EUA: a persistência da política exterior bipartidária
Em poucos dias, o povo terá a oportunidade de indicar ao pequeno colégio eleitoral o nome de preferência para governar o país a partir de janeiro de 2025. Embora sob margem estreita, os números das pesquisas inclinam-se a favor da candidatura de Kamala Harris. O desafio das duas maiores agremiações é o de sustentar o entusiasmo de seus adeptos de sorte que compareçam às urnas no 5 de novembro.
Lá, não se obriga o comparecimento à votação; só as campanhas mais bem estruturadas têm possibilidade de êxito, ao manter a conexão com o eleitorado e assim contar com seu apoio, apesar de dificuldades como eventuais intempéries climáticas, fator de influência no deslocamento, ou contratempos do cotidiano, como no trabalho, uma vez que a data não costuma ser feriado nacional como no Brasil.
Na fase derradeira da disputa, a sociedade dedica maior atenção a questões internas, por ser de relação próxima com o dia a dia, haja vista a apreensão com saúde, educação, segurança pública, carreira etc., a não ser em períodos de confrontação, nos quais a participação dos Estados Unidos pode afetar a rotina, ao desaguar em reajuste expressivo dos preços do combustível como ocorrido após a Guerra do Yom Kippur (1973).
Conquanto não se envolva nos dois conflitos em andamento – Rússia versus Ucrânia e Israel versus Palestina - com o envio de tropas, a Casa Branca direciona de maneira constante auxílio diplomático, socorro financeiro e fornecimento de armamentos a Kiev e Telavive, independente do posicionamento político do momento.
A preocupação concernente às duas pelejas atrela-se também com parcela importante da população de ascendência do leste da Europa – como Antony Blinken, titular do Departamento de Estado desde 2021, de procedência ucraniana - ou do Oriente Médio como Rashida Tlaib, deputada federal do Michigan do Partido Democrata há vários mandatos, de estirpe palestina.
Em muitos casos, os vínculos de parentesco se mantêm, facilitados pelos avanços recentes nas comunicações e no transporte, e têm decerto impacto político, cultural, econômico e religioso no relacionamento dos Estados Unidos com determinados governos.
Estruturam-se na política exterior norte-americana dois elementos entrelaçados de forma perene: o primeiro compõe-se da ideologia, exposta por valores estimados, por sua vez, como universais e tradicionais como democracia, livre comércio ou direitos humanos, ainda que o próprio país não os observe de modo integral.
De toda sorte, a retórica de Washington em brados é contínua com vistas a lembrar sua observância à comunidade internacional, em especial aos adversários do presente como Moscou, Teerã, Pionguiangue ou Pequim.
O segundo refere-se à prática, não a ideário ou utopias. Destarte, a Casa Branca leva em atenção a preservação de seus interesses imediatos. Malgrado injusto, materializa-se isso no delineio de áreas de influência como América Latina e Caribe, estabelecida esta desde o anúncio da Doutrina Monroe em dezembro de 1823.
A dificuldade de manutenção ou de ampliação de territórios sob predomínio estadunidense deriva da recuperação regional russa, a despeito do revés do embate ucraniano, e da ascensão mundial chinesa. Indiferente à candidatura vitoriosa em 5 de novembro, a defesa das áreas de influências firmadas continuará, sem se importar Washington com o desgaste perante a sociedade global.
<><> EUA e Taiwan iniciarão negociações para acordo de dupla tributação, anuncia Tesouro americano
Os Estados Unidos e Taiwan iniciarão negociações nas próximas semanas para trabalhar em um acordo para abordar questões de dupla tributação, informou o Departamento do Tesouro dos EUA nesta terça-feira (29).
Ambos os lados disseram que tal acordo promoverá mais investimentos, e Taipé há muito tempo pressiona por isso. A medida foi anunciada quando um diplomata sênior norte-americano, que ajuda a administrar os laços com Taiwan, chegou à capital taiwanesa hoje, segundo a Reuters.
Os países norte-americano e asiático não têm relações diplomáticas formais, então a falta de um acordo tributário significa que empresas e indivíduos taiwaneses são tributados sobre sua renda pelos governos dos EUA e de Taiwan.
