes bem específicas, detalha Hetem à
Sputnik Brasil.
"Uma empresa como
essa centralizaria a ação desses fornecedores, fomentando o crescimento desses
pequenos fabricantes."
Esse desenvolvimento
não só movimenta a economia do país, como também ajuda a estancar a fuga de
cérebros. Em seu trabalho como professor, Hetem afirma que a saída de formados
para o exterior é constante, o que leva a um ciclo vicioso de dependência de tecnologia
externa.
Além disso, o
especialista destaca que os produtos de tecnologia embarcada, desenvolvidos
pela estatal, podem ser vendidos a outros países. "A América do Sul e
metade da África comprariam da gente. Os próprios lançamentos que faríamos
seriam para esses clientes também."
"A sociedade, com
certeza, vai usufruir dos frutos do que foi desenvolvido nos projetos da Alada,
como também vai criar uma cultura de pessoas que ficam aqui e aumentam a
riqueza do país."
Já Tatiana Garcia
sublinha à reportagem que o desenvolvimento de tecnologias militares tem
impacto direto na defesa e segurança brasileira, como o monitoramento de
fronteiras e a observação de áreas estratégicas, especialmente na Amazônia,
"onde nossas fronteiras são bem delicadas".
Há também, diz a
pesquisadora associada do ISAPE, urgência no tema, uma vez que há crescente
militarização do espaço, especialmente em termos de defesa antimísseis e
proteção de ativos espaciais. Nesse sentido, "as pesquisas em sistemas de
lançamentos, detecção e defesa acabam sendo essenciais para a segurança
nacional de um Estado".
Por conta de todas
essas questões, Garcia afirma que a Alada tem o potencial de "se tornar um
alicerce, não só da inovação aérea espacial, mas também da segurança
nacional", dando ao Brasil o papel relevante que um país de sua
envergadura deveria ter nessa arena internacional.
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Aquisição de obuseiros israelenses pelo Brasil está 'congelada' devido à guerra
em Gaza
Cinco meses após o
Exército Brasileiro anunciar sua decisão de comprar obuseiros da Elbit Systems
de Israel, o projeto continua suspenso devido às críticas do presidente
brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva às ações de Israel em Gaza.
De acordo com o
Defense News, fontes militares em Brasília que falaram sob condição de
anonimato informaram que o projeto continua "congelado", mas não
formalmente cancelado já que o presidente "não assinou nenhuma ordem
executiva, nem para cancelar a aquisição do ATMOS 2000, nem para reabrir a
licitação para selecionar e negociar outra solução", disse uma fonte.
O governo federal
escolheu a Elbit em maio para entregar 36 obuseiros autopropulsados ATMOS 2000
em um acordo no valor de US$ 210 milhões (cerca de R$ 1,09 bilhão) em um
esforço combinado do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e do chefe do
Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, para reequipar as Forças Armadas
do país.
Segundo as fontes,
ambos continuam trabalhando para desbloquear o projeto, dizendo que não se
trata de uma escolha ideológica, mas pragmática. Em outra ocasião, o ministro
da Defesa chegou a dizer que não será a compra brasileira a responsável por
manter o esforço de guerra israelense em Gaza, e que esperava convencer Lula de
manter o acordo.
Fontes militares
acreditam que escolher outro fornecedor aumentaria o atraso e teria um impacto
negativo em várias empresas locais, que vão participar do processo de produção
de peças e da montagem final das armas como parte condicionante para a aquisição.
A decisão de adquirir
o ATMOS 2000 encerrou um processo de licitação para obuseiros autopropulsados
blindados. Os outros fornecedores que entraram no certame foram a francesa KNDS
com o Caesar, uma aliança entre a eslovaca Konstrukta Defense e a tcheca Excalibur
com o Zuzana 2, e a chinesa NORINCO com o SH-15.
Ainda segundo a
apuração, tensões entre o governo da Colômbia e Israel, também alimentadas pela
guerra de Gaza, não tiveram efeito até agora em um pedido de 18 ATMOS 2000 no
valor de US$ 102 milhões (aproximadamente R$ 560,8 milhões), feito no início de
2023 pelo país sul-americano.
• Brasil e Azerbaijão vão propor fundo
para transição energética com recursos do petróleo
O ministro de Minas e
Energia, Alexandre Silveira, confirmou que Brasil e Azerbaijão vão apresentar
na COP29 a conferência sobre o clima da Organização das Nações Unidas (ONU), em
Kazan, uma proposta para criar um fundo global de financiamento para transição
energética com recursos do petróleo.
Silveira, em
entrevista à Folha de S.Paulo, confirmou o projeto. Segundo o ministro, a
parceria foi alinhada durante uma reunião bilateral do G20 da área de energia,
ocorrida na semana passada em Foz do Iguaçu (PR).
"O fundo do
petróleo para promover uma transição energética justa e inclusiva é quase uma
unanimidade internacional", disse o ministro à Folha. Detalhes de como o
fundo será constituído e sobre a operação internacional não foram divulgados.
O ministro também
defendeu o uso de recursos para sustentar o Auxílio Gás no Brasil. "Nós
apontamos fonte juridicamente adequada de financiamento para o programa, na
minha compreensão. Agora, naturalmente, a liderança do ministro [Fernando]
Haddad, respeitada por todos nós como o condutor da área econômica, saberá o
que é melhor", afirmou.
Questionado sobre o
uso do petróleo para a transição energética em um país tão rico em energia
verde quanto o Brasil, Silveira rebateu que a palavra transição evidencia o
momento e, como um país em desenvolvimento, deixar de usar o petróleo neste
momento seria "um crime de lesa-pátria contra o Brasil".
"A própria
palavra já responde essa questão. Estamos numa transição. Qualquer coisa que
aponte para a palavra fim numa transição não me parece de bom-tom", disse,
respondendo sobre a recomendação da Agência Internacional de Energia em relação
ao combustível fóssil.
De acordo com o
ministro, o fundo global do petróleo, criado como alternativa para acelerar os
investimentos em transição energética justa "é quase uma unanimidade
internacional".
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Brasil compra produtos petrolíferos da Rússia a um valor recorde de R$ 28,1
bilhões, apontam dados
O Brasil, entre
janeiro e setembro deste ano, aumentou as aquisições de produtos petrolíferos
russos para um recorde de US$ 5,1 bilhões (R$ 28,1 bilhões), segundo avaliações
da Sputnik com base em dados da alfândega brasileira.
Desta forma, nos três
primeiros trimestres do ano, o país aumentou suas importações de produtos
petrolíferos da Rússia em 1,6 vez – para 5,1 bilhões de dólares, em comparação
com 3,25 bilhões (R$ 17,9 bilhões) do mesmo período do ano passado. Em termos físicos,
as importações também aumentaram 1,6 vez para 7,3 milhões de toneladas.
Principalmente neste
ano, o Brasil adquiriu diesel – as importações deste combustível aumentaram 1,7
vez para US$ 4,4 bilhões (R$ 24,2 bilhões). O país também começou a comprar
gasolina de não aviação logo, a um valor de US$ 247,7 milhões.
A Rússia continua
sendo o principal fornecedor de produtos petrolíferos para o Brasil. Em segundo
lugar entre os meses de janeiro e setembro ficaram os EUA com US$ 2,8 bilhões
(R$ 15,4 bilhões). No terceiro lugar se posicionou a Espanha com um volume de exportação
no valor de US$ 541,7 milhões (R$ 2,984 bilhões).
Fonte: Sputnik Brasil
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