O Departamento do Tesouro disse que a ação se baseia em iniciativas do Congresso e que o governo trabalhará para aprovar um acordo.
"Um acordo tributário abrangente proporcionará benefícios essenciais tanto para os Estados Unidos quanto para Taiwan. Em particular, esta ação apoiará os objetivos do CHIPS e do Science Act de fortalecer a resiliência da cadeia de suprimentos de semicondutores, criando empregos e incentivando investimentos em instalações de fabricação de semicondutores nos EUA", disse o órgão.
O departamento também acrescentou que "isso reduzirá as barreiras de dupla tributação para novos investimentos de Taiwan nos Estados Unidos, e vice-versa, especialmente para pequenas e médias empresas que são cruciais para um ecossistema completo de semicondutores".
A medida com certeza irritará Pequim que vê Taiwan como uma província renegada que pertence por direito à China no âmbito da política de Uma Só China. A ilha autogovernada não declarou formalmente sua independência, mas afirma já ser, mantendo laços próximos a países ocidentais, principalmente os EUA.
<><> China alerta EUA para contramedidas resolutas pós aprovação de venda de US$ 2 bi em armas a Taiwan
O Ministério das Relações Exteriores da China prometeu no sábado (26) tomar contramedidas resolutas e necessárias para defender firmemente a soberania nacional, a segurança e a integridade territorial, após os EUA aprovarem quase US$ 2 bilhões em vendas de armas para a ilha de Taiwan.
O Departamento de Defesa dos EUA anunciou que o Departamento de Estado havia aprovado US$ 1,988 bilhão (cerca de R$ 11,3 bilhões) em vendas de armas para Taiwan, incluindo o Sistema Nacional Avançado de Mísseis Terra-Ar (NASAMS) e sistemas de radar.
O sistema NASAMS foi testado em batalha na Ucrânia e representa um aumento significativo nas capacidades de defesa aérea que os EUA estão exportando para a ilha, conforme a demanda pelo sistema aumenta, segundo a Reuters.
Entretanto, o especialista militar chinês e comentarista de TV, Song Zhongping, disse ao Global Times no domingo (27) que o sistema é projetado principalmente para interceptar mísseis de cruzeiro, portanto sua capacidade de interceptar mísseis balísticos é muito limitada.
Especialistas chineses disseram que essas vendas de armas vinculadas às vendas de armas dos EUA ao exercício do Exército de Libertação Popular (ELP) da China revelam a intenção de Washington de extorquir economicamente a região de Taiwan por meio da venda de armas, ao mesmo tempo em que beneficiam os traficantes de armas norte-americanos que podem lucrar com a escalada das tensões.
Para o pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Lu Xiang, a mídia ocidental tentou fazer uma narrativa falsa de que a tensão em torno do estreito de Taiwan é criada pelo continente chinês.
Para ele, são os EUA que têm aumentado as tensões em regiões como Ucrânia e Oriente Médio, e se beneficiando da situação, observando que os EUA pretendem transformar o estreito de Taiwan em um "barril de pólvora" uma vez que os EUA violaram repetidamente seu compromisso de não apoiar a "independência de Taiwan" — especialmente ao aprovarem vendas de armas para a região.
O especialista acrescentou ainda que as capacidades operacionais militares demonstradas pelo ELP durante os exercícios recentes no estreito de Taiwan não serão prejudicadas pelo armamento que os EUA venderam para a ilha.
Isso prova mais uma vez que a maior ameaça a paz e estabilidade no estreito de Taiwan e o maior sabotador do status quo na região são as atividades "independentistas de Taiwan" e o apoio conivente de forças externas lideradas pelos EUA, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, em uma entrevista coletiva em 18 de setembro.
• Eleições na Geórgia: resultado aponta que população busca equilíbrio entre Rússia e UE, diz analista
Após os resultados das eleições parlamentares na Geórgia, nesta segunda-feira (28), atiradores treinados na Ucrânia estão chegando ao país para organizar provocações durante protestos em massa, segundo fontes da Sputnik.
As eleições parlamentares foram realizadas na Geórgia neste sábado (26) e, de acordo com a Comissão Eleitoral Central (CEC), o partido governante desde 2012, Sonho Georgiano, foi o mais votado, com 54% dos votos.
Em entrevista para o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, a professora do curso de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Danielle Makio opinou que o resultado não surpreende.
Segundo a professora — também mestra em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas e pela Universidade KIMEP, do Cazaquistão, e em estudos russos e eurasiáticos pela Universidade de Glasgow —, o Sonho Georgiano vem conseguindo lidar com agendas conflitantes, mantendo relações com a Rússia e buscando melhorar as relações com o Ocidente:
"A lição [que] fica [é] que realmente a Geórgia não é tão pró-Ocidente como se esperava, o que também não significa que ela é pró-Rússia; significa que a população entende que é preciso um equilíbrio", opinou.
Ela destacou que a Rússia continua a ser um parceiro econômico fundamental para a Geórgia, responsável por mais de 20% do gás natural consumido na Geórgia. "[…] é importante lembrar que esse gás é muito mais barato comprado da Rússia. […] há incentivos governamentais, justamente por uma questão de transporte."
Makio lembrou que recentemente foi formalizado o aceite do início do processo para a adesão da Geórgia à União Europeia (UE).
Para ela, por mais atraente que seja para o país integrar a UE, não é interessante para a sociedade georgiana virar as costas para a Rússia, que "vem cada vez mais despontando como grande ator anti-hegemônico junto da China". Os eleitores, segundo ela, sinalizaram que o momento exige um equilíbrio estratégico entre UE, Estados Unidos e Rússia.
Por outro lado, o Serviço de Inteligência Externa da Rússia (SVR, na sigla em russo) havia apontado que ONGs pró-ocidentais teriam recrutado um grande número de pessoas para monitorar de perto as eleições parlamentares, a fim de descredibilizar o pleito.
"Há, sim, uma tendência de maior influência do Ocidente, sobretudo via instituições como ONGs, que têm grande presença em todo o território georgiano. Há uma tendência de aproximar a opinião pública daquilo que a gente entende enquanto um arcabouço ideológico, ideacional, ocidental, que se distancia um pouco daquilo que é a agenda política de Moscou", opinou a especialista.
Em 2003, a Geórgia passou pela chamada Revolução Rosa, que sofreu ingerência de poderes estrangeiros sobre a definição da política nacional, e que culminou com um golpe, no qual o governo foi assumido por um dos líderes insurgentes, Mikhail Saakashvili, que ficou no poder até 2012, quando o partido Sonho Georgiano ganhou as eleições.
A reação do Ocidente em relação às eleições da Geórgia, segundo Makio, aponta para uma vilanização sistemática da Rússia, sobretudo devido à postura de abstenção cautelosa da Geórgia em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia:
"Entendo que essas denúncias [da oposição e do Ocidente] servem também como um propósito político de fortalecer a liberal democracia ocidental, mas me pergunto se em alguma medida não pode ser um tiro pela culatra, à medida que dá mais fôlego para aqueles que partilham dessa visão de vilanização extrema da Rússia, que coloca o Ocidente no posto de quem deve ser questionado", comentou ela. "[…] não me parece que os resultados desta eleição podem ser mudados por vias pacíficas, por vias legais, enfim, sem causar um grande rebuliço na sociedade", comentou a entrevistada.
• Agitação na Geórgia integra plano ocidental para usar vizinhos da Rússia em guerra híbrida, diz analista
Milhares de pessoas se reuniram do lado de fora do prédio do Parlamento em Tbilisi na noite de segunda-feira (28) em meio a alegações da oposição de que as eleições parlamentares de sábado (25) foram "fraudadas".
Na segunda-feira (29), o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, anunciou que os EUA "se uniriam aos apelos para observadores internacionais e locais para uma investigação completa de todos os relatos de violações relacionadas às eleições".
De acordo com o analista e especialista em política do Cáucaso, Stanislav Tarasov, a estratégia não é nova e foi criada para pressionar o partido governante a se tornar mais maleável aos interesses ocidentais.
"Os Estados Unidos e a União Europeia querem criar um pacote completo de situações de conflito: Moldávia, Geórgia, Ucrânia, e jogar esses jogos como um grande mestre em vários tabuleiros, cedendo em alguns lugares e atacando em outros", disse Tarasov à Sputnik.
A Geórgia pode esperar mais pressão do Ocidente, incluindo sanções, se o governo do Partido do Sonho Georgiano mantiver sua independência em política externa e interna, acrescentou Tarasov.
Apontando para a improbabilidade de o Ocidente conseguir derrubar o partido que conquistou quase 54% dos votos e reuniu assentos suficientes para formar um novo governo, Tarasov acredita que as alegações de fraude e manipulação da oposição podem não ter como objetivo derrubar o governo, mas forçá-lo a aceitar membros da oposição em uma coalizão para "erodí- lo" por dentro.
"Neste caso, o plano não visa tanto desestabilizar a situação doméstica, mas é uma abordagem tecnológica puramente política projetada para forçar o Georgian Dream a aceitar a ideia de uma coalizão", disse Tarasov.
Uma vez lá dentro, a oposição pode bloquear certas políticas, incluindo projetos regionais econômicos e de infraestrutura como o Corredor de Transporte Norte-Sul, que permitiria que Tbilisi escapasse completamente do controle político e econômico do Ocidente, de acordo com o analista.
"Eles imporão sanções […] eles não podem muito bem enviar as Forças Armadas ou algum corpo expedicionário. Primeiro eles os alimentam com alguns investimentos, então eles impõem sanções; primeiro eles abrem um regime de vistos; então eles impõem proibições, e assim por diante [...]. Este é o esquema primitivo na versão americana do governo colonial sendo implementado em relação à Geórgia,", afirmou o observador.
O analista acrescentou que "os americanos entendem que não podem segurar a Geórgia, mas podem desestabilizar a situação na região por meio disso. É isso que eles estão fazendo – é uma operação de contenção", resumiu.
• Incidente com jornalista da Sputnik na Geórgia mostra o quanto mídia russa irrita Ocidente, diz MRE
Os jornalistas russos, ao mostrarem o que acontece na realidade, impedem que o Ocidente forme a imagem do mundo que pretende, disse a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova.
Zakharova comentou assim o incidente ocorrido com um correspondente da Sputnik em um comício em Tbilisi, na rádio Sputnik.
Na noite anterior, um correspondente da Sputnik ficou ferido ao ser perseguido por partidários da oposição da Geórgia que protestavam do lado de fora do parlamento.
De acordo com o correspondente, os provocadores que estavam no comício ficaram indignados quando ouviram falar russo.
Uma multidão começou a persegui-lo. Em um momento, cercado pela multidão, o correspondente caiu no chão e a polícia interveio.
"Veja tudo o que está acontecendo através dos olhos do Ocidente. Como o mundo seria bonito do ponto de vista da democracia liberal ocidental se as fotos, reportagens e informações factuais fornecidas pelos jornalistas russos não fossem divulgadas!", disse Zakharova.
De acordo com a diplomata, nesse caso, tudo seria linear na política de informação ocidental.
"Não haveria interrupções nessa cadeia lógica. E é aqui que a mídia russa irrompe periodicamente, através de seus jornalistas, colunistas, correspondentes em cooperação com agências locais, cadeias de televisão [...] mostrando o mundo como ele realmente é", acrescentou Zakharova.
<><> Crise após eleições na Geórgia
A oposição da Geórgia contesta os resultados das eleições parlamentares realizadas em 26 de outubro.
O partido governista Sonho Georgiano venceu com 53,93% dos votos. Quatro partidos de oposição também foram eleitos para o parlamento, obtendo um total de 37,78%.
De acordo com a missão de observação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), as eleições foram bem organizadas, com algumas irregularidades.
Todos os quatro partidos de oposição recusaram os mandatos parlamentares que receberam e exigiram uma nova votação sob "administração internacional".
A presidente da Geórgia, Salome Zurabishvili, que está ajudando a oposição pró-europeia (embora a constituição exija que o chefe de Estado não seja partidário), convocou protestos contra os resultados das eleições.
Fonte: Correio da Cidadania/Sputnik Brasil
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